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my city ISSN 1982-9922

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QUEIROZ, Alessandra Natali. Limeira: trajetória social e urbana. Minha Cidade, São Paulo, ano 09, n. 108.03, Vitruvius, jul. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/09.108/1841>.


Sesmarias e estradas abertas por exportadores de açúcar
Elaboração: autora [Busch, 1967]


Evolução da malha urbana nos sete períodos de estudo

Desenho da cidade em 1876, evidenciando a Rua do Comércio e os eixos comercial e religioso
Desenho da autora [Busch,1967]

Limeira em 1839 [Busch,1967]

Ao fundo Casa Farani na década de 1930 [Acervo pessoal Paulo M. Levy]

“Companhia Prada Indústria e Comércio” em fins da década de 1930. Podemos verificar a “influência” da indústria na urbanização do eixo Santa Bárbara [Acervo pessoal Paulo M. Levy]

Construção do Anel Viário em 1976 [Acervo pessoal Emiliano Bernardes]

Início da verticalização de prédios residenciais na área central, década de 1980 [Acervo pessoal Emiliano Bernardes]

Loteamentos fechados de média e alta renda na porção norte da cidade [Acervo pessoal da autora]

Ernesto Kühl, uma das áreas invadidas pelos sem-teto em 1996 [Acervo pessoal da autora]

 

A formação e estruturação do espaço urbano

O povoamento se deu às margens do Ribeirão Tatu, devido à abertura da estrada que ligava o Morro Azul a Campinas (1823), finalizada efetivamente em 1826 com a construção das pontes dos rios Jaguari e Atibaia e mais tarde, em 1875, da ferrovia. A construção dessa estrada era valiosa, pois servia de escoamento da produção de açúcar para São Paulo e Santos.

O povoamento transformou-se, em 1830, em Freguesia de Nossa Senhora das Dores do Tatuhiby (terra de tatu), subordinado nessa época, à antiga Vila da Constituição (Atual cidade de Piracicaba). Como popularmente era chamada por Limeira, passou-se a usar esse nome em documentos oficiais.

O mapa de Estruturação Urbana nos auxiliará a acompanhar a evolução da malha urbana em sete períodos estabelecidos em função de antigos mapas da cidade, permitindo a verificação do crescimento e conformação do tecido urbano com maior visibilidade. São eles: primeiro período, de 1815 a 1876; segundo período, de 1877 a 1937; terceiro período, de 1938 a 1950; quarto período, de 1951 a 1970; quinto período, de 1971 a 1980; sexto período, de 1981 a 1990 e o último, de 1991 a 2000.

São consideradas vias estruturadoras os caminhos antigos, depois transformados em estradas: a ferrovia, as rodovias, as vias internas à trama urbana e os ribeirões, córregos e seus afluentes. O nome dos eixos foi dado em função das principais conexões da cidade com a região, partindo sempre do Centro Histórico. Dessa forma, a análise fica historicamente concreta desde o nome da via estruturadora.

1º período – a consolidação dos eixos religioso e comercial

A primeira rua foi a da Estrada Geral, depois chamada Rua do Comércio (Atualmente Av. Dr. Trajano Camargo), pois junto dela se abriram vendas, estalagens, ferrarias, selarias, carpintarias, serrarias, pequenas oficinas. Essa rua, segundo estudos de Busch (1967) debruçados em cartas do Arquivo do Estado, foi leito de um trecho da Estrada Morro Azul-Campinas. Por meio do mapa das sesmarias e outros relatos, pudemos fazer uma projeção atual na figura 03 do traçado antigo da Estrada Geral.

A primeira malha implantada teve um desenho tão marcante que parece ter refeito o traçado anterior da Estrada Morro Azul-Campinas. Analisando o desenho, podemos conjeturar um projeto urbanístico que envolve dois conceitos de cidade. A cidade simbólica de caráter religioso (dos tradicionais fazendeiros) garantida pelos usos polarizadores das igrejas e cemitérios, e a cidade econômica que privilegia o eixo do comércio ou do fluxo da produção (é a cidade dos imigrantes).

Como hipótese do urbanismo da cidade religiosa, temos a construção de dois eixos que privilegiam a primitiva igreja construída em 1826, conhecida como Nossa Senhora das Dores de Tatuiby. A igreja passou por sucessivas reformas até sua demolição no início da década de 1950 para a construção de uma atual matriz.

Os cidadãos mais ilustres moravam no Largo da Matriz, mas os colonos imigrantes das fazendas começaram a freqüentar as missas de domingo na matriz, e com mais um propósito que era vender seus produtos. Inicia-se a concorrência entre o primeiro eixo, o religioso, e prenunciando o segundo eixo urbanístico, o comercial.

2º período – atividades comerciais

Nesse período as atividades econômicas se concentravam na área do xadrez, em especial, a rua do Comércio, com a “Farmácia Faneli”; na rua Senador Vergueiro, com a indústria de “Calçados Chequi”, a “Casa Garraux” e a “Alfaiataria José Locci”; na rua Carlos Gomes, com a “Fotografia Ceneviva”, a “Padaria e Armazém Lencioni”; na rua Barão de Cascalho estava o jornal “O Limeirense”, a “Casa São Jeronymo”; na rua Santa Cruz, com a “Casa Paulista”; na rua Barão de Campinas, com a “Casa Farani” de Salvador Paolillo um dos fundadores da primeira casa bancária entre muitos outros anúncios que aparecem num Almanack (grafia original) de 1926.

O Jardim público, Largo da Vitória (atual Praça Toledo de Barros), era destinado ao lazer. Havia no Teatro da Paz, concertos de corporação musical, regida pelo professor Henrique Luiz Marques. Com a construção da gruta de pedra, nos anos 20, abrigando um restaurante, a praça e o coreto tornaram-se populares, com diversas festividades, proporcionando encontros de famílias, jovens e namoros em torno da gruta. Uma tradição que persistiu até a década de 1970.

3º período – o início da dispersão urbana

A cidade de Limeira deixa de lado seu traçado geométrico em xadrez inicial e passa a formar pedaços desconexos de tecido. Nasce novo eixo estruturador “Laranjeiras”, na margem oposta do Ribeirão Tatu em que se iniciou e se consolidou o centro da urbe. Nesse eixo é implantada, na gestão de Mário de Souza Queiroz, a Vila Queiroz de semelhante desenho e qualidade urbanística como o do início da cidade, contanto com quadras em tabuleiro de xadrez e a priorização da estética. A diferença está na topografia do terreno com declividades mais acentuadas. Trouxe em sua área de influência indústrias como a Máquinas D´Andréa e a Rocco, bem como o Limeira Clube, freqüentado pela alta sociedade.

4º período – a urbanização segue o crescimento industrial

A urbanização da década de 1960 é marcada pela presença de loteamentos nas áreas de maior crescimento industrial e comercial como, por exemplo, nas proximidades da “Ferrovia” e da “Via Anhangüera”, que compreendem os quadrantes: noroeste e sudeste da cidade. Grande parte desses loteamentos encontram-se distantes da malha central e se caracterizam como de baixa renda. Esse período evidencia o crescimento de quase o dobro da década anterior e destacando a contínua e significativa ampliação da cidade.

5º período – desconexões

Nesse período, o grande crescimento da cidade ocorreu de forma desordenada e desconexa devido à abertura de loteamentos populares próximos aos eixos “Anhangüera”, “Mogi-Mirim”, “Varga” e “Campinas”.

Limeira passou por um forte processo de urbanização entre os anos de 1970 e 1980, devido às atividades industriais, aumentando o percentual da população urbana de 84% para 91.5%.

Nessa década o anel viário se constituiu numa via estruturadora (ou anel estruturador) de grande destaque, englobando o eixo da “Barroca Funda” e onde praticamente 80% dos loteamentos aprovados foram inseridos.

No tocante às propostas de localização da ocupação urbana, percebe-se que os limites da área urbana foram ultrapassados, atingindo as áreas de preservação de mananciais de abastecimento de águas.

6º período – verticalização central

Esse não foi um período de grandes expansões, limitando-se aos loteamentos construídos em algumas áreas, gerando o aparecimento de vazios urbanos próximos à malha urbana e outros mais distantes.

Os investidores e imobiliárias passaram a se interessar pelos prédios de apartamentos, verificando-se a retomada da construção civil e aumento de pedidos de aprovação de plantas, em sua maioria de prédios residenciais.

Esses edifícios destinados à classe média e alta tinham na localização privilegiada, no acesso fácil a serviços e equipamentos e no elevado nível de segurança, oferecido aos seus moradores, a manutenção ou elevação de seu status social. Contudo, a cidade pagou seu preço por esse processo, pois a verticalização e o conseqüente aumento da densidade, a maior demanda de infra-estrutura e trânsito mais intenso de veículos e pedestres congestionaram a área central.

7º período – a era dos condomínios e das segregações

Embora a população tenha continuado a crescer, esse crescimento foi menor comparado às décadas anteriores. Em 1996, 85% da população total de Limeira era urbana.

A grande maioria dos loteamentos de classes mais ricas se transformou em condomínios fechados, formando bolsões em toda a cidade. Eles estão localizados tanto no centro como na periferia, demonstrando insegurança, medo e reforçando a segregação de classes.

Quanto às classes mais pobres, podemos dizer que seus assentamentos se formaram de diferentes maneiras. Alguns foram invadidos por sem-tetos, outros organizados por iniciativa pública e privada; e outros loteamentos se formaram na ilegalidade.

As transformações ocorridas na cidade apontaram para a problemática de enfrentar a deterioração das condições de vida e alertaram para a necessidade de se realizarem estudos com essa preocupação, voltados principalmente para a organização da cidade e a necessidade de um planejamento para o crescimento, uma vez que os problemas continuam a persistir na cidade.

A promoção de uma gestão mais eficiente de uma cidade ou de aglomerações urbanas deveria levar em conta primeiramente o entendimento de como a cidade se estruturou fisicamente, observando mapas e fotos de um cotidiano que foi se alterando e se desenvolvendo no tempo, imprimindo pouco a pouco nova fisionomia à cidade.

referências bibliográficas

Almanack de Piracicaba (1914). Piracicaba: ed. Roberto Capri.

BUSCH, R. K. História de Limeira. Limeira: Prefeitura Municipal de Limeira, vol.1, 1967.

CAMPOS FILHO, Candido Malta. Cidades Brasileiras: seu controle ou o caos. São Paulo: Nobel, 1999.

CARITÁ, Wilson José. A Igreja de Nossa Senhora das Dores de Limeira. Limeira: Unigráfica, 1998.

FAVERO, Edison. A função do parcelamento do solo na organização urbana nas cidades médias paulistas: a experiência de Limeira. São Paulo, 1995. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

FIRKOWSKI, O. L. C. F. A Industrialização recente do município de Limeira em face do contexto industrial paulista. Rio Claro, 1989. Dissertação de Mestrado apresentada à UNESP.

HEFLINGER JR, José Eduardo; LEVY, Paulo Masuti (orgs). Centro municipal de memória histórica de Limeira: Seleção de Documentos do Acervo 1844- 1915. Limeira: Editora Unigráfica, 2001.

JORNAL GAZETA DE LIMEIRA: Limeira de Ontem. Limeira, Suplemento Histórico, 1980.

PINA, Silvia Aparecida Mikami Gonçalves. Áreas habitacionais populares nas cidades médias paulistas: o caso de Limeira. São Paulo, 1991. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

QUEIROZ, Alessandra Natali. Requalificação de Área Urbana Degradada. Santa Bárbara D’Oeste, Unimep, 1999. Trabalho Final de Graduação.

sobre o autor

Alessandra Natali Queiroz, arquiteta e urbanista pela Unimep, mestre (“Limeira: A Produção Social da Cidade e do seu Tecido Urbano” e doutoranda FAU-USP, professora de Desenho Técnico e Desenho Arquitetônico na FAAL

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