Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
O autor discorre sobre como seria se o Rio de Janeiro voltasse hoje a ser a capital do Brasil

how to quote

JANOT, Luiz Fernando. O dia em que o Rio voltou a ser capital. Minha Cidade, São Paulo, ano 11, n. 124.05, Vitruvius, nov. 2010 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/11.124/3654>.


Vistas diurna e noturna da Lagoa Rodrigues de Freitas, Rio de Janeiro
Fotos Victor Hugo Mori


Imaginem se jornais de grande circulação publicassem na primeira página a notícia de que o Rio de Janeiro voltaria a ser capital. Qual seria a reação dos cariocas que não viveram essa experiência no passado? Muitas especulações seriam feitas a respeito das vantagens e desvantagens dessa decisão. Outro aspecto que certamente entraria nas discussões seria a presença, na cidade, de uma classe política bastante desgastada perante a opinião pública. Não se escaparia, também, das comparações apaixonadas entre a maneira espontânea de viver no Rio e o modo planejado de vida em Brasília onde não se encontra um senador na rua porque em Brasília não há ruas e nem senadores andando a pé. Mas, agora, o Rio já não é mais aquele que, com certa empáfia, perdeu o status de capital federal e passou a viver das reminiscências de um passado que não voltará jamais.  

E qual seria hoje a vocação do Rio de Janeiro? Numa época onde tudo o que é sólido desmancha no ar e que paradigmas consolidados perdem a validade, estabelecer diretrizes e metas que perdurem ao longo prazo não nos parece ser o caminho mais indicado para seguir. Já não existe a possibilidade de materializar urbanisticamente o “mundo novo” que os utopistas e os arquitetos modernistas desejavam criar. O mundo da economia globalizada é o do aqui e agora, e o hedonismo se tornou o único objetivo a ser alcançado. Nesse contexto, seria a cidade do Rio de Janeiro o lócus ideal para agregar ao seu território novas tendências urbanas e expressões culturais de diversas naturezas? É provável que sim, mas para isso seria preciso resgatar aspectos de sociabilidade que, lamentavelmente, foram desprezados ao longo das últimas décadas.    

Entretanto, como essas propostas de intervenção urbana envolvem grandes investimentos e conseqüentemente múltiplos interesses econômicos e financeiros, é indispensável que se faça uma avaliação cuidadosa e sem precipitação desses projetos para evitar que a valiosa imagem da cidade seja comprometida de forma irreversível. Uma cidade culturalmente heterogênea como o Rio de Janeiro, repleta de valores naturais, não pode ser palco para uma espetaculosidade arquitetônica efêmera baseada em modismos de última hora. As referências de Dubai e Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, são modelos urbanos que obedecem à lógica de que tudo ou quase tudo que se insere naquele contexto deve ser programado sob o viés restrito dos investimentos econômicos e das aplicações financeiras. Ou seja, uma implacável submissão aos desígnios globalizados do poder mercantil, que transforma a cultura urbana heterogênea numa cultura genérica, homogênea, transitória e superficial. Essa é a lógica da cidade na terceira globalização, onde não há qualquer referência a uma urbanidade espontânea e solidária na escala das relações sociais. São espaços urbanos que, deixados ao exclusivo jogo do mercado, acentuam as desigualdades sociais e acabam se constituindo, como dizia o professor Milton Santos, em espaços urbanos sem cidadãos.      

Se no início as grandes metrópoles sul-americanas tiveram como principal fonte de inspiração as cidades européias do final do século XIX, como Paris e Londres, isso se deve em grande parte à valorização da ambiência urbana e a excelente qualidade dos espaços públicos dessas cidades. No século XX, o vertiginoso crescimento demográfico, o aumento extraordinário do número de veículos motorizados e a presença do mercado imobiliário contribuíram para a formação de novos paradigmas urbanos, que têm Nova York como sua melhor expressão. Foi uma época marcada pela verticalização dos centros urbanos e pela expansão das cidades em direção às periferias.

E no século XXI, que modelo de cidade deverá prevalecer diante das mutações constantes, que têm o mercado como principal catalisador de comportamentos e consumidores? Nesse sentido, é provável que tenhamos que nos habituar a conviver numa cidade bem diferente daquela que, por mais de um século, sobreviveu no imaginário coletivo. Talvez o primeiro percurso para compreender essa cidade do amanhã seja perceber as relações que existem entre as diversas cidades contidas em uma mesma cidade ou território. Um segundo caminho consiste em interpretar o papel que os espaços públicos e os espaços privados de uso coletivo desempenham na estruturação e na ambiência urbana das cidades. Desta experiência investigativa surgirão as bases para o entendimento dos significados das cidades global e virtual com as quais, inexoravelmente, teremos que conviver cotidianamente.

nota

1
Artigo originalmente publicado no Jornal O Globo.

sobre o autor

Luiz Fernando Janot é arquiteto, urbanista, professor da FAU-UFRJ.

comments

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided