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my city ISSN 1982-9922

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Juan Pablo Rosenberg analisa as possibilidades para o desenho urbano do lote onde se implantará a entrada da futura estação Oscar Freire, na linha 4 do metrô paulistano.

how to quote

ROSENBERG, Juan Pablo. Estação Praça Oscar Freire. Ou a crônica de uma morte anunciada. Minha Cidade, São Paulo, ano 14, n. 163.02, Vitruvius, fev. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/14.163/5043>.


Estação Sé
Foto Juan Pablo Rosenberg


Quase todos os dias, ao passar caminhando em frente à obra do metrô na esquina da avenida Rebouças com a rua Oscar Freire, procuro pistas de como será a nova estação que surgirá detrás daqueles tapumes. Alguém já viu?

Meses atrás me entusiasmei ao enxergar, pelo portão entreaberto, um grande círculo de concreto com a altura de um parapeito no meio do canteiro, o qual sugeriu uma solução similar à da Sé e seu belo vão anular central. Otimista, logo imaginei uma praça aberta na esquina movimentada, com o redondo peitoril de concreto ao centro, sobre o qual debruçado seria possível contemplar as pessoas na lá em baixo na estação. A alegria dobrou ao vislumbrar essa praça se estender para a esquina oposta da avenida, também em obras, formando dois largos na extensão da faixa de pedestres a desafogar as estreitas calçadas no farol: gentileza urbana para os transeuntes que diariamente descem no ponto de ônibus ou subirão da estação, a caminho dos Jardins ou de Pinheiros. Ali haveria bancos, solo permeável e vendedor de milho-quente (que hoje trabalha horas a fio na ilha central entre os corredores de ônibus, ao som de inúmeros decibéis). Seria aquele um lugar de ocasião para a prosa imprevista com um amigo encontrado ao acaso ou onde esperar o colega para pegar juntos a condução na longa volta para casa. O acesso à estação em si, de caráter funcional, não precisaria ir além do necessário, um buraco de acesso ao subsolo, como em qualquer cidade com uma malha metroviária que se preze. A nova estação seria então oportunidade de urbanidade.

Nestes meses espiando pela fresta do portão sobre o ombro do segurança, vez ou outra dou a sorte de coincidir com um caminhão saindo do canteiro, e então estendo a vista de um lado ao outro, numa varredura em busca de alguma novidade.

Pouca coisa mudou nos últimos meses, até algumas semanas atrás, quando a grua que supre a sonhada “estação-enterrada-sob-a-praça” pelo grande anel de concreto ganhou péssima companhia: uma enorme perfuratriz que iniciou a execução de profundas fundações. E onde há fundações, há prédio.

Conhecendo o triste ‘legado’ (aproveito a atualidade do termo) que vem sendo construído na linha amarela do nosso metrô, imediatamente um calafrio me subiu a espinha. Ao ver o grande saca-rolha penetrar a terra, me vieram em mente, uma a uma, algumas das estações finalizadas na linha 4: Butantã, a lavadora gigante; Pinheiros, com seu pós-modernismo fora de contexto; Faria Lima, o banheiro público mal ajambrado, Consolação, com seu brise laranja-itaú fora de escala, e Fradique Coutinho, que há anos aguarda uma pele que salve sua geometria. Soluções que se opõem, por exemplo, à elegância de implantação da estação Sumaré sob o viaduto, ao desenho urbano da São Bento integrada ao largo ou à discrição cosmopolita das estações na Av. Paulista, à Marechal e sua praça, entre outras – quando as estações do Metrô eram verdadeiras obras urbanas, orgulho de todos os arquitetos desta cidade!

Estação Oscar Freire em obra
Foto Juan Pablo Rosenberg

Meu primeiro impulso foi denunciar imediatamente a tragédia ali anunciada aos órgãos competentes! De súbito pensei num amigo assessor de imprensa numa Secretaria do Estado, mas liguei para outro que é promotor público – quem sabe ele se animava e uma liminar impedisse que passem das fundações. Ele logo resmungou apressado que as coisas são assim mesmo, que metrô é metrô – não viu os escândalos? – que a estação já (já?!?) tem data de inauguração; e mandou cuidar da vida.

Suspirei impotente, e resignado tracei um milho no caminho para casa, pois tinha crianças esperando pro banho.

Procurei os projetos das futuras estações nos sites do Metrô, da Via Quatro, do escritório de arquitetura que vem fazendo as estações da linha amarela e no Google. Nada. Nenhuma mísera perspectiva que dê alento ao sonho ou sacramente a decepção. Apenas profundas fundações. Risco iminente.

Encontrei alguns artigos técnicos sobre os sistemas de escavação das estações – na Oscar Freire, como em toda a linha amarela, foi utilizado o sistema Vala a Céu Aberto (VCA) –, mas nada de projeto. Uma informação no site do Metrô apenas reafirma a temida suspeita: tipo de estação – enterrada com apoio na superfície. O que, na falta de um ‘corte’ ou perspectiva, faz as coisas mais horripilantes passarem pela cabeça. Como já disse, o portfólio dessa linha passa longe do razoável.

Aproveitando a oportunidade da revisão do plano diretor (que aliás está sendo muito bem conduzido com consultas públicas e até concurso de arquitetura): como é possível que o espaço público e de infraestrutura da cidade esteja sendo implantado de forma tão arbitrária quanto definitiva – e tantas vezes errônea –, lentamente sob nossas barbas, sem que nada possamos fazer além de sofrer em silêncio pelo que aquele lugar não será? Na falta de um projeto tornado público, espero estar redondamente enganado! Que não se perca mais esta oportunidade!

Hoje depois de alguma insistência, finalmente fui informado que na central de obras do Metrô na av. Francisco Morato é possível ver os projetos das estações “em 3D”. Já que a esperança é a última que morre, vou até lá conferir. Ou, como Inês é morta e não resta senão esperar a “inauguração” daquelas fundações este ano ainda, talvez prefira seguir cultivando a ansiedade no meu cotidiano de araponga.

nota

NA
Em tempo: vale a pena ler o post de Raul Juste Lores sobre o tema no blog da folha em 28/06/2012 <http://rauljustelores.blogfolha.uol.com.br/2012/06/28/oportunidade-perdida-nas-estacoes-do-metro/>.

sobre o autor

Juan Pablo Rosenberg é arquiteto e titular do escritório AR Arquitetos.

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