Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
A noticia da demolição do Edifício Nicolau Schiesser, projetado pelo arquiteto Rino Levi, coloca em questão a preservação do patrimônio moderno.

how to quote

ANELLI, Renato. Edifício Nicolau Schiesser vai ser demolido. A obra de Rino Levi em risco. Minha Cidade, São Paulo, ano 14, n. 163.03, Vitruvius, fev. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/14.163/5047>.


Edifício Nicolau Schiesser, São Paulo. Arquiteto Rino Levi
Foto divulgação ["Rino Levi, arquitetura e cidade"]


A recente notícia da demolição de um pequeno edifício na rua Augusta poderia recolocar em pauta as políticas de preservação de exemplares de arquitetura corriqueira.

Não se trata de um edifício de valor histórico/arquitetônico reconhecido e nem mesmo a sua presença na paisagem urbana é significativa, ocultado que está por pequenas lojas construídas no seu recuo para a rua.

Estava lá, completamente esquecido, até a notícia veiculada pela Revista da Folha em 8 de fevereiro de 2014 (1).

Projetado pelo arquiteto Rino Levi em 1933, o edifício Nicolau Schiesser era considerado por seu autor um exemplo de unidade de “habitação semi-intensiva”, necessária para absorver o crescimento demográfico e evitar a expansão extensiva da área urbanizada de São Paulo (2).

Para Levi, a expansão ilimitada da cidade, que se efetivaria nas décadas seguintes, deveria ser contida por um adensamento demográfico controlado, procurando-se parâmetros de arquitetura verticalizada, apropriados para as situações intensivas e semi-intensivas.

Para a situação intensiva o edifício Columbus (1930/34), com seus trinta e dois apartamentos em oito andares, foi um primeiro ensaio.

O Nicolau Schiesser foi o seu exemplo para a situação semi-intensiva, no qual o pequeno edifício de seis apartamentos em três andares ocupou o espaço de dois sobrados, mantendo recuos essenciais para a ventilação “higiênica”. Um adensamento suave, garantindo o gabarito das alturas, como pode ser visto pelas fotos da época.

É claro que a velocidade de crescimento da cidade impôs índices de adensamento mais intensos, inclusive na região da rua Augusta. Mas antes que isso acontecesse, pequenos edifícios do porte do Nicolau Schiesser se espalharam pela cidade, principalmente nos bairros que cresceram com empreendimentos para locação. Teria sido o projeto de Levi um modelo para esse tipo de edifício?

A popularização de balcões dinâmicos, com formas semelhantes às suas, sugere que a sua publicação pela Revista Politécnica possa ter surtido esse efeito.

Desse modo, o Nicolau Schiesser seria um pioneiro na tipologia de edifícios baixos que verticalizaram algumas regiões da cidade com formas modernas.

Importante testemunho de um momento do processo de urbanização paulistana.

Localização do edifício Nicolau Schiesser, na Rua Augusta, região central de São Paulo
Foto divulgação [Google Earth]

As transformações sociais e urbanas da vertente central da rua Augusta foram cruéis com sua arquitetura. Abandonado pela classe média alta no seu deslocamento em direção a sudeste, acompanhando as dinâmicas do mercado imobiliário, o “baixo” Augusta se tornou uma região boêmia. Em um primeiro momento essa boemia se constituiu em teatros, cinemas, restaurantes. Aos poucos as casas de massagem, boates baratas e pensões se proliferaram. O Nicolau Schiesser ficou por lá, como que protegido pelas salas comerciais construídas sobre os jardins do seu recuo.

Localizei-o em 1993, no levantamento e visitas para o meu doutorado sobre a obra de Rino Levi (3). As imagens recentes mostram que ele nada mudara nesses vinte anos, apenas necessitava de trabalhos de restauração e manutenção.

Mas não será esse o seu destino, substituído por empreendimento imobiliário mais adequado aos parâmetros atuais, que promovem uma revalorização da região.

Exemplo de arquitetura para o mercado imobiliário dos anos 1930, sobreviveu oitenta anos às transformações da cidade. Impedir a sua destruição agora exigiria medida dos órgãos de preservação do patrimônio. Contudo, esse edifício não constou da listagem de dez obras apresentada pelo professor Lúcio Gomes Machado ao Condephaat em 1995, das quais apenas sete foram tombadas em 2010.

De lá para cá, muito se avançou no desenvolvimento de critérios para a preservação da arquitetura moderna do século 20. Apesar disso, tal avanço não consegue reduzir a voracidade do mercado imobiliário atual, que procura oportunidades para empreendimentos de modo indiscriminado.

A extensa difusão que essa arquitetura teve na constituição das cidades, no auge da urbanização brasileira, está sendo rapidamente apagada. A demolição do Nicolau Schiesser poderia ser um bom momento para refletirmos sobre isso (4).

notas

1
SENRA, Ricardo. Prédio modernista construído em 1933 será demolido na rua Augusta. Revista da Folha, São Paulo, 8 fev. 2014  <http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2014/02/1409013-predio-modernista-construido-em-1933-sera-demolido-na-rua-augusta.shtml>.

2
LEVI, Rino. Prédio de habitação do tipo semi-intensivo. Revista Politécnica, São Paulo, n. 119, mar./jun. 1935.

3
ANELLI, Renato Luis Sobral. Arquitetura e cidade na obra de Rino Levi. Tese de doutorado. São Paulo, FAU USP, 1995.

4
Sobre a obra de Rino Levi, ver: ANELLI, Renato; GUERRA, Abílio; KON, Nelson. Rino LeviArquitetura e cidade. São Paulo, Romano Guerra, 2001.

sobre o autor

Renato Luiz Sobral Anelli, arquiteto e professor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo, USP-São Carlos.

comments

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided