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my city ISSN 1982-9922

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A Semana de Urbanismo de 1935, realizada em colaboração com a Comissão do Plano da Cidade do Salvador, promoveu uma séria de conferências entre 20 e 27 de outubro de 1935, que trataram de diversos assuntos relativos à reestruturação urbana soteropolitana.

how to quote

COSTA, Eduardo A. G.. A Semana de Urbanismo de 1935 em Salvador. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 182.03, Vitruvius, set. 2015 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.182/5689>.


Casario antigo na cidade baixa, área central de Salvador
Foto Helena Guerra


A Semana de Urbanismo de 1935, realizada pela Sociedade dos Amigos de Alberto Torres em colaboração com a Comissão do Plano da Cidade do Salvador, promoveu uma série de conferências e palestras entre 20 e 27 de outubro de 1935, as quais foram de significativa importância para a reflexão sobre a reestruturação da realidade urbana de Salvador no início do século 20.

Na programação do evento figuravam encontros sobre diversos assuntos: urbanismo, segurança, arborização, zoneamento, monumentos e patrimônio, sugestões para o plano diretor etc., cujo conteúdo encontra-se detalhado, a seguir.

A programação do evento sugere a amplitude das intervenções necessárias e quais caminhos a Comissão do Plano da Cidade do Salvador queria dar ao futuro da cidade, o que em linhas gerais se pretendia:

“a) – demonstrar que a cidade da Bahia (1) deve ter uma plano de conjuncto intelligentemente estudado e executado;

b) – mostrar que esse modo de proceder tem sido adoptado em quase todos os paizes, inclusive o Brasil com excellente resultado;

c) – apontar os prejuízos que a Bahia tem tido pela falta de um plano regulador de seu desenvolvimento;

d) – mostrar a economia que este plano trará para o Município e para os munícipes;

e) – promover uma collaboração mais intima entre o povo, o governo e a commissão, sem a qual o plano não será facilmente executado;

f) – previnir contra a imprevidência, o desanimo, o descaso – inimigo das grandes iniciavas em prol do bem público;

g) – demonstrar que urbanismo nada mais é do que bom senso, intelligencia, applicados ao desenvolvimento urbano;

h) – apontar erros do passado e demonstrar como a sua solução reside no plano de conjuncto;

i) – zelar pelo patrimonio histórico da Bahia;

j) – desenvolver civismo e amor à Bahia e ao Brasil” (2).

Nas conferências pôde-se observar um discurso que já mostrava a organização e as atividades da Comissão do Plano da Cidade para a elaboração do “master plan” da capital, inclusive com apresentação de gráfico, o qual, posteriormente, influenciaria a organização do Escritório do Plano de Urbanismo da Cidade de Salvador – EPUCS (3), além de tratar questões ligadas à propaganda para divulgar e vender a idéia do urbanismo para a população. Neste âmbito, a referência norte-americana era clara, com o uso da expressão: “to sell city planning to the public”, slogam cuja idéia consistia na mostra dos estudos do plano ao público.

Considerou-se, no dizer sobre princípios de urbanismo que, conceitualmente, a ciência relativa a esta temática estabelecia “a ordem e a harmonia entre os elementos estáticos e dynamicos da cidade” (4). Como elementos de ordem física, seriam objetos de intervenção: ruas, trânsito, transporte, divertimentos públicos, zoneamento e artes cívicas.

As ruas e praças deveriam ser arborizadas, desde que estivessem em harmonia com a largura das ruas e passeios, sob pena de prejudicar a penetração da luz e da ventilação nas habitações cujas fachadas estejam nos alinhamentos das ruas e sem recuos. Tais medidas têm inspiração nas ruas de Tókio, tidos como os melhores exemplos desse caso no mundo.

Outra referência internacional para o sistema viário, foram as parkways norte-americanas. Segundo estas, propõem-se para a Bahia, parkways com em média, 50 metros de largura, que se estenderia do Tanque da Conceição ao Retiro e deste até o Rio Vermelho, cujo traçado concordaria com o vale do Rio Camurujipe, então chamado Camorogipe; porém, diferentemente do caso americano, em que só transitavam automóveis. Em Salvador implantar-se-ia nos centros destas largas vias, uma linha dupla de bondes, sendo ladeada por largos gramados arborizados, aos quais externamente, colocavam-se as vias automotivas e, mais externamente ainda, outros gramados arborizados.

Corte das “parkways”, com vias largas, linha dupla de bondes, gramados arborizados e vias automotivas
Imagem divulgação [Anais da Semana de Urbanismo de 1935]

A partir da definição de urbanismo enquanto ciência, idéia difundida naquele evento, tem-se duas orientações: ordenar e harmonizar, para tanto é preciso “conhecer primeiramente o que se tem de harmonizar. Evidentemente: as atividades sociais. E o que há para pôr em ordem? As conseqüências dessas actividades e os lugares em se hão de eilas processar” (5).

Assim, devem-se estudar os usos, costumes, tendências e aspirações do povo, de modo que “o urbanista dividirá a Cidade em zonas” (6). Tais zonas poderiam então responder pelas seguintes atividades: residencial, comercial, industrial, agrícola e sem especificidade de restrição. Recomendou-se ainda, que a zona agrícola fosse afastada, nas áreas suburbanas, uma vez que nas zonas mais próximas ao centro ter-se-iam bairros de caráter administrativo, universitário, misto ou residencial-comercial como o caso do bairro da Calçada.

Outra visão da Semana de Urbanismo é conceituar a “cidade errada” e a “cidade certa”. A cidade errada era aquela em que ocorrem sucessivamente construções de maneira espontânea, em condições irregulares e precárias, chegando às “fileiras de casas ruins”. São lugares que atentam contra a higiene, além da dificuldade de transporte e com ruas consideradas fontes de acidentes, além de apresentarem valores estéticos prejudicados e sacrifício do conforto.

Fileiras de “casas ruins”
Foto divulgação [Anais da Semana de Urbanismo de 1935]

Já a cidade certa, ou no caminho da correção, externa-se à visão de conjunto e de futuro. Segundo a qual, o cidadão coopera com o poder público e com as necessidades da coletividade, em detrimento dos seus interesses pessoais e onde o poder público tem obrigações com a boa qualidade dos serviços urbanos.

“Cidade certa”
Foto divulgação [Anais da Semana de Urbanismo de 1935]

O caminho da correção sugerida na Semana de Urbanismo adotava principalmente a prevenção, não deixando serem reproduzidos na nova cidade, os erros cometidos no passado, os quais seriam coibidos por meio de: ordenações, previsões, controles e cooperações. As correções, por serem dispendiosas deveriam ser restringidas, priorizando as comunicações entre o porto e as partes novas, até para preservar o patrimônio histórico, então entendido como mais emblemático. Bom exemplo sobre tais sugestões teve-se em New Orleans ao preservar seus quarteirões coloniais de influência francesa.

Sobre a temática das vias e do tráfego consideravam-se os modos como as ligações mecanizadas se fazem entre as diversas partes da cidade. Uma zona não é prevista para ficar isolada das demais. Então, ao ligar tais zonas, o tráfego deve levar em conta a interdependência entre as diversas atividades sociais, a partir de dois fatores: tempo e comodidade.

Também na Semana de Urbanismo de 1935, na palestra do Engenheiro Civil Milton da Rocha Oliveira, em 25 de outubro, foi colocada a proposta das “cidades jardins como único meio de impedir que os trabalhadores ruraes se fixem nas cidades tentaculares” (7). Tal medida colocava-se como opção de reestruturação urbana, principalmente, buscando meios de redução do intenso crescimento populacional, que ocorria em Salvador. A fim de esclarecer tal proposta, este engenheiro também apresentou os diagramas de Ebenezer Howard para a Cidade-Jardim.

A necessidade de um plano para a cidade de Salvador foi evidenciada na palestra intitulada “Sugestões para o plano diretor da cidade do Salvador”. Esta palestra também esclarece a importância de colocar a cidade do Salvador nos rumos do desenvolvimento e do futuro, a partir da sugestão de um plano diretor urbano, desenvolvido cientificamente por uma equipe técnica, que se responsabilizaria pelos estudos, projetos e por ampla discussão, no intuito de reestruturar “artérias”, praças, parques, jardins, habitações e outros componentes da cidade.

Concluídos os encontros, foi apresentada na Seção de encerramento, às 20 horas e 30 minutos do dia 27 de outubro de 1935, algumas considerações, que, em linhas gerais, sugeriram: mobilização de esforços em prol de uma Bahia maior e melhor; levantamento da planta cadastral do município; criação de Departamento de Urbanismo e de sistema de gerentes municipais; demonstração da necessidade da realização do plano diretor; concessão de autonomia à Inspetoria Estadual de Monumentos; colocação de um marco no Largo da Sé e de outros monumentos, bem como, a proibição da remoção destes; restauração das antigas fortalezas, para tornarem-se museus ou escolas; construção de sede e aumento de subvenção para: o Arquivo do Estado e para a Escola de Belas Artes, além da ampliação do Instituto Histórico; classificação da Bahia (Salvador) como monumento nacional; realização de mais propagandas sobre a cidade do Salvador; realização de registro fotográfico das transformações da cidade; promoção permanente de campanhas sobre urbanismo e civismo; organização de sociedades distritais de melhoramentos; e, incentivo à organização de vilas e Cidades-Jardins.

Atente-se que, o conteúdo apresentado nesta exposição da história sobre Salvador, aponta para uma Cidade com estrutura urbana ainda colonial, insalubre, precária e insuficiente, porém já alvo de estudos e propostas, algumas bastante reformadoras, tanto no zoneamento, passando pelo sistema viário e muito atenta à preservação, publicidade e venda da própria realidade urbana; contudo, ainda aquém das necessidades geradas pelas intensas mudanças da realidade da época.

Outro fato relevante acerca da Semana de Urbanismo de 1935 reside nas reflexões sobre o modelo da Cidade-Jardim e a possibilidade da aplicação da forma radial-concêntrica, além das vias tipo Parkways para a cidade de Salvador, idéias importadas dos Estados Unidos e Europa e posteriormente adotadas pelo EPUCS.

notas

1
Cidade da Bahia: denominação popular da Cidade de Salvador na primeira metade do século 20.

2
ASU – Anais da Semana de Urbanismo de 1935: Conferências. Salvador, Cia. Editora e Gráfica da Bahia, 1937, p. IX-X.

3
Escritório do Plano de Urbanismo da Cidade de Salvador (EPUCS) – Plano urbanístico formal para a Cidade de Salvador, realizado nos anos 1940.

4
ASU – Anais da Semana de Urbanismo de 1935: Conferências (op. cit.), p. 4-5.

5
Idem, ibidem, p. 42.

6
Idem, ibidem, p. 45.

7
Idem, ibidem, p. 109.

sobre o autor

Eduardo A. G. Costa é arquiteto e mestre em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia (2001 e 2009), com especialização em Gestão Pública Municipal pela Universidade do Estado da Bahia (2003), Especialização em Planejamento de Cidades pela Universidade Católica do Salvador (2005). Atualmente é arquiteto e urbanista da Caixa Econômica Federal.

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