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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
Espaço doméstico em edifícios multifamiliares: uma percepção da cozinha gourmet no setor de serviços contemporâneo em apartamentos de alto padrão em Maceió.

english
Domestic space in multifamily buildings: a perception of gourmet kitchen at the contemporary service sector in luxury apartments in Maceió.

español
Espacio doméstico en edificios multifamiliares: una percepción de la cocina gourmet en el sector de servicios contemporánea en apartamentos de lujo en Maceió.

how to quote

BRANDÃO, Lana Souza Costa; MANHAS, Adriana Capretz Borges da Silva. Espaço doméstico em edifícios multifamiliares. Uma percepção da cozinha gourmet no setor de serviço contemporâneo em apartamentos de alto padrão em Maceió AL. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 184.05, Vitruvius, nov. 2015 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.184/5825>.


Cozinha Funcional versus Cozinha Gourmet
Foto divulgação


A redução dimensional dos espaços dos apartamentos tem gerado consequências nos padrões de domesticidades no Brasil. Em Maceió este fato atinge principalmente o setor de serviço das habitações. A busca pelo aproveitamento máximo do espaço construído e a nova dinâmica cultural evidente nos hábitos e modo de vida da população, dentre outros fatores, impulsionam a diminuição de alguns cômodos da residência em detrimento do aumento de outros. O setor de serviço vem reduzindo de tamanho, enquanto o setor social e íntimo vem sendo valorizados. Por outro lado, recentemente, percebe-se em Maceió a proliferação de “espaços gourmet” nos projetos de apartamentos que são localizados no setor social junto à sala de estar, varanda, piscina ou cobertura.

Decorrente das transformações sociais do século 21, o habitat residencial da sociedade de modificou, ganhou cômodos, enfatizou o individualismo, e à cozinha foram agregadas outras funções além da conservação e preparação dos alimentos: atualmente ela pode ser um local agradável para a recepção de pessoas e interação social. Franciney Carreiro de França (1), em sua pesquisa acerca da dinâmica do espaço doméstico no Distrito Federal, constatou que a cozinha é citada como um dos espaços mais utilizados para o lazer interativo e como espaço de convivência é o cômodo com maior tempo de permanência da família.

Os apartamentos permitiram a união da cozinha com a sala de jantar, tornando-o um ambiente único e cada vez mais visto como um ponto de convívio informal compondo um espaço integrado onde se pode cozinhar, comer e receber, voltando a se tornar a alma da casa. Apesar dos espaços reduzidos, a cozinha passou a adquirir um novo sentido na vida dos moradores de apartamentos, começando a ser valorizada tanto esteticamente como em relação ao seu uso.

Assim a cozinha “se abre para o restante da casa” e surge uma modalidade nova, a cozinha gourmet. Hoje ela aparece no cenário residencial, e sua função consiste de um espaço destinado à recepção de pessoas, em que toda a família pode se reunir para participar do preparo das refeições, juntamente com os possíveis convidados. Os espaços integram-se com a mesa de jantar, com a copa ou até mesmo com a sala. Com a cozinha fazendo parte da área social, a preocupação com o mobiliário e equipamentos torna-se essencial. Assim como as cozinhas, as áreas de serviço também se modernizam ganhando armários e eletrodomésticos de ultima geração os quais se tornaram imprescindíveis no habitat contemporâneo, já que os serviços de lavagem e secagem se roupas é permanente.

Segundo Isah Moretti (2), a cozinha gourmet possui um mobiliário sofisticado e alguns eletrodomésticos característicos como o cooktop, (fogão de mesa), forno de pizza, adega, churrasqueira embutida fazem a composição da decoração do ambiente, juntamente com utensílios pendurados. Todos os eletrodomésticos que adotam uma estrutura para embutir são bem vindos a esse estilo de cozinha. Há uma valorização dos armários modulados de madeira e de bancadas integradas que são responsáveis pela divisão de um cômodo para outro. Ela destaca ainda a importância de combinar os móveis com harmonia, aproveitando todos os espaços disponíveis de forma inteligente criando um ambiente confortável.

As construtoras atuantes no mercado imobiliário de Maceió, atualmente, costumam incluir nas áreas de lazer dos edifícios os espaços gourmet. Já nas opções de plantas dos apartamentos não é comum a presença de duas cozinhas e da cozinha gourmet no projeto original. Os compradores modificam as plantas do imóvel adquirido e as incluem posteriormente.

Um outro novo cômodo observado nos empreendimentos que foram lançados em 2014 é a varanda gourmet, parte integrante do setor social do apartamento, que busca unir a atratividade da confecção de alimentos com a recepção de convidados. Para Françoise Dominique Valéry (3), a varanda está perdendo seu aspecto funcional, concebido como espaço de transição entre o dentro e o fora e servindo também para exibir o status do novo ocupante, pois nada indica o desejo de ser usado por seus moradores no dia-a-dia.

Ao fazer uma análise nas plantas dos apartamentos que vem sendo lançados em Maceió, o que se vê claramente é a permanência da tripartição burguesa no século 19. Os hábitos acabam por não refletir um morar contemporâneo com espaços fluidos e visando a qualidade espacial junto com o conforto para todos os usuários do espaço. Foi verificado que os apartamentos que possuem característica de integração da cozinha com a sala de estar/jantar são aqueles com apenas um quarto enquanto nos apartamentos de alto padrão a cozinha gourmet é inserida através de uma modificação da planta original ou reforma.

A cozinha dos apartamentos de alto padrão na cidade de Maceió ainda refletem heranças coloniais na medida em que existe uma empregada para a qual são atribuídas a execução das atividades domésticas. A patroa (independentemente de trabalhar fora de casa ou não) é responsável por todo o gerenciamento das atividades é ela que delega funções e ordens, ainda que seja responsável pela disponibilização de recursos financeiros juntamente com o marido, que por sua vez, permanece alheio e afastado das atividades domésticas.

O hábito de cozinhar é um modismo observado nas famílias de uma forma geral. Neste novo contexto, o homem tem adquirido um papel importante no que diz respeito às cozinhas gourmets, assumindo o controle do fogão na maioria das vezes, tendo a esposa como auxiliar. Entretanto, essa constitui uma atividade de lazer, em encontros esporádicos com convidados, momento em que o chefe da casa pode exibir seus “dotes culinários” (e todos os eletrodomésticos que compõem a cozinha), mas a tarefa de limpar e organizar ainda é atribuída à mulher (no caso, a empregada ou esposa). Com a entrada em vigor do Projeto de Emenda Constitucional que regulamenta o trabalho das domésticas, os horários de trabalho foram revistos e adequados, assim como as horas extras e folgas.  Assim como no período colonial, em que a empregada era tratada como alguém da família, fazendo com que a relação de exploração se tornasse algo natural, observa-se esse mesmo tipo de relação patrão/empregado nas famílias que habitam os apartamentos de alto padrão em Maceió. A empregada é essencial e interage com o restante dos moradores como se fosse “da família”, mas costuma trabalhar além do seu horário e sem o pagamento de horas extras.

Foi observado também nesta pesquisa o uso da cozinha gourmet como área de lazer mas sem que ninguém utilizasse de fato a cozinha, sendo que para esta atividade foi feita a contratação de um serviço externo especializado – uma pessoa traz os alimentos pré-preparados, cozinha, serve e limpa tudo em seguida. Assim como na cozinha americana do segundo pós-guerra, sistemas de automação vem a cada dia se tornando objetos de desejo da população de maior renda. A aquisição de equipamentos eletrônicos para serem exibidos ilustra o poder simbólico dos equipamentos na elevação do status social da família. As refeições do dia-a-dia são preparadas pela empregada doméstica e para ela são atribuídos outros equipamentos, desde eletrodomésticos até louças e o mobiliário da cozinha, que é aquela que não é exibida, não é do mesmo padrão que o da cozinha ou varanda gourmet.

De acordo com os estudos realizados, pode-se constatar que a cozinha gourmet dos apartamentos de alto padrão em Maceió estão em moda mas constituem espaços sociais voltados para a reunião de amigos e família. A função de receber possui maior evidência do que a de cozinhar. Portanto, não há como afirmar que os espaços e hábito domésticos foram modificados, pois a cozinha gourmet não passa de uma sala de estar. Os equipamentos e utensílios caros e sofisticados são raramente utilizados, os espaços não são pensados para a preparação de alimentos e sim para a recepção de convidados, comprovando a hipótese desta pesquisa segundo a qual as cozinhas gourmet são construídas com finalidade de elevação do status social. A família pode até ter o hábito de cozinhar para os amigos, mas isso acontece de forma esporádica, o que torna o espaço subutilizado na maior parte do tempo.

notas

1
FRANÇA, Franciney Carreiro de. A indisciplina que muda a arquitetura: A dinâmica do espaço doméstico no Distrito Federal. Tese de doutorado. Brasília, FAU UNB, 2008.

2
MORETTI, Isah. Cozinha gourmet planejada – dicas de decoração. Decoração [s.e.]. Disponível em: <http://cache.mundodastribos.com/wp-content/uploads/2010/07/cozinha-gourmet-planejada-dicas-de-decoracao> Acesso em 3/04/2011.

3
VALÉRY, Françoise Dominique. Da casa de família ao espaço gourmet: reflexões sobre as transformações dos modos de morar em Natal-RN. Cadernos CERU, série 2, v. 22, n.1, Natal, 2011.

sobre as autoras

Lana Souza Costa Brandão é mestranda do Programa de Pós-graduação em Dinâmicas do Espaço Habitado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas.

Adriana Capretz Borges da Silva Manhas é professora doutora do Programa de Pós-graduação em Dinâmicas do Espaço Habitado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas.

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