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my city ISSN 1982-9922

abstracts

português
Este é o primeiro de uma série de cinco artigos que descrevem, em cinco pausas, o Pateo do Collegio, no Centro Histórico de São Paulo. A primeira pausa é o Museu Anchieta.

english
This is the first of a five-paper series that describe, in five pauses, the Pateo do Collegio, in the São Paulo History Center. The first pause is the Anchieta Museum.

español
Este es el primero de una serie de cinco artículos que describen, en cinco pausas, el Pateo do Collegio, en el Centro de Histórico de São Paulo. La primera pausa es el Museo Anchieta.

how to quote

FORTUNATO, Ivan. Geopoética no centro histórico de São Paulo. A primeira pausa do Pateo do Collegio, o Museu Anchieta. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 186.01, Vitruvius, jan. 2016 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.186/5868>.


Face leste do Largo: Museu e Igreja Anchieta
Foto Abilio Guerra, dez. 2013


Este é o primeiro de uma série de cinco artigos que descrevem o Pateo do Collegio, no Centro Histórico de São Paulo (1). Esse recinto é reconhecido como o lugar de nascimento da cidade, tendo aí os jesuítas batizado São Paulo de Piratininga, por meio de uma missa celebrada diante um colégio improvisado, no dia 25 de janeiro de 1554 (2). Desde 1979, o lugar abriga duas construções em homenagem ao Padre Anchieta, o mais notório dos educadores jesuítas de Piratininga: o Museu a e Igreja (3). Não obstante, o lugar de fundação de São Paulo e da memória jesuíta, parece esquecido ou mesmo desconhecido pela própria cidade, sendo lembrado em datas comemorativas, na celebração das missas, ou tão somente como cartão postal.

O interesse pelo lugar, no entanto, não foi balizado por essas características históricas, mas antes pela própria sua própria essência ontológica: o Pateo do Collegio, ou somente Pateo, foi descoberto ao acaso, durante uma caminhada exploratória pelo Centrão paulistano. Pode-se até dizer, metaforicamente, que foi amor à primeira vista, tendo este súbito encanto sido registrado em outro texto (4).

Nas primeiras caminhadas, ainda não conhecia o lugar por completo. Era como havia anotado Tuan: um novo lugar aparece, por princípio, como uma imagem embaçada, na qual sua realidade se confunde, os elementos se misturam, os pontos de referência se embaralham, não se encontra o norte ou o sul... De acordo com o autor, o conhecimento de um lugar, portanto, requer a localização e o reconhecimento de seus elementos significantes porque “preocupar-se com eles”, seja para tão somente identificá-los ou para enaltecê-los pelas suas qualidades, “é reconhecer a sua realidade e valor” (5). Por isso mesmo, conforme a essência do Pateo se descortinava ao longo das andanças, mais se evidenciava a existência de uma geopoética que conduz a uma percepção mais sensível e emocional sobre o lugar.

Fato é que, ao localizar e reconhecer os elementos do Pateo, ficava evidente que se tratava de um lugar único, de aparência singular, cheia de particularidades. Embora Relph tenha afirmado que a fisionomia seria o aspecto mais evidente de um lugar, sendo uma “forma óbvia e objetiva para se compreender as diferenças entre lugares” (6), no caso do Pateo, foram necessárias diversas incursões para conseguir retratar sua feição e compreender quais elementos compunham, objetivamente, sua realidade. Contudo, foi a célebre frase de Ortega y Gasset  – “yo soy yo y mi circunstancia” (7) – que possibilitou serenar o olhar e constatar que o Pateo do Collegio não existe sem sua circunstância, ou seja, o Pateo é ele mesmo e seu 

Face sul do Largo: edifícios da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado
Foto Ivan Fortunato, jun. 2012

Assim, o sentimento de afeto, as andanças pelo local e o reconhecimento que o lugar não se encerra nele mesmo, mas, se torna único frente sua própria circunstância, foram dimensões fundamentais para que se pudesse esquadrinhar a realidade do Pateo e, objetivamente apreender, e compreender os elementos que lhe dão unicidade. E para retratar o lugar, foi desenvolvido um trajeto que permite circular pelo lugar e seu entorno: um largo circunscrito por edifícios antigos, construídos em neoclássico e atualmente ocupados por órgãos públicos, mas sobrados da época colonial e vias públicas do século passado. Na face sul está a Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado, as primeiras obras de Ramos de Azevedo na cidade de São Paulo. Na face oeste, separados pela pequena Rua Anchieta, a Secretaria Municipal dos Direitos Humanos e Cidadania, e o Tribunal de Justiça do Estado, outra obra de Ramos de Azevedo. Na face norte está o viaduto Boa Vista, e na face leste, a construção principal do Largo, que é sede do Museu e da Igreja Anchieta.

Face oeste do Largo: o edifício ao centro é o Tribunal de Justiça do Estado
Foto Ivan Fortunato, jun. 2012

Para descrever a realidade do lugar, a partir do largo, foram destacados cinco locais fundamentais para apreensão de sua essência, nomeados aqui como pausas, parafraseando Tuan: “lugar é uma pausa no movimento” (8). Assim, cada pausa contém elementos da realidade do Pateo do Collegio, que permitem uma descrição objetiva, bem como o envolvimento da emoção e dos sentidos para composição de relatos geopoéticos. Neste texto, apresenta-se a primeira pausa do trajeto pelo lugar e seu entorno: a porção norte da sua construção principal, um edifício de dois andares, de fachada branca, o qual abriga o Museu Anchieta.

Face norte do Largo: o viaduto Boa Vista
Foto Abilio Guerra, dez. 2013

Uma porta, escreveu Bachelard, é como uma perfeita aliada aos devaneios da imaginação, dos desejos e até da tentação, porque aberta, ou fechada, ou mesmo entreaberta, ela divide dois mundos, esconde um do outro, evita que se ultrapasse barreiras de intimidade... Uma porta é mais do que uma peça de madeira, ferro ou vidro, é uma imagem de ligação entre os mundos, é proibição, é convite (9). Que cosmos esconde e/ou revela a porta de entrada principal do Museu Anchieta? Para descobrir é preciso, segundo o autor, conquistar todas as suas reticências...

Primeira pausa: Museu Anchieta
Foto Ivan Fortunato, mar. 2011

Aberta ao público de terça-feira a domingo (feriados inclusive), essa porta logra acesso a um corredor que tem a escada para o segundo andar do seu lado esquerdo (cujo acesso se dá somente após o pagamento da simbólica taxa de entrada no museu), que guarda objetos de arte sacra, incluindo a pia batismal dos jesuítas, e vista para primeira sala do museu do seu lado direito. Nessa sala há uma maquete, que data de 1955, de autoria do paulistano Laurindo Galante, da Escola Técnica Getúlio Vargas, que retrata a área central da cidade de São Paulo no século de sua fundação (século 16), além de painéis na parede que descrevem a história dessa área e do próprio Pateo.

Nas palavras de Donato, o Museu Anchieta “conserva cerca de setecentas peças, distribuídas em sete salas”, conservando peças dos primeiros séculos de vida cultural paulistana, além de acervo cartográfico e pinacoteca; “foi entregue a São Paulo em 1º de julho de 1979”, quando a cidade era administrada pelo prefeito Olavo Egydio Setúbal (10). Há, ainda, a Cripta Tibiriçá, no subsolo, convertida em uma sala de exposição de artefatos indígenas, aberta aos visitantes do museu por cerca de 20 minutos em horários específicos. O Museu Anchieta é, essencialmente, guardião da memória jesuíta, resguardando a força da fé cristã no lugar por meio dos objetos sacros que mantém em seu acervo. O Museu Anchieta, ainda, reforça a relação do lugar com o nascimento de São Paulo, e seu batismo. Para além do observável, o museu é repositório de toda história cultural da cidade e a peça mais antiga do acervo da história da educação paulistana (11).

notas

NA - Esta descrição geopoética do Pateo do Collegio foi desenvolvida para tese de doutoramento em Geografia. Tese que só foi concluída graças a Lívia de Oliveira, minha querida orientadora.

1
Este é o primeiro de uma série de cinco artigos que descrevem, em cinco pausas, o Pateo do Collegio, no Centro Histórico de São Paulo. Os artigos da série são os seguintes:

FORTUNATO, Ivan. Geopoética no centro histórico de São Paulo. A primeira pausa do Pateo do Collegio. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 186.01, Vitruvius, jan. 2016 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.186/5868>.

FORTUNATO, Ivan. Geopoética no centro histórico de São Paulo. A segunda pausa do Pateo do Collegio, a Praça Ilhas Canárias. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 187.02, Vitruvius, fev. 2016 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.187/5923>.

FORTUNATO, Ivan. Geopoética no Centro Histórico de São Paulo. A terceira pausa do Pateo do Collegio, os sobrados da aristocracia. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 188.04, Vitruvius, mar. 2016 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.188/5974>.

FORTUNATO, Ivan. Geopoética no Centro Histórico de São Paulo. A quarta pausa do Pateo do Collegio, a Igreja Anchieta. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 189.03, Vitruvius, abr. 2016 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.189/5983>.

FORTUNATO, Ivan. Geopoética no Centro Histórico de São Paulo. A quinta pausa do Pateo do Collegio, o Largo Pateo do Collegio. Minha Cidade, São Paulo, ano 16, n. 190.02, Vitruvius, maio 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/16.190/6024>.

2
Ver FORTUNATO, Ivan. Historicidade e geograficidade do Pateo do Collegio, coração do centro histórico de São Paulo. Coletânea, Rio de Janeiro, 2015 [no prelo].

3
FORTUNATO, Ivan. Memórias do Pateo do Collegio como lugar pioneiro da educação paulistana. Cadernos do CEOM (Unochapecó), Chapecó, 2016 [no prelo].

4
FORTUNATO, Ivan. O Largo Pateo do Collegio e o súbito encanto com o lugar, 2016 [mimeo].

5
TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Tradução de Lívia de Oliveira. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1983, p. 20.

6
RELPH, Edward. Reflexões sobre a emergência, aspectos e essência de lugar. Tradução de Eduardo Marandola Junior. In: MARANDOLA JUNIOR, Eduardo José; HOLZER, Werther; OLIVEIRA, Lívia de. (Org.) Qual o espaço do lugar?: geografia, epistemologia, fenomenologia. São Paulo, Perspectiva, 2012, p. 23.

7
ORTEGA y GASSET, José. Meditaciones del Quijote. Madrid, Publicaciones de la residencia de estudiantes, 1914, p. 43.

8
TUAN, Yi-Fu. Espaço, tempo, lugar: um arcabouço humanista. Geograficidade, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 4-15, inverno 2011, p. 12.

9
BACHELARD, Gastón. A poética do espaço. Tradução de Antonio de Pádua Danesi. São Paulo, Martins Fontes, 1993, p. 130.

10
DONATO, Hernani. Pateo do Collegio: coração de São Paulo. São Paulo, Loyola, 2008, p. 268-269.

11
FORTUNATO, Ivan. Memórias do Pateo do Collegio como lugar pioneiro da educação paulistana (op. cit).

sobre o autor

Ivan Fortunato tem pós-doutorado em Ciências Humanas e Sociais pela UFABCS. Doutor em Geografia pela Unesp. Líder do Núcleo de Estudos Transdisciplinares em Ensino, Ciência, Cultura e Ambiente (NuTECCA). Editor da revista Hipótese e coeditor da Revista Internacional de Formação de Professores e da Revista Brasileira de Iniciação Científica. Professor do IFSP/Itapetininga.

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