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my city ISSN 1982-9922

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A Fazenda Nossa Senhora da Conceição é a única construção da época do Café, em Caçapava SP. Nela seria possível fazer intervenções considerando as necessidades e a comodidade de seus atuais moradores. O intuito é trazer a releitura decorativa da época.

how to quote

MOREIRA, Fernanda; ALVARENGA, Nayara. Releitura do design dos casarões cafeeiros. Minha Cidade, São Paulo, ano 17, n. 194.02, Vitruvius, set. 2016 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/17.194/6186>.


Fachada Frontal da Casa da Fazenda Nossa Senhora da Conceição
Foto Fernanda Moreira


A história do café no Brasil teve início no século 18, mas apenas no século 19 a produção do café foi grande suficiente para se tornar o principal produto da economia no país. Ele foi principal produto de exportação até o início do século 20, garantindo a sustentação do Império e início da República no Brasil. A produção do café atravessava as províncias do Rio de Janeiro e de São Paulo, expandindo-se a partir da Baixada Fluminense e do Vale do Paraíba. Quem tinha capital para plantar café eram os próprios fazendeiros e os comerciantes. Para a produção do café, inicialmente se desmatavam matas nativas para a plantação de mudas, a colheita era feita pelos escravos manualmente (por cerca de cinco anos depois da plantação), que depois colocavam os grãos de café para secar nos terreiros. Após isso, o café passava por máquinas e depois era transportado. Com todo esse complexo produtivo era necessário que o layout da fazenda fosse bem organizado e eficiente, assim otimizando todo o trabalho. A fazenda era dividida em três partes: casa grande, onde era o núcleo habitacional; terreiro, onde era feito o manuseio e a secagem do café e a tulha, que funcionava como o núcleo de serviço, onde eram estocados os grãos e as ferramentas (1).

A Fazenda Nossa Senhora da Conceição (sede atual) foi construída por volta de 1895, pelo Coronel João Moreira da Costa e sua esposa Carolina Moreira Leite, em substituição à antiga sede, localizada em outra parte da propriedade. Todo material utilizado na construção da nova sede foi obtido da própria terra. No local tinha uma olaria para a fabricação dos tijolos e telhas utilizados. A área total da fazenda era de 180 alqueires, com sua maior parte ocupada pela cultura do café, sendo que as demais áreas eram ocupadas com outras culturas como milho, mandioca, pomar, verduras e também por criação de animais, como gado, suínos, galinhas e abelhas para a produção de mel, tudo isso para a subsistência dos moradores da mesma. Até hoje existe parte de mata nativa. A produção do café nessa época era por pessoas assalariadas e não mais escrava, pois havia ocorrido a abolição em 1888 (2).

Tulha da Fazenda
Foto Fernanda Moreira

Na sala de jantar da casa, as paredes possuem belas pinturas murais, que retratam o seu agenciamento original, na época de sua inauguração (3). O pintor é desconhecido, mas há semelhanças de pinturas ao longo de todo Vale do Paraíba. Partindo do princípio que os barões da época emergiram na sociedade em sua maioria com o cultivo do café, eles buscavam algum tipo de refinamento em suas casas, optando muitas vezes pela decoração interna que pela arquitetura em si, e se baseavam na sofisticação da Corte. Na pintura, podemos identificar o uso de tons terrosos, a criação de uma falsa cortina, que na Corte era muito usada, porém nem todos tinham acesso a tal luxo e muitas vezes usavam desse artifício e também a pintura de natureza morta acima de cada porta de acesso, com elementos nacionais, como a banana e o abacaxi (4).

Pintura da parede do salão principal da casa
Foto Fernanda Moreira

Na sala de estar, as paredes tem pintura azul com detalhes ornamentais em off-white, que nos remetem aos papéis de parede usados hoje em dia; até o roda meio e abaixo recebe uma pintura menos elaborada. Encontram-se os retratos dos primeiros donos da fazenda e um espelho de gosto barroco. Pode se observar o uso constante da cor dourada e também de mármore nos adornos, móveis e o piso de madeira Ipê (5).

Sala de estar da casa
Foto Fernanda Moreira

A maior característica do século 19 é a bela e simples capela, que não poderia faltar em uma casa colonial e possuía lugar de destaque. Nele a pintura da parede é simples em tom neutro e paleta de azuis, não possui roda meio, guarda um robusto oratório de madeira, algumas imagens católicas em quadros, poucas peças de arte sacra, metais e um tapete que segue a mesma paleta de tons.

Oratório da casa
Foto Fernanda Moreira

A cozinha possui peças antigas, como pratos, tachos de cobre e ânforas de barro.

Tachos de cobre e ânforas de barro na cozinha da casa
Foto Fernanda Moreira

Pratos na parede da copa da casa
Foto Fernanda Moreira

O banheiro era algo que não existia na época da construção original, pois as mulheres tomavam banho em seus respectivos quartos em bacias e os homens tomavam banho em um pequeno banheiro na área externa da casa. Com as necessidades dos atuais moradores, foram feitas duas modificações na planta da casa: a primeira é a criação de um banheiro, e a segunda é a divisão desse banheiro o tornando em um lavabo e um local de banho.

Lavabo e local de banho da casa
Foto Fernanda Moreira

Lavabo da casa
Foto Cláudia Carriço

Local de banho da casa
Foto Cláudia Carriço

Planta da casa sem banheiro, 1895
Imagem divulgação [DIAS, Evelina. Encontro de raízes]

Planta da casa com banheiro, 1910
Imagem divulgação [DIAS, Evelina. Encontro de raízes]

Planta da casa com banheiro dividido em lavabo e local de banho, década de 1970
Imagem divulgação [DIAS, Evelina. Encontro de raízes]

Com todas essas informações e estudos, foi visto que o banheiro, por ser feito posteriormente, não recebe as características da época construtiva. Com isso, se propôs a repaginação do banheiro, implementando a essência da época. Os dois banheiros serão reagrupados novamente para que possa ter o espaço bem aproveitado de ambos os lados. Será usado o roda meio para evitar possíveis umidades oriundas da banheira que será trocada por uma vitoriana simples de cerâmica que será o ponto chave do trabalho com pés cromados em dourado e misturadores de chão cromados na mesma cor, os demais metais também seguirão o padrão. A banheira será realocada para baixo da janela que também receberá modificações e ficará na altura da banheira para poder ter uma bela vista e ficará composta com uma cortina básica. Ao lado da banheira será acomodada uma linda cadeira medalhão de madeira com estofado do acervo pessoal do proprietário, que servirá de porta toalhas, e duas mesas redondas de diferentes alturas, finas e elegantes que vão apoiar alguns livros, vasos terrários e objetos de decoração. A banheira também receberá pendentes de vidro bojudo. Para finalizar a composição, será usado tons neutros nas paredes como off-white e para aquecer um pouco o ambiente, como o piso hidráulico é muito frio, será colocado um tablado de madeira para se encostar os calçados.

É imprescindível que diante de todos os aspectos levantados, a intervenção necessária seria a que respeitasse o estilo colonial, havendo harmonia entre a casa e o ambiente proposto. Com isso, o levantamento do acervo decorativo da fazenda Nossa Senhora da Conceição, viabilizou a pontuação dos pontos chaves faltantes, assim associados a outras fazendas,  mesmo não sendo o usual da época o banheiro incorporado a casa, foram usadas como referências coloniais, para possibilitar a recriação de um ambiente neocolonial aconchegante e com traços modernos.

notas

NE – Referência intelectual para o texto: SOUSA, Alberto; OLIVEIRA, Antônio Francisco de. Uma joia arquitetônica do Brasil imperial. A antiga casa de detenção do Recife. Arquitextos, São Paulo, ano 16, n. 187.05, Vitruvius, dez. 2015 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.187/5888>.

1
Ver: SANTOS, Tales. Raízes do café no Brasil. Website Brasil Escola <http://brasilescola.uol.com.br/historia/o-cafe-no-brasil-suas-origens.htm>.

2
Ver: PREFEITURA MUNICIPAL DE CAÇAPAVA. Fazenda Conceição. Website Caçapava site <www.cacapavasite.com.br/?page_id=7267>.

3
Ver: TIRELLO, Regina. Conservação e restauração. O caso da destruição das pinturas murais da sede da Fazenda Rialto, Bananal. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, vol. 13, n. 2. São Paulo, jul./dez 2005 <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-47142005000200010>.

4
Ver: DIAS, Evelina. Encontro de raízes. Trabalho Final de Graduação. Taubaté, Unitau, 2009, p. 42-56.

5
Ver: REDAÇÃO. O estilo de morar dos barões do café. Casa Vogue, 21 jul. 2015 <http://casavogue.globo.com/MostrasExpos/Decoracao/noticia/2015/07/o-estilo-de-morar-dos-baroes-do-cafe.html>.

sobre as autoras

Fernanda Moreira e Nayara Alvarenga são arquitetas e urbanistas formadas pela Unitau. Cursam pós-graduação em Design de Interiores na Faap. Trabalharam em escritórios de grandes arquitetos na cidade de Taubaté SP e agora seguem carreira como arquitetas autônomas.

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