As propostas de transformação urbanístico-arquitetônica e estrutural, na cidade de Sumaré, vieram ao encontro de um processo de reformulação e discussão sobre a recuperação da qualidade do ambiente construído, bem como da preservação dos aspectos valóricos ante a identidade e a memória locais.
Neste quadro referencial, o Concurso Público Nacional para a seleção de propostas de melhoria da qualidade de áreas urbanas, pretende estimular uma ação integrada sobre o espaço público e o privado, visando contemplar as diversas áreas setoriais e alcançar o maior entendimento possível do fenômeno urbano de Sumaré, a partir de uma visão sistêmica, onde as questões devem ser equacionadas de maneira global, de modo a subsidiar a produção de soluções que apresentem respostas a problemas de ordem funcional, ambiental, perceptiva, social, entre outras, simultaneamente.
ObjetivosA área de estudo apresenta-se como um grande mosaico de intervenções, ocupações desordenadas e carências que precisam ser solucionadas e costuradas.Neste sentido, a renovação aqui proposta para a área, privilegia a criação de um novo ambiente urbano, de um (re)desenho dos espaços públicos, da articulação de múltiplos usos, preservando a presença habitacional. Destaca-se o seu caráter de nova e original centralidade, de forte conteúdo simbólico e com condições de reprodutibilidade, flexibilidade e sustentabilidade.
Premissas gerais
De que a inserção metropolitana de Sumaré fortalece o desenvolvimento futuro do Sistema de Transportes de Massa para conexões mais rápidas para Campinas e municípios circunvizinhos;
De que a formação de parcerias entre o poder público e a iniciativa privada podem garantir êxito na implantação sócio-urbanística;
De que um projeto desta natureza venha a ser viabilizado em etapas implantação, dada a própria dinâmica urbana;
De que se impõe a economia de meios, pressupondo a manutenção de diversos elementos urbanísticos presentes, principalmente as vias e muitas edificações;
De que a dinâmica das várias linhas de transportes automotivo na área se apresenta como vetores desordenados e conturbados, frente à escala do arcabouço viário;
De que a médio prazo a implantação de operações urbanas, com a transferência de potencial de construção e de uso, possibilite uma nova dinâmica sócio-espacial;
De que a intervenção urbana esteja compatibilizada com a legislação urbanística vigente, incorporando novos parâmetros urbanísticos em acordo com o Estatuto da Cidade;
De que a renovação do espaço abre possibilidades de recomposição das quadras através da inserção de novas arquiteturas;
De que a infra-estrutura e os seus componentes possam se renovar e se articular à nova paisagem pretendida;
De que esteja contemplado no plano o sentido social da intervenção.
Premissas projetuais
Adotou-se os seguintes pressupostos de projeto, sempre através da ótica da reestruturação do espaço:
Tratar a Praça Manoel de Vasconcelos e as Avenidas Rebouças e José Mancini a como eixos estruturadores da área central de Sumaré e dos seus confrontantes, garantindo estes espaços para o cidadão e assegurando o caráter de coesão e continuidade;
Dar continuidade ao tecido urbano, realizando as costuras entre os fragmentos existentes material, visual ou simbolicamente definidos, conectando-os entre si e à cidade;
Recuperar o espaço público, quantitativa e qualitativamente, considerando o desenho do sistema destes espaços como uma das matrizes do projeto;
Caracterizar os novos espaços criados, dando ênfase à questào da segurança, da condição ambiental, paisagística e artística;
Mesclar e adequar usos, com destaque para a renovação e a promoção de novos serviços;
Estabelecer densidades adequadas de moradores e usuários;
O redesenho do traçado viário, propondo soluções para atenuar os problemas de trafego identificados, rearticulando os diversos fragmentos, dando ênfase à requalificação das diferentes vias do entorno, e modelando-as pelo alinhamento das edificações;
Desenho urbanístico das área livres nos espaços confrontantes da área foco da intervenção, adotando em sua concepção e em seu potencial construtivo a justaposição de diversas tipologias arquitetônicas;
Introduzir o conceito de “corredores verdes”, compreendendo não somente as vias e praças, mas os espaços livres e impermeáveis existentes nas quadras, com o propósito de melhoria paisagística e ambiental.
As propostas apresentam-se em três escalas de atuação:
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o "plano" onde são analisados e apresentadas as estratégias para implantação das propostas, os instrumentos técnicos e normativos para seu controle e gestão. Propõe medidas que cuidem do patrimônio arquitetônico além de simular as interfaces e impactos das propostas urbanísticas com as áreas de entorno imediato.
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o "desenho da paisagem urbana" que trata do projeto global para a Área Central de Sumaré, em que todas as intervenções se articulam e onde as propostas são apresentadas ao nível do projeto geométrico, com definição de formas, usos e valorizações, de modo a permitir um novo ritmo à percepção espacial desta área e a sua apropriação;
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o "projeto" que trata do detalhamento de alguns trechos do desenho da paisagem urbana onde são mostradas técnicas e volumetrias sugeridas e a sua exeqüibilidade construtiva, propondo uma linguagem urbana pela inserção planejada de um mobiliário padronizado, mas que leve em consideração e enfatize a identidade dos cenários desta área.
Plano geral das propostas
O Projeto de Renovação Urbana para a Área Central de Sumaré e o seu entorno imediato aqui defendido, tem a preocupação de implantar um desenho urbano definido por etapas de execução, que procure alcançar progressivamente a qualidade ambiental e físico-espacial da área.
Estrutura de Ocupação da Área e o seu entorno imediato
A proposta de estruturação de ocupação da área central, com reflexos e alcance para o entorno imediato, constitui-se basicamente na aplicação de instrumentos de intervenção urbanística contidos na Lei Federal No. 10.257 de 10.07.2001 Estatuto da Cidade.
Reestruturação viária
A reestruturação viária proposta utiliza-se do conceito da continuidade urbana, objetivando a maior flexibilização do tráfego e circulação de pedestres, em que a renovação do sistema priorize ações mais imediatas na Área Central e a médio e longo prazos a ligação entre “os dois lados” da cidade, com vistas ao favorecimento de conexões mais rápidas com os distritos urbanos e os municípios imediatamente próximos. Essa reestruturação será definida a partir de hierarquizações e padrões das vias; expansão e melhoramentos; otimização do estacionamento de veículos, cruzamentos de fluxos, circulação de pedestres, tráfego de veículos, paradas (ônibus, táxis, “peruas” e veículos de serviços); tratamento paisagístico e de proteção; elementos de padrões urbanísticos apropriados “Traffic Calming”; sinalização.
Circulação - disciplinar a circulação de veículos, seu estacionamento e limitar o acesso à determinadas áreas, através da utilização de técnicas do "traffic calming", para garantir o direito de ir, vir e estar do pedestre, recuperando o espaço público e proporcionando a melhoria da qualidade ambiental do espaço viário.
Recomposição de quadras
A partir da transformação da Área Central de Sumaré em Área de Especial Interesse Urbanístico, a proposta apresentada tem por objetivo assegurar a renovação gradativa e ordenada dos quarteirões, considerando que a própria dinâmica urbana impõe o surgimento de novas centralidades e, também, a renovação das atividades, visando ações de controle do uso e ocupação do solo, necessárias a preservação da área central como valor histórico, ambiental, paisagístico, social e cultural, garantir-se-ão ações equilibradas entre o gradiente dos quarteirões e a infra-estrutura requalificada.
Arquiteturas
Nesta fase, a definição arquitetônica que se apresenta se constitui como indicativo de volumetrias que sugiram a nova configuração da paisagem, conferindo-lhe identidade, pontuando espaços públicos e de circulação.
As volumetrias sugeridas pressupõem a criação de novos marcos para a cidade de Sumaré ( ex: implantação do futuro Centro Cívico), onde o simbólico esteja contextualizado à sociedade, com uma imagem urbana construída como idéia do coletivo, e que provoque impactos positivos a usuários e transeuntes.
Os novos edifícios a serem construídos, devem adquirir uma concepção formal através de contornos que remetam aos conceitos de clareza, solidez e precisão, permitindo a assimilação e comunicação urbana mais imediata.
Sistema de áreas verdes e paisagismo
Prover a área de intervenção de espaços livres plantados, a fim de permitir que o ambiente seja beneficiado por essas reservas de oxigênio, procurando proporcionar à Área Central, e dela para a cidade, o máximo de locais livres, através da complementação arbórea de todas as vias e do ajardinamento dos demais espaços públicos.
A configuração pretendida se dará pela introdução de forrações, arbustos, árvores de pequeno, médio e grande portes e espécies de palmeiras, distribuídas articuladamente nas praças e nas vias, além do Parque Linear proposto entre a linha férrea e o Ribeirão dos Quilombos, possibilitando a formação de um micro-clima ao local.
Mobiliário urbano e sinalização
Dimensionar seus equipamentos para cumprir às suas diversas funções, garantindo a acessibilidade indiscriminada dos usuários e possibilitar a integração ambiental. Priorizar a unificação da linguagem visual e da comunicação com os usuários e visitantes, segundo padrões construtivos internacionais, de fácil manutenção e reposição.
Principais estratégias para a sinalização:
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estabelecer uma classificação dos tipos de sinalização para facilitar a sua padronização afim de usá-los adequadamente e evitar a poluição visual e à falta de comunicação;
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criar normas para elaboração, aprovação e implantação destes elementos, tendo em vista o grau de visibilidade desejado.
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Principais estratégias para o mobiliário:
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estabelecer padrões com a criação de variações que permitam enfatizar as características específicas da área;
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criação que busque inspiração nos valores culturais da cidade;
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simplificação a partir do padrão estético em consonância com a qualidade do espaço onde o mobiliário está inserido, assim como garantir a sua durabilidade;
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interferir o mínimo na paisagem e no ambiente;
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desenvolver propostas alternativas para portadores de deficiência física e visual;
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promover, através do mobiliário um elo de união entre o poder público, a população e a iniciativa privada.
Iluminação
Atender aos diferentes elementos construtivos do espaço, de modo a valorizar os seus símbolos, criar novos signos e conferir-lhe novos significados. Os edifícios de valor histórico contarão com uma iluminação a vapor de sódio, com efeito de luz e sombra, como um recurso que propicie a formação de uma atmosfera cenográfica, ressaltando-os como marcos de referência e valorizando os aspectos da identidade e da memória local.
Principais estratégias:
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diferenciar a iluminação dos veículos da dos pedestres;
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diferenciar os postes de iluminação de acordo com a hierarquia das vias
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remover fios e cabos aéreos para galerias subterrâneas, como indicativo a médio e longo prazos;
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integrar os projetos de sinalização aos de iluminação;
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usar corretamente a iluminação em vapor de sódio e a iluminação em multivapor metálico.
Acessibilidade
Garantir às pessoas portadoras de deficiência o direito de ir, vir e estar, de utilizar e interagir com o ambiente construído em todos os seus múltiplos aspectos. Adotar parâmetros projetuais que priorizem a circulação, a utilização, a segurança e a funcionalidade, considerando a diversidade de necessidades e características humanas, sem excluir ou segregar quaisquer grupos sociais deficientes, crianças, idosos, dentre outros.
Utilizar as seguintes técnicas de desenho urbano e estratégias:
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rampas,
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suavização de desníveis,
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regularização adequada da pavimentação,
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desobstrução e paginação orientadora dos passeios, ruas e áreas de estacionamento,
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subterraneização das instalações de energia e telefonia,
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utilização do SIA (Símbolo Internacional de Acesso) como indicador de ambientes públicos e privados acessíveis, sem restrição por tipo de usuário.
Implementação das propostas
Para a implementação a proposta desse trabalho, em sintonia com as políticas públicas, será realizada através das intermediações entre os programas urbanísticos, arquitetônicos, culturais, sociais e econômicos, pelo viés das parcerias entre o público e o privado, em etapas a serem definidas a curto, médio e longo prazos.
A curto prazo, as ações relativas a manutenção e reformas dos diversos elementos urbanísticos presentes na Área Central, como os passeios, canteiros centrais, praças e jardins públicos, de responsabilidade da Prefeitura Municipal, deverão ser concretizadas através de licitação pública com pagamentos com títulos da dívida ativa municipal; fato este que não compromete o orçamento municipal para o próximo exercício, além de tornar-se desnecessária quaisquer alterações no Plano Plurianual e na Lei de diretrizes Orçamentarias.
A médio prazo, em função da transformação da área central em Área Especial de Interesse Urbanístico, o Poder Público Municipal, o Conselho Municipal de Desenvolvimento e Defesa do Patrimônio Sócio-cultural e Ambiental, com a participação da iniciativa privada, implantar-se-á uma Operação Urbana Consorciada visando exclusivamente a modificação do parcelamento do solo, do potencial construtivo e da alteração do uso das edificações, no conjunto de quadras ao lado da atual subestação (proposta de implantação do CIC - Centro Integrado de Cidadania). Os recursos obtidos pelo Poder Público serão aplicados exclusivamente na passagem subterrânea da Avenida José Mancini sob a linha férrea.
A longo prazo a proposta geral prevê a implantação da Estação Ferroviária (e também metroviária) em parceria com a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos Região Metropolitana de Campinas. Destaca-se aqui, que o prédio da antiga estação deva ser restaurado para abrigar o Centro da Memória da Rede Ferroviária.
Estabelecidas as relações particulares de suas responsabilidades, o resultado esperado é o da construção de uma sociedade organizada e conectada às infovias presentes no mundo contemporâneo. Nesse processo, considera-se a participação e o comprometimento da população nas definições da intervenção urbanística e de renovação da Área Central de Sumaré, em que as objetividades e subjetividades contribuirão para o entendimento dos espaços constituídos por totalidades, particularidades e singularidades.
ficha técnica
Equipe
Arquitetos João Francisco Chavedar, Fabíola de Almeida, Samantha Tomiyama , Cláudio Faria RodriguesEstudante de Arquitetura
Fernanda Lemes de Santana.