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PORTAL VITRUVIUS. Concurso Nacional Lanceiros Negros. Projetos, São Paulo, ano 06, n. 066.03, Vitruvius, jun. 2006 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/06.066/2672>.


Escala 1: Regional

Premissas

Em uma proposta para o desenvolvimento de uma região tão extensa como a do quadrilátero sugerido pelo TR deste concurso (Bagé – Caçapava – Rio Grande – Jaguarão), há que se compreenderem as seguintes premissas:

1- A natureza é transformada pelas culturas agrícolas e o pastoreio para o sustento da humanidade, à custa das características originais do território; assim, grande parte da história das paisagens reflete as modificações introduzidas pelo homem que, na ocupação do solo, projeta não apenas o seu racionalismo, mas também os seus arquétipos, símbolos, ritos e sua visão do Cosmos.

2- Assim, a paisagem se modifica no tempo, seja pela ação dos elementos naturais (variações climáticas, geológicas, estações do ano, erosões, etc.), seja pela ação do homem (agricultura e pastoreio, formações urbanas, vias de comunicação, aproveitamento do sistema hídrico, etc.).

3- Em resumo, qualquer território tem uma explicação histórica de como e porque determinados trechos do seu solo foram utilizados ou não, porque determinados elementos geográficos nativos permaneceram intactos e de como nós (a humanidade) estamos continuamente variando o meio ambiente através de nossa experiência e cultura. Deste modo, podemos deduzir que o conhecimento desta história é essencial para a leitura da paisagem sobre a qual pretendemos agir. Por outro lado, no século passado surgiu a noção de que a exploração da natureza tem os seus limites, que seus recursos não são eternos e que é no equilíbrio entre o ambiente antrópico e o ambiente natural que estará o caminho para a qualidade de nosso futuro neste planeta.

Plano Diretor Regional

Um plano como o solicitado pelo TR, que sugere a promoção do turismo local como meta a ser alcançada, deve constituir-se em um “Master Plan” focado na proteção e recriação do meio ambiente (e consequentemente da paisagem) com algumas características de uma APA (Área de Proteção Ambiental), que possa incentivar o desenvolvimento econômico da região (por meio do turismo, inclusive), recuperando-se a história do território.

Assim, o plano deve determinar as “zonas de ocupação controladas” (ZOC), que comportariam as áreas urbanas ou a urbanizar, sejam elas vilas ou cidades, com legislação específica, e as “zonas de conservação da vida silvestre” (ZCVS), na prática as áreas rurais, onde seriam admitidas atividades agropastoris reguladas por normas de proteção ambiental. Para tal, será necessária a identificação dos “Compartimentos Paisagísticos” da região, baseada nos levantamentos dos meios físico, biótico e antrópico existentes, com o conseqüente diagnóstico ambiental (descrição e análise dos fatores ambientais e suas interações, caracterizando o estado das paisagens), que permitirá chegarmos ao “Projeto Síntese” (o Plano Diretor) que englobará as ZOC e as ZPVS em seu conjunto.

Intervenções urbanas e rurais

O plano deverá contemplar as seguintes intervenções, a saber:

1- Identificação dos acessos rurais tais como estradas vicinais, trilhas e caminhos de interesse cultural ou paisagístico e sua possibilidade de uso para passeios a pé, de bicicleta, a cavalo ou charretes, desencorajando-se ao máximo o uso poluidor dos automóveis. Estes percursos deverão constar em mapas turísticos e serem dotados de sinalização visual completa para a orientação de seus usuários. Como trilhas rurais passam geralmente por povoados ou sedes de sítios e fazendas (estâncias, no caso), surgirá aí a oportunidade de micro-empreendimentos econômicos tais como pousadas para pernoite, ranchos para refeições caseiras, churrascos, aluguel de montarias e charretes, serviços de guia, etc... Os caminhos turísticos deverão receber manutenção adequada como limpeza do mato e do lixo, solução para trechos alagadiços e transposição de obstáculos físicos e, se for o caso, tratamento paisagístico de requalificação de compartimentos da paisagem com o plantio de espécies vegetais nativas para a criação de áreas ambientalmente recuperadas.

2- Implantação de uma ciclovia ligando Bagé a Pelotas, passando por Pinheiro Machado, com traçado, grosso modo, paralelo a BR 293 e que poderá, no futuro, estender-se até Porto Alegre e, eventualmente, integrar-se a uma possivelmente vindoura “Rede de Ciclovias Unidas das Américas” (Declaração de Bogotá). Desta via principal poderão sair ramificações para locais de interesse turístico próximos (desde já, até o sítio de Porongos). Saliente-se que nas cidades brasileiras o número de bicicletas é, geralmente, o dobro do de veículos e, ao contrário destes, não poluem a atmosfera, não são barulhentas, não matam e fazem bem a saúde do ciclista.

3- Fomentar e localizar em Pinheiro Machado um projeto de parceria público-privada para a implantação de turismo por balonismo, prática esta em uso, hoje em dia, desde a Europa Até a África.

4- Note-se que um Plano Urbano para Pinheiro Machado que inclua proteção ao núcleo histórico, parcelamento e uso do solo, limites e expansão da área urbana, gabaritos, questões sobre a paisagem, etc., não é possível, neste momento, com os dados disponíveis. Sugerimos, no entanto a fixação de um limite físico definido para expansão desta ZOC; atingido este último, outra ZOC deverá ser criada como urbanização satélite, com uma ZPVS entre as duas, para preservação da boa relação espacial entre a cidade e o campo. Recomendamos também, que o Plano Diretor desta e de outras ZOC definam a ocupação e o uso do solo de forma a impedir a proliferação, na campanha, de assentamentos urbanos tais como “loteamentos fechados” ou “condomínios horizontais” que, além de segregarem (e assim discriminarem) espacialmente as classes sociais, desestruturam a relação anteriormente mencionada (cidade-campo), ao avançarem, sem o menor critério, sobre as áreas rurais.

5- Como a região é dotada de uma extensa rede hídrica, para a preservação de rios, córregos, sangas e linhas d’água, o plano, além de atender as disposições de proteção ambiental da legislação federal, deverá prever a conservação, recuperação e criação das matas ciliares, ao longo das faixas marginais de proteção do sistema, com espécies vegetais nativas, constituindo-se assim os “corredores faunísticos” que deverão compor toda a trama das “Áreas Núcleo” (como em uma APA), preservadas. Como conservação histórica da paisagem, também as coxilhas não poderão ser utilizadas para atividades agrícolas a não ser em casos especiais e justificáveis como a viticultura.

Levantamento de Dados

Para o desenvolvimento do Projeto Síntese da região, serão necessários os seguintes levantamentos preliminares ao plano:

1- Meio físico:

1.1- Caracterização do clima e condições metereológicas.

1.2- Caracterização geomorfológica e geotécnica (hipsometria, declividades).

1.3- Caracterização dos recursos hídricos (drenagem superficial)

1.4- Caracterização da paisagem geográfica.

2- Meio Biótico:

2.1- Caracterização dos ecossistemas terrestres incluindo a cobertura vegetal, fauna e flora associadas.

2.2- Caracterização dos ecossistemas aquáticos incluindo fauna e flora, bem como o estado de poluição dos corpos d’água e proteção dos mananciais.

2.3- Caracterização dos aspectos da paisagem ligados ao meio biológico.

3- Meio Antrópico:

3.1- Caracterização do uso do solo e da estrutura fundiária em geral.

3.2- Caracterização da população local e sua dinâmica social.

3.3- Caracterização do nível de vida da população em geral.

3.4- Caracterização da qualidade do ar, se necessário.

3.5- Caracterização dos níveis de ruído, se necessário.

3.6- Identificação do patrimônio histórico e artístico, quando for o caso.

3.7- Caracterização da organização social predominante.

3.8- Dados sobre a estrutura produtiva e de serviços.

3.9- Análise dos sistemas viários, dos meios de locomoção e da capacidade física das principais ligações terrestres.

3.10-Redes de infra-estruturas básicas.

3.11-Redes de atendimento, por equipamentos públicos e privados, nas áreas de saúde, educação e cultura, esportes e lazer, etc...

3.12-Caracterização dos aspectos das paisagens urbanas, relativos ao patrimônio natural, cultural e às tipologias arquitetônicas locais.

Como dissemos anteriormente, será a partir destes dados que se tornará possível o diagnóstico ambiental que orientará a identificação dos compartimentos paisagísticos, com o conseqüente desenvolvimento do Projeto Síntese (Plano Diretor Regional).

Escala 2: Local

No item anterior (Escala 1, Regional), já fixamos os parâmetros urbanos, possíveis neste momento anterior aos levantamentos necessários, das ZOC em geral e da cidade de Pinheiro Machado em particular. Ainda sobre esta última e o sítio de Porongos temos a propor as seguintes diretrizes:

1- O núcleo histórico (inclusive a área já tombada), deverá ter o “status” de uma zona de preservação, equivalente ao de uma ZCVS (zona de conservação da vida silvestre) com relação a uma APA (área de proteção ambiental), ou seja, passível de ser ampliada e receber os melhoramentos necessários à sua caracterização enquanto monumento nacional.

2- Na fixação dos limites de expansão urbana de Pinheiro Machado, deverá ser feito um estudo sobre a população máxima desejável, se adotado o conceito de crescimento das ZOC pelo sistema de cidades satélites, tendo-se em vista principalmente a escala mais adequada a uma sede de município de economia basicamente agropastoril e sua boa relação com as ZPVS circundantes. Também achamos que deve ser evitado o seu crescimento para a área ao norte da BR 293; cidades seccionadas por rodovias, mesmo que dotadas de passarelas para pedestres, possuem tristes recordes de atropelamento de seres humanos e de animais.

3- Quanto aos equipamentos relacionados a serem implantados na cidade, não vemos, à priori, maiores problemas, inclusive na hipótese de serem abrigados em edificações existentes a serem adaptadas para o novo uso. Nossa equipe, no entanto, tem dúvidas sobre se, no sitio de Porongos, deva existir apenas o monumento, sem nenhum outro equipamento de interesse para o visitante. Cremos que ali, a maior agressão possível ao meio ambiente e a paisagem histórica que se quer preservar, já foi feita, trata-se da estrada asfaltada que vai para Torrinhas e que passa a meia dúzia de metros da coxilha tombada, com toda a carga de poluição atmosférica, visual e sonora que arrasta consigo. Como não é raro o tipo de turista que chega ao local de carro, dá uma espiadinha no monumento, toma um cafezinho e “some”, achamos que outros focos de interesse como um museu com o acervo disponível sobre o massacre e a revolução Farroupilha, um posto de informações e prestação de serviços turísticos, locais para zeladoria e manutenção, um restaurante/ churrascaria (nos parece impróprio churrasquear ao lado do monumento aos bravos, como sugere o TR) e outras atividades que possam surgir com o passar do tempo, são passiveis de serem colocados junto à rodovia, em cota bem inferior a da coxilha histórica. Esta seria uma intervenção modesta, em nada comparável à presença da rodovia. O passo seguinte seria a alteração, neste trecho, do traçado desta última, embora nos pareça uma solução cara, pois envolve desapropriações, terraplanagem e capeamento da nova via, demolição da original, etc... Mas não deixa de ser uma hipótese a ser analisada mais detalhadamente, constituindo-se numa segunda fase da intervenção, a ser discutida com a administração e o povo do município de Pinheiro Machado.

4-Criar uma zona de transição para a área da prefeitura e a área a ser tombada, que se constituiria no primeiro compartimento paisagístico identificado (uma ZCVS), delimitado a sudoeste e a noroeste pelo vale dos arroios Candioto eTipol (ex Velhaco), ao norte e nordeste pelos arroios da Divisa e do Passo da Caieira, a leste e sudeste pelo arroio Boiei e pela Serra dos Pereira e ao sul pela BR 293 e o povoado de Vila Umbu. Nele, o atual uso do solo será mantido, naturalmente com a recuperação das matas ciliares ao longo dos corpos d’água, mas novas edificações para habitação ou turismo (usos permitidos) poderão ocupar no máximo 0,2% das glebas, com coeficiente de aproveitamento do mesmo valor e gabarito de 1 pavimento obrigatório, além da necessária obediência à legislação do IBAMA. Com o tempo e a geração de recursos provenientes da atividade turística local, esta área poderia ser efetivada como parque natural municipal, com maior controle da administração do município sobre as alterações da paisagem.

5-Infra-estrutura: cabos elétricos ou telefônicos deverão ser enterrados desde a BR 293 até o sítio de Porongos; o abastecimento de água deverá ser feito pelo lençol freático e pelo reaproveitamento das águas pluviais; o esgoto, na área tombada, deverá ser tratado para não contaminar o subsolo e especial atenção deverá ser dedicada à iluminação do monumento a ser erguido na coxilha: a prefeitura de Pinheiro Machado deverá promover o recolhimento seletivo do lixo. Não recomendamos o uso de coletores solares ou de energia eólica, pois trariam um aspecto excessivamente tecnológico ao local.

Escala 3: Memorial

Para atendermos as exigências do TR de mínima interferência no sítio histórico, localizamos o monumento no ponto elevado da coxilha mais ao norte da área tombada da prefeitura (cota 412,00 m) e enterramos sob ela os anexos solicitados (o salão de eventos e os espaços de apoio). Uma abertura circular, de 10,00 m de diâmetro ilumina o nível enterrado do conjunto, onde os ambientes foram organizados em torno de um peristilo, que circunscreve uma grota escavada no solo, da qual surge uma lança de aço que aponta para o alto (com seus 43,00 m de comprimento) porem sem se apoiar no chão, como se surgisse das entranhas da terra gaúcha em direção ao firmamento, lembrando o destino dos bravos que ali tombaram. Este signo será, construtivamente, composto por três seções de tubos de aço de diâmetro variável, soldadas entre si e atirantadas na viga anelar do peristilo, sendo o conjunto muito simples, geometricamente falando, como ilustram os desenhos abaixo e ao lado.

O acesso à parte inferior do monumento será feito através de três túneis, em nível com seu piso, que proporcionarão um passeio dramático, que começa no sopé da colina e que atravessa a zona de sombra daqueles até o espaço profusamente iluminado do peristilo onde se ergue a lança, sendo que na parede oposta poderá ser inscrita, em baixo relevo, a bela frase que consta do TR; “Para os bravos a vida não é mais valiosa do que a liberdade”. Destes acessos tambem partirão as trilhas para passeios no sítio de Porongos e a ligação com o estacionamento e o edifício do museu. Este último terá a tipologia de uma arquitetura vernacular, com paredes de taipa de pilão aparentes que suportarão as tesouras de madeira que formam o telhado de telhas de barro. O conjunto, que além do museu conta com uma churrascaria, posto turístico, local para palestras, administração e serviços, é articulado ao redor de três pátios internos que criam para o visitante, recém saído da paisagem infinita dos pampas, um ambiente de recolhimento e introspecção, favorável a um mergulho na história da revolução Farroupilha.

As trilhas dentro do sítio histórico são necessárias para direcionar o fluxo de turistas e assim melhor preservar o ambiente circundante. Contarão com pequenos largos para contemplação e repouso e receberão tratamento de recuperação paisagística adequado. O banhado existente ao lado da rodovia, por ser antrópico, deverá ser drenado e o local poderá ser utilizado, por sua situação, como ponto de aluguel de montarias, charretes e mesmo de bicicletas do tipo “country-cross”.

Monumento no Parque farroupilha, Porto Alegre

Devido às restrições do TR no que se refere à área disponível, altura máxima permitida e materiais a serem empregados, procuramos nos distanciar de uma solução em prisma(s) retangular, por ser excessivamente utilizada (o totem, ou o monólito), optando por trabalhar com dois prismas triangulares, separados entre si por uma fresta de 18 cm de largura, onde colocamos uma série de chapas de aço de 1“, soldadas em forma de cascata. O conjunto, em planta, assemelha-se a uma ponta de lança e, portanto, foi por nós utilizado como logotipo para a comunicação visual do conjunto solicitada pelo TR.

Como se trata de um memorial fúnebre, optamos por formar os prismas com muretas de concreto armado convencional do tipo “caixão perdido”, a serem revestidas com granito preto polido. A cascata de chapa de aço deverá ser pintada de vermelho, simbolizando o derramamento de sangue dos guerreiros que tombaram em Porongos. A mesma inscrição constante no monumento de Pinheiro Machado, poderá aqui ser repetida, também em baixo relevo, no granito negro.

Conclusão

Com esta organização geral do programa requerido conseguimos que, as obras das estruturas física e paisagística do sítio de Porongos e do Parque Farroupilha, possam ser realizadas independentemente das outras intervenções que se façam necessárias, enquanto a prefeitura de Pinheiro Machado ou quem de direito, providencia os levantamentos anteriormente discriminados para a abordagem e execução posterior do Plano Diretor Regional (Plano Síntese), conforme os parâmetros anteriormente definidos por nossa equipe.

ficha técnica

Equipe
Arq. Euclides Oliveira (titular)
Arq. Sidney Linhares (Paisagista)
Arq. Dante Furlan e
Arq. Carolina de Carvalho

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Equipe premiada
São Paulo SP Brasil

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066.03 Concurso
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Porto Alegre RS Brasil

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