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PORTAL VITRUVIUS. Reordenamento da Avenida Beira-Mar. Concurso Nacional de Ideias. Projetos, São Paulo, ano 10, n. 109.02, Vitruvius, jan. 2010 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/10.109/3559>.


Situação atual

Fortaleza é uma cidade estratificada e densa, cujos espaços públicos historicamente não priorizam o uso coletivo, testemunho da relação urbana de seus colonizadores. Contudo a Beira-Mar, das areias abertas no limite da Praia de Iracema, passando pelas curvas da Volta da Jurema e das velas da enseada do Mucuripe, tem se revelado uma das poucas exceções na cidade onde se pode falar em um espaço verdadeiramente democrático, quiçá o primeiro espaço em multiplicidade de protagonistas e integração social. Todas as classes de diversas regiões da cidade, somadas aos turistas nacionais ou estrangeiros, têm nesse cenário um espaço comum para as mais diferentes atividades: desde a centenária atividade da pesca artesanal, passando pelos artesanato, atividades esportivas, manifestações de cultura popular, passeios náuticos, shows de música, atividades gastronômicas, hoteleiras, etc.

Conjuga-se a este palco privilegiado, o mar da enseada do Mucuripe, com especial significado na história de Fortaleza, por onde chegaram os primeiros europeus, dando início a vila, hoje é uma das maiores cidades do país. Precisamente nos arredores do assentamento inicial da fortaleza à qual deriva seu nome, a cidade passou a voltar-se para o sertão e dar as costas ao litoral. Essa relação conflituosa permanece em pauta desde os inícios da urbanização do Centro até a Fortaleza turística atual e necessita de uma estratégia global para afirmar que papel deseja desempenhar no seu litoral.

Com o desenvolvimento e expansão da cidade em direção ao nascente, a vila de pescadores do Mucuripe converte-se paulatinamente em balneário de lazer das famílias abastadas do Centro. Dessa inicial diversidade de interesses díspares, o mar é figura central para os personagens, para lazer ou trabalho e desse objeto comum, a cidade e seus habitantes começam a compreender e desfrutar seus encantos. Passa-se a buscar seu horizonte, aproximar-se física e espiritualmente, revelando o novo interesse das pessoas evidenciado no próprio nome do espaço que o abraça, Beira do mar.

Por tratar-se de um espaço democrático numa porção rica de significados históricos e culturais, a Beira-Mar é um espaço emblemático para a cidade de Fortaleza. Contudo o abraço encantado se converteu aperto sufocante, onde a ocupação desordenada e a apropriação privada dos espaços públicos acabaram por interromper percursos, destruir patrimônios, maltratando o meio ambiente e prejudicando a participação mais efetiva de seus personagens.

Estratégia do desenho urbano

O novo desenho da Avenida Beira-Mar e seu entorno constrói-se a partir da ampliação das possibilidades espaciais advindas com o aterro e sob o prisma de uma conceituação da área como um parque que recebe a cidade a caminho do mar.

A diretriz determinante do traçado urbanístico são os eixos longitudinais que encaminham o usuário ao longo da orla, ecos da linha de maré que induzem um primeiro nível de zoneamento, organizado em faixas tangenciais: o passeio junto aos prédios, que passará por alargamento em alguns trechos; a via, com caixa realocada e maior número de vagas para estacionamento; o passeio externo ao parque, com 03 metros de largura; o parque, com dimensões variáveis entre 15 e 30m; a ciclovia, com 04 metros de largura; o calçadão beira-praia, com 12m de largura; e a faixa de areia.

Este esquema traduz decisões relevantes de projeto, em especial, a tomada de partido por um parque linear como estruturador do espaço, transição entre o ambiente construído e a praia. Tal elemento propicia a separação entre as atividades de esporte e lazer e o sistema viário principal, resultando em ciclovia e calçadão assentados junto à faixa de areia.

A costura entre o binômio praia-cidade é literalmente realizada através dos passeios internos ao parque, cujo movimento ondulatório atende à funcionalidade de deslocamento ao tempo que introduz variedade paisagística. O desenho é acentuado pelo posicionamento de elementos construídos – os quiosques – como marcos nas cristas das curvas externas, cuidando-se para manter desimpedidas as visuais obtidas a partir das ruas transversais à praia.

Toda a conceituação do espaço é, assim, dominada pela fluidez do deslocamento e pela percepção da paisagem, o que reverbera no traçado sempre contínuo e elementar. Também se mantém nesta senda a solução para a feira de artesanato, para cuja proteção ergue-se a meio nível um grande teto jardim, o qual, recortado em lâminas arqueadas de sinuoso movimento, acrescenta ao contexto da nova orla um discurso instigante sobre espaços abertos e fechados, visibilidade e opacidade, lazer e infra-estrutura, luz e sombra.

A paisagem recriada

O desenho da nova orla busca revelar o elemento natural estruturante de sua paisagem: mar. Para tanto, são priorizadas a abertura das visuais e a amplidão dos espaços de circulação e permanência.

Propõe-se harmonizar o espaço vazio – de límpida apreensão –, com elementos de desenho urbano que acrescentam ritmo e ordem, e a vegetação, cujas formas cambiantes amenizam o olhar e o clima.

Os complexos verdes do parque se organizam entre jardins de encontros, os quais protegem os arredores dos quiosques, em formações mais adensadas, e jardins de coqueiros, implantados como moldura para o mar em pontos focais privilegiados, sobretudo no eixo das vias perpendiculares à praia.

Os espécimes que compõem a vegetação do parque reintroduzem na área uma maior variedade ecológica e sensorial. As árvores frutíferas de grande e médio porte, com floração em estações desencontradas, combinam a riqueza de perfume e cor em constante mudança: ipê amarelo, pau-ferro, pau-brasil, tamareira, acácia, pau-branco, oiticica, murici, cajueiro, flamboyant, jasmim manga, cocoloba; muitas delas, plantas nativas; todas bastante adaptadas e de fácil manejo em nossa região.

Certamente, o conteúdo de tais propostas encontrará maior ressonância caso venham a se fazer viáveis ações complementares de saneamento, que recuperem o equilíbrio biótico e as condições de balneabilidade do mar e do Riacho Maceió.

Deslocamento e permanência

A organização do sistema de circulação da nova orla tem como princípio a hierarquização clara dos fluxos, com prioridade para o pedestre. Esta diretriz vai ao encontro das vocações urbanas locais, e se traduz em termos práticos na reserva de algo em torno de 60% dos espaços de circulação para passeios.

Optou-se por não alargar a seção da avenida, evitando-se estimular o aumento da velocidade média ou a demanda de fluxo de veículos que certamente impactariam a qualidade ambiental; assim, também, se solucionam mais adequadamente as travessias, contribuindo para a segurança e o conforto do pedestre.

As condições de acessibilidade são garantidas pela manutenção dos níveis de piso, inclinações inferiores aos limites aceitáveis, revestimentos propícios à circulação em espaço aberto e disponibilização de mobiliário de apoio; são ainda executadas 07 travessias elevadas ao nível de passeio, distribuídas em cruzamentos ao longo da avenida, que facilitam a integração entre a zona de comércio e moradias com o parque e a praia; neste sentido, contribuem ainda soluções de geometria das calçadas, com o redesenho das interseções e das paradas de ônibus.

A ciclovia passa a integrar o sistema da nova orla como equipamento voltado preferencialmente para a prática de esporte e o lazer, destacando-se da via principal e inserindo-se no contexto parque / calçadão / praia.

05 Estética e Identidade

A intenção estética contida na proposta da nova orla funda-se na compreensão do desenho como mediador entre os elementos estruturadores da paisagem, ou seja, a praia e o mar, e o usuário.

A intervenção humana se apresenta como um fator de coerência do espaço, e propõe a criação de uma identidade do lugar, cujo discurso se desenvolve em soluções volumétricas e na escolha de materiais mimetizados ou propositadamente contrastantes: a madeira, elemento telúrico que confere ao mobiliário, em especial aos grandes “decks talude” e passarelas sobre enrocamentos, uma qualidade tátil e de conforto insubstituível; o concreto, que remete à neutralidade e à rugosidade da pedra e permite soluções a um tempo austeras na apresentação e de  longa durabilidade, para pisos assim como para fechamentos verticais; o aço, que reduz o peso das estruturas aéreas e do mobiliário. Cuida-se para diminuir o repertório formal nas construções e no mobiliário, com a adesão a uma linguagem arquitetônica contemporânea que privilegia ora a linha sinuosa – nos passeios e na coberta do mercado dos peixes –, ora a reta e o plano – de um modo geral, na volumetria das edificações.

Nos elementos modulares de piso e nos brises da feira de artesanato, são executadas diversas variações em torno de malhas geométricas ortogonais, referência ao trabalho metódico do artesanato em renda, em seu deslindar ancestral de tramas.

Intervenções viárias

As definições sobre o trânsito da Avenida Beira-Mar consideraram os dois conceitos elementares do projeto, quais sejam: a priorização do pedestre e a limpeza paisagística do espaço urbano. Além disso, optou-se por manter a funcionalidade atual da via que conforme citado no Termo de Referência, atende basicamente ao tráfego local gerado pelos equipamentos existentes na região.

Dentro desse contexto, definiu-se inicialmente a seção viária para a Avenida Beira-Mar. O passo seguinte consistiu em definir as configurações geométricas das interseções, em conjunto com as travessias de pedestres, considerando a possibilidade de travessias elevadas, seguido da definição da infraestrutura para os ciclistas e das paradas de ônibus.

A circulação em sentido duplo foi descartada, pois esta configuração só seria possível em um pequeno trecho da avenida, ou seja, a via não teria continuidade, não contribuindo, assim, para a melhora da mobilidade da região de entorno.

Já a opção de sentido único com o acréscimo de faixas, também foi descartada por ela ser incompatível com a funcionalidade preconizada para a via. Atualmente, a velocidade máxima regulamentar da Avenida Beira-Mar é de 40 Km/h. O alargamento da faixa de rolamento estimularia os veículos motorizados a desenvolverem velocidades mais elevadas, potencializando a ocorrência de acidentes de trânsitos. Soma-se a isto o aumento das travessias de pedestres, ampliando a exposição destes usuários ao risco de acidentes. Entretanto, foram feitas algumas adaptações, buscando melhorar a qualidade do trânsito, descritas a seguir.

Atualmente, a seção viária típica da Avenida Beira-Mar, possui duas faixas de rolamento, com largura total variando em torno de 7,0m, e estacionamento a 45º no lado sul da via.  Observa-se que o estacionamento inicia-se logo após o término da faixa de rolamento da direita. Esta configuração faz com que as saídas e entradas de veículos a este estacionamento interfiram na circulação da via (ver Figura 1).

Buscando minimizar as interferências identificadas na Figura 1, foi elaborada a seção viária apresentada na Figura 1. Esta seção também é composta por duas faixas de rolamento com largura total de 7,0m e estacionamento a 45º no lado sul da via. A diferença neste caso é que foi criada uma faixa de 2,0m entre a faixa de rolamento da direita e o início do estacionamento. Esta configuração reduz as interferências promovidas pelas manobras de saída e entrada do estacionamento, aumentando a capacidade da via em relação à seção viária atual, pois a manobra não é mais realizada na faixa de rolamento e sim na nova área criada (ver Figura 2).

Considerando os dados obtidos com as pesquisas volumétricas, constata-se que a configuração proposta garantirá que o volume de tráfego da Avenida Beira-Mar seja atendido de modo satisfatório.

Como proposta para o futuro, recomenda-se a criação de mais uma rota de saída da Avenida Beira-Mar. Uma alternativa para criação desta opção de saída seria implantar um semáforo no cruzamento da Rua Nunes Valente, que passaria a operar em sentido único norte/sul, com a Avenida da Abolição, desafogando, assim o trecho de maior movimentação.

A definição dos pontos de travessia de pedestres na Avenida Beira-Mar considerou os locais atuais das faixas de pedestres, com pequenas exceções. Além desses pontos foram definidas faixas de pedestres em todas as vias transversais.

Junto com a definição das travessias de pedestre, foi concebida a geometria das interseções, buscando ao máximo priorizar os pedestres. Para tanto, foi concebida a idéia de prolongar os passeios reduzindo a largura de travessia e garantindo proteção ao pedestre no momento anterior ao início de sua travessia. Além disso, para a configuração da geometria das interseções foram considerados os raios de giros máximo dos veículos que trafegam na Avenida Beira-Mar. Desta forma, foi proposta a suavização das esquinas para facilitar o percurso (caminho de manobra) dos ônibus que realizam a conversão à direita.

Dentro da concepção de priorizar o pedestre, foram propostos ainda alguns locais em que a via (faixa de rolamento) é elevada ao mesmo nível do passeio, formando platôs. Neste caso, a segregação entre o veículo e o pedestre é feito com balizadores e dispositivos de jardinagem e o objetivo é reduzir a velocidade dos veículos e garantir mais conforto na travessia do pedestre.

Atualmente, a Avenida Beira-Mar não possui ciclovia, fato que justifica o baixo número de bicicletas coletado nas pesquisas. O maior volume detectado foi cerca de 90 Bic./Hora, no cruzamento com a Avenida Desembargador Moreira. Acredita-se, entretanto, que há uma demanda reprimida, que deve ser estimulada, a partir da construção da ciclovia.

A ciclovia proposta para a Avenida Beira-Mar busca atender, principalmente, o ciclista de lazer. Deste modo, o seu traçado não foi pensando para otimizar o percurso, por exemplo, e sim em propiciar uma maior contemplação  da paisagem. A ciclovia projetada possui sentido duplo onde haverá o fluxo compartilhado entre ciclistas e coopistas. A seção proposta é de 4m (quatro metros) tendo as faixas para ciclistas 1,2 m (um metro e vinte centímetros) e as faixas para coopistas 0,80m (oitenta centímetros).

Estudo da paisagem

O desenho do Parque Beira Mar surgiu da busca do equilíbrio entre áreas de permanência e áreas de contemplação da paisagem. Em virtude do clima de Fortaleza, estas duas zonas necessitam de tratamento paisagístico diferenciado. Árvores de grandes copas, com suas sombras projetadas, garantem o conforto para aqueles que usufruem o espaço público durante as manhãs e as tardes, enquanto que o desfrutar das visuais acontece de melhor forma em zonas de vegetação menos densa.  Desta forma, o desenho ondulado organiza e limita estas diferentes zonas, alternando áreas de árvores frondosas com áreas palmeirais. A definição dessas áreas segue a modulação já existente das quadras da Av. Beira Mar. No eixo central dessas quadras foram locados os quiosques em meio a bosques de árvores, no eixo das vias foram valorizadas as visuais para o mar com o uso de palmáceas.

As massas de vegetação servem, então, como filtros entre o ambiente urbano e o natural. A calçada próxima à Av. Beira Mar encaminha o usuário a vislumbrar o parque pelas vias pedonais curvas que delimitam as áreas de vegetações diferenciadas, encaminhando o usuário a um grande calçadão com ciclovia contíguo à praia. Este desenho busca eliminar barreiras ao uso da praia e valorizar das atividades à beira mar.

A intenção de garantir a continuidade dos percursos se revela também no desenho da Feirinha da Beira Mar, a solução foi locá-la sob tetos-jardins que se inserem no ambiente com uma leve inclinação e criam espaços dinâmicos para a contemplação da paisagem.

No eixo da Av. Desembargador Moreira optou-se por enfatizar a visual do mar que se descortina desde a Praça Portugal com a criação da Praça do Monumento. Neste local é proposta a retirada de algumas árvores para criar uma área para grandes eventos e destacar a entrada para o novo espigão e o Monumento ao Interceptor Oceânico, que será evidenciado com um coqueiral como pano de fundo.

Na área entre as ruas Pedro Natale Rossi e Manuel Jacaré é proposto um deck de madeira sobre as rochas existentes, direcionados para as melhores visuais do pôr-do-sol.

Setor de esportes

Percebendo a vocação inequívoca dos espaços litorâneos como promotores de diversas atividades esportivas, a proposta cria linhas contínuas e ilhas de prática esportiva em vários pontos de intervenção, fortalecendo as modalidades existentes e sugerindo novos usos.

Os equipamentos esportivos existentes foram na maioria preservados. Com o aumento da faixa de praia, liberou-se espaço suficiente para a realocação das quadras de vôlei e inserção de outras ao longo do aterro. Criou-se no trecho próximo ao antigo espigão um novo pólo esportivo, tendo em vista ser um ponto de partida de caminhadas e corrida.

Junto à Praça dos Estressados, foram propostos também equipamentos de fisioterapia para idosos, permanecendo a quadra poliesportiva. Seguindo no sentido do Mucuripe, os locais dos equipamentos de musculação serão mantidos com atualização do mobiliário, sendo a quadra de hóckey sobre patins e o bow de skate apenas reformados e outros equipamentos de ginástica e alongamento foram inseridos em outros pontos.

A Ciclovia associada à via exclusiva de corrida, demanda latente dos usuários, desenvolve-se ao longo de toda a área de intervenção e se comporta de duas formas: na área onde ocorreu engorda da faixa de praia esta encontra-se longe da via, localizada entre o parque e o calçadão, consolidando a ocupação permanente e segura da grande faixa de praia recuperada; no trecho da intervenção onde não houve aterro ela torna-se adjacente a via, mas separada por um canteiro longitudinal contínuo.

A premissa do projeto observa dois aspectos fundamentais, primeiro na morfologia da orla de engordas e estrangulamentos e depois na variação perceptível dos usos do solo nas quadras da avenida: aonde há a concentração de serviços e hotéis a atividade esportiva aproxima-se da costa deixando espaço para a deambulação interna e onde o uso residencial se concentra a linha de esportes se torna mais próxima do meio urbano, dando lugar a contemplação do mar.

A enseada do Mucuripe tem sido palco de inúmeras atividades ligadas ao mar e as atividades esportivas não defraudam essa tradição. Ao longo do ano, dada a diversidade de condições climáticas mutáveis, diferentes modalidades fazem uso do oceano, quer seja em treinamentos ou propriamente eventos náuticos.

Das ondulações de dezembro a março que fazem do local cenário perfeito para o surf, com seus recifes até os meses de julho a novembro com o aumento da intensidade do vento, a vela torna-se protagonista, com diversas modalidades presentes numa das melhores raias do país, com escolas e competições. A natação aberta tem excelentes condições devido à ausência de fortes correntes comuns no restante do litoral e a temperatura da água. Além disso, as potencialidades para o mergulho desportivo são imensas com a presença de diversos naufrágios próximos a costa.

O projeto aborda em três momentos o apoio à estas atividades: nos equipamentos presentes no espigão, no espaço mais generoso destinado à prática de windsurf e ao pretender uma nova mirada em relação à paisagem que passa a incorporar a praia do Meireles e assim preservá-la.

Feirinha

Diante do desafio de abrigar uma enorme quantidade de permissionários num espaço público adensado, agravado pelas condicionantes geradas pelas diretrizes do Projeto Orla e o tombamento municipal da Feira de Artesanato, um leque de possibilidades se abriu para solucionar elementos tão díspares. Desde a simples execução de um protótipo de box desmontável mais otimizado com depósitos próximos e áreas de sombreamento para uso como praça, passando para estratégias mais impactantes na paisagem na construção de quiosques fixos de alvenaria, chegou-se a uma concepção híbrida que, a uma só vez responde definitivamente às demandas dos diversos atores do espaço sem contudo inviabilizar a paisagem urbana e natural. A solução, de matriz simples, porém inovadora, abriga os 650 boxes fixos sem, contudo prejudicar a qualidade nem a continuidade espacial do Parque Beira-Mar através de um singelo movimento tectônico do passeio, duplicando o espaço existente, conservando a linguagem paisagística e abrigando comodamente as atividades comerciais agora em caráter permanente.

Implantada na área da Beira-Mar entre a Rua Joaquim Nabuco e a Rua Visconde de Mauá, a Nova Feirinha consiste em uma proposta de integração funcional e lúdica com os espaços públicos ao seu redor. Lâminas de leve curvatura que gradualmente transformam-se de passeio à laje-jardim do passeio, ao mesmo tempo que dá continuidade ao percurso do pedestre, conectando o parque a praça do Náutico. Desenvolvidas em diferentes níveis, as faixas sinuosas geram rasgos longitudinais contribuindo para um espaço múltiplo, porém de identidade única. Proporcionam luz e ventilação para o interior da Feirinha, que está semi-enterrada e é permeada por acessos rampados.  Suas laterais paralelas à Avenida e ao Mar são limitadas por grandes elementos vazados, consagrados na arquitetura tropical com desenho inicialmente observado na geometria das rendas. Dessa forma, a Feirinha é acessada livremente nos turnos da tarde e da noite, o espaço inferior agora transformado em uso contínuo comercial e a praça verde superior com seu momento de lazer e contemplação, possível pela fluidez do percurso na área ajardinada acima da Feira.

No centro da feirinha apresenta-se uma grande alameda coberta possibilitando a circulação, permanência ou acesso direto à praia em qualquer período. Os boxes de venda estão dispostos longitudinalmente criando eixos de circulação, que são iluminados pelas diversas aberturas da laje-jardim e pelas laterais permeáveis. Através de seus caminhos sinuosos, áreas de permanência e totens informativos distribuídos sobre a laje-jardim, será contada a história da Beira-Mar, conformando um memorial ao ar livre e contribuindo para a preservação da história de Fortaleza.

A nova Feirinha constitui-se em novo marco urbano, tanto pela volumetria quanto pela força espacial expressiva mas principalmente pela maneira como aborda o problema contínuo da ocupação dos espaços públicos de Fortaleza. Não apenas servindo de suporte a atividade semi-formal do comércio de artesanato voltado para o turismo, mas abrangendo um número muito maior de necessidades, do lazer do cidadão local ao seu pleno direito de ir-e-vir.

Deck sobre pedras

É proposto um conjunto de decks de madeira sobre as rochas existentes em frente à faixa da beira-mar no trecho entre a Rua Frei Mansueto e a Rua Manuel Jacaré. Este ponto de avanço da linha costeira propicia visuais dilatadas do mar e litoral. Os decks ampliam esse potencial como um novo passeio com bancos e chaises, proporcionando áreas de mirantes sobre as rochas, sem, entretanto tocar-la, já que sua estrutura parte do muro de arrimo que antecede o rochedo e deixa o piso em balanço.

Praça de Eventos

O espaço da Praça de Eventos surge com a realocação da Feirinha e com a remoção das barracas que existem atualmente ao leste desta. Este espaço foi idealizado como praça, pois tanto para quem desce a Avenida Desembargador Moreira como para quem vem da Nova Feirinha, ele se descortina como uma grande área livre que abre a visual para o espigão.

Trata-se de um ponto-médio da extensão da Beira-Mar e, estando ao lado da Feirinha e em frente ao novo espigão, esta praça exercerá o papel de espaço de aglomeração e transição de fluxos peatonais. Será também um marco de orientação junto ao Monumento ao Interceptor Oceânico, que será valorizado com a realocação da feira e com o paisagismo proposto.

A Praça terá quiosques de atendimento ao turista, de serviços gerais e caramanchões para gerar áreas sombreadas, além de aproveitar as árvores existentes na área onde estão hoje as barracas. Apesar de não ser perceptível ao olhar do pedestre, a paginação da praça é uma estilização do trabalho artesanal dos labirintos, organiza e dinamiza seu espaço.

Parque Riacho Maceió

Fonte primordial de água potável para os primeiros habitantes da região, do qual pescadores e moradores se beneficiaram por gerações, o riacho Maceió apresenta suas margens degradadas por construções irregulares, desmatamento da mata ciliar, acúmulo de lixo doméstico e ligações clandestinas de esgoto. Cortando a Avenida Beira-Mar para desaguar na enseada do Mucuripe, o curso d'água mesmo que desprestigiado, ainda comporta atividades de pesca artesanal devido ao encontro das águas e da vida marinha resultante. Percebeu-se como imprescindível a recuperação não apenas da área adjacente à foz, mas da completa recuperação de seu manancial para tornar a orla balneável e piscosa.

O Parque Riacho Maceió será um espaço verde e livre de conexão visual entre a Av. Beira-mar e a Avenida Abolição. A massa de árvores existente no terreno concentra-se na sua parte mais baixa e foi preservada no projeto, configurando um bosque atravessado por passarelas de madeira que continuam o passeio da calçada da Av. Beira-mar, cruzando o riacho e levando a um pólo de exercícios físicos e playground.

A declividade mais alta do terreno foi decomposta em patamares de jardins, observando as curvas de nível naturais do terreno, porém deixando clara a intervenção humana. Acessados por rampas, os patamares possuem o corpo central limpo de vegetação densa para permitir a visualização da Igreja Nossa Senhora da Saúde. A ciclovia penetra no parque em uma circulação exclusiva que atravessa o Riacho pela a passarela de madeira e continua até a Av. Abolição sem gerar conflitos com a circulação de pedestres.

Na foz do riacho criou-se um embarcadouro com rampa flutuante aproveitando o desenho das rochas existentes que direcionam o escoamento das águas do riacho, permitindo aos saveiros turísticos rapidamente embarcar passageiros e gerando espaço para a prática de pesca esportiva. Repensar a orla da Beira-Mar passa também por intervir nos espaços conflitantes e tal associação de tratamentos é percebida na continuidade do desenho do paisagismo.

Mercado de Peixes

O mercado dos peixes apresenta uma implantação que convida o usuário a continuar o caminho do calçadão através de um deck de madeira que leva a um patamar com vista liberta para o mar, onde estarão mesas para a tradicional degustação de mariscos frescos no Mucuripe. Ao mesmo tempo, ele se abre para a rua, proporcionando uma praça interna ladeada pelos boxes de venda de peixes. A solução do mercado em rampas oferece uma riqueza espacial a esta praça e abre também visuais para o mar.

A arquitetura do mercado é simples, porém surpreendente, e apresenta materiais que ressaltam a identidade local. O movimento curvo da coberta cria vazios que diluem o impacto da edificação no espaço público, além de proporcionar um aspecto lúdico ao mercado numa alusão ao movimento das ondas do mar.

Quiosques

Os quiosques são estruturas leves que atendem as demandas de preparo e venda e oferecem um espaço agradável para os usuários. Cada quiosque abriga duas unidades de serviço e um banheiro público, além de um depósito no subsolo.  Os quiosques estão dispostos ao longo da Avenida Beira-Mar, permitindo uma melhor distribuição do serviço e do uso de banheiros. O beiral do quiosque é formado módulos de madeira vazado  com um desenho que referencia a renda cearense. Este módulo constitui um elemento de identidade recorrente em diversas partes da proposta arquitetônicas.

ficha técnica

Arquiteto coordenador e consultor jurídico: Arquiteto e Advogado Alexandre Lacerda Landim

Coordenador técnico: Arquiteto Antônio Elton Tombo Farias

Consultor de trânsito e transportes: Engenheiro Civil Antônio Américo Farias Lima

Consultores ambientais: Geólogo José Orlando Carlos da Silva, Geóloga Maria Lucinaura Diógenes Olímpio e Bióloga Valéria Gonçalves Trece

Arquitetura, urbanismo e paisagismo: Arquitetos Ricardo Sabóia Barbosa, Ana Paula Bezerra Gonçalves Costa, Natália Timbó Canamary, Pedro Câmara Campos Figueredo,Gerson Amaral Lima, Marina Lima Medeiros, Marina Coelho Esmeraldo, Érica Pinheiro Gomes Cavalcante e Victor Alencar Araripe Cordeiro.

Nutricionista: Roberta Soares Galvão

Consultor em turismo: Arquiteto e Engenheiro Civil Ignácio Ribeiro Pessoa Montenegro

Botânica: Engenheiro Agrônomo Jack Schaumann Júnior

Estagiários: Estudantes de arquitetura Emanuel Cassiano e Artur Cordeiro

Desenhistas: Roberlene Silva de Oliveira, José Arilo da Silva Miranda e Franciné Ferreira da Silva

Técnicos em edificações: Rosenberg Jacinto Nogueira, André Girão e Denize Pereira de Sousa

Auxiliares administrativos: Domício Bezerra dos Santos Neto e Fábio Carlos da Silva Nascimento

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Arquiteto Alexandre Lacerda Landim
Fortaleza CE Brasil

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109.02 Concurso
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Organização do concurso
Fortaleza CE Brasil

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109

109.01 Concurso

Complexo da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul

109.03 Concurso

SESC Guarulhos

109.04 Crítica

Sinais dos tempos. O Museu de Arqueologia de Vila Real

Maria Fernanda Derntl

109.05 Institucional

FHE – Fundação Habitacional do Exército

109.06 Urbanismo

Olimpíadas 2016

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