Projetar na Antártica, ambiente tão inóspito e distante da nossa corriqueira realidade é, para qualquer arquiteto, um exercício de inestimável desafio. Neste incomum ato projetual, devemos, antes de pensar o edifício e suas características programáticas, entender a real dimensão do ambiente Antártico. Cabe ao arquiteto compreender que o ser humano, naquele local tão poderoso, deve portar-se de maneira coadjuvante e, em hipótese alguma, ousar sobrepujar-se à força natural daquele sítio - uma vez que tal tentativa seria não apenas inapropriada, mas humanamente impossível. Isto posto, o princípio norteador de nossa proposta, não foi a ação desmedida de construir e ocupar, mas a preocupação em respeitar o mundo polar, compreender a natureza na sua plenitude, mimetizar-se na paisagem e, por fim, vencer o desafio de construir sem se mostrar presente.
A ordenação principal do complexo se dá por meio de uma passarela de ligação no sentido longitudinal da área de intervenção. A passarela unifica as diversas funções da estação, funciona como elemento de trânsito cotidiano dos usuários e facilita a implantação das instalações prediais. Além dos aspectos funcionais, a passarela destaca-se por duas características importantes: i) o impacto psicológico sobre o usuário e ii) a identificação visual do complexo construído. Do ponto de vista psicológico, ela condiciona o usuário ao ritual de entrada e saída da área habitacional, possibilitando assim um dia-a-dia mais próximo da realidade de trabalho versus descanso. No tocante à identidade visual, a cor amarela representa a brasilidade e identifica a edificação como marco visual delicado no cenário da península Keller.
Um condicionante em especial mereceu de nossa equipe atenção redobrada: como conceber um projeto racional, com sistema construtivo capaz de possibilitar a construção em curto período de tempo e em condições climáticas adversas. A solução para vencer este desafio foi partir de uma sistemática rigorosa de modulação. A ideia do módulo foi concebida de maneira que todo o projeto fosse pensado com base na construção, montagem e acoplagem de um único habitáculo, que repetido às dezenas, fosse capaz de atender aos requisitos mais rígidos de pré-fabricação e consequentemente aumentar a velocidade de construção do complexo.
ficha técnica
Estúdio MRGB
Igor Soares Campos
Hermes Romão Campos Júnior
Gustavo Abrahão Costa
Larissa Olivier Sudbrack
Danilo Gomes e Fontes
Matheus Ribeiro Assunção Vieira Mendes