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Foto Nelson Kon

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Recém-falecido aos 83 anos de idade, Pedro Paulo de Melo Saraiva deixa obra significativa alinhada à Escola Paulista liderada por Vilanova Artigas e marcada por projetos institucionais e excelentes edifícios residenciais em Santos e em São Paulo.

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WISNIK, Guilherme. Estruturas habitáveis. A arquitetura de Pedro Paulo de Melo Saraiva. Projetos, São Paulo, ano 16, n. 188.01, Vitruvius, ago. 2016 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/16.188/6169>.


Faleceu na semana passada o arquiteto Pedro Paulo de Melo Saraiva, aos 83 anos de idade. Nascido em Florianópolis, Saraiva estudou no Mackenzie, onde lecionou até o fim da vida. Tendo se fixado em São Paulo, tornou-se um dos maiores expoentes da chamada “Escola Paulista”, caracterizada pelo amplo uso do concreto armado, em construções definidas pela sua estrutura.

Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, Florianópolis. 1a fase: arquitetos Pedro Paulo de Melo Saraiva, Paulo Mendes da Rocha e Alfredo Paesani, 1964; 2a fase: arquitetos Pedro Paulo de Melo Saraiva, Pedro de Melo Saraiva e Fernando de Magalhã
Foto Jorge Hirata

Palácio da Justiça do Estado de Santa Catarina, Florianópolis. Arquitetos Pedro Paulo de Melo Saraiva, Francisco Petracco e Sami Bussab
Foto divulgação

Avesso a apelos espetaculosos, a formas cuja gratuidade escapa de um ordenamento modular, Saraiva construiu uma obra rigorosa, correta e, ao mesmo tempo, arrojada. Obra que felizmente saiu publicada poucos meses antes da sua morte no belo volume monográfico Pedro Paulo de Melo Saraiva: arquiteto, com autoria de Luis Espallargas Gimenez (1).

Paço Municipal de Florianópolis, 1977. Arquitetos Pedro Paulo de Melo Saraiva, Sérgio Ficher e Henrique Cambiaghi, paisagista Rosa Kliass
Imagem divulgação

Ponte Colombo Salles, Florianópolis, 1971. Arquiteto Pedro Paulo de Melo Saraiva e consórcio com Escritório Técnico J.C. Figueiredo Ferraz e Croce, Aflalo & Gasperini Arquitetos
Imagem divulgação

Autor de construções importantes em sua cidade natal, como a Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, o Palácio da Justiça do Estado, o Fórum de Florianópolis e a Ponte Colombo Salles, Pedro Paulo projetou também excelentes edifícios residenciais construídos em Santos e em São Paulo, sobretudo no bairro de Higienópolis. Além disso, ainda recém formado projetou o admirável Edifício Quinta Avenida (1958) na Avenida Paulista, discreta lâmina que se ergue transversalmente sobre um generoso embasamento térreo – expansão da calçada da Paulista –, que abrigou por muitos anos a video-locadora 2001.

Edifício Quinta Avenida, São Paulo, 1958. Arquitetos Pedro Paulo de Melo Saraiva e Miguel Juliano
Imagem divulgação

Pedro Paulo de Melo Saraiva, Fábio Penteado e Paulo Mendes da Rocha em visita ao Esporte Clube Pinheiros, 2005
Foto Fernando de Magalhães Mendonça

Pedro Paulo Saraiva, assim como Paulo Mendes da Rocha, pertence a uma geração que se formou em meados dos anos 1950, quase que contemporaneamente ao concurso para o plano piloto de Brasília. Uma geração, portanto, que se preparou para construir um país moderno e com um vasto território, algo que parecia de certa forma natural àquela altura. Porém, ao contrário disso, assistiu tanto ao recrudescimento do mercado imobiliário nas grandes cidades, que se afastou da intelligentsia arquitetônica, quanto ao desvio tecnocrático das grandes obras infraestruturais e urbanas sob o ufanismo grandiloquente do regime militar.

Edifício Portovelho, Santos, 1963. Arquitetos Pedro Paulo de Melo Saraiva e Francisco Petracco
Foto Marcos Piffer

É da consciência desse descompasso histórico que vem, de certa forma, a radicalidade estrutural da “Escola Paulista”, cujos grandes vãos, em ambientes pouquíssimo compartimentados, constituem proezas e audácias, nas palavras de Vilanova Artigas, próprias ao raciocínio de arquitetos que queriam realizar antecipadamente, no espaço, uma revolução política e social que não vinha.

Edifício Acal, São Paulo, 1974. Arquitetos Pedro Paulo de Melo Saraiva, Sérgio Ficher e Henrique Cambiaghi
Foto Leonardo Finotti

Um belo exemplo disso é o Edifício Acal, projetado por Saraiva em 1974, e situado entre as avenidas Faria Lima e Cidade Jardim. Trata-se de um prédio de escritórios de planta quadrada, com as quatro fachadas uniformes, compostas por uma grelha treliçada de concreto armado com módulos quadrados contraventados em x. Aqui a estrutura ganha tal protagonismo que se desloca do esqueleto para a pele, constituindo a própria imagem do edifício. Tal é a escala e a presença da estrutura, nesse caso, que ela já não é um mero sistema de apoio da construção, e sim o espaço em si mesmo. Simbolicamente, o usuário torna-se um habitante da própria estrutura.

Já nos 2000, Pedro Paulo projetou a requalificação do Mercado Municipal de São Paulo, construindo um elegante mezanino metálico para restaurantes, solto da estrutura original do edifício. Discreta e contundente, sua obra se inscreve com destaque na nossa história urbana.

Revitalização do Mercado Municipal de São Paulo, 2002. Arquitetos Pedro Paulo de Melo Saraiva, Pedro de Melo Saraiva e Fernando de Magalhães Mendonça
Foto Pedro de Melo Saraiva

notas

NE – Publicação original: WISNIK, Guilherme. Estruturas habitáveis. Folha de S. Paulo, São Paulo, Caderno Cotidiano, 23 ago. 2013, p. B18.

1
ESPALLARGAS GIMENEZ, Luis. Pedro Paulo de Melo Saraiva: arquiteto. São Paulo, Romano Guerra, 2016.

sobre o autor

Guilherme Wisnik é arquiteto, crítico e curador. Autor de Lucio Costa (Cosac Naify, 2001) e Estado crítico (Publifolha, 2009), é professor da FAUUSP, e foi o curador geral da 10aBienal de Arquitetura de São Paulo (2013).

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