Uberlândia ofereceu condições para a construção de um dos marcos da arquitetura sacra no Brasil, a Igreja Espírito Santo do Pinhal. Convidada por Frei Egídio Parisi e pelo artista Edmar de Almeida, Lina Bo Bardi desenvolveu com sua equipe, Marcelo Ferraz e André Vainer, o projeto arquitetônico da obra que foi coordenada por Frei Fulvio Sabia e executada por uma equipe local auxiliada pela comunidade através de mutirões, com grande contribuição financeira da Organização Católica Alemã Adveniat.
Essa obra marcou a carreira da arquiteta italiana como síntese daquilo que propunha para o Brasil. Foi no cerrado mineiro que encontrou espaço para materializar conceitos junto ao povo brasileiro na forma de um conjunto religioso ambientado às nossas culturas e tradições. Essa sua obra, que é reconhecida internacionalmente, é o único bem tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA/MG e a única obra da arquiteta no estado. Com o passar dos anos, os uberlandenses construíram uma relação íntima com esse conjunto arquitetônico que marca a história de nossa cidade, da igreja, da história da arquitetura e do Brasil.
Uma obra como essa vive um constante processo de manutenção e conservação, seguindo critérios estabelecidos pelo órgão que a protege. Recentemente, esse órgão, aprovou o projeto artístico apresentado pelo artista Edmar de Almeida, que trabalhou com a arquiteta nesse e em outros projetos e exposições de arte, para o interior da capela. O trabalho do artista representa a finalização daquilo que foi idealizado em conjunto com Lina Bo Bardi.
O artista propõe a execução de duas tapeçarias: uma será instalada no altar da capela e tem como tema o Batismo de Cristo; a segunda será instalada internamente sobre o acesso principal da capela e tem como tema a Anunciação da Virgem Maria. O trabalho é fruto de quarenta anos de trabalho do artista e da maturação dos conceitos junto à igreja. Utiliza como técnica principal a tecelagem, que é reconhecida como importante tradição regional e que tanto atraiu os olhares de Lina Bo Bardi para o Triângulo Mineiro e para a obra do artista.
Estando concebida e projetada, o próximo passo para a concretização dessa obra é a criação de uma rede de apoio para que os doze artesãos e artistas necessários para a confecção das peças tenham condições de trabalho, além da obtenção da matéria prima fundamental.
Reconhecendo a importância e relevância desse trabalho para Uberlândia, sugerimos que não sejam medidos esforços para a obtenção dos apoios necessários para a execução dessa grande obra artística que a cidade poderá abrigar.
Sobre o autor
Ariel Lazzarin é arquiteto e urbanista (FAUD UFU) no escritório uberlandense Estúdio Gola e conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo em Minas Gerais. Sua dissertação de mestrado “A Igreja Espírito Santo do Cerrado e suas alternativas à arquitetura brasileira” foi produzida sob orientação do Professor Renato Anelli junto ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, em São Carlos.