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ARAÚJO, Denise Puertas de. O pensamento de Camillo Boito. Resenhas Online, São Paulo, ano 04, n. 043.01, Vitruvius, jul. 2005 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/04.043/3154>.


A leitura do texto de Camillo Boito, Os restauradores, apresentado na Conferência feita na Exposição de Turim, em 1884, mostra claramente o quanto a teoria da Restauração evoluiu a partir de duas teorias fundamentalmente antagônicas: a de Viollet-le-Duc e a de John Ruskin. O amadurecimento é claro e é perceptível a proximidade dos princípios usados na época (fins do XIX e começo do XX) e os de hoje.

Em Os restauradores, Boito chama a atenção para o fato de que restauração e conservação não são a mesma coisa, sendo, com muita freqüência, antônimas. Os conservadores são tidos como “homens necessários e beneméritos” ao passo que os restauradores são quase sempre “supérfluos e perigosos”. Dessa forma, dirige seu discurso sobretudo aos últimos, pregando a precedência da conservação sobre a restauração e a limitação desta ao mínimo necessário. Há abordagem em relação a formas de restauração de diversas artes: escultura, pintura e arquitetura, cada uma tendo suas particularidades e complexidades. A regra geral para a escultura era a de que não houvesse completamentos, excetuando-se quando fossem devidamente documentados (1), pois os mesmos poderiam desfigurar a obra, levando-a por um caminho totalmente diferente do que aquele previsto por seu autor.

Todas as adições (restaurações sucessivas) deveriam ser descartadas. Em relação à pintura, preconizava que se deveria saber o momento de parar e ser a intervenção menor possível. Sobre a arquitetura recaía, em sua opinião, a maior complexidade: distanciava-se de Ruskin e de le-Duc: do primeiro, à medida que não aceitava a morte certa dos monumentos e, do segundo, não aceitando levá-los a um estado que poderia nunca ter existido antes. Alertava para o perigo da forma de agir de le-Duc em função da arbitrariedade que a mesma continha e ao que poderia ser sua inevitável conseqüência: o triunfo do engano. Ao afastar-se das duas teorias, cria, ao mesmo tempo, uma teoria intermediária entre ambas. Cita e concorda com Mérimée ao dizer sobre as restaurações: “nem acréscimos, nem supressões”, ficando evidente o respeito que os acréscimos ao longo da história deveriam ter e orientando, ao mesmo tempo, a mínima intervenção. Boito admitia contradições em suas próprias teorias, uma vez que o assunto era contemporâneo e as mesmas estavam, ainda, em formação.

Em outros aspectos, muitas vezes as idéias apresentadas aproximavam-se das de Ruskin, principalmente ao apontar para a pouca intervenção que deveria existir no monumento. Na verdade, esta aproximação refere-se ao mesmo princípio fundamental, não alteração substancial do monumento, à medida que Boito acreditava na necessidade de certas restaurações (2). Outra característica presente em Ruskin que se desenvolve nessa teoria é a valorização das ruínas como tal e por isso deve-se entender o reconhecimento de sua beleza, de seu aspecto pictórico, na qualidade mesma de ruína. Não há, por parte da teoria aqui analisada, a vontade de que as mesmas voltassem ao aspecto original do edifício e sim a de que permanecessem, de fato, como ruínas. Afasta-se aqui um possível completamento com elementos novos, princípio com certeza adotado por Viollet-le-Duc. Também o medo em relação à restauração como o grande perigo distancia o pensamento de Boito dos escritos de le-Duc, aproximando-o, mais uma vez, a Ruskin.

Em outros momentos, tangenciando le-Duc, o texto mostra exatamente como a nova forma de pensar a intervenção sobre o legado do passado é a resultante de equilíbrio entre as proposições deste e outras, um tanto radicais, de Ruskin. Dessa forma, ao não aceitar a morte inevitável dos monumentos, propunha, em casos necessários, restaurações que, por serem mínimas, acabavam eliminando a arbitrariedade de certas ações. A aceitação de todas as fases históricas presentes numa obra também espraiava os juízos de valores, na maioria das vezes subjetivos, em relação ao que permaneceria ou não. Não se desejava mais levar o edifício a um estado inicial e, fundamentalmente, a um que jamais houvesse existido antes.

Seu discurso representa uma evolução da teoria da restauração a partir da mesma origem e para o mesmo caminho posteriormente traçado pela Carta de Atenas de 1931: a revisão e adaptação dos escritos de Ruskin e de Viollet-le-Duc. A partir do pensamento de Boito, foi feita a separação precisa do que significava restaurar e do que significava conservar. A importância dada ao contexto das obras artísticas é percebida sobretudo quando fala da escultura e, no final do texto, da saída de obras do local de origem.

O texto traz, de forma geral, um amadurecimento dos princípios do restauro, pondo um fim ao maniqueísmo vigente até então e servindo como grande contribuição para a reflexão contemporânea sobre o mesmo. Questões como o embasamento pela documentação e o respeito às fases de uma obra permeiam todas as intervenções contemporâneas, tendo, portanto, grande importância em sua práxis.

[esta resenha é uma adaptação de trabalho desenvolvido para a disciplina “Metodologia e Prática da Reabilitação Urbanística e Arquitetônica” do programa de Mestrado da FAUUSP.]

notas1

Ainda nesse caso, Boito enxerga tal ação apenas como “tolerável”.

2

Deve-se lembrar que Ruskin aceitava pequenas obras de consolidação (muletas que aumentassem a sobrevida do monumento). Quando as mesmas perdiam sua eficácia, ele conformava-se face à morte certa e natural que todo monumento teria um dia.

sobre o autorDenise Puertas de Araújo é arquiteta e urbanista formada em 2001 pela FAUUSP e, atualmente, cursa o mestrado na área de História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo, na mesma faculdade.

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Os restauradores

Os restauradores

Camillo Boito

2002

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