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DUARTE, Fábio. Metrópoles, um paradigma para pensar a cidade contemporânea. Resenhas Online, São Paulo, ano 05, n. 057.04, Vitruvius, set. 2006 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/05.057/3129>.


A metrópole é um conceito-chave para analisar o mundo contemporâneo. Henri Lefebvre, em seu livro A revolução urbana (UFMG, 1996) propôs a diferença conceitual entre cidade e urbano, tendo este um caráter conceitual; enquanto aquela é o objeto físico. Para o autor, o urbano surge com a industrialização, que não somente revolucionou o modo de produção econômica, como também a produção do espaço e apropriação cultural de seus habitantes. O fenômeno urbano não se restringe à dimensão física da cidade, mas articula fatores econômicos, culturais, sociais que se manifestam na forma da cidade. Assim, enquanto a “cidade” pode ser entendida como “um objeto definido e definitivo [...], objetivo imediato para a ação”, o urbano aponta para uma “abordagem teórica mais complexa de um objeto virtual ou possível”. Do mesmo modo é possível se entender o termo metrópole – mais como um conceito que explica e questiona o mundo urbano das cidades interconectadas globalmente em mercados financeiros voláteis e tecnologias de informação que moldam avanços científicos e tecnológicos, e ao mesmo tempo em que coloca em risco e é centro de decisões das posturas humanas frente ao meio ambiente global. Neste sentido, portanto, a análise da cena urbana mundial contemporânea passa necessariamente pela metropolização.

No início do texto que ensejou os debates da 5ª Bienal Internacional de Arquitetura e Design de São Paulo sobre o tema Metrópole, publicados pela Romano Guerra Editora, Abílio Guerra levanta a hipótese de que “os mecanismos psicológicos e intelectuais de reação ao atual estado de coisas resultam em discursos operativos que buscam respostas e soluções concretas para os malefícios detectados”; porém ressalta que o mais difícil “é realizarmos um balanço satisfatório do quanto essas novas crenças e ações são de fato inovadoras e transformadoras e o quanto são embebidas em resquícios de crenças inoperantes”.

Na tentativa de fazer esse balanço crítico, a Bienal reuniu profissionais que atuam e pensam as cidades contemporâneas, que apresentaram situações críticas de metrópoles contemporâneas ao lado de proposições de soluções pontuais expressas em projetos de desenho urbano ou amplas de modos de encarar as cidades contemporâneas em escala global.

O livro registra em texto as principais conferências. Há experiências pessoais que refletem a descoberta cotidiana da vida nas metrópoles, como de Benedetta Tagliube, de Barcelona; de projetos arquitetônicos e de trechos urbanos, ambos refletindo uma preocupação de refletir sobre a cidade contemporânea, como de Riek Bakker para a área portuária de Roterdã; ou de José Mateus para projetos arquitetônicos em contextos urbanos de Portugal; ou ainda uma análise do IBA Emscher Park, por Karl Jasper. Todos esses projetos parecem refletir uma preocupação que Regina Meyer coloca no livro, de há hoje um conjunto de abordagens urbanísticas “que está gerando uma nova postura diante do projeto urbano que é reconhecida como intervenção na cidade existente” (p. 74); e lança a proposta da necessidade de se “criar através de análise e identificação de dinâmicas urbanas já presentes (...) trechos urbanos passíveis de se tornarem unidades de projeto” (p. 75).

Ao lado dos projetos apresentados, há importantes textos preocupados em discutir o papel das metrópoles no mundo contemporâneo – e, talvez seja mais justo dizer, o mundo contemporâneo matizado pelas metrópoles. O primeiro texto, de Su Dan, é sintomático por apresentar a discussão a partir do caso chinês, que como escreve o autor: “A urbanização é uma das mais significativas transformações na estrutura social durante a modernização da China” (p. 30). A preocupação do chinês Su Dan sustenta-se principalmente na transformação de um país agrário que vertiginosamente se urbaniza, levando em consideração principalmente a urbanização física do território, escrevendo que “as cidades irradiam suas influências muito além da área onde estão estabelecidas, alcançando as regiões rurais adjacentes com migração populacional, emprego, compras, cuidados médicos, educação, atividades culturais e de recreação”. A preocupação com a expansão físico-territorial da urbanização contínua ao dizer que “a urbanização acelerada e o crescimento da população urbana influenciam diretamente a estrutura regional e o meio geográfico, que causa diretamente a alteração no meio ecológico” (p. 27). A preocupação do autor respalda-se em fator mais grave: a acelerada urbanização não encontrou estruturas de planejamento e gerenciamento capacitadas: “A China, porém, está no estágio primitivo da urbanização; nos órgãos governamentais de vários níveis falta experiência no gerenciamento urbano, e a urbanização é apenas um simples crescimento de quantidade” (p. 31).

Refletindo de modo complementar à dimensão geográfica da metropolização, Jorge Mario Jáuregui escreve que “o que se percebe é a formação de novas geografias de centralidade”, sendo que do lado de uma rede metropolitana de nós, há “uma configuração rizomática da cidade. Rizoma entendido como um tipo de estruturação que não implica em uma relação sintética entre os elementos, que recusa a noção de ordem hierárquica” (p. 35). A metropolização avança sobre áreas urbanas, deixando vazios que rompem e perpetuam malhas de cidades que se mesclam sem se interconectarem socioeconomicamente.

Os textos do livro, talvez por terem sido originalmente apresentados em uma Bienal de Arquitetura e Design, têm uma preocupação forte com o projeto, o que é fundamental por sinalizar a preocupação de arquitetos que mesmo se a escala da edificação em que trabalham não é grandiosa, refletem sobre sua inserção no urbano. Urbano, e não cidade – e aqui voltamos à distinção de Lefebvre: não se trata de “contextualizar” a obra em seu entorno físico-territorial imediato, mas pensar que os projetos são necessariamente resultantes e interventores em um mundo urbano, em uma urbanização que abrange todo e qualquer território. Os projetos apresentados ressaltam a consciência necessária para arquitetos, urbanistas e gestores urbanos de que não importam as limitações geográficas na área de intervenção, as questões que deverão ser abordadas refletem necessariamente um mundo que se urbaniza e é cujos cadinhos de ideologias, culturas e inovações tecno-científicas são as metrópoles.

sobre o autor

Fábio Duarte é professor do Mestrado em Gestão Urbana da PUCPR Arquiteto pela USP, Mestrado em Multimeios pela Unicamp e Doutorado em Comunicações e Artes pela USP. Foi pesquisador na Université Laval, Canadá (Planejamento Regional e Urbano) e na Université Paris I, França (Geografia Urbana). Publicou os livros Global e local no mundo contemporâneo (Moderna, 1998), Arquitetura e tecnologias de informação (Annablume, 1999), Crise das matrizes espaciais (Perspectiva, 2002) e Do átomo ao bit: cultura em transformação (Annablume, 2003). Recebeu o Prêmio Jovens Arquitetos (menção honrosa) do IAB-SP em 1998 e o Faculty Enrichment Award, do Governo do Canadá, em 2005.

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