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ROCHA, Ricardo. Lúcio Costa e a Argentina: da boa tradição ao “ser americano”. Resenhas Online, São Paulo, ano 08, n. 096.02, Vitruvius, dez. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/08.096/3012>.


Há cinqüenta anos, era publicada a primeira monografia sobre a obra de Lúcio Costa. À exemplo dos primeiros livros sobre a produção de Oscar Niemeyer (os volumes de Stamo Papadaki) e Affonso Eduardo Reidy (1), também se tratava de uma edição realizada no exterior. A diferença, de não pouca importância, fica por conta do fato de que a publicação sobre Costa fazia parte de um projeto editorial mais amplo, realizado no âmbito das atividades desenvolvidas por um instituto de pesquisa sul-americano – e, talvez, no sentido da divulgação da arquitetura das Américas, somente rivalizadas no continente pela atuação do MoMA de Nova Iorque.

O trabalho escrito por Jorge O. Gazaneo e Mabel M. Scarone integrava uma coleção editada pelo Instituto de Arte Americano y Investigaciones Estéticas IAA (2) – criado em 1946-47 e dirigido inicialmente por Mario J. Buschiazzo (3) – até hoje vinculado à Faculdade de Arquitetura da Universidade de Buenos Aires. Trata-se do quarto número da série “Arquitectos americanos contemporáneos”. Antes de Lúcio Costa, foram publicadas monografias sobre Amancio Williams (por R. González Capdevila, em 1955), Eduardo Catalano (dos mesmos Gazaneo e Scarone, em 1956) e S.O.M. (do próprio Buschiazzo, em 1958).

A publicação era posterior aos Estudos e artigos de Lúcio Costa, aparecido em 1954 em edição do Centro de Estudos de Teoria da Arquitetura da Universidade do Rio Grande do Sul e anterior a Lúcio Costa: obras completas, organizado por Roberto Sussmann na Escola de Arquitetura da Universidade de Minas Gerais em 1961, e ainda ao fundamental Lúcio Costa: sobre arquitetura, organizado por Alberto Xavier em 1962. Todos os três, não obstante, compilações de artigos, memoriais e textos do próprio arquiteto.

Em linhas gerais, o argumento de Gazaneo/ Scarone segue o caminho interpretativo definido pelo próprio Costa: em certo sentido, a arquitetura moderna brasileira seria a recuperação da boa tradição: uma “respuesta sincera al desafío americano, acorde con la manera de ser del [brasileiro] y representativa de un nuevo orden” (4). Tradição esta desaparecida com o ecletismo do primeiro período republicano.

Entretanto, os autores operaram um deslocamento que cruza, ao que parece, o universo de referências a Lúcio Costa e Gilberto Freire, com uma tradição intelectual em grande parte sintetizada na geração da revista Martín Fierro (1924-27) (5):

“Diante dos intelectuais das gerações anteriores, a quem acusavam de haver-se perdido na imitação dos modelos europeus, a reconciliação da arte com a vida que propugnava essa nova geração passava pela recuperação das características que afirmavam a própria particularidade. Particularidade nacional, por um lado, mas que se enxergava como parte de um conjunto mais amplo, do ‘mundo jovem’ do horizonte americano” (6).

Nas palavras dos autores não se tratava somente de “interpretar a los pioneros y proyectarse hacia adelante con los visionarios”, em uma associação entre “lo universal de las técnicas y lo regional de los problemas”, e sim, “la solución de los problemas que el ser americano plantea a ambos países: una tardía aparición en escena que condujo a la utilización de medios de expresión ajenos y al forzado calce en moldes que no se ajustaban a las necesidades” (7).

Não obstante, uma tensão subjacente entre tendências distintas pode ser observada na coleção Arquitectos Americanos Contemporáneos. Dentre os títulos iniciais da série, o primeiro sobre um arquiteto não argentino foi, como dito antes, sobre o escritório norte-americano (S.O.M. – Skidmore, Owings and Merril); e o segundo, sobre Lúcio Costa. O contraste representado pela obra de Skidmore, Owings & Merril em relação à de Costa é evidente. Para Scarone e Gazaneo com o fim do prestígio europeu depois da Primeira Guerra Mundial, a(s) América(s) “descobre sob a aparência de simplicidade do autóctone, uma riqueza cultural esquecida”. Afirmação difícil de ser aplicada a sofisticação industrializada das obras de S.O.M.

É importante lembrar que durante os anos 1950 alguns arquitetos argentinos tentavam trilhar caminho semelhante ao de Costa, na procura de um balanço entre tradições culturais e modernidade. Quando o livro sobre o arquiteto brasileiro apareceu, a primeira e mais controversa obra nessa direção já havia sido construída na Argentina: a igreja de Fátima (1956-1958), próxima a Buenos Aires, desenhada por Claudio Caveri e Eduardo Ellis.

Tal caminho também foi seguido, em parte, por arquitetos como Wladimiro Acosta e Eduardo Sacriste. Em 1964, se não podemos falar de um movimento, algo como interesses similares apareciam nos projetos de certos arquitetos. Alguns deles mostrados naquele ano na exposição Casas Blancas no Museu de Arte Moderna do Teatro San Martín – prédio importante concebido por Mario Roberto Alvarez entre 1954 e 1960 e que apontava para outra direção.

Alguns anos depois, em 1969, seria possível, no entanto, ler em Arquitectura Latinoamericana de Francisco Bullrich (8): no Parque Guinle de Lúcio Costa “pode-se chegar a conclusão de que o sistema deu lugar ao gosto decorativo e a uma aparência folclórica ou vernacular”; e sobre a Capela de Fátima: “melhor que o exterior – que se excede em citações de motivos coloniais... – é seu interior”.

Nesse sentido, a publicação sobre o arquiteto brasileiro se insere em um panorama complexo, em meio a um debate polarizado – ainda que não totalmente explícito – entre “ilusões de progresso” (a expressão é de Francisco Liernur) e propostas com “tecnologias mediadoras”, para usar os termos de Kenneth Frampton ao falar de obras corbusianas como a casa Errazuriz. Em suma, nas entrelinhas (ou entre livros), podemos perceber alguns dos dilemas da arquitetura latino-americana no século XX e o intercâmbio de idéias ainda hoje por mapear.

notas

1
FRANCK, Klaus. Affonso Eduardo Reidy: Bauten und Projekte. Stuttgart: Gerd Hatje Verlag, 1960 – também publicado em Nova Iorque.

2
Que seguia os passos de antecessores em Sevilha – o Laboratório de Arte Americano, fundado por Martín Noel em 1930 – e na cidade do México – o Instituto de Investigações Estéticas da Universidade Metropolitana (UNAM) criado por Manuel Toussaint em 1937.

3
Com a morte deste, o IAA passou a ser dirigido por Gazaneo.

4
GAZANEO, Jorge O.; SCARONE, Mabel M. Lúcio Costa. Buenos Aires, IAA, 1959; p. 13

5
Ver ROCHA, Ricardo. “Lúcio Costa and Argentina: from the ‘good tradition’ to ‘American being’”. Texto inédito preparado para o seminário “Ambiguous Territories: articulating new geographies in Latin American modern architecture and urbanism”. Nova York, Columbia University, 2009.

6
VASQUEZ, K. R. Redes intelectuais hispano-americanas na Argentina de 1920. In: Tempo Social, vol. 17 n. 1. São Paulo, USP,  2005; p. 66.

7
GAZANEO, Jorge O.; SCARONE, Mabel M. Op. cit., p. 21-3.

8
BULLRICH, F. Arquitectura Latinomericana 1930/1970. Barcelona Gustavo Gili, 1969.

sobre o autor

Ricardo Rocha é arquiteto, doutor pela FAUUSP e professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas

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resenha do livro

Lúcio Costa

Jorge O. Gazaneo and Mabel M. Scarone

1959

096.02
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