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O escritor Alberto Martins convoca três grandes poetas brasileiros de épocas diferentes – Álvares de Azevedo, Mário de Andrade e José Paulo Paes – para percorrem a noite paulistana, entrelaçando poesia, ficção e a realidade dura das transformações urbanas

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VILLAÇA, Alcides. Três poetas na noite paulistana. Resenhas Online, São Paulo, ano 11, n. 128.02, Vitruvius, set. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/11.128/4487>.


Alberto Martins, poeta, artista plástico e ensaísta, exercita-se desde sempre no difícil diálogo entre a impulsão poética, arrebatadora, e a tomada de pulso da matéria, gravitacional — navegação com expectativa de cais. Estreando aqui como autor de peça teatral, suas personagens são três grandes poetas brasileiros que encenam, num palco a um tempo íntimo e aberto, uma ampla interrogação sobre a poesia, a cidade de São Paulo, a vida moderna.

Épocas distintas se verticalizam no presente do nosso século, tornado comum a Álvares de Azevedo (1831-1852), Mário de Andrade (1893-1945) e José Paulo Paes (1926-1998). Contemporâneos todos, quebremos também as paredes dos sonhos e reconheçamos as “tarefas inconclusas” que sempre couberam aos poetas, sobretudo os que fazem crer que a mais alta beleza é indício de ainda mais altas necessidades. Sim, a perspectiva do autor é romântica: o lirismo machucado e reflexivo, os jogos do humor e a acidez da paródia são recursos que, em vez de minarem, acentuam a necessidade de ouvir poetas conversando entre si, unidos não pela morte, mas pela vida nova de um espaço/tempo em que Zé Paulo pode dizer a Álvares: “aqui você é que é novo e eu sou o velho”. Um desafio para ambos (e também para Mário de Andrade, que ao diálogo entre eles vem juntar a companhia de um pesado e misterioso silêncio) é compreender São Paulo, a quarta personagem, cujos espaços se abrem tanto aos dejetos industriais como à mais sofisticada instrumentação tecnológica. Mas a questão de fundo é ponderar a poesia. “Será um exagero dizer que falo em nome de muitos?” — pergunta Zé Paulo ao poeta adolescente.

De fato, o que cabe à poesia em tempos de lirismo acuado nas trincheiras? “Trincheiras são muito parecidas com covas”, amarga Álvares de Azevedo, ao que Zé Paulo rebaterá: “A sua tarefa ficou inconclusa”, acrescentando que também a de Mário de Andrade não se concluiu. Esta peça quer alargar tal questão, não para “concluir a tarefa”, obviamente, mas para avivá-la dentro de nós. É preciso escavar “alguma dor não contaminada”, continua Zé Paulo. Que é uma dor não contaminada senão o ganho de um novo impulso poético, sem os vícios do maneirismo estético ou da deformação ideológica? É aqui que entra o poeta Alberto Martins, arriscando, “buscando a dose certa” (fala de Zé Paulo) para uma química entre limites e aspirações. Seus três personagens dão corpo à Poesia mesma, cuja ressurreição não se opera sem corrosão irônica no território de uma pauliceia exuberante e degradada — por isso mesmo tão incitantemente poética.

Dentro dessa noite paulistana, a um só tempo geográfica e cósmica, as personagens não são fantasmagorias: dão corpo às tensões agudas que entrelaçam sentimento e história, corpo e imaginação. A certa altura Álvares de Azevedo diz a Zé Paulo que desconfia não estar preparado para ouvir a “sinfonia do século” (representada num turbilhão de ruídos urbanos em altíssimo volume). E nós, estamos? Para interrogar o curso da modernidade em perspectiva lírica, bem como para aferir o sentido do poético no tempo atual, Alberto Martins faz caminhar três poetas queridos seus, numa cidade afetivamente sua, enfrentando questões que não são apenas suas.


Ilustração Evandro Carlos Jardim

sobre o autor

Alcides Villaça (Atibaia, 1946), poeta, cursou Letras na Universidade de São Paulo, onde é professor de Literatura Brasileira desde 1973. Publicou os livros de poesia O tempo e outros remorsos (1975) e Viagem de trem (1988) e o estudo de crítica literária Passos de Drummond (2006). Colabora como ensaísta em periódicos nacionais e estrangeiros.

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