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KAMITA, João Masao. Uma história viva mas desapaixonada da arquitetura do século 20. Resenhas Online, São Paulo, ano 13, n. 148.01, Vitruvius, abr. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/13.148/5124>.


Escrever a história da arquitetura do século 20 no século 21 tem vantagens que Jean-Louis Cohen soube aproveitar. A mais óbvia é a mais importante: a distância histórica. O que se lê nestas páginas não é um discurso apaixonado e partidário, nem tampouco contestador e recalcado. Cohen adota o ponto de vista rigoroso do historiador da cultura, buscando flagrar o modo como a arquitetura se transforma em meio às mudanças radicais da modernidade. Por isso, não se pretendeu escrever a história do modernismo arquitetônico – isso seria dar um caráter de hegemonia a seus princípios ideológicos e temporais no século, consubstanciados na ideia do novo com o fator de progressão histórica.

Sede da Associação dos Produtores de Fios Têxteis, Le Corbusier, Ahmedabad, Índia, 1951-54 ["O Futuro da Arquitetura desde 1889", de Jean-Louis Cohen (Cosac Naify, 2013), p. 327]

Casa del Fascio, Guiseppe Terragni, Como, Itália 1932-36, fotomontagem com multidão ["O Futuro da Arquitetura desde 1889", de Jean-Louis Cohen (Cosac Naify, 2013), p. 205]

A narrativa historiográfica se estrutura aqui a partir de eixos de simultaneidade, no qual as formas predominantes (estão aí o justo destaque aos mestres Mies, Gropius, Aalto, Wright e Kahn) não são homogêneas nem muito menos inevitáveis. Em paralelo, correm inúmeras proposições alternativas, que Cohen trata com igual cuidado. Para citar um caso exemplar: Le Corbusier é, sem dúvida, um grande centro de força, mas seu protagonismo se mede tanto pela maneira que pensou a arquitetura perante os desafios da modernidade e as várias respostas poéticas que formulou, quanto pela influência que provocou em arquitetos de diferentes nações – isto é, como tal presença foi assimilada, processada, deglutida e eventualmente transformada. É assim que, particularmente, o caso da moderna arquitetura brasileira é exposto: um exemplo de recepção produtiva.

Convento de Sainte-Marie-de-la-Tourette, Le Corbusier, Eveux-sur-l’Arbresle, França, 1953-60 ["O Futuro da Arquitetura desde 1889", de Jean-Louis Cohen (Cosac Naify, 2013), pp. 328-29]

Hospital no bairro de Cannaregio, projeto, Le Corbusier, Veneza, Italia, 1962-65 ["O Futuro da Arquitetura desde 1889", de Jean-Louis Cohen (Cosac Naify, 2013), p. 326]

Superquadras, Lucio Costa, Brasília, Brasil, 1960 ["O Futuro da Arquitetura desde 1889", de Jean-Louis Cohen (Cosac Naify, 2013), p. 335]

Wallace K. Harrison, Le Corbusier e Vladímir Bodianski (da direita para a esquerda) diante de uma maquete do edifício da ONU, Nova York, EUA, 1947 ["O Futuro da Arquitetura desde 1889", de Jean-Louis Cohen (Cosac Naify, 2013), p. 205]

Para Cohen, a arquitetura é igualmente a história dos fatos e a história dos debates intelectuais. Por isso, analisa não só as obras construídas, mas também os projetos não realizados, as formas de divulgação para o grande público e os documentos teóricos produzidos.

Em O futuro da arquitetura desde 1889, os “fatos de transição” – em geral tidos meramente como ocorrências preparatórias aos grandes eventos e tratados de forma rápida na historiografia da arquitetura moderna – recebem especial atenção. Momentos de revelação surgem: a importância de Auguste Perret é fundamentada, o perfil de Robert Mallet-Stevens adquire clareza e até mesmo a exposição art déco de 1925 é descrita com isenção, dando a ver o trânsito entre alguns designers e os arquitetos radicais. Outro tradicional ponto cego, a arquitetura no período das guerras mundiais – normalmente sinônimo de “paralisia cultural” – é visto pelo autor como um momento de aceleração da modernização, em que a produção da arquitetura não se interrompe, mas se desloca para o aparato da guerra (hangares, indústrias, alojamentos, fortalezas etc.). Cohen não deixa de apontar, inclusive, o processo pelo qual os avanços tecnológicos da guerra são aplicados, logo após o término do conflito, em outras esferas da produção industrial, sobretudo a habitação e as obras de infraestrutura.

Hunstanton Secondary School, Alison e Peter Smithson, Norfolk, Reino Unido, 1949-54 ["O Futuro da Arquitetura desde 1889", de Jean-Louis Cohen (Cosac Naify, 2013), pp. 332-33]

Salk Institute for Biological Studies [Instituto Salk de Estudos Biológicos], Louis Kahn, La Jolla, California, EUA, 1959-1965
Foto Peter Aprahamian ["O Futuro da Arquitetura desde 1889", de Jean-Louis Cohen (Cosac Naify, 2013), p. 354-355]

Ao longo do século 20, o “futuro da arquitetura” foi pensado de modo variado por correntes distintas, independentemente de sua coloração ideológica. Todavia, o século que alimentou esperanças no progresso, no socialismo, na tecnologia e na nova cidade, também produziu catástrofes inéditas – veja-se a incomparável mortalidade nas grandes guerras. O texto de Cohen assinala claramente as diferentes expectativas de futuro: uma é projetiva, esperançosa nas novas formas estéticas e sociais do mundo, exemplarmente demonstrada por Corbusier e pela Bauhaus; a outra, de desconfiada confiança e ceticismo, é explicitada nas extravagantes e corrosivas imagens do Archigram e de Constant, fundadas na imaginação técnica e lúdica.

Whitney Museum of American Art, Marcel Breuer, Nova York, EUA, 1963-1966 ["O Futuro da Arquitetura desde 1889", de Jean-Louis Cohen (Cosac Naify, 2013), p. 350]

Depois de expor a crise do moderno, acossado pelo pós-modernismo, o livro se detém nos novos centros que promovem uma autêntica renovação intelectual da arquitetura no período de 1960 a 1980, quando a hegemonia se torna americana. Para o autor, os limites da definição de uma arquitetura dominante no século xx se vêem na obra de Frank Gehry, Peter Eisenman e Rem Koolhaas, que retomam as bases da arquitetura moderna para criticá-la e assim formular novos paradigmas de projeto.

Ao final de sua narrativa, Cohen aponta os desafios do novo milênio nesse mundo de alta tecnologia, sim, mas onde o futuro não passa de uma pálida imagem passada.

O fim do colonialismo, do socialismo, do domínio do estado-nação e a fatal crise do urbanismo impuseram uma nova cartografia na qual os arquitetos agora atuam em escala multinacional e em parceria com grandes corporações globais nessa realidade aberta e pluralista da contemporaneidade.

Não sem uma leve melancolia, a narrativa do século 20 na arquitetura termina com o reconhecimento do abandono exacerbado do compromisso dela com a sociedade, compromisso esse que teria gerado os projetos da modernidade. Afinal, pode um presente existir sem um horizonte de futuro?

Congresso Nacional, Oscar Niemeyer, Brasília, Brasil, 1960
Kadu Niemeyer © / Arcaid / Corbis ["O Futuro da Arquitetura desde 1889", de Jean-Louis Cohen (Cosac Naify, 2013), p. 336-37]

nota

NE
Texto publicado originalmente na orelha do livro.

sobre o autor

João Masao Kamita é professor da PUC-Rio

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resenha do livro

O futuro da arquitetura desde 1889

O futuro da arquitetura desde 1889

Uma história mundial

Jean-Louis Cohen

2013

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