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reviews online ISSN 2175-6694

abstracts

português
Por meio da análise crítica de documentos, relatos e entrevistas, livro contribui para preencher lacuna nas pesquisas sobre o primeiro curso de desenho industrial no país no início da década de 1950

english
Through critical analysis of documents, accounts and interviews, book helps to fill gap in research on the first course of industrial design in the country in the early 1950s

español
A través del análisis crítico de documentos, informes y entrevistas, libro ayuda a llenar vacío en la investigación en el primer curso de diseño industrial en el país a principios de 1950

how to quote

ALMEIDA, Márcia. IAC em perspectiva histórica. Sobre o Instituto de Arte Contemporânea. Resenhas Online, São Paulo, ano 13, n. 153.01, Vitruvius, set. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/13.153/5291>.


Publicado recentemente pela editora Edgar Blücher, IAC: primeira escola de design do Brasil, escrito pela jornalista, editora da revista Agitprop e professora de história do design Ethel Leon, adota como ponto de partida a formação daquele que é considerado o primeiro curso de desenho industrial do país. Experiência pouco estudada por pesquisadores que se dedicam à história do design no Brasil, a criação do Instituto de Arte Contemporânea (IAC), sediado no Museu de Arte Contemporânea (Masp) entre 1951 e 1953, adquire agora contornos mais nítidos sob as lentes investigativas da autora. Fruto da dissertação de mestrado desenvolvida por Ethel Leon na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em 2006, sob a orientação de Julio Roberto Katinsky, a obra não só representa significativo avanço para a compreensão de um dos muitos capítulos que integram a conformação do ensino e das práticas do design no país iniciadas na primeira metade do século 20, como também abre caminhos para estudos futuros ao incitar novos olhares sobre o tema.

Fio condutor das considerações tecidas pela autora, a fundação do IAC na São Paulo dos anos 1950 revela-se como canal privilegiado para o entendimento das relações e das tensões travadas entre as elites e os projetos culturais que despontavam no horizonte nacional naquele período e as perspectivas de modernização sustentadas pelos diferentes setores sociais envolvidos com o IAC. Tendo em vista estas questões, o livro acompanha a criação, o desenvolvimento e os desdobramentos do curso de desenho industrial cuja proposta parecia ir ao encontro das expectativas de uma fase marcada por significativas transformações das estruturas políticas, culturais, econômicas e sociais no país. No plano cultural, as fundações do Masp em 1947, do MAM em 1948 e a realização da I Bienal de São Paulo em 1951 brindavam esta efervescência artística que compunha um cenário imbuído por uma atmosfera de progresso, modernização e novas possibilidades de consumo.

Como bem destaca Ana Maria de Moraes Belluzzo em texto que prefacia a edição, as discussões em torno dos complexos arranjos entre arte e indústria no país deram vazão às experiências históricas de distintas naturezas passíveis, portanto, de diferentes interpretações. Neste sentido, longe de se restringir a uma abordagem de caráter linear, o presente estudo extrapola os limites do que poderia ser uma história de cunho meramente institucional ou uma narrativa centrada nas figuras hoje ilustres do design nacional e procura abarcar, ao longo de seis capítulos, uma série de assuntos pertinentes que orbitam a formação do curso coordenado por Lina Bo Bardi e Pietro Maria Bardi.

A oficina de maquetes do IAC. “IAC: primeira escola de design do Brasil”, p. 45.
Foto Peter Scheier [Acervo fotográfico da Biblioteca e Centro de Documentação do Museu de Arte de São Paulo As]

Em linhas gerais, a leitura de IAC: primeira escola de design do Brasil tem o mérito de trazer à superfície os pequenos percalços que, em grande parte das vezes, rondam os percursos daqueles que se enveredam pelas tramas da pesquisa científica. Como explicita a autora logo nas primeiras páginas de sua introdução, poucos foram os rastros documentais específicos acerca do IAC disponíveis para a análise. No entanto, o panorama detectado com certa surpresa por Ethel Leon – dado que, como salienta a pesquisadora, também nos permite indagar quais seriam os possíveis motivos que provocaram a escassez de fontes sobre o assunto – conduziu a autora a uma “aventura quase detetivesca” (p. 20) na busca por outros registros capazes de serem mobilizados como repertório documental.

Assim, a fim de recuperar os fragmentos deste processo o estudo se embasou, sobretudo, na leitura crítica de edições da revista Habitat, no levantamento de documentação localizada no arquivo do Masp e em entrevistas realizadas com figuras envolvidas com a trajetória do IAC, como Alexandre Wollner, Irene e Jacob Ruchti, Emilie Chamie, Flávio Motta, entre tantos outros. Ao longo das cento e cinquenta páginas do livro, entremeadas por diversos materiais visuais referentes ao período explorado, torna-se evidente o cuidado que a autora dispensa na abordagem das fontes selecionadas. A contextualização e a análise de trechos dos programas de aulas do IAC, currículos dos cursos, críticas sobre decoração e arquitetura em artigos da Habitat e matérias de jornais da época dão consistência à linha investigativa sustentada por Ethel Leon.

Entretanto, particularmente no que diz respeito à utilização de dados e informações coletados a partir de depoimentos de ex-estudantes e de um ex-professor do curso de desenho industrial organizado pelo IAC caberia talvez problematizarmos o peso da memória nestes relatos, dimensão que, apesar de reconhecida pela autora, poderia ter sido um pouco mais aprofundada na obra. É certo que uma análise mais apurada sobre a escola de design do IAC a partir dos discursos de pessoas que, de diferentes formas, participaram desta experiência demandaria ferramentas metodológicas específicas (1) voltadas para a compreensão do papel da memória na construção de impressões e versões sobre o IAC.

Não se trata, portanto, de cobrarmos da pesquisadora uma abordagem calcada nos modelos da história oral - o que certamente escaparia do escopo teórico-metodológico delimitado pelo estudo – mas sim, de pontuarmos as implicações envolvidas no uso de entrevistas como fontes de informação, já que muitas vezes, os testemunhos orais encontram-se perpassados por subjetividades que, por sua vez, imprimem nuances a estes discursos. Partindo desta consideração e, levando-se em conta as observações da própria autora sobre os desafios de se mapear as mais de cinco décadas que separavam a fundação do curso de design das entrevistadas realizadas, o exercício de confronto entre os relatos dos antigos alunos do IAC e as demais fontes mobilizadas poderia, por meio da problematização das estreitas relações entre memória e história (2) precipitadas por estes testemunhos orais, agregar outros elementos ao estudo.

No bojo das ações em torno da criação do curso de desenho industrial na capital paulista, a publicação abarca as estratégias sociais, nem sempre convencionais, aplicadas principalmente por Assis Chateaubriand, fundador do MASP e proprietário dos Diários Associados, na árdua tarefa de tentar educar as sensibilidades estéticas das elites para o “bom gosto moderno” (p. 33) e, ao mesmo tempo, despertar a simpatia destes grupos no apoio financeiro ao museu. Assim, diante do descompasso observado por Pietro Maria Bardi entre as preferências artísticas da elite paulistana e o movimento moderno, a fundação do IAC poderia não só atuar como espécie de espaço pedagógico na formação de profissionais habilitados para produzirem trabalhos que unissem arte e tecnologia nas áreas do design gráfico e de produto, mas também como polo irradiador com potencial para moldar o gosto da elite paulistana a uma linguagem moderna. No entanto, as possibilidades de diálogo entre a produção do IAC e as indústrias paulistas parecem não ter encontrado solo tão fértil quanto esperava Bardi, como é possível verificar em excertos de escritos presentes no livro.

Os levantamentos documentais realizados por Ethel Leon nos revelam dados preciosos no que diz respeito à formação intelectual dos professores que lecionavam na escola, ao processo seletivo de seus alunos, à duração e à dinâmica dos cursos que, de maneira geral, se pautavam nos modelos de ensino da Bauhaus Dessau e no Instituto de Design de Chicago, tópico que constitui o cerne do segundo capítulo do livro. Ao se debruçar sobre o perfil destas instituições que serviram de referências para a conformação do IAC, a autora discute como, a partir da incorporação de aspectos das escolas europeia e americana de design, o IAC optou por traçar uma via apaziguadora entre as duas correntes:

“O debate estabelecido nas duas escolas, a norte-americana e a alemã, não vai se realizar no Brasil. Tratava-se de absorver intensamente a atualização artística europeia e norte-americana, incorporando elementos de conduta dos designers norte-americanos em suas relações com a indústria, sem, no entanto, que houvesse aqui o interesse e a receptividade [...] para uma escola de design” (p. 65).

O encerramento das atividades do IAC em 1953, apenas após dois anos de seu início, descortina uma gama de questionamentos no que diz respeito a não continuidade da escola. Para além das diversas suposições elencadas e debatidas pela autora, que procura relativizar algumas hipóteses esquemáticas acerca da curta duração do projeto, a ideia sustentada pelo estudo aponta para um conjunto de fatores relacionados ao lugar que o design ocupava no âmbito das indústrias e na mentalidade do empresariado brasileiro naquele momento. Amparando-se principalmente nas interpretações desenvolvidas por intelectuais como Florestan Fernandes e Celso Furtado, a pesquisadora defende que, entre nós, o design acabou por adquirir uma função muito mais “representacional” do que efetivamente “produtiva” (p. 87). Tal linha de raciocínio parece se fortalecer na medida em que observamos a projeção que a área do design gráfico conquistou se comparado à área do design de produtos no período, realidade espelhada na própria trajetória profissional de boa parte dos alunos e alunas que frequentaram as aulas do IAC. Vale reforçar, conforme o quinto capítulo da obra dedicado à atuação de alguns artistas e designers que estudaram no IAC, que muitos deles acabaram por se destacar na criação de identidades visuais de empresas, no setor de decoração e paisagismo do que na elaboração de produtos industriais.

Em suma, ao trazer à tona aspectos até então mais citados que explorados sobre a criação, as experiências e o legado deixado pelo Instituto de Arte Contemporânea, IAC: Primeira Escola de Design do Brasil apresenta-se como publicação de relevo dentro da produção mais recente dedicada à compreensão das especificidades que marcam a história do design no país a partir da segunda metade do século passado. Plataforma de observação para diversos temas, como o entendimento das práticas de ensino no Brasil, o papel do design no desenvolvimento industrial brasileiro nos anos 1950 e, de maneira mais ampla, no cenário internacional do período pós Segunda Guerra, o IAC, sob o foco investigativo empreendido por Ethel Leon, nos convida, a partir das potencialidades e das limitações envolvidas neste efêmero – mas não estéril – projeto, a pensarmos o lugar do design em nosso mundo contemporâneo.

notas

1
Para discussões teórico-metodológicas acerca das relações entre memória e história oral, suas potencialidades e limitações conferir, entre outros: MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de história oral. São Paulo, Loyola, 2000.

2
LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Unicamp, 1990.

sobre a autora

Márcia Almeida é historiadora e atualmente mestranda no curso de História Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

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IAC - Primeira Escola de Design do Brasil

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IAC - Primeira Escola de Design do Brasil

Ethel Leon

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