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Segundo Mônica Junqueira, os autores selecionaram cinco obras de Artigas como gênese do conceito do vazio enquanto elemento de superação da lógica de ocupação territorial e de centralidade do espaço doméstico.

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CAMARGO, Mônica Junqueira de. A arquitetura de Vilanova Artigas e a construção da cidade moderna. Resenhas Online, São Paulo, ano 13, n. 154.03, Vitruvius, out. 2014 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/13.154/5324>.


Os estudos das últimas décadas sobre a arquitetura de João Vilanova Artigas vêm ampliando largamente a compreensão de seus trabalhos, que reforçam cada vez mais a importância de sua contribuição à cultura arquitetônica. A investigação dos arquitetos-professores Leandro Medrano e Luis Recamán traz uma leitura instigante da relação entre seus projetos residenciais dos anos 1940 a 1960 e a modernização da cidade de São Paulo, que muito provavelmente despertará acirrados debates, uma vez que apontam para as contradições existentes entre a arquitetura moderna e a conformação das cidades brasileiras. Entendendo como recuo, aquilo que é defendido como um avanço, os autores problematizam algumas versões consensuais da obra de Artigas no que diz respeito às especulações urbanas que seus projetos sugerem ou o significado da ênfase construtiva de suas ousadias estruturais, que são assumidas como constituidoras da escola paulista e, portanto, o legado de Artigas que ainda repercute na produção contemporânea.

A trajetória traçada pelos autores tem início no desafio de se enfrentar a condição territorial adversa aos princípios da cidade moderna, recuperando o conflito gerado entre a rua entendida como vazio da composição arquitetônica e como espaço público, e terá seu ápice na total dissociação entre o ambiente interno das casas e o território ao qual pertence.

De uma produção mais ampla (vale lembrar que a maioria dos projetos concebidos até 1950 era de inspiração acadêmica) os autores selecionaram cinco como gênese do conceito do vazio enquanto elemento de superação da lógica de ocupação territorial e de centralidade do espaço doméstico, a saber: os projetos de suas duas residências (1942 e 1949), a casa Czapski (1949); a casa Heitor de Andrade em Santos (1949) e a casa D'Estefani (1950). O vazio, segundo a leitura de Medrano e Recaman, é identificável a partir da implantação que nega o padrão e incorpora o resíduo territorial à composição arquitetônica, que em seguida se incorpora ao espaço doméstico como elo entre volumes, e depois incorporado à unidade volumétrica, ganha gradualmente preponderância até assumir a condição de estruturador espacial do programa. Condição essa que inibe a expansão volumétrica, consequentemente sua reprodutibilidade, impedindo qualquer possibilidade de desdobramento para a constituição do espaço urbano.

Nos projetos analisados na sequência: Olga Baeta, Casa dos Triângulos, Taques Bittencourt 2, são esclarecidas as estratégias arquitetônicas que, atreladas ao conceito do vazio, sublimam o entorno indesejado, tanto sob a ótica compositiva como construtiva: a opção pelo prima, a eliminação da fachada, entendida como parte do processo de independência da unidade arquitetônica em relação ao mundo social, e a unificação dos diferentes elementos construtivos - estrutura, vedação, cobertura, piso, etc. A objetividade estrutural do concreto - forte referência da escola paulista ainda hoje recorrente na produção contemporânea - para os autores, não remete às questões tecnoconstrutiva e conceitual, e sim a uma operação retórica. A investigação conclui que a tipologia, criada a partir da trajetória projetual da unidade unifamiliar aberta a um vazio exterior ao enclausuramento definitivo do interior, era incompatível, devido suas próprias premissas espaciais formais - o volume fechado- ao desenvolvimento de novos padrões urbanos compatíveis à modernização da cidade de São Paulo nos anos 1950. A formulação ideológica da grande cobertura apoiada em uma estrutura de desenho sofisticado a abrigar o espaço doméstico entendido como laboratório de processamento das questões não só do espaço e da cidade, mas da sociedade e de sua transformação, não se desdobra em cidade: “da casa isolada não resulta hipótese urbana além da realidade a que se submete” (p.109). O paradoxo, segundo os autores, se torna mais evidente quando esse modelo é aplicado em propostas de áreas inteiramente novas, sem estrutura territorial pré-definida, como no plano para Brasília, onde se reproduz em escala urbana esse ideal de espaço, ou no Conjunto Zézinho Magalhães, onde o espaço coletivo é o resíduo da multiplicação dos blocos.

Ainda que essa tipologia residencial não seja compatível à criação de um padrão urbano moderno, como demonstram Medrano & Recamán, é facilmente identificável, que esta suscitou, a partir de então, a especulação do sentido de urbanidade sobretudo nas obras públicas, com resultados dos mais variados.O atraso da construção civil brasileira que inviabilizaria a conformação da cidade moderna pode ser rebatido pela expressiva quantidade de arranha-céus construída nas principais capitais brasileiras nas décadas de 1920 e 1930. O edifício Louveira (1946) de Vilanova Artigas, comentado rapidamente em uma nota de rodapé (p.31) seria um projeto interessantíssimo a ser explorado nessa análise, tanto do ponto de vista construtivo como compositivo da cidade brasileira moderna, uma vez que propõe, a partir da unidade habitacional, nova forma de ocupação territorial integrada ao espaço tradicional.

Assim como o rebatimento desse legado de Artigas na produção contemporânea, ilustrado pelos autores pelo artigo de Roberto Segre publicado na revista AV Monografias, n. 139, 2009, talvez não seja o melhor exemplo. Primeiro, porque na análise de Segre o arquiteto de referência é Paulo Mendes da Rocha, que por sua vez teria se alimentado na fonte do Artigas, e não há como desconsiderar a autonomia de Mendes da Rocha. Segundo, a análise concentra-se entre 1940 e 1960, obliterando a trajetória subsequente do próprio arquiteto, quando projetou a maior parte de suas obras públicas, nas quais o significado das ideias levantadas por Medrano & Recamán podem ser mais bem aferidas, e o contexto que passou por mudanças de toda ordem que permitiram outras assimilações desse legado.

Além da leitura inédita que os autores promovem , per si, uma contribuição à crítica da arquitetura, o método de análise a partir do projeto traz ao debate outros elementos que a historiografia até então não considerou, ampliando as possibilidades de interpretação desse legado criteriosamente resgatado pelos autores.

nota

NE – Publicação original do texto: CAMARGO, Mônica Junqueira de. A arquitetura de Vilanova Artigas e a construção da cidade moderna. Jornal da Unicamp, n. 609, Campinas, 3-12 out. 2014 <www.unicamp.br/unicamp/ju/609/arquitetura-de-vilanova-artigas-e-construcao-da-cidade-moderna>.

sobre a autora

Mônica Junqueira de Camargo, arquiteta, professora associada da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo na área de história da arquitetura contemporânea, editora-chefe da Pós- Revista do Programa de Pós-graduação da FAU-USP, ex-conselheira do Conpresp.

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Vilanova Artigas

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