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português
O livro Cozinha e indústria em São Paulo, de autoria de Maria Cecília Naclério Homem, lançado pela Edusp no último mês de agosto, apresenta a evolução da cozinha doméstica paulista a partir de fins do século 18 até nossos dias.

english
The book Cozinha e indústria em São Paulo, authored by Maria Cecília Naclério Homem, launched by Edusp last August, presents the evolution of domestic kitchens in São Paulo, as of the turn of the 18th century until present.

español
El libro Cozinha e indústria em São Paulo, escrito por Maria Cecília Naclério Homem, lanzado por la Editorial Edusp en el último mes de agosto, presenta la evolución de la cocina doméstica “paulista” desde finales del siglo 18 hasta nuestros días.

how to quote

FORTE, Graziela Naclério. Evolução da cozinha paulista. Sobre o novo livro de Maria Cecília Naclério Homem. Resenhas Online, São Paulo, ano 14, n. 167.01, Vitruvius, nov. 2015 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/14.167/5804>.


Cozinha e indústria em São Paulo – do rural ao urbano é o mais recente título da historiadora Maria Cecília Naclério Homem, autora também de Higienópolis: grandeza de um bairro paulistano (Prefeitura Municipal: Divisão do Arquivo Histórico, 1980; Edusp, 2011), O palacete paulistano e outras formas urbanas de morar da elite cafeeira (Martins Fontes, 1996 e 2010) e O Prédio Martinelli: a ascensão do imigrante e a verticalização de São Paulo (Projeto, 1984), além de diversos artigos que contam a história da capital paulista através de sua evolução urbana e de sua arquitetura.

Desta vez, a autora enfoca o processo evolutivo da cozinha doméstica, iniciando pelas cozinhas rurais e semi-rurais de fins do século 18, voltadas para as culturas de subsistência que vicejavam nos engenhos, cujos canaviais se multiplicavam com vistas à exportação do açúcar para a Metrópole. Até chegar a nossos tempos, a cozinha passou por uma série de mudanças, devidamente analisadas pela autora. Apresentava-se, então, fragmentada, nos fundos das moradias e aberta para os quintais, aos telheiros e às roças, onde se produziam quase todos os alimentos necessários à sobrevivência. Podemos dizer que as cozinhas eram autossuficientes, pois, com exceção do sal, do azeite e do bacalhau, importados do Reino, tudo ou quase tudo era produzido e processado in loco.  Constantemente suja, devido às dificuldades quanto à obtenção da água e ao excesso de fumaça produzida pela combustão da lenha e do azeite utilizado para iluminação, tornara-se uma zona de repulsão. Sem falar que se cozinhava em diversos lugares ao mesmo tempo, preparava-se o fogo no chão, sobre três pedras, ou no tripé de ferro, tanto dentro como fora da habitação. Os serviços, pesados e morosos, dependiam de farta mão de obra, tanto livre quanto cativa.

A seguir, vieram os tempos iniciais da cafeicultura, que nos trouxe os primórdios da industrialização e do urbanismo, apoiados no transporte ferroviário que substituiu com vantagem as tropas de mulas, possibilitou o comércio internacional e regularizou o local. Foram implantadas as redes de água e de esgotos, a iluminação a gás e a eletricidade, o uso do gás e, nos fogões populares, do carvão para cocção, possibilitando a limpeza da cozinha e sua entrada nos interiores domésticos. Seguem-se outras fases, tais como o período entreguerras, quando nasce a cozinha moderna, em que a mecanização assume o comando das atividades culinárias, acompanhada da valorização da estética e, com elas, do desenho industrial. No pós-guerra, aparece o gás engarrafado, o que facilita a cocção nas periferias. Temos, então, a cozinha dita “americana”, de aço; as cozinhas planejadas, mais populares, compactas, com superfícies contínuas e armários aéreos; a cozinha dinâmica e sofisticada, denominada cozinha gourmet, e, finalmente, a denominada cozinha “inteligente”, que obedece ao comando de viva voz.  Todas elas são equipadas com aparelhos cada vez mais aperfeiçoados, que englobam diversas funções e são movidos a diferentes formas de energia: gás, carvão, eletricidade, micro-ondas, indução, vácuo, eletrônica etc.

São renovações que se refletem na organização do espaço, na disposição dos móveis, dos utensílios e dos eletrodomésticos, que levam à cozinha pequena, organizada, bonita e limpa de nossos dias, prática e funcional, onde se economizam os passos e o trabalho dos usuários. O livro está dividido em cinco capítulos, dedicados às diferentes fases da evolução da cozinha, nos quais a autora procura no contexto histórico, os fatores econômicos e culturais, como a substituição da mão de obra escrava pela imigrante, a implantação da indústria nacional de bens duráveis e de produtos alimentícios, em substituição aos importados, e os diferentes conceitos de nutrição. Nesses termos, a autora explica como e porque a cozinha mudou de local nos desenhos das plantas, estabelecendo-se ora no porão das moradias, ora no térreo, quer na parte lateral, quer na fronteira, e atribui à arquitetura moderna, dos anos 1930 em diante, a organização das cozinhas em forma de I, L e U, com superfícies contínuas, colocadas no nível da cintura e presas ao longo das paredes.

Com a industrialização do pós-guerra, houve a vulgarização dos equipamentos, tornando-se famosas as feiras de utilidades domésticas, mais conhecidas como UD. Deu-se, ainda, a intensificação dos anúncios publicitários em jornais e revistas, e na TV. A cozinha era, então, de uso exclusivamente familiar, cujos membros se reuniam na copa, espaço imediato à cozinha, onde faziam as refeições em conjunto sob o comando materno e, à noite, do pater famílias. Era nesses momentos que se educavam as crianças, indagando-se como estavam se saindo nos estudos, ou vinham à baila as histórias de família e até mesmo receitas tradicionais que se transmitiam aos mais jovens.

De lá para cá, a cozinha tornou-se racional, baseada em princípios de simplificação do trabalho, indo ao encontro da falta de tempo dos usuários e na diminuição da fadiga humana. Tornou-se compacta e despojada nas antigas kitchenettes e nos lofts, e, uma vez arejada e bem iluminada, pôde integrar-se à sala de estar nas residências da classe média.  Nos apartamentos destinados a essa classe, ela ainda permanece nos fundos, servida pelo elevador de serviço e afastada do setor social.

Tanto a chamada cozinha “americana” quanto a “inteligente”, montada à base de botões, e a planejada, são opções racionais que tendem a deixar o espaço mais dinâmico, além de organizado, prático e bonito. Já a cozinha gourmet que foi introduzida no mercado nos anos 1970, por empresas especializadas em móveis e eletrodomésticos de última geração, une a noção de prazer e sofisticação. Passou a fazer parte da área social da casa e veio para mudar o paradigma de que homem não cozinha. A história de nossa cozinha fornece elementos para a reconstituição dos costumes das famílias paulistas, que não deixam de ser os nossos próprios hábitos e a nossa própria história.

Como segunda parte do livro, acompanha o texto uma série de 175 ilustrações, entre fotos, desenhos e plantas de cozinha e de residências, dispostas em ordem cronológica. Para tanto, Maria Cecília contou com uma bibliografia variada, pautando-se em livros, artigos e trabalhos acadêmicos sobre habitação, inventários dos séculos 18 e 19, anúncios de venda de propriedades e propagandas em periódicos (almanaques, jornais e revistas como Idort e Politécnica), além de informações obtidas em visitas a feiras, lojas especializadas e a sites da Internet, o que indica um diálogo entre diferentes fontes e assume uma eficiente interdisciplinaridade. O resultado é um trabalho muito bem embasado, rico em pesquisa de arquivo e ao mesmo tempo repleto de elementos atuais. Tudo isso em uma linguagem precisa e agradável.

Esta obra, com certeza, despertará o interesse de acadêmicos e do público, em geral, porque a cozinha constitui, hoje, um dos setores mais criativos e geradores de lucro, ligados ao agronegócio e à indústria, além de restaurantes, escolas, hotéis, cafés, turismo, etc. Movimenta milhões de dólares, de usuários e de profissionais das mais diversas áreas, e diz respeito a todas as classes sociais.

sobre a autora

Graziela Forte é professora-pesquisadora com experiência em História Social da Arte Brasileira. Pós-Doutoranda pela Unesp de Marília, Doutora pela Universidade de Campinas e Mestre pela Universidade de São Paulo. Autora dos livros Diversão e arte no clube de artistas modernos e Carlos Prado: trajetória de um modernista aristocrata (ambos Bookess, 2014) e diversos artigos sobre arte e cultura brasileira.

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resenha do livro

Cozinha e indústria em São Paulo

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Cozinha e indústria em São Paulo

Do rural ao urbano

Maria Cecília Naclério Homem

2015

167.01
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167.02

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