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Paisagens particulares, recorte específico de Ana Rosa de Oliveira sobre a obra de Burle Marx, tem como originalidade a escolha de apenas cinco jardins do paisagista brasileiro.

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ZAGARI, Franco. Flocos de neve sobre o fundo de um guarda-chuva negro. Roberto Burle Marx sob a ótica de Ana Rosa de Oliveira. Resenhas Online, São Paulo, ano 15, n. 170.03, Vitruvius, fev. 2016 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/15.170/5931>.


O jardim é um tema com grande significado em todas as culturas, sobretudo nos momentos  de crise e de transição, nos quais uma exploração de seus valores se propõe como uma necessidade, de nostalgia e de esperança, elo conceitual entre um momento de consciência da própria história e, ao mesmo tempo, lugar para projeção de visões de futuro. O jardim é potencialmente uma das mais eloquentes expressões dos valores de uma sociedade, em algumas épocas ditada por uma ideia fundadora autóctone, até as raízes de uma cultura singular, em outras mais aberta, a partir de e em direção a outras culturas, como um precioso lugar de hibridações. Com grande sensibilidade, Ana Rosa de Oliveira nos oferece uma reflexão muito original sobre o jardim contemporâneo, o aproximando de alguns aspectos do projeto da paisagem, através de um pretexto, talvez o pretexto por excelência: um recorte ideal da obra de Roberto Burle Marx, mestre próximo a ela e reconhecido, em todo o mundo, como um dos maiores autores, o qual, por ocasião do centenário de seu nascimento, é sujeito de uma nova leva de estudos cada vez mais aprofundados.

A originalidade deste livro é ter escolhido falar – dentre os mais de dois mil projetos do mestre – de apenas cinco jardins, escolhidos por sua universalidade, como cinco manifestos extemporâneos, estrelas polares de momentos diversos daquele período extraordinário do jardim brasileiro do século XX que influenciou profundamente sua época. Como diz Ana Rosa, em cada um destes jardins convivem um caráter privado, um caráter experimental e um caráter de manifesto. Eles são adotados por Ana Rosa como metas de um percurso iniciático, que toca em alguns temas gerais e revisita ainda outras fases do pensamento do mestre, não somente através da descrição das obras, mas também através de sua história, na prática do uso  no momento de sua encomenda e do uso que depois se seguiu, e, fundamentalmente, através do significado que tiveram no imaginário de seus proprietários, desde sua idealização, passando por sua realização, até o tempo presente.

Fazenda Vargem Grande, Serra da Bocaina. Paisagismo de Roberto Burle Marx
Foto Luciana Leal

Eis uma história em cinco cristais, obras que tomam forma em um arco de tempo muito longo, da década de 1940 à de 1970, coincidente com o período da máxima criatividade de Burle Marx. Ana Rosa parece querer dar a palavra às próprias obras, ouvindo suas sugestões diretas antes de adiantar uma interpretação, pois tão somente a força da própria imagem dessas obras poderia falar, em profundidade,sobre sua necessidade primária de existir – calor, alimento, repouso – deixando que o seu jogo mais profundo de sonho e poder se explique por si, como lugares onde se desenvolveram e se desenvolvem os ritos mais íntimos das famílias que ali habitam e onde, ao mesmo tempo, se abrem à socialização.

A evolução do pensamento do mestre é bem representada na passagem de  uma experiência a outra, destacando a formação daquelas que serão as constantes de  seu método e o advento de mudanças cruciais, diante de escalas e condições muito diversas. Isto até delinear uma nova visão estética da paisagem, uma extraordinária assimilação da própria alma do habitat, ultrapassando todas as barreiras sociais, usando a mesma escritura tanto nesses jardins aristocráticos como nos espaços públicos mais pobres. É essa mesma autoridade de poeta na escrita de seu ininterrupto romance popular que tornará única a sua obra, como ocorre com a de Jorge Amado, na literatura.

Burle Marx não é somente um grande autor de jardins, é um dos primeiros a descobrir e divulgar a paisagem brasileira como um imenso patrimônio botânico, e a colocá-la como princípio de identidade do país; em seu trabalho pode existir força até mesmo numa flor.

Fazenda Vargem Grande, Serra da Bocaina. Paisagismo de Roberto Burle Marx
Foto Luciana Leal

Os cinco jardins são como estágios de decantação do espaço do habitar no devir entre cidade e campo, na relatividade dos limites entre arquitetura, jardim e paisagem natural. São, dessa maneira, um precioso terreno fundador de experimentações de novas paisagens para a cidade de amanhã, nem urbana nem rural. Eles também são o resultado da relação dialética – às vezes difícil – de mútua influência entre arquitetura e paisagem, atos de uma discussão dialética com grandes arquitetos.

A autora une-se ao leitor nesse relato, que evoca nela reflexões profundas, e é levada por ele, abrindo-se a descobertas a partir das memórias de sua própria vida, como um feedback muito bonito de sua infância "uma sequência de movimentos de minha mãe que mostra aos nossos olhos atônitos, flocos de neve brancos sobre o fundo de um guarda-chuva preto", onde o quintal é um maravilhoso mundo infinito, em um "tempo mais seguro para crianças e adultos em uma cidade", onde os jardins e quintais eram enormes e seus materiais – água, terra, plantas, animais e pedras – rotina e aprendizagem diárias, uma situação de descoberta e conquista, que remetem ao mito de Crusoé, que para viver deve transformar a natureza em paisagem e dar nomes aos lugares. A autora libera também algumas de suas recordações literárias, por exemplo, sobre os passos do pensamento nômade de Francesco Careri – que lembro com orgulho ter sido meu aluno – e transfere ao jardim uma dimensão de leitura – "caminhar espaçando" – na qual, em  realidade, um jardim é feito de materiais próprios: a luz, o movimento e o desenvolvimento no tempo. "Dar ao homem o prazer das formas e das cores que crescem, um prazer que educa e transforma".

Lendo estas páginas, parece que volto a escutar as belas aulas de Ana Rosa na Itália – em Veneza, Roma e Reggio Calabria –, aquela fala elegante, expressa com modéstia e gentileza, e contudo sempre segura e profunda, sempre original e longamente meditada.

Casa Francisco Peixoto, arquiteto Oscar Niemeyer, Cataguazes MG. Paisagismo de Roberto Burle Marx
Foto Luciana Leal

nota

NE – o presente texto é a apresentação do livro comentado.

sobre o autor

O italiano Franco Zagari é arquiteto, paisagista e professor das Universidades de la Sapienza (Roma) e de Reggio Calabria (Reggio Calabria).

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resenha do livro

Paisagens particulares

Paisagens particulares

Jardins de Roberto Burle Marx (1940-1970)

Ana Rosa de Oliveira

2015

170.03
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original: português

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170

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