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reviews online ISSN 2175-6694

abstracts

português
O filme Aquarius, do diretor Kleber Mendonça, alinha cidade, arquitetura e resistência, fazendo uma crônica da vida cotidiana.

english
The film Aquarius, from the director Kleber Mendonça, aligne city, architecture and resistence, showing a day-bay-day life chronicle.

español
La película Aquarius, del director Kleber Mendonça, conecta ciudad, arquitectura y resistência, haciendo una crônica de la vida cuotidiana.

how to quote

BOTTURA, Roberto. Arquitetura e resistência em Aquarius. Resenhas Online, São Paulo, ano 16, n. 184.04, Vitruvius, abr. 2017 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/17.184/6506>.


Geraldo Bonfim, empresário, e Clara conversam em restaurante, cena do filme Aquarius, filme de Kleber Mendonça Filho
Foto Victor Jucá / divulgação

Aquarius tem de cidade o quanto nós podemos reconhecer o que de cidade tem em nós. É um filme externo, onde as pessoas passeiam, vão à praia, fazem caminhada, ficam presas no engarrafamento, se encontram e vivenciam os bairros onde moram. É um filme onde os casais namoram na rua, fumam maconha na praia, onde as amigas saem pra dançar, onde uma grande festa termina em uma orgia no apartamento do andar de cima, onde a bebedeira é usada para afogar as mágoas, onde o vinho é bebido pra esquecer a decepção ou acender o fogo de uma paixão. Aquarius tem cidade de dia, de noite e de madrugada, é uma ode ao mundo urbano em que vivemos, a vida cotidiana e a música que ela contém. Mas a música que ela contém não é aquela amorfa do vazio existencial de O som ao redor, é uma música potente, acertada, que molda a personalidade, que fala de amor, de luta e superação, é uma música que faz a trilha sonora da vida, de uma vida qualquer, eu, você, minha tia, a avó, a vizinha maluca ou o bêbado desgraçado. Aquarius tem Queen, Gil, Bethania, Paulinho da Viola, Villa-Lobos, cada música na hora certa e com a mensagem certa. Como uma orquestra afinada que revela todas as notas na mais fina harmonia. A música como resposta as horas de lazer que lhes foram roubadas.

Aquarius tem de arquitetura o quanto de arquitetura podemos identificar em nós. É um filme interno, onde as pessoas se encontram em casa, fazem aniversários, dançam com a vitrola “no último”, fazem passinhos na sala de estar, limpam a sujeira, varrem para debaixo do tapete, deixam vir à tona resquícios do passado, discutem calorosamente, se abraçam amorosamente e transam apaixonadamente. Dentro, indoors, a dialética do espaço, o ambiente vivido, a casa de família, a memória afetiva. De arquitetura vemos a memória afetiva, o valor à história, a mensagem na garrafa que o diretor nos revela para quem em algum momento não capta o fio condutor do filme. A memória afetiva, o respeito ao passado, o direito à escolha, a resistência, a memória afetiva. A cômoda, o prazer, um disco de vinil, outro prazer, meu apartamento, meu prazer, minha história, (o que fazer?). Reconstruir, se reconstruir, se recompor, escolher o certo. Há o certo? Resistir...

Aquarius tem de resistência o quanto de resistência podemos reconhecer em nós. Resistir a uma tentação, resistir a uma briga, resistir a uma proposta indecente, resistir à corrupção. O dinheiro, a corporação, a força imobiliária, o terrorismo moral, intelectual e perigosamente sensual. A pressão, sempre ela, avançando sutilmente, cercando por todos os lados como um vodu diabólico que espeta, que penetra, que se faz presente, uma alfinetada ali, outra acolá, do vizinho, da filha, do irmão, do neto da construtora, do dono da construtora, do auxiliar, do pintor, do bombeiro. Resistir para que? Como? Será possível? Existe o direito de escolha? E quando todos escolhem um e eu escolho dois? Em Aquarius sobra formação em business e falta formação humana.

Aquarius é linear, porém envolvente. Fala da vida real, quase sem graça para uns mas com uma enorme graça para outros, sem grandes surpresas nem muitas reviravoltas. É um filme que costura cidade, arquitetura e resistência, onde a mensagem do filme se alinha com nossa realidade. Os cômodos estão às moscas, o que será daqui pra frente? Tem merda na escada, mas ninguém quer limpar. Expulsaram todos do prédio e não escolheram gente melhor pra entrar. Clara já teve um câncer, e prefere causar um à podridão do que ter outro por falsa complacência.

Clara observa seu neto acionando o toca-discos em seu apartamento, cena do filme Aquarius, filme de Kleber Mendonça Filho
Foto Victor Jucá / divulgação

sobre o autor

Roberto de Almeida Bottura é arquiteto (PUC-Campinas, 2006) e mestre em Teoria e História da Arquitetura pela Universitat Politècnica de Catalunya (Barcelona, 2010) revalidado pela UFRJ em 2014. Atualmente é docente na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do ITPAC (Porto-Nacional-TO), nas áreas de Urbanismo e Projeto de Arquitetura.

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resenha do livro

Aquarius

Aquarius

Kleber Mendonça Filho

2016

184.04 filme
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original: português

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184

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