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reviews online ISSN 2175-6694


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português
Em “Por uma condição de abertura à paisagem”, trazemos o vazio descrito como matéria de composição morfológica. Observamos o papel do espaço vazio na transição entre escalas de projeto, na relação entre arquitetura e cidade e, em extensão, à paisagem.

english
In “Por uma condição de abertura à paisagem”, the void is described as matter of morphological composition. We notes the role of void space in the transition between project scales, in the relationship between architecture, city and landscape in extents.

español
En “Por uma condição de abertura à paisagem”, traemos el vacío como materia de composición morfológica. Observamos el papel del vacío en la transición entre escalas del proyecto, en la relación entre la arquitectura y la ciudad y, en extension, al paisaje

how to quote

BALSINI, André Reis. Por uma condição de abertura à paisagem. Resenhas Online, São Paulo, ano 16, n. 191.01, Vitruvius, nov. 2017 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/17.191/6779>.


“Uma espécie de fissura, através da qual podemos entrar em um domínio incerto, que não é nem a extensão nem o pensamento, uma multidão de imagens que aspiram a nascer” (1)
Henri Focillon

Seria a paisagem aquela que imprime complexidade e pluralidade ao espaço vazio, articulando os diversos elementos observados no espaço, em relação a um contexto, a um conjunto maior? Sob certo aspecto, il paesaggio é entendido como base de nosso senso figurativo, de nossa representação do real. Mas, se considerarmos a extensão da paisagem em seus desdobramentos geográficos e ambientais, teremos uma complexidade constituída por fenômenos concretos, em que o território compõe um palimpsesto. No livro Le forme del vuoto é citada a definição de Rosario Assunto para a paisagem, que seria, em sua forma extensiva, o espaço objeto de experiência e juízo (2). Nesta abordagem, a paisagem se aproxima de uma espécie de fronteira, de limite que se confunde com a linha do horizonte. Os objetos que estão inseridos em nosso espaço imediato, dados a nós em sua concretude, ainda não são componentes efetivos desta paisagem, que se configura na medida em que se afasta. Haveria uma “condição de aberturanecessária para que a paisagem se apresentasse conjugada  ao espaço, à sua extensão fluída (3).

O livro, de 2011, que descreve o vazio como matéria de composição morfológica, é de autoria da arquiteta e urbanista italiana Chiara Toscani, que desenvolveu sua tese junto ao Politecnico di Milano. No prefácio da edição, Giovanni Denti destaca a abordagem de uma problemática projetual ainda pouco formalizada, o que valorizaria o quadro teórico e analítico desenvolvido pela autora.

Um texto que trata de dar forma ao vazio, trazendo ao primeiro plano suas possibilidades compositivas em projeto. O livro fala de uma morfologia ambiente, uma “estrutura espacial fundativa”, uma atmosfera que traduz o lugar. Trata das possibilidades projetuais a partir da configuração do espaço vazio, parte indissociável na relação entre figura e fundo, elemento básico de conexão com a paisagem.

Os vazios, de acordo com o argumento de base da arquiteta, atuam como “spazi di transizione dall’architettura al paesaggio”, como lugares de conexão, de mobilidade cotidiana ou potencial. Lugares de vivência real, mas também carregados de sentido simbólico: através do vazio se revela a extensão do espaço-paisagem. O livro inclui referências ao texto Existence, Space & Architecture, de Christian Norberg-Schulz, que identifica a abertura comoelemento catalisadordo lugar, um meio ontológico de comunicação, que revela intenções e determina uma ambiência localizada.

Esta condição de abertura em projeto se traduz na “forma do vazio, em uma espacialidade que conjuga o objeto singular ao entorno plural, que associa a paisagem a uma direção, ou que a transforma em um vetor que orienta o projeto a partir do espaço de abertura. Este vazio ainda se afigura como intervalo espacial urbano, mantendo uma relação formal com a arquitetura, com o contorno do objeto. Os vazios relacionam o espaço de transição à paisagem, sendo esta última apresentada como “paradigma de uma espacialidade complexa”.

Através da abertura do espaço uma direção é determinada, se opera uma transição de um interno a um externo, ambos relativos: um lugar interior se projeta para o exterior, enquanto o exterior penetra em suas margens. São destacadas as relações de proximidade, as vedações, a ramificação de outros eventos, os percursos; características do espaço vazio em conexão com o ambiente urbano e, por extensão, com a paisagem.

Sob outro aspecto, a paisagem também altera a percepção do vazio como fundo contraposto à figura do objeto, particularizando a atmosfera espacial e gerando um campo de densidade variável. Entretanto, no caso em que prepondera o fator de fundo, os detalhes da paisagem transformam-se, perdem definição e tendem a ser apreendidos em uma visão de conjunto.

O livro evoca os contornos estáveis que conferem unidade e beleza ao local, aqueles que são condutores da habitabilidade do lugar. Fala ainda de fragmentação, processo que leva à presença de “domínios parciais”, que introduzem ambiguidade e instabilidade, e que se tornam tensão sobre o global.

Le forme del vuoto

Em escala urbana, os espaços de transição colocam em evidência o papel do vazio na relação entre arquitetura e cidade. Na transição entre escalas, o projeto, que pensa o vazio urbano, coloca a arquitetura em perspectiva privilegiada. Toscani, ao investigar a forma do vazio, aborda questões compositivas da construção do espaço, ressalta a importância projetual das relações entre cheios e vazios, figura e fundo. Observa uma escala em que o objeto arquitetônico se insere no tecido urbano, se relaciona com o território. Seu estudo propõe um desdobramento de discussões de ordem compositiva (4), defendendo um equilíbrio dialético entre figura e fundo. Investiga os mecanismos de conexão e combinação resultantes dos estudos de composição, e reconhece, nos limites do vazio, um espaço de transição resultante de tensões morfológicas.

“Os vazios [...] constituem o elemento de conexão da paisagem e, contemporâneamente, a transição de suas diferentes escalas dimensionais” (5).

A autora aborda a crise do objeto, fenômeno da modernidade em que a ideia de “superfície instável” alude à necessidade de novos pressupostos projetuais. Dessa discussão, sobressaem-se as definições de vazio-figura (relacionado, em primeira instância, ao espaço da cidade histórica como elemento ativo de sua estrutura urbana) e vazio-fundo (referente aos espaços modernos, destacando a singularidade do objeto arquitetônico). A partir destes dois conceitos, Toscani traça uma relação com os estudos formais de H. Focillon, elaborando uma síntese em que o vazio é analisado a partir de uma “ordem figurativa” ou de uma “ordem figural”. Aqui, a forma do vazio aparece, em projeto, como estrutura espacial fundativa.

Além de relacionar espaço e lugar, a autora introduz a questão das diferentes densidades do vazio. Nesta perspectiva, o vazio estaria sujeito a contaminações que alteram a percepção de sua densidade, consequentemente, a percepção daquilo que qualifica o ambiente como um todo. Primeiro, de acordo com a concepção de René Descartes, no “spazio sostanza” haveria uma preponderância do vazio na estrutura espacial, de ordem figurativa; sugere uma presença quase matérica; uma característica que Toscani descreve como “As características do espaço substância de unitariedade e de controle total, pressupondo uma estáticidade inerente ao vazio, que remetem diretamente em arquitetura à imagem do recinto” (6). Uma segunda aproximação é sugerida a partir de conceitos newtonianos, nos quais encontramos a noção de campo, em que o espaço é sujeito à força de atração dos corpos, tornando-se mais denso em sua proximidade e zona de influência. Uma terceira acepção advém das interpretações da física contemporânea, em que o vazio é compreendido como campo quântico. Nesta última abordagem, o campo perceptivo compõe uma totalidade, mais ou menos densa, em que os objetos densos e o espaço rarefeito se interpenetram com limites difusos.

Analisando a transição entre arquitetura e cidade, Toscani busca um conceito síntese, se aprofunda na investigação do vazio como elemento intermediário dessa relação, intentando reafirmar o valor da colaboração entre uma figura espacial aberta e aquela construída pelo objeto arquitetônico. Este aspecto do vazio não é traduzido simplesmente como um intervalo, mas designado pelo termo composto interspazio, em que se destaca o sufixo inter, relativo a uma extensão espacial ainda mais variável, lugar de transição escalar. Segundo a autora, o interspazio não se refere a uma escala dimensional específica, mas exprime corretamente as prioridades formais e funcionais encontradas nas diversas dimensões escalares. Como condição imprescindível, o sentido de unidade é transmitido por meio de conexões geométricas e visuais percebidas através da disposição da abertura del vuoto.

Toscani atribui o termo interspazio a Sergio Crotti (7), e destaca a transição entre escalas como seu aspecto significante, substantivo. A definição se aplica a um espaço que é extensivo à cidade e, além, à paisagem. O conceito é apresentado como definidor de relações estruturais, em contextos urbanos que convidam ao questionamento morfológico. Vazios urbanos que resumem uma unidade coerente, em que cada elemento ou componente interligado possui uma razão que nos prescreve seu papel no conjunto definido pela própria forma do espaço.

“Os interspazi contendo as matrizes do desenho modificativo dos arranjos arquitetônicos, urbanos e territoriais, transpondo a escala para atingir uma forma consciente do habitat” (8).

A autora reforça que uma abordagem projetual deve ter em conta o caráter de extensão urbana deste conceito. Destaca-se, nesta categoria espacial, o aspecto de articulação e intermediação entre escalas – a circunscrição de uma condição ambiente que se apresenta como matriz configurativa de um projeto interescalar; detalhes ou variações de superfície, que se relacionam tão somente ao tipo arquitetônico, não são um fator determinante nesse caso, ao contrário dos aspectos morfológicos proeminentes e condicionantes de uma extensão espacial comum.

Le forme del vuoto nos revela o lugar de concretização das relações intrínsecas ao tecido urbano, definidas nas vizinhanças das estruturas construídas ou na tensão de linhas de força. Espaços em que a potencialidade não se atém à escala arquitetônica, mas se estabelecem em uma relação mais ampla com a escala urbana e com a paisagem. O interspazio será, então, referido àqueles espaços urbanos que constroem a própria relação entre os fatos arquitetônicos.

“A transição deve ser articulada por meio de lugares definidos inmezzo (em-meio), que conduzem imediatamente à uma consciência do que é significativo na outra parte” (9).

Em suas análises empíricas, a autora visita espaços em protagonismo e projetos de referência: estuda o recinto histórico da Piazza del Campo, de Siena; observa a superfície como suporte ambiente, no Passeio de Copacabana, de Burle Marx; ou, ainda, se aprofunda nas variantes espaciais, em La Cittá della Cultura a Santiago de Compostela, de Peter Eisenman.

Os capítulos finais de Le Forme del Vuoto se dedicam a definir categorias compositivas que reconhecem a diferenciação dos vazios urbanos sob a perspectiva de uma ordem espacial apreensível. Toscani aborda o vazio a partir das suas possibilidades operativas, investiga as variáveis de composição morfológica, que podem ser observadas em projetos referenciais e traduzidas em proposições metodológicas.

O livro nos fala de uma arquitetura a ser pensada enquanto configuração de lugares intermédios claramente definidos. Para a autora, isto não implica uma contínua transição ou uma infinita posposição com respeito ao lugar e suas condições, mas uma ruptura com o conceito contemporâneo de continuidade espacial, e com uma tendência à interrupção das articulações entre espaços, como entre o interior e o exterior, um espaço e outro espaço distintos. Neste sentido, o texto nos remete a uma ideia próxima do in between, ao tratar de um espaço, no meio, que é campo comum onde as polaridades opostas podem tornar-se de novo fenômenos binários.

notas

NA – Esta resenha foi desenvolvida a partir de trecho do seguinte trabalho acadêmico do autor: BALSINI, Andre Reis. Dissertação de mestrado. Orientadora Maria Isabel Villac. Espações de transição: entre a arquitetura e a cidade. São Paulo, UPM, 2014.

1
Texto original: “Une sorte de fissure, par laquelle nous pouvons faire entrer dans un règne incertain, qui n’est ni l’étendu ni le pensé, une foule d’images qui aspirent à naître”. FOCILLON, Henri. Vie des formes, 2002, p. 7 Disponível em: <http://classiques.uqac.ca/classiques/focillon_henri/Vie_des_formes/Vie_des_formes.html>. Henri Focillon vai observar duas diretrizes espaciais: o espaço limite e o espaço ambiente. Investigando a morfologia do ornamento, sugere que a forma confrontada com o espaço lhe confere uma existência original.

2
ASSUNTO, Rosario. Il paesagio e l’estetica. Palermo, Novecento, 1994.

3
TOSCANI, Chiara. Le forme del vuoto – spazi di transizione dall'architettura al paesaggio. Milão, Maggioli, 2011, p. 72. Tradução livre.

4
Particularmente dos processos interstíciais de Peter Eisenman e da arquitetura ambígua e composta, que Collin Rowe discute em Collage City. Cf. TOSCANI, Chiara. Op. cit.

5
Texto original: “I vuoti [...] costituiscono l’elemento di connessione del paesaggio e, contemporaneamente, transizione dele differenti scale dimensionali”. TOSCANI, Chiara. Op. cit., p. 73.

6
Texto original: “di unitarietà e di controllo totale, pressupongono una connaturata staticità del vuoto, che rimandano immediatamente in architettura all'immagine di recinto". Idem, ibidem, p. 29.

7
O termo é utilizado no ensaio Interspazi: dai siti pubblici ai luoghi comuni, 1997. Cf. TOSCANI, Chiara. Op. cit.

8
Texto original: “Gli interspazi contengono le matrici del disegno modificativo degli assetti architettonici, urbani e territoriali, trapassandone le escale per attingere una consapevole forma dell’abitato”. Idem, ibidem, p. 26.

9
Texto original: “La transizione andrebbe articolata per mezzo dei luoghi definiti inmezzo, che conducano imediatamente la consapevolezza di ciò che è significante dall’altra parte”. Idem, ibidem, p. 65-66.

sobre o autor

Andre Reis Balsini é professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Nove de Julho (São Paulo). Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela FAU Mackenzie (2014); graduado na Universidade Santa Úrsula (1999). Especialista em Análise e Avaliação Ambiental pela PUC-Rio (Rio de Janeiro, 2005).

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Le forme del vuoto

Le forme del vuoto

Spazi di transizione dall'architettura al paesaggio

Chiara Toscani

2011

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