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português
Resenha do livro "Viagens ao Nordeste do Brasil", do viajante Henry Koster, destacando a singularidade esse viajante, e pertinência de muitos de seus comentários sobre o Brasil.

english
Review of the book "Viagens ao Nordeste do Brasil", by the English journeyer Henry Koster, stressing his singularity as traveler and the pertinence of various of his commentaries about Brazil.

español
Reseña del libro "Viagens ao Nordeste do Brasil", del viajero Henry Koster, destacando la singularidad ese viajero, y la pertinencia de muchos de sus comentarios sobre Brasil.

how to quote

LORDELLO, Eliane. O nosso bom e velho Henrique da Costa. Ou Henry Koster, o mais fiel retratista da paisagem brasileira. Resenhas Online, São Paulo, ano 17, n. 204.02, Vitruvius, dez. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/17.204/7198>.


Henrique da Costa – assim foi chamado por seus coetâneos, em Itamaracá, o viajante Henry Koster. Súdito inglês nascido em Lisboa, Koster viveu entre 1793 e 1820, estando sepultado no histórico Cemitério dos Ingleses, em Santo Amaro, no Recife. Koster chegou ao meu querido Recife em 7 de dezembro de 1809, aos 25 anos (1), em busca de um clima tropical para cura da tuberculose de que então padecia. Manifestando-se suas melhoras de saúde, em outubro de 1810 ele parte em viagem a cavalo à Paraíba. Dali resolve cavalgar até Fortaleza, aonde chegou em 4 de dezembro de 1810. Posteriormente, em 11 de fevereiro de 1811, começa a sua volta ao Recife e segue por mar até o Maranhão, donde retorna para a Inglaterra.

Em Londres, Koster publica Travels in Brazil, em 1816. No Brasil, o livro, em sua íntegra, saiu em edição autônoma em 1942, por Luís da Câmara Cascudo, publicado sob o título de Viagens ao Nordeste do Brasil (2), integrando a Coleção Brasiliana, sob o número 221. Tudo isso nos revela o pesquisador Leonardo Dantas, da Fundação Joaquim Nabuco, no belo estudo introdutório intitulado “Koster: o mais fiel retratista da paisagem”.

Além desse precioso estudo, a edição resenhada conta ainda com tradução de Luis da Câmara Cascudo, e com dois prefácios, um do próprio Koster, e outro de Cascudo, intitulado “Henry Koster que sonhei”. Como se tudo isso não bastasse, esta edição é ilustrada com os mapas e cromolitografias constantes da primeira edição (Londres, 1816). Entre os mapas, está o do Porto de Pernambuco, com direito a explicações de como adentrá-lo.

Sempre com Leonardo Dantas, sabemos que da volta ao Recife, em 27 de dezembro de 1811, o nosso protagonista parte para uma viagem ao sertão de Pernambuco. Em seu retorno, em abril de 1812, arrenda o engenho Jaguaribe, na Ilha de Itamaracá, e passa a residir, em 1813 no engenho Amparo. Facilitava-o, o seu pleno domínio da língua portuguesa e sua aclimatação aos trópicos.

No seu prefácio, Cascudo nos apresenta Koster como um viajante singular, distinto dos que aqui passaram no século 19. Não era ele subsidiado por museus ou institutos, não veio ao Brasil em missão científica ou artística, não tinha obrigações de levar a governantes do estrangeiro desenhos, anotações, relatórios, resultados científicos. No dizer de Cascudo, em uma bela síntese da natureza de Koster, ele “é uma curiosidade ampla e livre, sem compasso, sem barras, nem limites. É uma criatura humana, vivendo humaníssima e logicamente” (3).

Nesse espírito, Koster morou e viu Pernambuco, Paraíba, Natal, Aracati, Fortaleza, São Luís do Maranhão, Alcântara, e sertão – sertão autêntico, conclui Cascudo. O tradutor potiguar enumera também os bairros, então arrabaldes, onde Koster viveu no Recife: Monteiro, Poço da Panela, Cruz das Almas, Casa Forte. Emocionou-me esta lista, por serem lindos lugares do meu conhecimento, e que permanecem até hoje com os mesmos nomes (ai que saudade de Pernambuco!).

Praça de Casa Forte, Projeto de Roberto Burle Marx
Foto Eliane Lordello, 2012

Cais do Marco Zero, Recife, vendo, ao fundo, Olinda
Foto Eliane Lordello, 2011

 

Travemos agora conhecimento com o próprio Henry Koster – o nosso bom e velho Henrique da Costa.

A vinda de Koster para o Brasil foi muito bem refletida pelo viajante. A sua frágil saúde de exigia uma mudança de clima. Como os portos de Espanha e Portugal estivessem fechados aos súditos britânicos, Koster escolheu como seu destino o Brasil. No país, a sua opção por Pernambuco calhou de vir da notícia de que um velho amigo de sua família estivesse prestes a embarcar para essa então província, e, somado a isso, Koster havia recebido informações favoráveis sobre os habitantes e o clima. Assim, em 2 de novembro de 1809, embarca o nosso protagonista no navio Lucy, que pela segunda vez vinha a Pernambuco.

Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Olinda
Foto Eliane Lordello, 2012

A narrativa de sua chegada às terras pernambucanas é bastante descritiva e até poética, senão vejamos como são descritos, a partir do mar, Olinda e Recife:

“A cidade de Olinda é construída sobre um outeiro: sua situação, observada do mar, é do mais agradável efeito. Igrejas e conventos que se elevam sobre os cimos e os flancos da colina, seus jardins e suas árvores, semeados aqui e além entre as casas, dão a mais alta ideia de sua beleza e extensão. [...] Em seguida se encontra a cidade do Recife que,surgindo sobre o banco de areia muito baixo, parece sair das ondas” (4).

Olinda, o ístimo e Recife, vistos do Alto da Sé, Olinda
Foto Eliane Lordello, 2006

O mesmo Koster autor de tão poética descrição a partir do mar é também o narrador que vê com acuidade a paisagem e a arquitetura a partir da terra: “A primeira impressão quando se chega pelo mar é tão bonita que se experimenta um certo desapontamento, conhecendo-a de perto. Todavia possui Olinda grandes belezas e a vista é magnífica” (5). A cidade é linda e o comentário é válido até hoje. Ainda na narrativa de terra, para terminar o vasto campo paisagem nesta resenha, vale evocar a descrição do bairro de Santo Antonio, no Recife:

“Santo Antonio, o bairro central, é composto inteiramente de casas altas e de ruas largas, e se estes edifícios tivessem alguma beleza haveria um certo ar de grandeza, mas são muito altos para sua largura e a parte térrea serve para lojas, armazéns, oficinas, cocheiras e outros usos semelhantes. As lojas não têm janelas. Recebem luz unicamente pela porta. [...] Algumas das ruas menores têm casas mesquinhas e baixas. Aí estão o Palácio do Governador, outrora convento dos Jesuítas, a Tesouraria, a Casa da Câmara e prisão, as casernas, que são péssimas, os conventos dos Franciscanos, Carmelitas e Penha, várias igrejas, com interior ornamentado mas sem nenhuma graça arquitetônica. Compreende muitas praças e há uma certa impressão de viveza e de alegria” (6).

Se há certo ar de Sobrados e Mucambos (7) nesta narrativa, não é menos pertinente que uma visada atual sobre o lugar descrito. Santo Antônio de hoje ainda ressoa as palavras de Koster. Mas não é só a Recife e Olinda que Koster observa e narra com tal esmero. Sua passagem pela cidade de Natal, ou pela então chamada Vila de Fortaleza do Ceará igualmente demonstra o seu olhar acurado.

Sua acuidade para com a paisagem, a arquitetura, os modos de vida, está também presente na narrativa de observação dos costumes, chegando inclusive a reflexões sobre o direito consuetudinário. É o que atesta a sua descrição do conhecimento que travou com o governador do Ceará, Luiz Barba Alardo de Menezes:

“Construíra, durante sua gestão na província, a parte central do palácio, empregando trabalhadores indígenas aos quais pagava a metade do preço habitual do serviço. Tinha o costume de aludir ao que pertencia aos indivíduos da província, como se lhe pertencesse, dizendo meus navios, meu algodão, etc”.

A política e a justiça também o interessavam como temas de observação, e registrou muitas ocorrências nesses dois segmentos da ordem social. A título de exemplo, podemos citar o seu pensamento sobre a corrupção perante o funcionamento das instituições jurídicas que conheceu no Nordeste, se não vejamos:

“O Governador é o comandante superior da força militar. As causas civis e criminais são discutidas perante o Ouvidor e o Juiz de Fora, e julgados por eles. As duas autoridades judiciárias têm poderes quase semelhantes mas o primeiro é superior. São nomeados por três anos e, esgotado o prazo, podem ser reconduzidos nas funções. É um departamento na administração onde as ocasiões de enriquecer são numerosas. Algumas dessas criaturas aproveitam as oportunidades, tornando a justiça apenas um nome”.

Sem comentários!

E assim foi o nosso bom e velho Henrique da Costa, em suas viagens, permanências, trabalhos: observando, escrevendo, lendo, dedicando-se à agricultura e ao engenho que tocava, desvelando nossas instituições, nossos saberes, e tanto mais – numa palavra: tornando-se múltiplo, antecipando, assim, um dizer de Machado de Assis, que nasceria 19 anos após o desaparecimento de Koster: “Viajar é multiplicar-se” (8).

notas

1
KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil. Recife, Fundação Joaquim Nabuco, editora Massangana, 2002, p. 17.

2
KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil. Coleção Brasiliana. São Paulo, Cia Editora Nacional, 1942, 596 p.

3
CASCUDO, Luís da Câmara. Prefácio. In: KOSTER, Henry. Op. cit., edição 2002, nota II, p. 41.

4
KOSTER, Henry. In: KOSTER, Henry. Op. cit., edição 2002, nota II, p. 64.

5
Idem, ibidem, p. 85.

6
Idem, Ibidem, p. 69.

7
FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos. São Paulo, Global, 2003.

8
ASSIS, Machado de. Escritos avulsos I. São Paulo, Globo, 1997, p. 43.

sobre a autora

Eliane Lordello é arquiteta e Urbanista (UFES, 1991), mestre em Arquitetura (UFRJ, 2003), Doutora em Desenvolvimento Urbano (UFPE, 2008). Arquiteta e Urbanista da Secretaria de Estado da Cultura do Espírito Santo.

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Viagens ao Nordeste do Brasil

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