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português
Texto que apresenta a obra de Ana Cláudia Barone, que escreveu a história do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, Brasil, desde que as terras se tornaram propriedade do município, em 1890, até a inauguração do parque, em 1954.

english
Text that presents the work of Ana Cláudia Barone, who wrote the history of the Ibirapuera Park in São Paulo, Brazil, from the time the land became property of the municipality in 1890, until the park's inauguration in 1954.

how to quote

SAKATA, Francine. E se Ibirapuera não fosse parque? Resenhas Online, São Paulo, ano 17, n. 203.01, Vitruvius, nov. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/18.203/7153>.


A história da criação da criação do grande parque paulistano, contada por Ana Barone em Ibirapuera: Parque Metropolitano (1926-1954), é também a história do urbanismo e dos agentes públicos e privados que constroem esta cidade. É, ainda, a história do paisagismo, porque nos conta como os espaços livres urbanos foram percebidos e projetados em São Paulo ao longo do século 20. O parque foi aberto em 1954 para a comemoração do IV Centenário que, tal qual os Jogos Olímpicos, reuniu condições para contratar projetos e obras a toque de caixa. Ele foi destinado a símbolo da pujante indústria paulista, das artes modernas e da classe média em formação.

Desde 1926, o parque aparece nos planos para a cidade. O prefeito Pires do Rio o propôs à Câmara Municipal entendendo que a cidade precisava de um parque equivalente ao Central Park, de Nova York, ou ao Bois de Boulogne, de Paris, dado seu rápido crescimento. A localização do terreno entre “bairros residenciais nobres e de classes média e alta” foi determinante para tal. Naqueles anos em que o terreno ficou à espera de seu parque, muitos negócios foram feitos e desfeitos. Uma parte da área, que era estadual, foi trocada por um terreno municipal que hoje é parte do Parque da Água Branca. Um loteamento residencial foi aprovado pela prefeitura, vendido e, em seguida, revogado. O Jockey Club, que era na Mooca, só não foi transferido para lá porque a prefeitura não aceitou a proposta do Jockey que pedia, além de área que era o dobro da sua, o pagamento de 7.000 contos de réis, alegando que os terrenos na Mooca eram mais valiosos. Até a implantação do aeroporto foi considerada para a área mas um proprietário de terras em Congonhas levou-o para lá. A Assembleia Legislativa, o Exército e o obelisco tiveram mais sucesso em abocanhar partes daquela terra. Ana Barone recria este tempo da construção da metrópole, em que os grandes equipamentos estavam sendo concebidos.

A ideia da criação do grande parque, sem construções, para embelezar e valorizar a cidade e para a promoção da saúde de seus moradores, ganhava defensores influentes. A Sociedade de Amigos da Cidade, formada por homens ilustres e influentes, era uma das vozes em prol do Ibirapuera. O Dr. Anhaia Melo, segundo o jornal O Estado de S.Paulo de 31 de outubro de 1934, “estudou o caso do ponto de vista do urbanismo e mostrou que seria um atentado contra o patrimônio da cidade transformar-se o espaço livre do atual prado em espaço construído [...] porque São Paulo é uma cidade realmente miserável quanto aos espaços livres”.

A pesquisa de Ana Barone foi ampla e minuciosa. Ana vasculhou o Arquivo Histórico Municipal, as atas da Sociedade de Amigos da Cidade, os jornais da época, arquivos e bibliotecas da Fundação Bienal, IAB-SP, Fiesp, o acervo de fotógrafos entre outras fontes e autores. E costurou todo o material em um texto detalhado e, ao mesmo tempo, fluido. Esta fluidez decorre dela investigar, em cada capítulo, questões que são, de fato, clássicas do urbanismo brasileiro, que dizem respeito à articulação dos interesses e das forças dos grandes agentes construtores da cidade - prefeitos, juristas, proprietários de terras, o capital industrial e o imobiliário, homens que detém os meios de comunicação. Um dos primeiros movimentos, por exemplo, foi lidar com uma invasão e documentos falsificados ou o “grilo do Ibirapuera”, uma questão fundamental da criação do Brasil. Os personagens principais e suas rivalidades estão identificados no texto e o leitor pode montar as cenas na imaginação.

O capítulo 1 começa em 1891, quando as terras devolutas da Várzea do Ibirapuera foram tornadas públicas por cessão do Ministério da Agricultura ao Município de São Paulo. A partir daí, Ana Barone analisa como o terreno foi preservado até o momento de implantar o parque e nos apresenta as pressões de ocupação que resultaram na configuração atual do Ibirapuera e também da metrópole paulistana.

Os planos urbanísticos que buscaram dar conta de ordenar o crescimento da cidade de São Paulo são tema do capítulo 2. No Plano de Avenidas de 1930, o Parque do Ibirapuera foi apresentado como um parque monumental, cujas funções eram de higienização e embelezamento. Mas, ao invés de tomar a articulação dos espaços livres como principal missão tal qual ocorria em Paris, o Plano de Avenidas de Prestes Maia é um projeto viário, com os espaços livres levados a reboque, articulando os parques ao sistema viário mas não ao sistema em si. Ainda assim, talvez fosse suficiente mas, na prática, os grandes parques nas várzeas dos rios Tietê e Pinheiros não foram feitos, apenas as vias expressas. Este capítulo é fundamental para a discussão presente do papel e da importância dos espaços livres urbanos.

A construção do parque no âmbito da comissão dos festejos do IV Centenário da cidade, presidida pelo industrial Francisco Matarazzo Sobrinho, o Ciccillo, é tratada no capítulo 3. Ciccillo acabou tendo papel similar ao de Lota de Macedo Soares para o Parque do Flamengo no Rio de Janeiro: ele foi o braço do poder político que cuidou da obra como símbolo da modernização da cidade, contratou os projetistas, cuidou do orçamento e do cronograma. Ele tinha o objetivo adicional de construir no parque a sede da Bienal de Artes, sua criação. A arquitetura de Oscar Niemeyer com suas formas curvas em concreto trazia desafios para o movimento moderno, ele era a “vanguarda da vanguarda” e foi eleito para projetar os novos edifícios. Mas a construção de seus grandes edifícios gerou polêmica: não era um parque verde pelo qual os amigos da cidade lutavam? A superação dos entraves é abordada no capítulo 4. Para Ana Barone, foi irresistível “comemorar a pujança econômica de São Paulo por meio de sua soberania cultural”.

No início dos anos 1990, quando eu e Ana cursávamos a Faculdade de Arquitetura da USP, o parque sofreu o que pode ser considerada a última ameaça: o poder público ameaçou passar uma avenida por meio dele. Amigos do parque, arquitetos e urbanistas reagiram e lembro de uma exposição de maquetes que eram como charges representando o parque tomado por autopistas com árvores mirradas e confinadas em protetores plásticos com logotipos imensos. A via foi construída sob o parque e hoje a conhecemos como o túnel Ayrton Senna. Em 2018, o Parque do Ibirapuera é o retrato do paraíso. Nos domingos ensolarados, quando está cheio de gente de toda a cidade, muitas de bairros distantes, e nele serpenteiam bicicletas, corredores, crianças e cães numa dança quase caótica, o parque é para mim ainda mais bonito.

Depois de ler Ibirapuera: Parque Metropolitano (1926-1954) tive vontade que pista de corridas fizesse a volta nos prédios de Niemeyer, como uma forma de resgatar para os usos de lazer públicos uma parte da área que serve aos edifícios na forma de estacionamentos. Outros talvez tenham a ideia de reincorporar ao parque as áreas livres fechadas ao público dos institutos ao seu redor. Sonhei ainda que poderíamos cuidar da expansão da metrópole, que hoje se dá nas bordas da Guarapiranga e da Cantareira, com o mesmo cuidado que tiveram aqueles prefeitos e urbanistas. O Programa 100 Parques conduzido pela prefeitura entre 2008 e 2012 criou parques nas periferias e franjas, onde ainda havia bosques a preservar, mas não teve visibilidade e muitos destes parques ainda precisam ser consolidados. As transformações seguem acontecendo. Da ideia à realização, o Ibirapuera demorou 28 anos – mais por conflitos jurídicos que pela falta de recursos. Mesmo que pareça muito difícil ser agente das transformações urbanas, este livro nos impele a continuar a pensar, a escrever e a continuar a história do parque e da metrópole.

sobre a autora

Francine Gramacho Sakata é arquiteta e mestre em Estruturas Ambientais Urbanas (FAU USP, 1996 e 2005). Autora de Paisagismo urbano: requalificação e criação de imagens e coautora com Silvio Macedo de Parques urbanos no Brasil. Membro da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas – ABAP. Desenvolve projetos de arquitetura paisagística e arquitetura através da empresa NK&F Arquitetos Associados.

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resenha do livro

Ibirapuera: Parque Metropolitano (1926-1954)

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Ibirapuera: Parque Metropolitano (1926-1954)

Ana Cláudia Castilho Barone

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