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Paulo Markun apresenta o livro de crônicas de Rosa Artigas, feitas a partir de desenhos e histórias de sua mãe, Virgínia Artigas.

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MARKUN, Paulo. Os textos da Rosa. E o lápis, papel e tinta de Virgínia Artigas. Resenhas Online, São Paulo, ano 18, n. 210.05, Vitruvius, jun. 2019 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/18.210/7391>.


No final dos anos 1960, convivi mais com a personagem central deste livro do que com minha mãe. Nada contra dona Lia, mas a casa de dona Virgínia e do marido, o arquiteto e professor João Batista Vilanova Artigas, era uma espécie de imã para uma penca de adolescentes, secundaristas e universitários amigos dos filhos do casal, Júlio e Rosa, de quem fui colega de classe, de grêmio e de protestos contra a ditadura.

Atraídos pelas aulas informais que o velho Artigas nos proporcionava, feliz de manter contato com a juventude de que fora apartado ao ser cassado como professor da FAU pelo AI-5, mas de certo modo mais interessados na disposição de Virgínia para ocupar o papel de confidente e conselheira, sentíamos que a partir dali tomaríamos nosso rumo, sabendo muito bem o que o povo queria. Como alertava Virgínia e se verá a partir da página 239, não era bem assim.

Desenho de Virginia Artigas
Imagem divulgação

Toda essa convivência não impediu que eu me surpreendesse quando Rosinha passou a publicar nas redes sociais pequenas histórias sobre a mãe, e não só por conta de facetas e detalhes que eu ignorava. O que me dei conta é que a minha colega de classe, com quem compartilhei até mesmo a participação em algumas gincanas estudantis exibidas pela TV Cultura, é uma senhora escritora. Que não me entendam mal.

O conjunto dos textos, justamente transformado em livro, mostra que, como os melhores profissionais do ramo, Rosa Artigas constrói e revela personagens em meia dúzia de frases e com elas ressuscita um anteontem que me parece absolutamente próximo e real, embora distante e repleto de criação e invento.

Desenho de Virginia Artigas
Imagem divulgação

A autora tem talento de sobra para nos apresentar alguém numa frase como “Celeste cheirava a água de colônia, tinha mãos bonitas e vestia-se com discrição”. Ou para nos contar como era Maria, assinalando apenas que não tinha “aquela coragem inventada dos heróis, dos revolucionários, dos trapezistas e dos exibicionistas que arriscam a vida e enfrentam a morte. Era só um destemor diante das dificuldades ordinárias do cotidiano penoso, semelhante ao de outras mulheres pobres”.

Rosa nos coloca na cena em que Virgínia e o irmão Álvaro, crianças, sentam-se por semanas a fio à porta da casinha suburbana, à espera do velocípede vermelho que encantara o garoto na porta da loja, com a mesma elegância com que burila a imagem da mãe atormentada pelos sapatos (ou pelos joanetes) durante numa espécie de protesto que a poderosa Light não imaginava enfrentar.

Também retrata as crendices da família de Virgínia em santos e almas do outro mundo, erguendo um painel que desemboca na crença quase mística da mãe na inevitável vitória do socialismo e da classe operária, admitindo que, com o tempo, “essa sua fé arrefeceu e se transformou no sonho que alimentou sua arte”.

Desenho de Virginia Artigas
Imagem divulgação

Mas para mim, o ponto alto é o texto que une Virgínia e Artigas, num tempo em que amar “era coisa séria”. Bastaria essa frase para atestar a capacidade literária da autora: “O amor do Artigas por Virgínia, e o dela por ele, começou a nascer enquanto eles dançavam, com o leve e ligeiramente ousado toque do dedão da mão direita dele no centímetro de pele das costas dela, que se oferecia no decote do vestido de baile”.

Como Virgínia Artigas fez com lápis, papel e tinta, Rosa usa as palavras para projetar o que viveu, observou, registrou na tela da memória e nos oferece agora neste belo livro, retratado com graça, sagacidade e cores próprias.

Se há um céu dos comunas, Virgínia e Artigas devem estar lá sorrindo, orgulhosos da caçula.

Desenho de Virginia Artigas
Imagem divulgação

nota

NE – o presente texto é o prefácio do livro Virginia Artigas: histórias de arte e política, de autoria de Rosa Artigas.

sobre o autor

Paulo Markun, finalista do prêmio Jabuti por duas vezes, trabalhou nos principais jornais e emissoras de TV do país. Apresentou durante mais de dez anos o programa Roda Viva, até 2007, quando assumiu a presidência da Fundação Padre Anchieta, mantenedora das rádios e da TV Cultura.

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resenha do livro

Virginia Artigas

Virginia Artigas

Histórias de arte e política

Rosa Artigas

2019

210.05 livro
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