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architectourism ISSN 1982-9930


abstracts

português
O cineasta Roberto Gervitz, fala sobre a relação entre viagem, turismo e cinema na visão de quem faz cinema e portanto não o encara como uma forma rápida e simples para "viajar"

english
The filmmaker Roberto Gervitz talks about the relationship between traveling, tourism and cinema in the eyes of a movie director who understands it as something more than a simple and quick way of wandering

español
El cineasta Roberto Gervitz, habla sobre la relación entre los viajes, el turismo y el cine desde la visión de un realizador de cine, encarándolo como algo más que una forma rápida y simple de "viajar"


how to quote

GERVITZ, Roberto. Viagens e viajantes no cinema. Arquiteturismo, São Paulo, ano 01, n. 011-012.03, Vitruvius, jan. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/01.011-012/1394>.


Como é sua relação com São Paulo e Buenos Aires?

Sou o resultado de uma viagem. Meu pai, argentino, trabalhava nos Estados Unidos e veio visitar a sua família em Buenos Aires. Conheceu minha mãe no avião, depois que ela embarcou em Curitiba para uma bolsa de estudos na cidade portenha. Casaram-se e eu nasci em Nova York, depois me naturalizei brasileiro. Meu pai morreu cedo ( eu tinha 15 anos), mas foram as viagens que fazia nas férias quando criança, que criaram esse forte vínculo com Buenos Aires que, inicialmente, era um grande parque de diversões chamado Italpark – uma espécie de Playcenter na década de 60- que me deixava insone nas duas semanas anteriores a cada viagem.

Depois, Buenos Aires com suas largas avenidas, seus bairros e parques, sua arquitetura que combinava o passado e o presente com sabedoria e elegância, passou a fazer um contraponto à feiúra, ao crescimento voraz e à poluição visual de São Paulo uma cidade que não parecia feita para as pessoas, embora eu a amasse e estivesse condenado a ela.

Qual a importância das viagens em sua formação?

As viagens nem sempre são importantes porque interagimos com algo novo ou diverso, que é o que geralmente se espera de uma viagem. Dá para dividir as viagens em duas categorias: a primeira é a que traz a experiência do confronto com outras culturas e realidades e a mudança advinda daí. Foi o que aconteceu quando acabei o meu primero filme, Braços Cruzados Máquinas Paradas, em 1979, com 22 anos, e o levei à Europa para participar de alguns festivais. Naquele momento, meu projeto era ser um documentarista militante, voltado para as questões diretamante políticas, mas após essa longa viagem ao “velho continente” (minha primeira), visitando entre outros lugares, países onde acontecia o “socialismo real”, repensei as minhas certezas e me coloquei de forma mais humilde e paciente diante do desconhecido, foi uma violenta e creio que saudável guinada. Outra categoria de viagem é aquela em que pouco importa para onde estamos indo mas sim o porquê de estarmos indo. Nessas viagens a grande transformação acontece na hora em que decidimos viajar não importa para onde.

Qual a relação entre as viagens e o cinema?

Não há viagem sem movimento como também não há cinema sem movimento. Como disse Humberto Mauro, “cinema é cachoeira”.

Qual seu personagem turista predileto?

Não lembro de nenhum personagem-turista que me tenha interessado particularmente. Me interesso mais pelos viajantes, personagens em um “turismo contingencial” : como o par Maria Schneider e Jack Nicholson em O Passageiro, de Antonioni.

Uma bela viagem é a dos três jovens que pegam carona com o professor em Morangos Silvestres, de Bergman - numa jornada através do tempo e da existência. Ou ainda a viagem desesperada de Travis em Paris-Texas, e para ficar com Wenders, a viagem da menina Alice e o fotógrafo em Alice nas Cidades. Há grandes viagens e viajantes no cinema.

Qual seu cineasta turista predileto?

São cineastas viajantes, muitas vezes como os seus personagens.

Wim Wenders realizou grandes filmes, onde encontramos indivíduos em viagens cujo destino final não é um lugar e onde os caminhos se desdobram em paisagens que povoam uma melancólica (pós) modernidade.

David Lean estabelece um diálogo grandioso entre a narrativa e a natureza que se transmuda na progressão de seus personagens (ou seria o contrário?).

Werner Herzog que, para além de seu aventureirismo pessoal, em seus melhores filmes evoca o poder amoral da natureza que em repouso majestático e indiferente desafia os homens, inconformes e obcecados com seus limites, a uma batalha insana...

Como vê a relação entre cinema e as locações reais?

Em um filme nada (ou quase nada) é acidental pois até mesmo o acidente poder ser descartado ou incorporado na edição. As locações são sempre fruto de uma decisão que diz respeito à expressão mesma de um filme, ao seu universo visual. Quando essa decisão é feliz, fica impossível separar o filme, sua história, do lugar onde as coisas acontecem.

Pense em O Passageiro ou qualquer outro filme de Antonioni, ou ainda nos filmes de John Ford, por exemplo. É difícil generalizar pois cada filme pede uma relação específica com as locações reais – muitos as imitam em cenários realistas, outros as evitam – Laranja Mecânica, por exemplo.

Há dois filmes muito diferentes, distantes no tempo e no espaço, onde a cidade é a “iminência parda” que dita o ritmo e a qualidade das situações vividas pelos personagens: São Paulo S/A, de Luiz Sergio Person, e Manhattan, de Woody Allen (que por sinal, tem aversão por viagens).

Como vê a relação entre as cidades e seu cinema?

Embora meus filmes sejam urbanos não sinto que a cidade, mais especificamente São Paulo, seja personagem em nenhum deles. Neles o espaço, a geografia são estritamente cinematográficos – isso faz com que os personagens de Jogo Subterrâneo caminhem pelos corredores da estação República do metrô até a estação Largo Treze de Maio (em Santo Amaro) onde embarcam em uma composição e descem na estação República, saindo à superfície no Viaduto Sta Ifigênia.

Não tive compromisso algum com a lógica real das linhas. Quem não usa o metrô ou não mora em São Paulo, jamais saberá e isso não é importante. Quando Griffith, Eisenstein e Pudovkin descobriram a montagem, perceberam que o cinema cria um tempo e um espaço próprios. Para mim, quase sempre os espaços e as locações surgem em função do filme que se quer fazer, não somos prisioneiros da lógica do real. São Paulo permeia os meus filmes, ela respira, mas não é personagem. Por outro lado, o metrô sim, é um personagem em Jogo Subterrâneo.

Sua visão sobre o Brasil mudou após Gente Que Faz?

Conhecer aquelas pessoas, em sua maioria admiráveis, foi um privilégio que me deu uma noção menos caricata dessa vago conjunto chamado de povo brasileiro. Uma noção calcada na diversidade e nas diferenças.

Mais do que uma viagem por espaços, sem dúvida, marcantes, foi uma viagem por pessoas, culturas e formas de se colocar diante da vida, aprendi muito. Foi também um belo exercício cinematográfico pelos desafios narrativos e imagéticos que a vida de cada personagem colocava.

Foram 4 anos de viagens para todos os cantos desse país, muitos dos quais, espero que jamais sejam descobertos pelo turismo e pelos turistas. Há lugares e gentes que devem ficar em paz, o maior tempo possível, não precisam de visitas.

Qual seu compromisso como cineasta com a paisagem local?

Volto a repetir, cada filme é um caso; mas o compromisso é antes com a história que se quer contar e com o universo visual que se quer criar. Muitas vezes, são tomadas decisões ditadas por questões de produção. Assim, a floresta amazônica é filmada na Costa Rica, o Chile é filmado no México ou Paris é filmada em São Paulo, por exemplo.

É claro que o espaço inventado/criado deve ter uma coerência mas esta não é necessariamente dada pela realidade- ele é produto de uma construção. O universo espacial de Fellini, principalmente a partir de Oito e Meio, dá muito pano para manga, nesse sentido.

Em seu próximo filme teremos um cenário com interesse turístico?

Tenho alguns projetos em curso, não sei qual vai ser o próximo, it’s a long way…

sobre o autor

Roberto Gervitz dirigiu os longas-metragens Jogo Subterrâneo (2005); Feliz Ano Velho (1988); Braços Cruzados Máquinas Paradas (1979). Formatou e dirigiu mais de 80 filmes para a série televisiva Gente Que Faz (1992 a 1996) e 4 filmes para série televisiva Carandiru-Outras Histórias (2005).

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011.03 Entrevista
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