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architectourism ISSN 1982-9930


abstracts

português
Neste artigo, o engenheiro Thomas Bussius nos revela a imensidão da Patagônia argentina, que conforma uma paisagem desolada de beleza impressionante, com formações rochosas com geleiras em meio à planície sem fim

english
In this article, the engineer Thomas Bussius reveals the immensity of the Argentinian Patagonia. It shapes a landscape of stunning beauty, with rocky formations and glaciers in between in the endless plain

español
En este artículo, el ingeniero Thomas Bussius nos revela la inmensidad de la Patagonia argentina, que conforma un paisaje desolado de belleza impresionante, con formaciones rocosas con glaciares en medio de la planicie sin fin


how to quote

BUSSIUS, Thomas. A estância nos confins da Terra. Arquiteturismo, São Paulo, ano 02, n. 021.04, Vitruvius, nov. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/02.021/1476>.


A Patagônia se inicia ao sul do Rio Negro e segue até o cabo Hornos, onde o vento faz a curva do Pacífico ao Atlântico de forma um tanto irregular, muitas vezes violentíssima. Aos navegadores os 40 bramantes e mais ao sul o cabo Horn, como o chamam os "anglofônicos", são a essência daquilo a arte de movimentar-se em barcos requer a enfrentar, para dizerem-se completos homens do mar.

Tanto isto pela parte náutica. Mas impressionei-me um pouco mais com o que poder-se-ia chamar a agricultura e pecuária extrema neste planeta. As estâncias nos confins da Terra, na Patagônia.

Na província argentina de Santa Cruz, próxima à cidade de El Calafate, homenagem a arbustos com pequenos frutos que lá freqüentes, visitamos uma pequena fazenda, para conhecer esta agricultura extrema. Muitos quilômetros ao sul da opulenta e rica região de Buenos Aires, modestos descendentes de intrépidos aventureiros mantém até hoje a luta pela sobrevivência de seus rebanhos, mormente carneiros, cabras lanudas e gado Hereford, que por lá tão bem se adaptou.

Com suas peculiaridades.

Uma pequena propriedade naquela região é área de aproximadamente 2.000 hectares. Na qual nos informam os estancieiros, criam em torno de 800 ovelhas e 300 bois, algumas cabras e cavalos adaptados. Uma combinação de potros selvagens conhecidos como criollos descendentes dos primeiros animais que espanhóis por lá e nos pampas abandonaram; e pesados animais alemães da raça Friesland, os famosos "cavalos de cervejaria". Os carneiros vieram da Escócia, primeiramente introduzidos por Josef Percival Masters. Em um desbravamento por volta de 1914, estabeleceu a fazenda Cristina com 24.000 hectares de área original, em cujos limites criou-se um máximo de 22.000 carneiros em suas melhores épocas.

Em 1937 boa parte da área foi incorporada ao parque nacional das geleiras andinas Perito Moreno, mas a introdução destes animais razoavelmente resistentes ao frio extremo, às péssimas pastagens e predadores como raposas e pumas, tornou aquela região durante algum tempo um lugar economicamente adequando, sem opulências.

Conversa com o proprietário Sr. Nico, regada a cerveja gelada al tiempona, na sala envidraçada com bela paisagem ao fundo
Foto Denise Teixeira

Até os dias de hoje, com alguma ajuda do turismo crescente e o espetáculo das geleiras, as propriedades se mantém. Raramente há divisões internas, currais maiores ou instalações de sofisticação. Trabalha-se com o mínimo, contabilizando até 15% de perdas do estoque de animais durante a temporada de cria, pela intempérie com seus 25 a 35 graus negativos no inverno austral; e os predadores. Bois, carneiros, cavalos e cabras segregam-se naturalmente em uma imensa pastagem coletiva, onde algumas espécies de gramíneas européias mostraram-se superiores às locais e resistem. Assim como coelhos trazidos pelos europeus, que em retorno à selvageria tornaram-se até um tanto excessivos.

Nos conta o estancieiro neto de uruguaios, que por lá se refugiaram faz muitos anos pelas crises fundiárias no país de origem, para pequenas propriedades haver a necessidade de trabalho adicional na cidade, o que se resolveu com uma modesta fábrica de chocolates para os turistas. E de apelo ao governo, que assim os atendeu, por mais terras, repassando-lhe outros 5.000 hectares sem ônus. De fato não há escassez de pradarias por lá, a imensidão é apreciável.

Os hotéis começam a surgir em meio ao descampado, a região graças aos esforços preservacionistas de 1937 em diante e tem recebido mais e mais visitantes. Foi nesta época que se criou a imensa reserva natural Perito Moreno, nos limites da estância que nos abrigou, formada por geleiras que avançam em frente de 12 km por dois metros a cada ano, gerando os icebergs que despencam no grande lago.

Thomas Bussius com churrasco de carneiro


Para abrigar hóspedes os proprietários da Estância Rio Mitre fazem seus modestos investimentos. Receber turistas ajuda a sobreviver no duro cotidiano patagônico. E o turista agradece: um churrasco de carneiro é, digamos, inevitável por aquelas bandas. E delicioso. São os animais que mais se criam, para carne e lã – a profusão de lã nestas cabras patagônicas chega a impressionar –, mas curiosamente não muito apreciados na Argentina. O boi prevalece.

As fazendas raramente têm divisões internas, criam-se por segregação natural os animais em seus grupos. Somente o contorno externo da propriedade é cercado.

Nosso guia cavaleiro, o jovem Lucas, é da região e de adaptação incrível, a cavalgar como talvez os nativos patagões o faziam, com cavalos surrupiados aos espanhóis: sem estribos, sobre uma manta de pelo de carneiro. Mora em um pequeno estábulo com os animais selecionados para a lida diária, que dormem protegidos do constante vento, sem calefação, a reclamar apenas do inconveniente congelamento da água de uso pessoal durante a noite, nos invernos mais, digamos, rústicos. Seus trajes: um surrado casaco de couro, bombachas gaúchas, achei-as um tanto finas, e umas curiosas sapatilhas leves, quase de balé.

Conhecida pequena parte da propriedade, em um vale absolutamente plano de ditos 2.000 hectares, voltamos à sede para conhecer tantinho da arquitetura rural da região, dos sistemas de bombeamento de água e o uso de geradores (praticamente não há eletrificação rural) diesel recuperados, com média de 60 anos de idade, em perfeitas condições.

O imenso lago da região mantêm o lençol freático em níveis adequados para bombear-se água de uso da propriedade, com cataventos clássicos. Com 6 metros já há água. Porém no inverno recorre-se a baldes, pois as tubulações congelam. Na carência de eletrificação rural, os estancieiros dependem de geradores diesel. Caros os novos, mantêm em perfeito estado estes modelos um tanto antigos, como o que está em operação desde 1953. Os proprietários protegem as fiações das intempéries de maneira simples: enterram-nas. Os interiores são espartanos, as residências devem ser pequenas para a economia na calefação, bem isoladas e firmes contra os incessantes ventos andinos.

Homens felizes me pareceu, isolados do estresse civilizatório. Não devem trocar aquele mundo tão ao sul por nada.

Nem eu o faria.

Somos assim.

Post scriptum

O governador da província de Santa Cruz nos anos 1990, Nestor Kirchner, investiu muito para a melhoria do acesso, de forma porém muito comedida e benéfica. Basta ver o aeroporto de El Calafate, a receber grandes aeronaves. A primeira preocupação foi com a pista e as temperaturas extremas a que é exposta, com grooving muito bem feito, áreas de escape imensas e, pelo relativo uso, sem desnecessáris pistas laterais de taxiamento. Com condições meteorológicas extremas, modernos sistemas de navegação foram prioridade, como o pouso por instrumentos ILS. O aeroporto fica aberto o ano inteiro. O terminal, provavelmente feito no norte do país, todo em estrutura metálica desmontável e vidro. A calefação passa pelo isolamento de certas áreas com madeira, entretanto grandes paínéis de vidro criam delicado efeito estufa, aquecendo o conjunto com alguma economia. Entristeci-me quando vi e comparei aos excessos na construção dos nossos, como o novo Santos Dumont, com o exagêro de granito até em paredes, salas de embarque com tetos de vidro e caixas de hidrantes em aço inoxidável polido. Um desperdício injustificável.

sobre o autor

Thomas Bussius é engenheiro mecânico e autor de diversos livros com o pseudônimo Hermógenes de Castro & Mello

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