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architectourism ISSN 1982-9930


abstracts

português
Leia a segunda parte do relato de Maria Cristina Wolff de Carvalho da viagem que partiu do encontro oriente-ocidente, acompanhado por desenhos de Marcos Carrilho. A autora agora passa por Tróia, Pérgamo, Antália

english
Read the second part of the story by Maria Cristina Wolff de Carvalho about her trip that started where the East meets the West, along with some drawings by Marcos Carrilho. The author now visits Troy, Pergamon and Antalya

español
Lea la segunda parte del relato de Maria Cristina Wolff de Carvalho del viaje que partió del encuentro oriente-occidente, acompañado por dibujos de Marcos Carrilho. La autora ahora pasa por Tróia, Pérgamo y Antalya


how to quote

WOLFF DE CARVALHO, Maria Cristina. Turquia: registro de viagem (parte 2). Arquiteturismo, São Paulo, ano 02, n. 023-024.04, Vitruvius, jan. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/02.023-024/1494>.


Desceremos ao longo do litoral da Anatólia para conhecer algumas cidades da Antiguidade. Nessas anotações, transcrevo diversos trechos do Ancient civilizations and ruins of Turkey, do professor E. Arkugal, que explica a importância desses lugares. O percurso é feito a partir de Istambul pela Trácia, na direção sudoeste, com a travessia do estreito de Dardanelos para Çannakkale, já na Anatólia.Deixando Istambul, as paisagens intermináveis de conjuntos habitacionais populares mais parecem campos cultivados em terreno árido. Como se constrói por aqui! Tomamos a E84 até Kesan e, depois, a E90, que leva à península de Galípoli, entre o mar de Mármara e o Egeu. A travessia do Helesponto até Çanakkale é feita em ferryboat. Mais tarde, o por de sol é idílico numa praia semi-deserta no extremo de Dardanelos. E a noite, de sobressaltos graças ao sobrevôo de aviões de caça, certamente a mais de 2.000 km/h.Na Anatólia, terra dos Hatti. Primeiro, a visita a Tróia, Illium, a legendária. O sítio é uma acrópole em quilha – praticamente um promontório dominando a planície, apontando em direção ao Egeu.

Mapa com o percurso realizado
Desenho de Marcos Carrilho

Ali, a visão da matéria trabalhada na sucessão de eras: Tróia I, Tróia II, Tróia III, Tróia IV, … Tróia IX. Rampas e muros, solenes e evocativos.

“A cerâmica de Tróia II já está familiarizada com as duas maiores inovações técnicas do período, o torno e o forno. No primeiro nível cultural de Tróia os potes eram feitos à mão e queimados ao ar livre. Em ambas, Tróia I e Tróia II, as ligações com a Ásia Menor central estão claramente visíveis. A segunda cidade murada de Tróia sofreu uma terrível catástrofe entre 2.200 e 2.100 a. C. A destruição da cidade fortificada pode ter ocorrido em razão das incursões de tribos indo-européias na Ásia Menor, que começaram nesta época. Entretanto, dos períodos insignificantes de construção seguintes, pertencentes ao início da Idade do Bronze, não há traços de uma nova população. Uma mudança cultural parece ocorrer somente quando da fundação da nova cidade de Tróia VI, c. 1.800 a.C.”

Helenismo 1. Ubiquidade na acrópole de Pérgamo. “Attalos I (283-133 a. C.) era profundamente interessado em arte e cultura. Os primeiros belos edifícios da cidade foram erguidos em seu reinado.

Eumenes II (197-159 a.C.) elevou o reino de Pérgamo ao nível de um dos estados mais fortes da idade helênica, por meio das estreitas ligações que estabeleceu com Roma e Pérgamo passou a ter uma posição destacada como centro irradiador de cultura. [...] Com um senso artístico refinado, ele a colocou no nível das mais esplêndidas cidades do mundo grego de sua época, usando a acrópole de Atenas como modelo. Assim, Pérgamo lideraria o mundo helenístico nos campos da arquitetura e da escultura. [...] Em contraste com a acrópole de Atenas – que tinha inteiramente caráter religioso e sagrado, a acrópole de Pérgamo era predominantemente devotada a edifícios e praças públicas construídos com propósito associados ao dia-a-dia da população. Aqui os cidadãos podiam se encontrar, passear, trabalhar ou se dedicar a atividades esportivas.”

Parte do relevo do altar de Zeus, Museu de Pérgamo, Berlim
Desenho de Marcos Carrilho


O complexo das ruínas de Pérgamo forma um leque que, irradiando a partir do teatro, tem os edifícios dispostos em terraços. Árvores frondosas assinalam um local especial. E é só subir, imaginariamente, a escadaria da entrada do altar de Zeus. Ela e seus relevos da batalha do deus com os gigantes – simbolizando a vitória de Pérgamo sobre os gálatos, estão, de fato, em Berlim.

Detalhe de relevo do altar de Zeus, Museu de Pérgamo, Berlim
Desenho de Marcos Carrilho


À frente, a vertiginosa arquibancada com o palco lá embaixo, no fundo. Um horizonte infinito e a cobertura do céu. Será que algum outro arquiteto concebeu teatro mais magnífico e em local mais dramático?

Pérgamo foi incorporada ao Império Romano e continuou como um importante centro. Recebeu melhoramentos, antigos edifícios foram restaurados, novos foram construídos. Augusto reergueu os monumentos do período do reinado. O Trajaneum foi terminado por Adriano em homenagem àquele que sucedeu. Caracalla restaurou o templo de Dionísio. E vieram os cristãos e depois os otomanos.

Helenismo 2. Rumo ao sul, os cerca de 400km nos levam à gigantesca Éfeso. Abrindo caminho nas ruas lajeadas de mármore, ondas e ondas de excursionistas. Guias explicam a cidade e seus monumentos – a biblioteca de Celso pontuando como mais um item, em uma coleção surpreendente de línguas, o que parece ali ser normal desde há muito.

“Em pouco tempo Éfeso se tornou a cidade mais densamente povoada na Anatólia. No período helênico foi administrada pelos Selêucidas e, depois de 190 a. C., pelos reis bergamascos. Ela esteve sob o domínio do reino de Pérgamo e dos romanos até 133 a. C. Mais tarde, como outras cidades da Ásia Menor, pagou altos impostos à Júlio César. À época de Augusto teve início um período longo, glorioso e feliz, que durou pelo menos dois séculos (...) A cidade era o centro comercial mais próspero da época, controlava os negócios bancários de todo o oeste da Anatólia e era referida como a metrópole da Ásia, isto é, da Jônia. Em meados do séc. IV entrou em uma terceira idade do ouro, que teve continuidade até a era Justiniana. Com a rápida expansão do cristianismo muitos edifícios imponentes foram erguidos. O castelo em Ayasoluk e a igreja de S. João [trata-se de uma basílica coberta por cúpulas] são desse período. [...] A cidade teve outro período de prosperidade na era seljúcida, no séc. XIV.”

Caminhamos, também, pela plataforma de uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, o templo de Diana em Éfeso. Ali somos envolvidos pela atmosfera daquele que era “sem paralelo em esplendor, o maior edifício do mundo helênico e também o primeiro trabalho arquitetônico de proporções monumentais a ser construído inteiramente em mármore.”

Kuçadasi, antes Neápolis
Desenho de Marcos Carrilho


Rumo à Afrodisias, fizemos uma pausa em Kuçadasi, antiga Neápolis. Na Idade Média, ao tempo de comerciantes genoveses e venezianos, foi rebatizada Scala Nuova. Hoje é um agitado balneário do Egeu.

Helenismo 3. Localizada nos confins da Cária, nas vizinhanças do vale do rio Meandro, num platô fértil e luxuriante aos pés da cordilheira Baba Dag, a antiga cidade de Afrodisias é surpreendente por sua história e produção artística. “Além de monumentos bem preservados, cada uma das investigações [arqueológicas] trouxe à luz uma quantidade sem precedentes de esculturas e estatuária de alta qualidade.

Desde que Maria F. Squarciapino concebeu a noção do florescimento, em Afrodisias, de uma escola escultórica durante o Império Romano, existe a certeza de que a escultura encontrou um ambiente propício na cidade [...] Assinaturas de artistas de Afrodisias foram encontradas em fragmentos, bases, estátuas completas e relevos tanto em Roma como em diversas outras regiões da Itália e da Grécia e outros lugares, testemunhando o quanto era apreciado o trabalho dos escultores da Cária.”

Tetrapilon, Afrodisias
Desenho de Marcos Carrilho

Na chegada, primeiro a visita ao museu de escultura – espanto e maravilha. Depois, o passeio pela cidade. A ruína branca, isolada em meio a um amplo prado cercado de ciprestes é o Tetrapylon, portal monumental do séc. I, com quatro sequências de colunas da ordem coríntia. Adiante, após circular por ruas, templos, pelo bouletério e teatro, chegamos ao monumental estádio, provavelmente construído no primeiro século. Com seus 262 m de comprimento, 59 m de largura e podendo acomodar cerca de 30.000 espectadores, parece quase intacto. Aliás, sabe-se que ele é o estádio melhor conservado da Antiguidade.

Helenismo 4. Pamukkale (pamuk: algodão; kale: fortaleza) e Hierápolis. “Fortaleza de Algodão”, em referência ao platô branco formado pelos depósitos de travertino das águas contendo óxido de cálcio, do córrego que desce pelas montanhas Çaldag. As águas formam camadas em diferentes níveis de piscinas rasas, circulares. Depois de explorado à exaustão pelo turismo de massa, o sítio natural vem sendo protegido e gradualmente recuperado. Ali, à beira do promontório em degraus, numa paisagem insólita e fascinante, foi estabelecido o assentamento de Hierápolis. “Em 133 a. C. a cidade foi legada, junto com o Reino de Pérgamo, aos romanos. [...] Sob o imperador Tibério, no ano 17, Hierápolis foi destruída por um terrível terremoto. A cidade foi reconstruída e experimentou o ápice da sua prosperidade durante os séculos II e III [...] Sua necrópole – um dos mais bem preservados cemitérios da Turquia, contendo túmulos, sarcófagos e tumbas em forma de casas [...] dos séculos do helenismo tardio e tempos paleocristãos, é permeada por uma atmosfera de conto de fadas.”

Helenismo 5. Em Pamphylia, Perge, e lá, o “jogo sábio de volumes sob a luz do sol”. “Perge não aparece na história até a chegada de Alexandre, o Grande, em 333 a. C. Seu primeiro período de prosperidade coincide com aquele de Side, no séc. II a. C. [...] Como outras cidades da Anatólia, Perge alcançou o auge da sua fama nos tempos do Império Romano, nos três primeiros séculos da era cristã.” O assentamento fica a uma distância prudente do mar – e dos piratas. O portão mais antigo, flanqueado por duas altas torres cilíndricas, com um pátio interno na curiosa forma da pata de um cavalo, leva a uma larga e longa avenida ladeada por colunatas. Com duas vias paralelas revestidas de lajes de pedra, ela possui, no centro, um canal por onde correm as águas que vêm das nascentes existentes na colina ao fundo, e que são recolhidas no majestoso ninfeu – a fonte de água, que a embeleza, logo abaixo. Essas águas depois servirão termas, edifícios públicos e privados, residências aristocráticas, fontes públicas dispostas estrategicamente e serão armazenadas em reservatórios (Vitrúvio, livro VIII).

Terma de Perge
Desenho de Marcos Carrilho

As estruturas arquitetônicas estão preservadas, em Perge, de um modo surpreendente. Os remanescentes sugerem com intensidade e força inesperadas, os volumes, espacialidades e padrões estéticos que, em um dia distante, ali vigiram. Esse passeio – além de alguma inquietude pelo não visto: Mileto, Side, Dindima, Priene, traz à lembrança, não casualmente, a frase de Susan Sontag: “I haven’t been everywhere, but it’s on my list”…

Casa otomana em Kaleiçi, Antália
Desenho de Marcos Carrilho


Em Antália, outrora Pamphylia, a despedida. A passagem rápida não permite muito. Kaleiçi, o bairro ligado ao porto, existente desde tempos imemoriais, é turco e é grego. Mas o conjunto pitoresco de casas otomanas galgando irregularmente a quase falésia defronte à pequena baía, tem um ar familiar de América espanhola e portuguesa. No alto dela, a visão do Mediterrâneo amplo, plácido. E caminhando pelas ruelas tortuosas observamos as casas brancas com seus balcões salientes e fechados, conhecidas desde os desenhos do jovem Charles Edouard Jeanneret.

Quando voltaremos?

notaleia a primeira parte do artigo.

sobre o autor

Maria Cristina Wolff de Carvalho é arquiteta pela UFPR e doutora pela FAU USP. É professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Fundação Armando Álvares Penteado – FAP FAAP e autora, entre outros, dos livros "Ramos de Azevedo" e "Paraná de Madeira

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