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architectourism ISSN 1982-9930

Vista panorâmica de Londres a partir da roda-gigante London Eye. Foto Victor Hugo Mori

abstracts

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Ocupando 3.500 m² do edifício Copan há vinte anos abandonados, a exposição Projeto Imóvel apresenta 28 jovens artistas, um conceito expositivo interessante e uma possibilidade de ocupação do edifício de Niemeyer, hoje muito degradado


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GUERRA, Abilio; GUERRA, Helena. Projeto Imóvel. Arte, efemeridade e reabilitação do edifício Copan. Arquiteturismo, São Paulo, ano 05, n. 057.02, Vitruvius, nov. 2011 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/05.057/4129>.


O edifício Copan – a mítica Unité d’Habitation de Oscar Niemeyer encravada no centro novo de São Paulo – é hoje um edifício degradado, apesar de abrigar uma vida coletiva vibrante e diversificada. O seu porte gigantesco e sua complexidade gerencial, com múltiplos condomínios convivendo dentro da mesma carcaça, parece engessar as possibilidades de sua recuperação arquitetônica. Mesmo diante desta realidade, é surpreendente descobrir que 3.500 m² do conglomerado estavam fechados há vinte anos. Trata-se dos três primeiros pavimentos do embasamento no canto voltado para o edifício Itália, que abrigou outrora o Hospital do Bradesco. Mesmo depois de tanto tempo ainda são visíveis alguns vestígios da antiga ocupação.

No dia 25 de novembro, uma festa cult abriu a exposição Projeto Imóvel, concebida por Alessandra Terpins (1). Usando uma estratégia muito próxima do projeto Arte/cidade, que nos anos 1994, 1997 e 2002 ocupou edifícios abandonados da cidade de São Paulo (2), o Projeto Imóvel se propõe um site specific para que diversos artistas se apropriem com instalações e obras pictóricas, escultóricas, fotográficas e videográficas.

Se existe uma semelhança na escolha de uma edificação degradada e abandonada, as concepções expositivas são muito distintas no conceito e na finalidade. O Arte/cidade contava com apoio oficial da Secretaria da Cultura e seu curador, Nelson Brissac, selecionou artistas já estabelecidos, alguns consagrados, que conceberam obras efêmeras exclusivamente para a ocasião. Neste Projeto Imóvel, Alessandra Terpins apresenta artistas muito jovens, ainda promessas que precisam de confirmação, e suas obras já são apresentadas no circuito comercial, com a maioria das obras postas à venda (inclusive, diversas delas já foram adquiridas no dia da abertura).

Os 28 artistas convidados ocupam o interior da edificação e buscam nos elementos arquitetônicos e suas características atuais condicionadas pelo abandono o mote para o conceito da obra. Assim, a fachada envidraçada se transforma em vitrine para escultura feita de tábuas estreitas refugadas, um buraco quadrado em uma parede se transforma em quadro vivo ao lado de pinturas retangulares, restos de divisórias incompletas e/ou quebradas e esquadrias enferrujadas se renovam como suportes de quadros e objetos, pé-direito duplo é valorizado com tubos de lâmpadas incandescentes, buraco na laje de cobertura se transforma em enigmático esconderijo inacessível por uma escada com degraus inabilitados por tijolos, uma placa de “vende” na porta de entrada sobrepõe a intenção artística e a realidade imediata (da galeria improvisada e das obras expostas)...

Também é certo que diversas das obras poderiam muito bem estar em uma galeria convencional, como é o caso de dois conjuntos de fotografia: as três de Carolina Krieger, muito bonitas, duas com as cenas desaparecendo no negrume da noite, uma com a cena sendo sugada pela neblina leitosa do dia; e a série de Tatewaki Nio, que tematiza as transformações constantes da metrópole paulista, com edifícios recém-finalizados convivendo com outros de épocas diversas, alguns em processo de demolição. Ambos estabelecem uma sutil e mediada relação com o Copan, evocando a temporalidade e a efemeridade das coisas do mundo.

Outras obras – quadros, esculturas e vídeos com qualidades estéticas diversas – acabam se ajeitando bem dentro dos cômodos, que são visitados de forma aleatória pela plateia muito jovem. A visitação em si é um dos pontos altos do projeto, pois a ausência de comunicação visual estabelecendo hierarquias e trajetos faz do passeio uma experiência de errância, com um mix de curiosidade, acaso e surpresa, onde podemos nos deparar com uma enigmática fonte d’água – o que faz uma fonte de espaços públicos no segundo piso de um edifício? – ou com uma sala invadida por fumaça habitada por formas geométricas projetadas por um canhão de luz.

Ao menos duas das obras encontram-se fora da edificação e podem ser encaradas como demarcações urbanas do acontecimento. A primeira, de autoria de Bruno Storni, é uma âncora suspensa na fachada; mais visível durante o dia, o objeto feito por algum tipo de papel branco opera, por contaminação, uma metamorfose da enorme construção em uma espécie de fantasmagórico transatlântico encalhado no centro da metrópole, analogia sugerida pelo embasamento robusto e as formas curvas do edifício.

A segunda obra artística externa – concebida pelo coletivo Goma Oficina, autor das interessantes projeções na fachada da Escola da Cidade durante a última Virada Cultural (3) – é uma instalação que ocupa a cobertura do embasamento, uma área livre semelhante a uma enorme varanda, de onde arranca a torre ondulante. A obra ganha seu real estatuto à noite, quando os canhões de luz iluminam com fachos em movimentos alguns suportes semelhantes a barracas de plástico transparente em forma semiesférica. O resultado noturno é a presença de cúpulas feéricas encaixadas entre as poderosas colunas do edifício, uma cenografia que subverte a escala arquitetônica, transformando ilusoriamente uma parte do edifício em uma cidade habitada por formas niemeyerianas. Um maneirismo irônico que delicia os transeuntes, que se motivam a subir e habitar a cena.

Visitada na abertura por gente muito jovem, alguns artistas em busca de lugar ao sol e ao menos uma muito importante (Regina Silveira, participante de uma das edições do Arte/cidade), a exposição Projeto Imóvel tem ainda um mérito especial: revelar um potencial uso do espaço ocioso do Copan, que abriga agora, provisoriamente, vida e animação depois de tantos anos de abandono. A exposição é curtinha, cerca de dez dias. Que seja a primeira de muitas outras atividades artísticas, e que – tal como ocorreu em diversos dos locais que abrigaram o Arte/cidade – seja o início da recuperação de um dos maiores ícones da arquitetura moderna paulistana.

Edifício Copan, estado atual de conservação, São Paulo. Arquiteto Oscar Niemeyer
Foto Helena Guerra

notas

1
Exposição Projeto Imóvel. Edifício Copan, galeria 53, bloco A, Avenida Ipiranga 200. Abertura: 25 de novembro de 2011. De 26 de novembro a 04 de dezembro de 2011, das 12h às 20h. Concepção e curadoria de Alessandra Terpins. Equipe de produção: Fernanda Resstom, Isabel Villares, Thiago Gonçalves, Emmanuele Saeger, André Guazzelli, Fernanda Brenner e Caco Villares Law. O projeto conta ainda com encontros e oficinas conduzidos por Guilherme Wisnik, Vera Império Hamburger e André Sztutman.

2
Todos com curadoria de Nelson Brissac Peixoto, ocorreram quatro edições do projeto. O Arte/cidade 1 – A cidade sem janelas, de 1994 ocupou o antigo Matadouro na Vila Mariana, hoje Cinemateca de São Paulo; O Arte/cidade 1 – A cidade e seus fluxos, também ocorrido em 1994, ocupou os edifícios da Light, Banco do Brasil e Guanabara, hoje reabilitados e transformados em shopping, centro cultural e edifício comercial. O Arte/cidade 3 – A cidade e suas histórias, de 1997, ocupou os galpões e chaminés em ruínas das Indústrias Matarazzo na Água Branca (na maior parte hoje demolida, com a pequena parte remanescente convertida em espaço cultural), os silos abandonados do antigo Moinho Central, hoje ocupado por moradores sem teto, a Estação da Luz, hoje restaurada, e um trecho ferroviário. Houve ainda uma quarta edição não numerada, o Arte/Cidade – Zona Leste, de 2002, que ocorreu em uma vasta área da Zona Leste, sendo que uma fábrica abandonada se transformou no Sesc Belenzinho e o edifício São Vito foi demolido.

3
Sombras e projeção na escola. Evento produzido por Curva e Goma Oficina em parceria com Escola da Cidade, Stefano Biava Gadotti e grupo Maracatu Baque Cidade <http://vimeo.com/12393066>.

sobre o autor

Abílio Guerra é arquiteto, professor da FAU Mackenzie e editor do portal Vitruvius e da Romano Guerra Editora.

Helena Guerra é estudante de cinema na FAAP e diretora dos curtametragens Minduim (2010, prêmio de melhor ficção do Festival de Curtas da PUC-Rio) e Amor de Thanatos (2011, menção honrosa no Festival de Buenos Aires).

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