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architectourism ISSN 1982-9930

Fortaleza de Santa Cruz em Niterói, com Rio de Janeiro ao fundo. Foto Victor Hugo Mori

abstracts

português
O Mobil Art ancorado no adro do IMA instaura o diálogo singular entre duas concepções arquitetônicas diferentes, de um lado a lógica ortogonal da fachada sul do IMA e a lógica orgânica de curvas e movimentos espiralados do pavilhão Mobil Art


how to quote

ZAKIA, Silvia Palazzi. Instituto do Mundo Árabe e Zaha Hadid. Arquiteturismo, São Paulo, ano 06, n. 069.03, Vitruvius, nov. 2012 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/06.069/4585>.


Desde o artigo 05.057, Vitruvius nov.2011 (Mulheres em exposição – Paris) (1), me comprometi a também contar sobre a exposição de Zaha Hadid, no Instituto do Mundo Árabe (IMA), que acontece em 2011. Apesar do tempo transcorrido da matéria citada, o Mobil Art, o espaço desenvolvido pela arquiteta, continua no adro do instituto agora abrigando outras exposições. Portanto, é possível conhecer esses dois ícones da arquitetura contemporânea, o IMA e o Mobil Art.

Bom, sigo agora contando sobre essa visita especial. Aproveitei o sábado e peguei o metrô, perto do estúdio, e rumei pela linha 10, da estação Mabillon à Cardinal-Lemoine. Rapidinho estava lá. Era a oportunidade de conhecer um pouco do trabalho desta arquiteta excepcional e rever o edifício do Instituto do Mundo Árabe, que já conhecia desde 1990, quando me encantei com as referências da cultura árabe tão bem trabalhadas pelas mãos do arquiteto Jean Nouvel. Ao chegar à entrada do instituto, posicionado na face oposta à margem do Sena, lembrei-me de minha primeira visita. Embasbacada com a beleza tecnológica do muxarabi de alumínio fui surpreendida na entrada do edifício com a chegada de uma pequena comitiva que contava com figuras do mundo árabe, creio eu, de certo relevo, à época. Sem grande burburinho e sem alarde por parte dos seguranças, homens portando vestimentas típicas desceram de limusines brancas: vestiam túnicas e lenços brancos na cabeça. Um ar de fábula parecia pairar no ar, era, pra mim, algo meio surreal, meio mágico, aquele contraste que nunca presenciara. Sem as fobias pós 11 de setembro, o convívio multicultural fluía com naturalidade. Vinte e um anos depois, confesso que a arquitetura de Nouvel continua impressionando. E, volto a afirmar: ainda bem que existem “stars architects”! Arquitetura é arte, tem que impressionar, instigar, seduzir, incomodar.

Depois dessa rememoração de fatos pessoais, retorno a 2011. Conforme me aproximava do IMA avistava o pavilhão expositivo, de Zaha Hadid, denominado Mobil Art localizado à frente da entrada do instituto. Impressionante o diálogo entre ambas construções. Parece que o Mobil Art de Hadid foi elaborado para esse sítio. As imagens deixam isso claro, apesar de soar incoerente: um projeto temporário que se tornou perene. O espaço pôde ser visitado com tranquilidade, o público felizmente era restrito. Sem filas, inacreditável.

Um pouco sobre o IMA

Um consórcio de arquitetos formado por Jean Novel, Gilbert Lezenes, Pierre Soria e Architecture Studio elaborou o projeto do IMA, que foi inaugurado em 1987. O edifício está localizado na margem esquerda do Sena, no 5º arrondissement, Quartier Latin. O projeto do IMA propõe uma síntese de concepções arquiteturais: ocidental e oriental. Edificação de vidro e estrutura metálica (alumínio) que causa impacto visual, formado por duas estruturas laminares que se conectam por meio de um pátio (ryad). A lâmina norte, toda envidraçada, serpenteia as margens do rio espelhando a paisagem parisiense. A face sul, voltada para a praça de acesso ao IMA, oferece ao cidadão o espetacular efeito do muxarabi gigante conformado pelos 240 diafragmas foto-sensíveis. A essência da concepção projetual do IMA reside na primorosa releitura às referências da tradicional arquitetura árabe que Nouvel soube interpor à arquitetura ocidental contemporânea. Utilizando uma sofisticada tecnologia, concebeu um objeto arquitetônico ímpar. O movimento de abertura dos diafragmas obedece às necessidades dos ocupantes do espaço, formando uma fachada cujo desenho repetitivo e seriado esconde suas nuanças compositivas, obra de mestre. Parece evidente que a opção pela adoção dos diafragmas não é fruto de mera propositura que objetivou exclusivamente solucionar problemas decorrentes do conforto ambiental interno. Além do mais, os diafragmas possuem um desenho minucioso que relembra o trabalho de mosaicos manuais. Indiscutivelmente, a luz é protagonista do projeto. Vale ainda dizer que no deck do último andar pode-se apreciar uma bela vista de Paris, tendo os fundos da catedral de Notre-Dame como destaque. Os pratos servidos na cafeteria ou no restaurante também valem à pena.

Agora à frente desse edifício único está ancorada a obra de Hadid. Um casamento fortuito que resultou num diálogo consoante.

Mobil Art

Esse pavilhão foi desenvolvido pela arquiteta iraquiana Zaha Hadid, laureada com o prêmio Pritzker de 2004, sob encomenda do estilista Karl Lagerfeld e da Maison Chanel. A construção de caráter móvel, desenvolvida para exposições temporárias da Chanel, foi inaugurada em 2008, em Hong Kong, seguindo depois para Tokio e, por último, foi montada em Nova York.

Após um contato estabelecido entre direção do IMA e Chanel, proprietária do pavilhão, sobre uma possível aquisição do espaço expositivo criado por Hadid, a empresa Chanel decidiu doá-lo à entidade árabe. Atitude louvável. Agora o Mobil Art está instalado em situação perene à frente do IMA, abrigando exposições temporárias do instituto.

Algumas alterações construtivas foram desenvolvidas para adequar o espaço concebido como temporário para uma permanência duradoura na praça do IMA. Substituição de certos materiais e adequações específicas às normas francesas incorporaram à edificação mais solidez e impermeabilidade e um melhor condicionamento térmico interno.

O pavilhão é composto por dois volumes que se conectam logo à entrada de acesso do público. O primeiro deles, que corresponde a uma área de 100 m² serve de anexo técnico, já o segundo, com uma área de 600 m² é propriamente o espaço de exposições. No seu interior um pátio central é banhado pela luz zenital filtrada por superfície de material translúcido.

O pavilhão pesa cerca de 180 toneladas, é estruturado por uma ossatura radial metálica de aço, cujo volume total equivale a 2500m³. Esta estrutura repousa sobre um piso técnico que abriga cabos elétricos, equipamentos de ventilação e de climatização. O pavilhão é formado por 413 painéis de resina plástica reforçados por fibra de vidro. Cada peça é única com específica identificação numérica.

A partir da rampa de acesso, entre os dois blocos, começa a primeira exposição de obras da arquiteta em Paris, que oportunamente aconteceu no próprio Mobil Art. Adentramos no universo de Hadid, esta singular arquiteta, cuja formação primeira, em matemática, em Beirute, Líbano, e depois, em arquitetura, em Londres, revela uma forma de concepção projetual que sintetiza aspectos culturais diversos de sua herança. Arquitetura ocidental? Não, global, plural. Suas linhas orgânicas nos remetem à sutileza e sinuosidade da caligrafia árabe. Seu método de concepção projetual é instigante, difícil decifrá-lo. Dentro do pavilhão me sentia como personagem dos desenhos dos Jetsons (2), um futuro que virou presente e já é passado.

A mostra está organizada como um percurso sensorial espiralado que revela aspectos do processo de trabalho da profissional, bem como apresenta parcela de seus mais recentes projetos, construídos ou em andamento, em forma de maquetes, projeções e animações.

Uma complexa e delicada teia de aranha, formada por tirantes de resina preta, sugere o caminho a ser perseguido dentro do pavilhão. Entre algumas células dessa teia estão posicionadas telas têxteis esbranquiçadas, que recebem as projeções de pranchas ou de animações dos projetos. Um jogo único em preto e branco. Imagino, que todos estes elementos constitutivos do pavilhão tenham sido desenvolvidos por meio da fabricação digital. Uma série de maquetes e estudos tridimensionais também estão dispostos pelo pavilhão. Uma parte dos projetos tem como destino o mundo árabe, entre eles: Abu Dhabi Performing Arts Center (Abu Dhabi), Torre Nilo (Cairo, Egito), Banco Central (Bagdá, Iraque), Torre Saphira (Rabat, Marrocos), Torres de Dubai. No entanto, sua arquitetura global dissemina-se por várias localidades de culturas variadas: Central Business District Beijing (Pequim, China), Torre Zhivospisnaya (Moscou, Rússia), Torre Espiral (Barcelona, Espanha), vila olímpica em Nova York (EUA), projetos em andamento em Brastislava (Eslováquia), etc.

Finalizando a visita, chegamos ao miolo da edificação, um pequeno espaço iluminado zenitalmente, onde podemos sentar num banco formado pela teia de resina plástica e contemplar três projetos de Hadid, na França: as maquetes da Torre de escritórios CMA CGM, em Marselha; da Cidade dos Saberes e Esporte, em Montpellier e por último o modelo do próprio Mobil Art.

notas

1
Acessível através do link <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/05.057/4128>

2
Para que tem interesse no estudo da relação entre arquitetura, história em quadrinhos, desenhos animados e filmes, o assunto foi abordado na exposição Archi & BD, La ville dessinée (Arquitetura e desenho em quadrinhos, A cidade projetada), ocorrida entre junho e novembro de 2010, Cité de l’Architecture & du Patrimoine, Paris. O catálogo da mostra contém farta documentação. Um tema ainda pouco explorado por aqui, mas bastante interessante.

sobre a autora

Silvia Palazzi Zakia é arquiteta pela PUC-Campinas e doutora pela FAU-USP.

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