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research

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architectourism ISSN 1982-9930

arquiteturismo

abstracts

português
Artigo aborda questões contemporâneas pertinentes ao desenvolvimento da urbe e sua remodelação desde os anos 1980 até hoje. A realização de projetos assinados por estrangeiros também é destaque, muito devido ao atrativo financeiro decorrente do petróleo.

english
The article approaches the contemporary issues related to the city development and its renewal since the eighties. The attainment of projects developed by foreigners is also emphasized, much due to the financial gains from the oil market.

español
El artículo aborda los temas de actualidad relacionados con el desarrollo de la ciudad y su renovación desde los años 80. La consecución de los proyectos de extranjeros también se destacó, tanto debido a las ganancias financieras de mercado del petróleo.


how to quote

CASTELLO, Leonardo Ferreira. A transformação de Riad. Uma cidade segmentada em função do traçado, da religião e do petróleo. Arquiteturismo, São Paulo, ano 09, n. 096.04, Vitruvius, mar. 2015 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/09.096/5517>.


Em meados de 2012, eu tive a oportunidade única de viajar a trabalho para a Arabia Saudita, mais especificamente para a capital Riad, aonde estava com projetos em andamento e iniciei uma série de viagens para fazer apresentações e atender reuniões com a equipe. As expectativas e curiosidade eram imensas, devidas tanto a meu envolvimento com projetos locais e também por toda a mescla de história, religião e arquitetura intrínsecas ao pais. A partir do avião, tive a clara sensação de aterrissar no meio do deserto, uma vez que o aeroporto está a 35 kilômetros da cidade. A chegada ao King Khalid, projetado por Hellmuth, Obata + Kassabaum e inaugurado em 1983 possuindo uma área de 225km2 – o maior do mundo na época – foi impactante, a imensa estrutura modular em concreto mostrou-se atemporal. É interessante notar o bom aproveitamento de luz natural através do desencontro dos planos da cobertura, assim como a sensação de amplitude. A volumetria é ao mesmo tempo imponente e aconchegante, um projeto singular que transcende a tipologia de aeroportos e oferece um ambiente mais humano, com uso de vegetacão, cascatas d´água, e detalhamento único dos acabamentos.

Eixo central de Riad
Foto Leonardo Ferreira Castello

O percurso até a cidade foi rápido, uma vez que o praxe lá é dirigir em alta velocidade pelas estradas, que seguem ininterruptamente sem bloqueios. A transição do deserto para a cidade é evidente, a areia subitamente transforma-se em concreto e a paisagem dá lugar a uma metrópole. Ao entrar na cidade, a primeira impressão foi uma arquitetura simples e funcional, em sua maioria edificações de gabarito baixo com dois ou três pavimentos e que ratificam o traçado plano, apenas rompido por torres contemporâneas presentes ao longo do eixo central da cidade. As volumetrias são bem rígidas, monótonas e fora de sintonia com os espaços públicos, além disso a malha viária é dominante e os veículos são prioridade e onipresentes na paisagem. Os lotes são claramente divididos por avenidas e ruas, e as zonas de habitação, indústria, comércio e lazer estão definidas e isoladas no traçado. Praticamente não se vêem zonas ou edificações de uso misto, o que facilitaria bastante a conectividade e funcionalidade da cidade.

Fundação King Faisal. Arquiteto Kenzo Tange
Foto Andrew A. Shenouda

Riad é segregada, seja por sua localização geográfica e suas quadras isoladas, seja devido a sua rotina de fragmentação temporal imposta pela religião muçulmana predominante. O dia a dia é delimitado em função das cinco rezas diárias, definidas no alcorão e que regulam a vida nas cidades islâmicas. Durante o período das rezas, aonde grande parte dos habitantes vão as mesquitas para orar, o comércio fecha e a vida faz uma pausa, até lojas de malls são fechadas temporariamente até que a reza termine. As rezas ditam a vida em Riad e são parâmetros para quase tudo, definem horários de reuniões, limitam determinados acessos e circulações, e, regulam o calendário no decorrer do ano. A religião é tão indispensável que influência a arquitetura, que tem como obrigatoriedade incluir em seus programas mesquitas e espaços específicos para rezas em todas as tipologias de projeto. É quase impossível estar em uma zona da cidade sem avistar minaretes das estimadas mais de quatro mil mesquitas, que assim como em outras cidades islâmicas são referência de localização por todos os lados. A religião também se reflete de forma ímpar no código de vestimenta dos sauditas, aonde homens se vestem com galabeyas de cor branca e mulheres com abayas de cor preta. Isso aliado ao fato dos veiculos serem predominantemente brancos, cria uma neutralidade e faz com que a arquitetura e o paisagismo sejam ainda mais protagonistas dos espaços urbanos. Porém a arquitetura é pálida, com materiais e revestimentos simplistas e a maioria dos prédios nas nuances da cor beige.

Ministério dos Negócios Estrangeiros. Arquiteto Henning Larsen
Foto divulgação [Henning Larsen Architects]

O ir e vir na cidade depende quase exclusivamente dos automóveis, seja para uma simples ida a padaria ou mesquita e até mesmo para um passeio na praça. Os habitantes praticamente não caminham, tanto devido ao baixo preço da gasolina, e também a inadequação dos passeios urbanos - problemas de continuidade, desníveis, sem contar o clima inóspito durante boa parte do ano. As exceções são os condomínios residenciais para os expatriados, geralmente compostos por casas e inúmeras facilidades. Moradores caminham livremente e tem ao seu dispor piscinas, quadras de esporte, mercado, cinema, etc..., o que lhes propicia um ambiente e facilidades próximo ao de seus países e torna suas adaptações menos difíceis. Outra excessão é o Diplomatic Quarter, projeto criado para abrigar embaixadas, alguns orgãos do governo e também residências. Ele, além de possuir um desenho urbano e paisagístico vernacular propício a região é tambem bastante funcional com as áreas de estacionamento localizadas nos subsolos dos prédios, zonas de tipologia mistas bem posicionadas, passeios sombreados e vegetação abundante.

Torre Al Faisaliah – Norman Foster and Partners
Foto Leonardo Ferreira Castello

Entretanto, a dependência dos automóveis tem tudo para diminuir já que as autoridades têm concentrado esforços para melhorar a mobilidade urbana, especialmente com os projetos dos transportes públicos de massa como o metrô – que possui uma estação desenhada por Zaha Hadid e outra pelo Snohetta – e também o bus rapid transit, ambos com as obras em andamento e que serão alternativas para o caótico trânsito. A grande discussão fica para quem irá realmente usufruir destes meios, se apenas os estrangeiros, ou também os sauditas. O interessante é que a autoridade de Riad está aproveitando estes projetos para ao mesmo tempo renovar e requalificar os espacos públicos urbanos e paisagísticos adjacentes as linhas de transporte, o que irá beneficiar a mobilidade de pedestres e um melhor usufruto dos passeios.

Kingdom Centre - Ellerbe Becket, Omrania and Associates
Foto Leonardo Ferreira Castello

Há algumas décadas Riad vem também investindo bastante em uma ”nova arquitetura”, em grande parte segue o modelo de importação de profissionais renomados, já visto em outras cidades. O petróleo não para de jorrar assim como o número de estrangeiros que se aventuram a projetar na Arábia Saudita em busca de retorno financeiro. A década de oitenta foi um marco para a cidade, que em decorrência da alta do petróleo na década anterior, viu diversos projetos tomarem forma; a fundação King Faisal, desenhada por Kenzo Tange, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, projeto de Henning Larsen, e também a participação de Frei Otto no desenho do Palácio Tuwaiq. Até mesmo Minoru Yamasaki (World Trade Center), também deixou sua marca em Riad com a sede da Agência Monetária. Nessa mesma época tambem foram construídos o estádio King Fahd, feito por Ian Fraser, John Roberts and Partners e o aeroporto. Todos estes projetos, de tipologias variadas, ilustram diversas interpretações da arquitetura contemporânea internacional inserida na cultura e no mundo árabe-islâmico de Riad, por profissionais das mais diferentes nacionalidades e distintas escolas de arquitetura. Esses projetos formam parte da base da arquitetura contemporânea do pais e marcaram o início de um intercâmbio profissional que continua ate hoje.

Centro Financeiro King Abdullah
Foto Andrew A. Shenouda

A arquitetura em Riad ganhou bastante destaque da mídia internacional no início dos anos 2000, com a concorrência para a construção do primeiro e mais alto arranha-céu. De um lado Norman Foster desenhou a torre Al Faisaliah, que reinou como prédio mais alto do país até o término do Kingdom Centre em 2004, a cargo de Ellerbe Becket. Os dois estão localizados no mesmo eixo central da cidade e dominam a skyline soberanos ainda hoje. Em 2007 a mídia voltou novamente suas atenções para a cidade, com o término da revitalizacao do Wadi Hanifa, um projeto que demorou cerca de dez anos para restaurar e despoluir o rio que corre ao lado da cidade. O projeto inovador virou referência para todo o oriente médio, muito pelo seu design harmonioso com o entorno existente e pelo aspecto de renovação e sustentabilidade. Destaco também o novo campus da universidade Princess Nora bint AbdulRahman, considerada a maior do mundo dedicada somente para mulheres, que foi aberta em 2011 com 8 milhões de metros quadrados. Ao seu lado, outro projeto grandioso é o centro de estudos e pesquisa do petróleo Kind Abdullah, desenhado por Zaha Hadid com seu típico arrojo, envergadura e ousadia estrutural.

Estação de Metro. Arquiteta Zaha Hadid
Imagem divulgação [Zaha Hadid Architects]

Atualmente a cidade continua com um grande número de projetos em andamento, com destaque para o distrito financeiro King Abdullah, que tem a  participação de diversos escritórios internacionais. Riad deverá continuar se transformando e modernizando nos próximos anos, mesmo com o petróleo tendo data para acabar, porém fica a dúvida se irá seguir importando arquitetos estrangeiros.

sobre o autor

Leonardo Ferreira Castello é arquiteto e urbanista graduado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro (2002). Também foi docente da mesma instituição entre 2006 e 2007. Ao final do ano 2000 teve a sua primeira experiência de trabalho fora do país ao residir e trabalhar na cidade de Barcelona, Espanha. A partir daí seguiu carreira fora do Brasil, o que o levou a China em 2005 e há oito anos está radicado no Oriente Médio trabalhando em projetos de larga escala – morou no Cairo e em Beirute, e atualmente reside na cidade de Doha no Catar, aonde trabalha para a empresa de consultoria multidiscplinar Parsons International no projeto da cidade de Lusail.

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