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architexts ISSN 1809-6298


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Leia na íntegra a conferência de Roberto Segre no Congresso Brasileiro de Arquitetos, onde o professor argentino faz um grande painel da arquitetura latino-americana contemporânea


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PORTAL VITRUVIUS. Arquitetura hispano-americana na mudança de Milênio. A globalização fragmentada: idioma comum, caminhos divergentes. Arquitextos, São Paulo, ano 03, n. 036.03, Vitruvius, maio 2003 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.036/683>.

1. América Latina: qual dos mundos possíveis?

A expansão européia além do Mediterrâneo, a partir do Renascimento, ocupou os territórios de América, África e Ásia, transformadas em colônias. Desde então, criou-se uma divisão que se mantém até hoje, entre dois mundos diferenciados numa dimensão “fractal”: os centros metropolitanos e os países dependentes; e as sucessivas contradições existentes em cada região. No século XX este instável equilíbrio de forças sociais e econômicas começou a mudar: os Estados Unidos, já industrializado, entrou em concorrência com os países europeus; surgiu o sistema socialista liderado pela Rússia como alternativa ao capitalismo dominante; depois da Segunda Guerra Mundial, os “Tigres Asiáticos” alcançaram uma liderança mundial; e, mais recentemente, a China ganhou importância. Se o século XX foi definido como o século “americano” – alguns acreditam que foi o russo –, é provável que o XXI seja identificado como o “chinês”. Ficaram excluídas da supremacia econômica a África, que não consegue superar a miséria ancestral, e a América Latina, único continente que se integrou plenamente na cultura ocidental, mas que pelas contradições sociais, políticas e econômicas internas, não transformou as históricas relações de dependência com os centros metropolitanos (2).

No século XIX, com a aplicação da Doutrina Monroe, a América Latina ficou sob a influência dos Estados Unidos, opostos à forte presença européia no Hemisfério. Previamente, Simon Bolívar propôs a união das repúblicas latino-americanas, para se contrapor ao “Colosso do Norte”. Não faltaram oportunidades para percorrer um caminho próprio: a Revolução Mexicana de 1910 precedeu à russa de 1917. No final da Segunda Guerra Mundial, Argentina e Brasil tinham recursos inesgotáveis para decolar industrialmente, com um projeto político nacionalista – os governos de Perón e Vargas –, mas as iniciativas concretizadas ruíram pela ausência de um estado democrático que facilitasse um diálogo social construtivo, e pela constante pressão externa contrária aos interesses nacionais desses países. Cuba tentou se articular com o bloco socialista mundial, abrindo a possibilidade para um novo desenvolvimento socioeconômico na América Latina. Sonho que acabou com a queda do Muro de Berlim e a desintegração da URSS.

O Continente e as Antilhas chegaram exaustos ao fim do século, após décadas de exploração econômica, de implacáveis ditaduras militares, de corrupção administrativa, de esvaziamento dos seus recursos naturais e humanos. O retorno à democracia, nos anos oitenta, criou a ilusão do desenvolvimento com a política do neoliberalismo e a globalização, que permitiria entrar na definitiva modernidade, aproximando-se ao Primeiro Mundo. Na década de noventa o presidente Menem afirmara: Argentina já está lá. Os sérios problemas sociais da região; a recessão e o endividamento econômico com o FMI e a banca internacional; a persistente corrupção dos governantes, e a profunda crise argentina, forçaram, no início do novo século, a necessidade de mudanças políticas; no Chile, depois do longo período da ditadura de Pinochet, surgiu Lagos, o presidente socialista; no Peru, se livraram de Fujimori; no México, a permanência ininterrupta do PRI no poder e a corrupção do presidente Salinas, conduziram à eleição de Vicente Fox; Venezuela tentou com Chávez sair da “politicagem” tradicional; e pela primeira vez na sua história, o Brasil colocou na presidência um operário metalúrgico: Luiz Ignácio Lula da Silva. Mesmo se os representantes das forças reacionárias integraram alguns políticos da América Latina no “eixo do mal”, estabelecido arbitrariamente pelo presidente Bush, a percepção de que são necessárias urgentes e possíveis transformações na região, definidas no recente Fórum Social Mundial de Porto Alegre, de 2003, criaram um ar de esperança e otimismo no futuro da América Latina (3), ainda que as iniciativas bélicas dos Estados Unidos perfilem uma sombra de pessimismo no futuro da Humanidade.

A vitalidade e a criatividade da cultura latino-americana, permitiram desde o período colonial, que literatos, músicos, artistas plásticos e arquitetos, assimilassem os modelos provenientes das metrópoles, e posteriormente elaborassem respostas originais e inéditas. O século XX já estava bem avançado quando foram aceitas pela crítica internacional as abordagens dos criadores locais. Hoje, Gabriel García Márquez, Oscar Niemeyer ou Juan Luis Guerra, são conhecidos no mundo inteiro. Fernando Botero, Roberto Matta ou Wifredo Lam têm os seus quadros exibidos nos melhores museus dos centros metropolitanos. Arquitetos latino-americanos, se inseriram nos Estados Unidos e nos países europeus, construindo obras difundidas internacionalmente: Catalano, Caminos, Pelli, Viñoly, Agrest & Galdensonas, Torre, Ambasz, Dahl Rocha, Machado & Silvetti, da Argentina; Duany, Spillis, Candela, Trelles, Rodríguez, Behart, Porro, de Cuba; Legorreta do México; Ciriani e Fort Brescia do Perú; Borja Huidobro e Jullian de la Fuente, do Chile; Jiménez de Costa Rica. Numa visão ainda parcial e esquemática, autores do Velho Continente ou norte-americano, continuam difundindo uma imagem limitada e restrita destes profissionais, quando se fala da arquitetura contemporânea da região, outorgando escassa relevância aos inovadores existentes em cada país (4).

Sem desvalorizar a dramática situação de crise das metrópoles latino-americanas, a dimensão do problema habitacional da população de recursos precários; o dano irreparável produzido nas cidades pela especulação imobiliária e os processos de privatização das infra-estruturas e os espaços públicos; a poluição e a destruição irreversível da natureza, tampouco se pode assumir uma atitude pessimista e derrotista, em particular sobre a arquitetura deste fim de século, como se intui em alguns críticos locais como Humberto Eliash, Hugo Segawa, Edson Mahfuz, Ruth Verde Zein, Roberto Fernández, Francisco Liernur, Alberto Sato, Claudio Caveri e em geral, os membros do SAL – Seminários da Arquitetura Latino-Americana (5). A realidade não é em preto e branco, nem cabe aceitar um “pensamento único” ou um “regionalismo” dogmático. Por exemplo, mesmo com a crise criada pela globalização, que gerou uma forte presença dos modelos metropolitanos impostos desde o exterior nos países da região, foram concebidas significativas obras de arquitetura inspiradas em um repertório cosmopolita, mas com soluções originais. Isto está demonstrado na qualidade dos prédios apresentados nas Bienais Ibero-americanas de Arquitetura organizadas na Espanha, pelo Ministério de Fomento; nas duas versões do Prêmio Mies Van der Rohe; e nas Bienais dos Colégios de Arquitetos ou instituições culturais na Argentina, Chile, Colômbia, Brasil, Equador, Venezuela e México. Também, a diversificada produção local aparece em publicações que se editam no continente e no Caribe: Arquitetura/Cuba na Havana; AAA, Archivos de Arquitectura Antillana em Santo Domingo; Enlace, Arquine e Bitácora no México, Punto em Caracas; Trama em Quito; Arkine em Lima; ARQ e Arquitectura em Santiago de Chile; Projeto e AU em São Paulo; Trazo em Montevidéu; Summa+ e SCA em Buenos Aires. São testemunhos da vitalidade e da criatividade da arquitetura na América Latina, neste início de milênio.

2. Alternativas da globalização: originalidade ou mimese?

Existe uma busca de universalidade do ser humano; um desejo de integra-se no concerto cultural do mundo e de assimilar e elaborar as múltiplas criações originais de povos dessemelhantes. Mas isto não coincide com as conseqüências nefastas da globalização financeira; o domínio mundial de um país sobre os outros; a existência de um restrito grupo de banqueiros ou de empresas transnacionais que pretendem controlar os recursos naturais e definir, tanto a dinâmica ecológica como a aceleração desenfreada do consumismo. Muitos concordaram com Karl Marx quando escreveu “proletários do mundo, uni-vos!”. O princípio era válido e ficou negativo quando, na política, o estado proletário se transformou em estado repressivo. Hoje, há no mundo duas manifestações de universalidade diferentes: no Fórum Social Mundial de Porto Alegre se reúnem os representantes dos povos que desejam a paz, a justiça social, a democracia, e propõem um equilíbrio justo entre países pobres e países ricos; em Davos, as grandes potências que dominam a economia mundial, e tentam manter sua hegemonia e o seu poder universal.

Na arquitetura, a idéia da globalização começou já na Antiguidade, quando os templos gregos e romanos se espalharam pelo mundo conhecido. E ao longo da história, os “estilos” se difundiram além do sítio que produziu os paradigmas essenciais, criando as infinitas interpretações locais – lembremos o gótico, o barroco e o neoclássico. A linguagem do Movimento Moderno tentou, numa concepção reducionista, obter validade universal no seu desejo de resolver as necessidades essenciais do homem, como demonstrou Alberto Sartoris na sua Enciclopédie de l’Architecture Nouvelle. Hoje, mais do que falar de uma consolidação de “estilos”, acontece em múltiplos países à presença de uma expressão estética individual de arquitetos renomados: como definiu Luis Fernández-Galiano, vivemos na época das griffes e do narcisismo (6). É interminável a lista de nomes famosos que atuam nos cinco continentes: Rafael Moneo tem obras em Estocolmo e Los Angeles; Frank Gehry em Paris, Bilbao e Praga; Richard Meyer em Barcelona, Paris e La Haya; Renzo Piano em Basiléia, Paris Nova York e Nova Calcedônia; Jean Nouvel em Madrid, Lucerna e Berlim; Rem Koolhaas projeta em Las Vegas, Los Angeles, Pequim, Lagos e Jacarta. Outra demonstração que não tem validade referir-se a uma arquitetura “nacional” é o recente concurso para o Ground Zero do World Trade Center, de 2003, um símbolo de grande significação para o povo norte-americano após 11 de setembro. Os dois projetos finalistas selecionados, são de equipes com arquitetos estrangeiros, além do norte-americano Frederic Schwartz –: o alemão Daniel Libeskind; o argentino Rafael Viñoly e o japonês Shingeru Ban. Na América Latina, profissionais de renome também atuam em diferentes países: Álvaro Siza constrói em Rosário (Argentina) e vai participar em Porto Alegre; Jean Nouvel está projetando o novo Guggenheim e Christian de Portzamparc uma Cité de la Musique tropical, no Rio de Janeiro; Bernard Tschumi, o Museu de Arte Contemporâneo, em São Paulo; em Santiago de Chile, vários prédios de escritórios são desenhados por Chemetov-Borja Huidobro; no centro cultural e de convenções de Guadalajara (México) estão presentes Peter Eisenman, Zaha Hadid, Steven Holl, Coop Himmelblau e outros; em Buenos Aires, Mario Botta tem um banco, Cesar Pelli duas torres de escritórios, e Santiago Calatrava uma ponte em Porto Madero.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, e posteriormente nos anos da Guerra Fria, as grandes empresas norte-americanas se espalharam pela América Latina. Poucos historiadores reconhecem que o primeiro modelo de prédio alto de escritório com fachada curtain wall apareceu no Rio de Janeiro, na sede do Ministério de Educação e Saúde, projetado pela equipe sob a direção de Lúcio Costa, com a colaboração de Le Corbusier (1936-1945). Mas, na realidade, esta tipologia foi assimilada via o edifício Lever House em Nova York, desenhado por Gordon Burchaft do escritório SOM, em 1952. Ao longo destas décadas, as torres de aço e vidro proliferaram nos centros das capitais latino-americanas, definindo uma paisagem anônima e sem uma particular expressividade, repetindo os modelos do International Style. No segundo processo de expansão do grande capital financeiro, na década de oitenta, o anonimato anterior foi substituído pela busca de uma identificação da imagem corporativa. Superada a curta etapa dos enfeites do pós-modernismo historicista, a linguagem arquitetônica ligada ao poder econômico e político, assumiu o expressionismo cenográfico tecnológico (7), a High Tech e as virtualidades do recente movimento minimalista, que geraram obras de alta qualidade de desenho (8). Com a insistência para a preservação e conservação dos centros históricos, e a necessidade de grandes espaços para a construção de novos escritórios; os shoppings, lojas, centros de convenções e hotéis, abandonaram o Centro; criando-se banais centralidades urbanas polifuncionais em áreas periféricas (9). Entre outras, a Cidade Empresarial em Santiago de Chile; o assentamento de Santa Fé em México DF; o desenvolvimento da Barra de Tijuca no Rio de Janeiro; o Miramar Trade Center em Havana. Uma exceção acontece em Buenos Aires, onde as torres recentes permanecem próximas ao centro tradicional da cidade, com a ocupação dos terrenos livres do Porto Madero.

Esta amplitude temática e profissional, tem também uma expressão na diversidade das linguagens possíveis que coexistem no Continente e no Caribe, em consonância com os contrastes de infinita riqueza e profunda pobreza; a presença das cidades mundiais – parafraseando Saskia Sassen –, e dos isolados povoados dos pampas argentinos, no sertão brasileiro ou nos Andes peruanos. Por isso, se pode perguntar: não será mais apropriado falar de arquiteturas na América Latina do que de uma arquitetura latino-americana? (10) O que identificaria então as diferentes respostas de aproximação ao problema, e também tipológicas, funcionais, espaciais e formais que surgem na região? A interpretação local das categorias filosóficas e estéticas que definem a contemporaneidade (ou a pós-modernidade), adequadas às circunstancias sociais, econômicas e culturais locais, num diálogo criativo, que rejeite, tanto as manifestações miméticas assumidas dos centros metropolitanos como uma procura de restrita identidade baseada num regionalismo fechado e nacionalista. São válidas as expressões de um refinamento tecnológico e de uma linguagem cosmopolita; possíveis nas cidades dos países de alto desenvolvimento industrial – Argentina, Brasil, Chile, México ou Venezuela –; como as respostas regionalistas, contextualistas e de tecnologias tradicionais, que tentam resolver os desafios apresentados pela presença majoritária de uma população de recursos escassos ou dialogar com a particularidade do sítio e da paisagem (11).

No desenvolvimento geral de uma arquitetura corporativa, a tipologia dos prédios de escritórios teve uma forte presença na década de noventa, em particular as torres que identificam as empresas nas grandes cidades. Construídas em aço e vidro, tentam assumir configurações “originais” que as identifiquem no skyline urbano. As opções variam entre a elegância da solução formal; a reiteração dos anônimos volumes retangulares de curtain wall, e a elementar repetição de formas já existentes: em Santiago de Chile, uma torre repete o coroamento do Chrysler Building de Nova York. Em Buenos Aires, Porto Madero concentra um conjunto de prédios altos “inteligentes” que ecoam as duas torres de César Pelli. Nos dois extremos do eixo dos armazéns tradicionais de tijolos vermelhos se contrapõem com a sua leveza, as fachadas de vidro do prédio “Malecón” do escritório HOK e Ainsenson e a sede da Telecom de Hampton & Rivoira. Em Santiago de Chile se concentram, no sofisticado bairro Las Condes, alguns dos prédios mais refinados de América Latina. É notável a habilidade de Borja Huidobro de inserir na cidade, edifícios de grandes dimensões caracterizados pela leveza e transparência, em diálogo com o espaço urbano. Estes se identificam pela originalidade das formas do contorno e o traçado linear das fachadas: a cobertura suspensa do prédio “Plaza los Ángeles” e a sutil curvatura do plano de brises do prédio "Banmédica". Associado com Enrique Browne, eles desenharam os escritórios do “Consorcio Vida”, identificado por um volume curvo escalonado de fortes linhas horizontais com um sistema de plantas trepadeiras que cria uma cortina ecológica verde na fachada, criando a metáfora de uma natureza quase perdida nos espaços centrais.

Outra expressão original aparece no prédio de escritório “Manantiales”, de Luis Izquierdo, Antonia Lehmann, Raimundo Lira e José Domingo Peñafiel, com uma fachada de colunas de concreto de livre distribuição geométrica, estabelecendo uma cortina estrutural dinâmica sobre o volume retangular. São edifícios que expressam com clareza o rigor das soluções funcionais e a procura do “artifício” na originalidade formal e espacial que transforma o peso em leveza (12). Transposição que não acontece no México, país com uma cultura visual associada aos valores telúricos da pedra e do tijolo. Juan José Díaz Infante tentou quebrar esta tradição, nos nítidos volumes triangulares de vidro da Bolsa de Valores no centro de México DF (13); mas a dinámica projetual privilegia a imagem abstrata da torre maciça, do obelisco, da solidez da construção em concreto: são, os prédios de escritório “Arcos Bosques Corporativo”, no subúrbio da cidade, de Teodoro González de León, resgatando a platibanda primitiva dos astecas; e as limpas geometrias puristas da torre “Dataflux” em Monterrey de Landa, García, Landa, e da torre “City Bank” de Augusto Quijano em Mérida (14).

O domínio das possibilidades da high tech permite a aplicação das categorias básicas que identificam as formas e espaços da modernidade: a transparência, a dissolução, a simultaneidade de funções e percursos, a leveza e as vivências do prédio na apropriação dinâmica que identifica o evento que cria o desenvolvimento do corpo no tempo (15). Como, em geral, os edifícios de escritórios estão situados em contextos urbanos bem definidos volumetricamente, e estruturados sobre uma tipologia já experimentada que privilegia a continuidade e a flexibilidade espacial interna, a tensão do edifício se concentra na virtualidade da fachada, que permite ou não o relacionamento exterior-interior, e que, além do jogo das visuais, cumpre a função de filtro lumínico e térmico. Os volumes se dissolvem no jogo de transparências, reflexos e da ambiguidade da imagem criada pela presença de vidros cromatizados, translúcidos ou opacos. Isto acontece no vibrante cubo do “Edificio Corporativo H.N.S” em Santiago de Chile, de Juan Sabbagh, Marina Sabbagh, Juan Pedro Sabbagh e Marcial Olivares; nos dois retângulos de vidro do conjunto “Colonos Plaza” de Manteola, Sánchez, Gómez, Santos, Solsona e Salaberry ; e no volume virtual que reconstrói o armazém de Puerto Madero, no Dock 7 de Baudizzone, Lestard e Varas, em Buenos Aires. Também nesta cidade, o Museu de Arte Latino-Americano – MALBA, de Gastón Aterman, Martín Fourcade e Alfredo Tapia, criaram um sofisticado equilíbrio entre o contexto urbano, a paisagem natural e o dinamismo da espacialidade interior do prédio. No México, a Videoteca Nacional Educativa de Michael Rojkind, Miquel Adriá e Isaac Broid, estabelece uma ambigüidade perceptiva com o vidro translúcido, enquanto o “Corporativo Las Flores” de Migdal Arq., com as figuras virtuais desenhadas sobre a fachada de vidro, estabelece um diálogo visual com os que transitam pela estrada situada na frente do prédio.

Na jovem geração de arquitetos latino-americanos, assumindo a crise e as incógnitas do mundo atual, a ruptura dos valores tradicionais e a intuição de um futuro incerto, desenvolve-se uma rejeição às ligações que limitem o processo de experimentação e busca de novos caminhos, onde a expressão da identidade local está mais relacionada com a criatividade individual do que com um discurso contextualista. O prédio comunica na medida que procura experiências fenomenológicas e perceptivas inéditas – os momentos energéticos que definem o espaço, segundo Bernard Tschumi (16) – dos corpos dos sujeitos que usufruem as formas que os envolvem. As construções preexistentes são transformadas radicalmente por uma nova lógica e uma nova estética que mudam os seus significados; deixando somente rastros fugazes na memória. No México, Enrique Norten e Bernando Gómez Pimienta (Escritório TEN), no prédio de usos múltiplos de Televisa, que obteve o Prêmio Mies van der Rohe de 1999 (17), a envoltura metálica, isolava o interior do relacionamento com o espaço urbano. No recente hotel Habita, de 2000 – reconhecido como o melhor prédio da América Latina pelo Arup World Architecture Prize de 2002 –, envolveu um edifício de cinco andares com uma superfície de vidro translúcido, que transformou as fachadas maciças em uma caixa de luz.

Interpretando a imagem clássica das casas portenhas como uma tela de transição entre a rua e o interior, Pablo Tomás Beitía, no Museu Xul Solar de Buenos Aires cria, nas assimetrias espaciais interiores, uma referência metafórica à complexidade do quarteirão urbano que caracteriza à capital portenha, assumido poeticamente por Borges e o pintor Xul Solar (18). Conservando o seu espírito jovial, o “velho” Clorindo Testa estabelece uma articulação “irônica” entre a antiga Casa de Idosos, transformada em um centro cultural, e a nova construção colorida e irreverente do Design Center, no bairro portenho da Recoleta (19). Em Havana, José Antonio Choy, no Banco Financiero Internacional, superpõe um leve sistema de volumes transparentes sobre a colunata neoclassica do banco originário dos anos cinqüenta, projetado pelo arquiteto Eugenio Batista. Por último, em Montevidéu, Juan Gustavo Scheps, no espaço interior da antológica Faculdade de Engenharia de Julio Vilamajó, de uma clássica modernidade perretiana, quebra a ordem rígida e estática da estrutura de concreto na sala de máquinas transformada em centro de pesquisa, com cabos de aço e passarelas inclinadas, estabelecendo com as linhas diagonais una dinâmica de diretrizes visuais.

As figurações das linguagens minimalista e deconstrutivista, tentam reduzir a presença do prédio à sua expressão mais sintética, ou estabelecer contraste e tensão com o contexto urbano. São as duas alternativas presentes no Pavilhão do Café Colômbia, de Leonardo Álvarez Yepes, que se insere na transparência de uma caixa de vidro e aço no pátio interior do prédio de tijolos do Museu Nacional de Bogotá; e no ascético cubo revestido de chapa dobrada, no edifício de escritórios “Oficinas El Cubo”, de Alexandre Lenoir em Monterrey. Constitui um sistema de formas que mistura leveza, fluidez e superposições a uma estrutura compositiva baseada no dinamismo das diagonais, utilizado em dois prédios do jovem arquiteto de Costa Rica, Víctor Cañas: o “Instituto Latinoamericano de Idiomas” e o escritório ”Centro Creativo”, em San José. São exemplos da assimilação criativa dos códigos formais e espaciais característicos da contemporaneidade, que são elaborados localmente e integrados no diálogo sincrético latino-americano.

3. Regionalismos difusos

A arquitetura de linguagem cosmopolita se relacionou com o contexto das metrópoles latino-americanas, as funções corporativas e a sofisticação tecnológica; possíveis em Buenos Aires, México DF, São Paulo, Caracas, Santiago de Chile, entre outras. Mas, a dimensão territorial do continente e das Antilhas, integra as múltiplas particularidades de uma paisagem que compreende os gelos eternos de Usuhaia, a infinitude dos pampas, a profundidade da floresta amazônica, o silêncio dos Andes e a aridez da Puna ou do Vale do México, a fragmentação das ilhas do Caribe. Esta pluralidade do landscape é associada à diversidade climática, às técnicas e materiais locais, e à diferenciação das comunidades nacionais, que se manifestam nas suas próprias tradições culturais e nos valores simbólicos e estéticos que as caracterizam e as identificam. É a magia, o sincretismo e a mestiçagem que descobriram cientistas como o Barão de Humboldt, poetas como Blaise Cendrars e Pablo Neruda; literatos como Gabriel García Márquez, Octavio Paz, Jorge Luis Borges ou Alejo Carpentier (20). Assim, uma outra arquitetura é possível, que assume as categorias da contemporaneidade (21) e se expressa com um vocabulário que integra os elementos particulares do sítio, das economias e das tecnologias das diferentes sociedades.

A significação simbólica da cabana primitiva como primeira apropriação humana do sítio, segundo a tese de Heidegger (22), permanece constante ao longo da história estabelecendo um paradigma formal pregnante que significa o persistente ciclo do retorno às origens ou o resgate da memória. Considerando que a religião se fundamenta sobre atributos relativos à essência do homem, é compreensível que pequenas capelas se identifiquem com as formas ascéticas e elementares, obtidas tanto com estruturas de madeira como com o concreto bruto. Isto acontece na capela rural “El Recuerdo” de Eduardo Castillo Jiménez na Comuna La Florida, Concepción, no Chile; e na capela do Colégio “Los Nogales” de Daniel Bonilla, em Bogotá, Colômbia. Configurações formais provenientes da persistência da célula primordial, resgatada em funções díspares como o complexo turístico Cayo Crasqui no Arquipiélago Los Roques, Venezuela de Jorge Rigamonti ou no aeroporto de Punta Cana, República Dominicana de Oscar Imbert (23).

A relação arquitetura e paisagem se articula de acordo com duas alternativas possíveis: contraposição ou mimese. Premiado na XII Bienal de Arquitetura de Quito de 2000, Equador; e na III Bienal Iberoamericana de Arquitetura de 2002, em Santiago de Chile, o hotel em San Pedro de Atacama, de Germán del Sol Guzmán, se desenvolve como um livre sistema de geometrias irreais, de linhas e planos diagonais, numa imagem onírica que permite a existência lúdica do homem no deserto. O autor cria no silêncio e na solidão do sítio, uma planta fragmentada na sua composição deconstructivista, e uma seqüência de formas e espaços transparentes e maciços, brancos e coloridos, de concreto, madeira e tijolos, que impulsionam uma constante descoberta da realidade arquitetônica no seu dialogo com a paisagem dura da Puna. Pelo contrário, José Luis Anaya, Solano Benítez e Alberto Marinoni, no complexo de férias do sindicato dos trabalhadores da eletricidade em Ytú, Caacupé, Paraguay, com tijolos e madeira, desagregam o prédio no contexto natural do entorno, obtendo a fusão das construções com a exuberante vegetação.

Nesta tendência arquitetônica, a cidade não é uma abstração, um espaço de rígidas geometrias cartesianas, mas um contexto que tem uma história, uma ancestralidade, um sistema simbólico, e que contém uma vida social particular. A sua dimensão global é formada por fragmentos – os bairros – particularizados pela própria personalidade e identidade que caracterizam as formas e os espaços vivenciados pela comunidade. Os projetos realizados em cada cidade da região buscam assumir o “espírito do lugar” – parafraseando Cristián Fernández Cox (24) –, estabelecendo um diálogo com o entorno urbano, ou com as suas áreas verdes. O Museu Interativo Mirador, no Parque Brasil, em Santiago de Chile, de Juan Ignacio Baixas e Enrique del Rio, cria na extensão suburbana uma caixa de surpresas, com as articulações de formas curvas, materiais diferentes e efeitos luminosos, que exige do usuário o compromisso da experiência estética individual. Em Valparaíso, os arquitetos Roberto Barria e Pol Taylor, na extensão da Escola de Arquitetura da Universidade UTFSM, integram as formas quebradas do vocabulário deconstrutivista com as volumetrias complexas que caracterizam os “cerros” da cidade, identificadas pelos materiais semi-industriais da tradição portuária: madeira, aço, chapa, plástico e vidro. Em San José de Costa Rica, Bruno Stagno desenha uma sequência de sedes regionais do Banco de San José que rejeitam a tradicional tipologia da caixa de vidro fechada e assume a tradição da arquitetura “bananeira” local, com os amplos tetos em balanço de chapa corrugada com estrutura de aço, mantendo a transparência característica do clima tropical (25). Heléne de Garay, no prédio de escritório “La Fosforera” em Caracas, também nega a persistência da curtain wall e resgata a tropicalidade urbana com um sistema de filtros em concreto armado na fachada – quase um muxarabi árabe – para proteger o espaço interior do forte sol venezuelano.

Rogélio Salmona é sem dúvida o grande mestre da arquitetura colombiana que identifica a síntese entre modernidade, tradição e memória; entre inovação e contextualismo; entre diversidade de formas e espaços e unicidade técnico-construtiva: o tijolo é o material utilizado quase obsessivamente em todos os seus prédios. O que é admirável na sua obra, ao longo de quatro décadas, é a rigorosa coerência gramatical; a capacidade de se integrar na estrutura urbana e ao mesmo tempo definir a existência de um novo ícone – o exemplo paradigmático é o conjunto das Torres del Parque –; a constante diferenciação das articulações espaciais e o sofisticado estudo dos detalhes de cada componente do prédio. Nas três obras recentes em Bogotá – o Arquivo Nacional, a Escola de Graduados da Faculdade de Ciências Humanas no Campus da Universidade Nacional de Colômbia e a Biblioteca Popular “Virgilio Barco” –, consegue definir com clareza a personalidade que identifica as diversas funções. O Arquivo, situado no centro histórico colonial de Bogotá, mantém na sua planimetria o sistema compacto dos quarteirões tradicionais e a introversão dos espaços, conservando a herança dos pátios interiores das mansões de origem hispânico. O bloco quadrado que caracteriza o prédio é cortado por acessos em diagonal que convergem para um espaço circular interno. A coerência que estabelece a imagem de uma tela nas fachadas dos volumes, é reforçada pelas grandes janelas cobertas por um muxarabi, também de tijolos, que no plano maciço cria um ritmo de sutis vibrações luminosas. Na Escola e na Biblioteca, a liberdade do traçado das plantas é motivada pela localização dos prédios em um contexto natural. Na Escola, a estrutura circular das aulas e dos canais de circulação que criam amplas áreas de sombra, se desenvolve ao redor de um grande pátio que concentra a vida social dos estudantes; na Biblioteca, a composição baseada em um núcleo primário circular que contém os principais salões de leitura, se desagrega nas sinuosidades da paisagem, integrando-se numa sucessão de articulações espaciais que propõem ao usuário um percurso quase cerimonial, assumido das ancestrais culturas andinas. Taludes de tijolos, colunatas, rampas, escadas, fontes e espelhos de água, transformam o conjunto em uma mini-cidade percorrível em todas as direções, em uma constante procura de percepções inéditas das formas e espaços que alcançam uma dimensão lúdica e bucólica, que equilibra e se contrapõe à experiência racional da leitura de um livro no interior do edifício (26).

A valorização dos materiais locais é outro dos caminhos expressivos da arquitetura “regionalista”. O tijolo é quase o material universal da América Latina, e a sua obsessiva presença nas obras de Salmona é compartilhada por outros arquitetos colombianos como Laureano Forero que os utiliza nas obras construídas em Medellín. No conjunto de aulas universitárias e no complexo Comfama Aranjuez, o tijolo predomina em um articulado sistema volumétrico que integra um centro cultural e esportivo, com o resgate de um velho manicômio. Ainda que no México a pedra da tradição pré-colombiana foi substituída pelo concreto armado como material expressivo, o tijolo resgata a tradição colonial espanhola: Carlos Mijares na igreja Episcopal do Cristo em Lomas de Chapultepec, consegue uma nova especialidade com os elementos construtivos utilizados nas antigas estruturas de bovinas e cúpulas (27). Francisco Serrano, na Escola de Arquitetura e Desenho da Universidade Ibero-americana em Santa Fé, definem um extenso volume horizontal caracterizado pelo ritmo obsessivo dos pilares de tijolos. A pedra, que mimetiza o prédio com o contexto áspero dos vales e montanhas, constitui o elo entre a paisagem e a geometria complexa da planta da Biblioteca Central da Universidade Nacional de Rio Coabito, de Ana Etkin, Pablo Goldenberg, Mario Ivetta, Patricio Mullins e José Ignacio Santillán, na província de Córdoba, Argentina. Em uma direção oposta, Mathias Klotz no edifício Pizarras Ibéricas em Huechubara, Santiago de Chile, constrói um cubo virtual de pedra, desmaterializada na fachada com a imagem de uma tela sem espessura.

Com a destruição dos bosques e das florestas na América Latina, a madeira, material característico das coberturas no período colonial, desapareceu das grandes obras construídas no século vinte, só presente no mobiliário e nas decorações dos espaços interiores. No Chile, país com grandes plantações de pinhos e araucárias, a madeira, com as novas possibilidades técnicas de proteção da umidade e dos insetos, voltou a ser utilizada amplamente em projetos recentes, relacionando as qualidades texturais e estruturais com uma linguagem plástica criativa (28). Enquanto, Herzog e De Meuron identificaram os armazéns de vinhos com a pedra na Califórnia; aqui as grandes superfícies de madeira e as coberturas permitiram um desenvolvimento de formas leves e fluidas tanto nas estruturas volumétricas como nas superfícies de revestimento externo: as Bodegas Unificadas de José Cruz, Hernán Cruz, Ana Turel e Juan Purcel; a Bodega Las Niñas no vale de Cochagua de Mathias Klotz e a Viña Gracia em Totihue de Germán del Sol Guzmán. Duas obras contrastam entre elas pela elegante sinuosidade das vigas e as coberturas curvas da Industrias Forestais Centromaderas de José Cruz Ovalle e Juan Purcell e a pura geometria quase assumida de Boullée e Ledoux, no nítido cilindro de madeira do Showroom Moro de Guillermo Acuña Rivas e Sebastián Irarrazábal Despiano, em Santiago de Chile. A expressão construtiva telúrica e a tectônica primitiva da madeira são transformadas nestes prédios, em superfícies leves e quase transparentes, humanizadas pelas suaves texturas das linhas diretrizes das fibras e o cromatismo natural das diferentes espécies utilizadas (29).

Num mundo dominado pela virtualidade, pela imagem fugaz e pelo zapping, o conceito de monumentalidade tem perdido transcendência e significação no vocabulário arquitetônico contemporâneo. Mas em algumas sociedades da região, a presença de símbolos parece reafirmar o valor da identidade nacional ou o domínio do homem sobre a natureza (30): só assim se justifica a construção recente do desproporcional Farol de Colombo, em Santo Domingo, projeto premiado nos anos trinta por um júri internacional. Desde os antigos egípcios a morte também é associada a construções monumentais, tentando enclausurar a leveza fugidia da alma, ou imortalizar a transformação da materialidade do corpo na desintegração das cinzas. Héctor Mejía Vélez, Maurício Gaviria Restrepo e Felipe Uribe de Bedout, obtiveram o primeiro prêmio da Bienal de Arquitetura de Colômbia de 2000, com o abstrato volume retangular do Crematório e Templo das Cenizas no Parque do Cemitério Campos de Paz, em Medellín, Colômbia.

México é o país que mantém ainda uma forte presença dos grandes conjuntos monumentais, em contraposição ao minimalismo e a desmaterialização que domina nos prédios das metrópoles. A tradição construtiva herdada dos astecas e os maias; a aridez do clima e da paisagem, quase lunar; e das tipologias formais e espaciais desenvolvidas pelos espanhóis e resgatadas no século XX por Luis Barragán, estabeleceram uma linguagem baseada nos maciços volumes ciclópicos, nos texturais muros de concreto ou de tijolos emboçados e cromatizados e nas arcadas contínuas inseridas na extensão do deserto. A influência do mestre se desenvolveu em dois caminhos diferentes: o uso do concreto armado aparente, que resgata a rugosidade da pedra, característico da obra de Abraham Zabludovsky (31), Teodoro González de León e Fernando González Gortázar; os muros cromáticos emboçados, reiteradamente utilizados pelo discípulo de Barragán, Ricardo Legorreta, que transformou a linguagem intimista do mestre em uma receita de validade universal para prédios de grande porte (32).

O tema dos complexos culturais teve um grande desenvolvimento nos anos noventa, no governo de Salinas, no período da hipotética opulência: foi construído, sob o planejamento geral de Legorreta, o Centro Nacional das Artes, na Cidade do México, com a participação de diversos arquitetos locais. Teodoro González de León projeta o Conservatório de Música, que contrapõe volumes puros de concreto a uma faixa continua ondulante ritmada por um pesado brise vertical. Abraham Zabludovsky projeta gigantescos conjuntos de formas livres articuladas por galerias, no espaço aberto da paisagem, no Colégio Hebraico de Monte Sinaí, no Teatro da Cidade de Guanajuato e no Auditório e Centro de Convenções em Tuxtla, Chiapas. Uma expressão semelhante aparece no Centro de Seguridad Pública e no Centro Universitario Los Altos, em Guadalajara de Fernando González Gortázar. Legorreta na Escola de Graduados EGADE do Instituto Tecnológico de Estudios Superiores em Monterrey distribui em uma planta em espiral, as aulas protegidas do sol por uma arcada contínua fortemente cromatizada. A identificação do prédio no contexto anônimo do subúrbio, através de formas geométricas puras e cores fortes, para estabelecer uma identidade comunitária com os serviços da prefeitura e as atividades culturais do bairro, foi procurada por Miguel Ángel Roca na série de prédios dos Centros de Participación Comunitaria – CPC, na cidade de Córdoba, Argentina. São ícones de forte agressividade formal e espacial, que se contrapõem ao contexto “cinza” da periferia, estabelecendo um contraponto entre a representação da cultura arquitetônica contemporânea e as estruturas urbanas espontâneas dos bairros pobres da cidade latino-americana (33).

4. A moradia: um laboratório arquitetônico

Leon Baptista Alberti, ao conceber “a cidade como uma casa grande e a casa como uma cidade pequena”, estabeleceu um princípio que ainda mantém validade na América Latina. Os dois temas mais expressivos na atualidade, são a casa individual e as intervenções urbanas: o primeiro, porque existe uma burguesia media culta com recursos que deseja morar em uma casa projetada por arquitetos jovens ou de prestígio; o segundo, porque a situação de crise nas cidades, obrigou as prefeituras assumir iniciativas agressivas para melhorar o townscape da vida quotidiana no espaço público. Por outro lado, os extremos da célula individual e do entorno social, criam o microcosmo e o macrocosmo que concentram os valores e significados complexos da identidade e da cultura latino-americanas. A casa, nestes exemplos, não é a expressão do anonimato predominante no subúrbio americano, nem a agressiva identificação kitsch dos novos ricos, dos traficantes e dos políticos ou financistas corruptos, que aparecem nas periferias exclusivas das nossas cidades. São pessoas que dispondo de recursos, desejam morar em formas e espaços que se identifiquem com o seu sentido da vida e da cultura, e que além de resolver os problemas funcionais, tenha qualidades estéticas, permita a emoção e a alegria da vida quotidiana, tão difícil de obter na dimensão inumana das grandes cidades (34). Não é um refúgio para escapar da realidade, mas um desejo dos clientes “iluminados” de facilitar iniciativas projetuais e experimentações para que os jovens de talento, indiquem um caminho cultural e estético para a sociedade no seu conjunto (35). Não é casual que no 2º Prêmio Mies van der Rohe para a América Latina, a casa individual foi o tema que mais teve exemplos selecionados pelo júri. E também, os professores e alunos da Escola de Arquitetura da Universidade Católica de Valparaíso, assumiram experiências tipológicas alternativas e heterodoxas nos desenhos experimentais das casas no povoado de Amereida em Ritoque, como propostas para a construção da utopia urbana (36).

Outro fator importante é, na década final do século, a precária iniciativa estatal em prédios públicos ou em conjuntos habitacionais para populações de poucos recursos. O processo de privatizações das estruturas funcionais governamentais, deixou nas mãos da chamada “especulação imobiliária” as decisões sobre o desenvolvimento e das infra-estruturas urbanas, que ficaram dominadas pela busca de rápida rentabilidade do capital investido ou pela aplicação de modelos externos, como aconteceu com a proliferação dos condomínios fechados nas áreas suburbanas. Isto motivou a baixa qualidade arquitetônica das moradias promovidas pelas empresas construtoras ou financeiras, em particular nos prédios de habitação coletiva. Bairros infinitamente extensos, com torres de apartamentos, como a Barra de Tijuca, no Rio de Janeiro, tiveram exemplos escassos de boa arquitetura. Este fenômeno também acontece no resto de América Latina, onde as obras citáveis são pontuais: a torre com balanços audazes no bairro de Palermo em Buenos Aires de Clorindo Testa; a experimentação volumétrica na rua San Luis em Rosário, de Rafael Iglesia; os prédios minimalistas na Colônia Comdex em México DF, de Norten & Gómez Pimienta, e de Dellekam & Ass.; e aqueles que mantém um equilíbrio instável entre desenho e especulação, de Rafael Calventi e de Julio Sánchez & César Curiel, em Santo Domingo, República Dominicana.

A iconicidade da cabana primitiva, e o relacionamento telúrico com a paisagem, constituem ainda uma constante na arquitetura do Hemisfério (37), tanto pela tradição indígena como pela versão culta assumida da herança clássica. As formas essenciais do teórico francês Marc-Antoine Laugier aparecem, por exemplo, na casa de Mariano Clusellas na Colônia de Sacramento, Uruguai. A procura dos espaços mínimos, a integração das funções, o emprego dos materiais locais e o relacionamento com a natureza, são as características dominantes nos exemplos que assumem uma atitude essencialmente regionalista. A primeira opção é a mimese com as tipologias que dominam na área da construção: assim os extremos se tocam, desde os frios persistentes que obrigam uma arquitetura de madeira totalmente introvertida em Chiloé, no sul do Chile, nos exemplos de Edward Rojas, Jorge Lobos e Renato Vivaldi; até o quente trópico das Antilhas.

As casas de Oscar Imbert em Punta Cana, República Dominicana, onde a cabana com teto de palha, constitui o protótipo da habitação caribenha, assumida das tradições indígenas. Imbert insere a modernidade quando cria as complexas estruturas de bambú, derruba as paredes externas e organiza uma circulação interna sinuosa. Este modelo se faz mais complexo quando incorpora a tipologia das casas dos fazendeiros de açúcar do século XIX, e assume a composição clássica das villas palladianas. Na Finca La Cuaba em Santo Domingo, Plácido Piña, Pablo de la Mota, Andrés Julio Suárez e César Curiel, desenvolvem em uma planta de simetrias renascentistas, os módulos de madeira e tetos metálicos ao redor de pátios sucessivos, obtendo a leveza e a transparência que identifica a herança vernácula antilhana. Pelo contrário, Alejandro Borges González, na casa Simbiosis II na Ilha Margarita, Venezuela, deconstrói os atributos vernaculares em uma composição quebrada e angular, estabelecendo uma tensão criativa entre as imagens do passado e do presente.

O relacionamento com a natureza e a cidade obriga a assumir os materiais locais, valorizar as visuais sobre a paisagem ou dialogar com o contexto urbano preexistente. Nas casas de Miguel Ángel Roca e de José Antonio Díaz em Córdoba, Argentina; e de Cristián Boza em Los Vilos, Fundo Tetralillo no Chile, as perspectivas sobre a montanha e o mar são possíveis pelas grandes aberturas de vidro que equilibram a leveza e a transparência com o carácter telúrico dos grossos muros de pedra que as emolduram. Rafael Iglesia, na casa Meroi-Chaumet na Barranca de Arroyo Seco, sobre o rio Paraná, desenvolve sobre a pendente do barranco, lajes horizontais de concreto armado aparente em balanço sobre o rio, resgatando o tema de água na cobertura do prédio. Na cidade de Cali, Benjamin Barney-Caldas, na casa La Queja, situada no bairro colonial, mantém na fachada os elementos característicos da tradição histórica, e em um apertado terreno estreito e cumprido, com a ascética persistência dos blocos de concreto, desenvolve uma sucessão de pátios e habitações, articulando luzes e sombras em uma intensa dinâmica espacial.

A linguagem minimalista com a identificação da casa com sistemas geométricos de volumes puros ou articulados, baseado na estética platônica “filebiana” , teve uma significativa difusão na América Latina. A ordem e nitidez das formas ressaltam sobre a paisagem, como uma expressão da presença da racionalidade do homem sobre a natureza imprevisível. Assim, com os elementos mínimos da construção, os projetistas deixam plena liberdade ao usuário para organizar os espaços interiores em concordância com os seus desejos e valores estéticos, privilegiando sempre o domínio visual do entorno natural. São atributos que caracterizam as recentes casas nas praias de Ostende em Pinamar em Argentina de Clorindo Testa (38) – residências Capotesta e La Tumbona –; a série de casas de Mathias Klotz nas diferentes regiões de Chile (39) – casas Reutter, Müller e Mushnik –, unidas entre si pelo rigor dos volumes retangulares construídos em madeira, chapa e aço, e o elaborado estudo das luminosidades interiores ; e a branca residência em Las Palmas de Sebastián Irarrazábal & Guillermo Acuña, que ecoa as nítidas composições de Richard Meyer. No Peru, sobre os recifes do mar do Pacífico, três jovens arquitetas – Ruth Alvarado, Sandra Barclay e Alexia León Angell – alternam a utilização de muros brancos limpos, a fachadas transparentes de vidro sobre o mar – Ruth Alvarado, casa em Las Lomas, e Alexia León, casa en Praia Bonita-, com a assimilação das cores fortes de Barragán na casa Cañete de Sandra Barclay. A linguagem minimalista é deconstruída na forma irônica de um high tech caseiro, na casa e atelier do arquiteto Francisco Ursúa Cocke, em Quito, que cria uma colagem de componentes construtivos definidos por mecanismos em movimentação.

Nas duas últimas décadas do século XX, entre a crise econômica persistente e o desaparecimento do Estado providência, perderam importância às iniciativas de conjuntos habitacionais para a população de baixa renda, mais relacionadas com iniciativas pessoais de arquitetos, integrados nas cooperativas populares, com a ajuda de instituições filantrópicas ou ONGs internacionais. Profissionais de prestígio como Cláudio Caveri e Víctor Pelli (irmão do mais conhecido César Pelli) na Argentina, participaram nas transformações das villas miserias locais; Carlos González Lobo e Alfonso Ramírez Ponce, atuaram nas comunidades indígenas da periferia das cidades mexicanas, e desenvolveram tecnologias engenhosas para a construção em tijolos pelos próprios usuários (40). Fernando Castillo Velasco, criou um conjunto de prédios de apartamentos em Santiago de Chile – a comunidade Andaluzia –, realizada com a participação popular dos moradores (41). Na Colômbia foram desenvolvidas iniciativas que atingiram diversos estratos sociais: as comunidades pobres de Manizales, com os conjuntos de casas construídas em bambu (guadua) de Gilberto Gómez Restrepo; os grandes conjuntos habitacionais, com blocos articulados de cinco andares em tijolos, na periferia de Bogotá para a classe média baixa, de Esguerra, Sáenz & Samper (42), e os conjuntos de casas geminadas de dois andares em Medellín de Ana Elvira Vélez Villa, que tentam se distanciar das tipologias habitualmente aceitas pela pequena burguesia. Experiências diversificadas e todas elas caracterizadas pela alta qualidade do desenho arquitetônico e urbanístico.

5. Cidades e metrópoles: o resgate do espaço público

Em termos de significação social, sem dúvida no final do século, as intervenções no espaço das principais capitais de América Latina tiveram uma importante presença. A perda de controle das estruturas compactas e contínuas tradicionais da cidade provocadas pela expansão urbana e pelo domínio da especulação imobiliária pela iniciativa privada; aliada ao acelerado incremento da pobreza urbana com a proliferação de assentamentos espontâneos; determinou a perda da significação original da noção “cidade”. Fala-se, hoje, em ilhas urbanas; territórios ou arquipélagos urbanizados; galáxias urbanas. O esvaziamento dos centros históricos com a criação de novas centralidades especializadas, definiu também as condições para a deterioração e o abandono da cidade configurada entre a colônia e a primeira metade do século XX, que caracterizou a própria personalidade do desenvolvimento urbano latino-americano, um dos mais acelerados do planeta (43). A crise do modelo CIAM da organização de funções com um modelo fordista de produção, e a posterior ineficiência alternativa do planejamento urbano geral, obrigou os governos municipais a substituir esta política pelo predomínio de projetos urbanos parciais e locais, que vão concretizando-se aleatoriamente na dinâmica da pós-modernidade. As perspectivas econômicas imprevisíveis, tanto mundiais como locais, a escassez de recursos do estado central e das prefeituras, obrigou uma redução da abrangência das propostas, procurando também uma maior participação da “sociedade civil” nas iniciativas, integrando movimentos comunitários e o capital privado (44). Assim, surgem importantes mudanças para resgatar a perdida e deteriorada personalidade cultural e estética das cidades, revitalizando a sua significação para a coletividade, oferecendo a possibilidade de um desenvolvimento da vida social nos renovados espaços públicos (45).

Em algumas metrópoles foram elaboradas diretrizes gerais para tentar resolver os sérios problemas territoriais ocasionados pela expansão descontrolada do espaço urbanizado que alcança dimensões jamais imaginadas: na cidade do México, a crise ecológica produzida pela poluição ambiental e a desertificação do vale do México, motivou um estudo elaborado na Faculdade de Arquitetura que possibilitasse o resgate do caráter lacustre da cidade asteca (46). Em Buenos Aires, com a criação do governo autônomo da Capital Federal, a necessidade de se integrar à região metropolitana que extrapola seus limites – a Capital possui três milhões de habitantes, e o Gran Buenos Aires sete milhões –, exigiu a elaboração do Plano Urbano Ambiental, que estabelece diretrizes para integrar a totalidade do território urbanizado (47), principalmente nas infra-estruturas, no sistema viário e no transporte público.

Resumindo algumas das principais realizações concretizadas nas cidades da região, o resgate do centro histórico foi um dos temas que tiveram um desenvolvimento significativo. Em Buenos Aires, o resgate dos armazéns de Puerto Madero para a ampliação da área funcional da City, com a integração de escritórios, hotéis, moradías, centros culturais e universitários, foi acompanhada pela revitalização do tradicional bairro de San Telmo, durante décadas em decadência, e agora um dos espaços mais vitais da cidade (48). Em Montevidéu, a iniciativa do prefeito-arquiteto Mariano Arana levou adiante a reativação do precário centro histórico, do mercado e do porto, também com a proposta de relocação de edifícios habitacionais (49). Quase todas as capitais tiveram uma importante participação de arquitetos de prestígio nos projetos de resgate das praças e dos espaços públicos que, além de criar uma ampla área reservada aos pedestres, inseriram critérios modernos de desenho no mobiliário urbano e nas novas áreas verdes: isto ocorre tanto nas tradicionais Praças de Armas de Córdoba, Santiago de Chile, Lima, Quito e Bogotá; como nas Antilhas, facilitando o desenvolvimento da intensa vida social atual nos centros históricos de Havana (50), Santo Domingo e San Juan de Porto Rico.

Outro objetivo que merece ser citado é a articulação do centro tradicional com os novos bairros ou áreas de expansão, tanto nas novas centralidades ricas como nas periferias pobres. Um dos problemas mais sérios existentes nas cidades latino-americanas é o caos viário e a arbitrariedade e ineficiência do transporte público. A construção dos metrôs em Buenos Aires, Santiago de Chile, Caracas e Cidade do México, resolveram em parte a mobilidade urbana, reduzindo o uso do carro individual, e diminuindo a circulação dos ônibus, e a poluição atmosférica. Na cidade de Bogotá, aplicando os princípios que surgiram há duas décadas em Curitiba; com a ausência do metrô urbano, foi criado pelo prefeito Enrique Peñalosa Londoño um sistema de eixos viários exclusivos para a circulação dos ónibus – o Transmilénio –, que transformou radicalmente a circulação veicular e a imagem da cidade. A alta qualidade do desenho dos ônibus, dos pontos fixos, das rampas e pontes de acesso e do mobiliário urbano, acabou com parte do desordem que dominava nos espaços centrais. Esta iniciativa foi acompanhada pela criação de um sistema verde que atravessa a cidade em várias direções – parques para aprender a vivir – , e a presença de iniciativas culturais para a população: o conjunto de bibliotecas públicas construídas em vários bairros da cidade, teve no 2002 o prêmio de um milhão de dólares outorgado por Bill Gates (51). Em Caracas, o resgate para os pedestres da Avenida Bolívar, conferiu uma nova urbanidade ao espaço vazio reservado para torres de escritórios inumanas e as intervenções nas praças do bairro Las Condes em Santiago de Chile, permitiu o uso público democrático da área gentrificada para os membros da affluent society. Menos sucesso teve a proposta desenvolvida na cidade de Santo Domingo, com a criação de um mobiliário urbano kitsch no Boulevard 27 de Fevereiro (52).

Por último, a perda da qualidade do townscape urbano, e do relacionamento com as qualidades paisagísticas do território, na maioria das metrópoles, impulsionou as prefeituras a recuperar os espaços verdes, as beiras dos rios e mares, como âmbitos de sociabilidade e de contato da população com a natureza. Em Buenos Aires, o processo de abandono e privatização das bordas do Rio de la Plata foi interrompido, e o governo da cidade apoiou vários projetos nas Costaneras Sul e Norte: além do Puerto Madero e ao lado da Reserva Ecológica da cidade – inútil e gigantesco espaço aterrado pela ditadura militar –, Irene Joselevich, Graciela Novoa e Alfredo Garay, criaram uma seqüência de leves instalações para atividades culturais com um refinado mobiliário urbano. Na zona Norte, em Vicente López, Cláudio Vekstein, viabilizou um monumento ao arquiteto Amancio Williams e, o escritório Baudizzone-Lestard-Varas, elaborou o Parque da Memória, dedicado às vítimas do terrorismo de Estado, como um espaço cerimonial silencioso na frente do Rio de la Plata. O lazer e cultura de meninos e jovens é outro dos objetivos que aparecem na revitalização das cidades. Em Córdoba, surgiu o novo Jardim Botânico; em Rosário a Granja de la Infancia, com uma elaborada integração de prédios e natureza (53); e em San Juan de Porto Rico, o arquiteto Andrés Mignucci Giannoni, projetou um sistema de parques públicos e infantis nos bairros de Santurce e Condado, com estruturas funcionais leves, criando espaços de jogos e áreas de sombras, protetoras do sol tropical (54).

Neste breve resumo das contribuições positivas da arquitetura e do urbanismo latino-americano, concretizadas no final do século, é possível perceber que as perspectivas para o novo milênio são promissoras, e que a criatividade dos profissionais, jovens e velhos, está disponível para conceber os espaços necessários para o desenvolvimento de uma possível e desejada vida harmônica em comunidade. Isto tem que coincidir com uma vontade política, e com uma disponibilidade de recursos, que seja definida, não por uma minoria elitista mas pela totalidade da “sociedade civil”. Assim, a cidade latino-americana do século XXI, poderá superar os erros, o egoísmo e as injustiças que a caracterizaram no século XX.

notas

1
Palestra ministrada no dia 01 de maio de 2003 no XVII Congresso Brasileiro de Arquitetos, Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento Rio de Janeiro. “Arquitetura e urbanismo face à globalização”.

2
Roberto Fernández. “Ilusiones ópticas. De la posibilidad de una cultura arquitectónica iberoamericana”. Segunda Bienal Iberoamericana de Arquitectura e Ingeniería Civil. Arquitectura 2000, Tanais, Ministerio de Fomento, Madrid, 2000, p. 24-31. Fernandez define o espaço americano como “socioporductivamente anacrónico; politicamente inmaduro y culturalmente hiperactivo”.

3
Felipe Ehrenberg, “Quién quiere el cambio”. http://www.reforma.com/cultura/articulo/260966. Acessado em fevereiro 2003.

4
Alguns livros recentes demonstram esta afirmação: Aldo Castellanos em XII Profecías para el siglo XXI, L’Arcaedizioni, Milão, 1997, cita apenas José de Yturbide e Teodoro González de León; Diane Ghirardo em Architecture After Modernism, Thames & Hudson, Londres, 1996, além dos que trabalham no exterior, menciona o argentino José Ignacio Díaz; o chileno Fernando Castillo e o mexicano Luis Barragán; Philip Jodido em New Forms. Architecture in the 1990s, Taschen, Colônia, 1997, reconhece com obras originais, Arquitectonica, César Pelli e Rafael Viñoly; por último, no recente livro de Francisco Asencio Cerver, Atlas de Arquitectura Actual, Könemann Verlagsgesellschaft mbtt, Colônia, 2000, difundido em todas as escolas de arquitetura da região, com cerca de 500 obras apresentadas, os únicos latino-americanos incluídos são Ten Arquitectos (Norten & Gómez Pimienta), Ricardo Legorreta, do México, e César Pelli, da Argentina.

5
Humberto Eliash, Jorge Moscato, Paulina Oyarzún, Isabel Tuca, “Problemas y tendencias en la arquitectura del Cono Sur. Una visión crítica de la producción arquitectónica en Chile, Argentina y Uruguay”, Revista de Arquitectura n. 9, Facultad de Arquitectura y Urbanismo, Universidad de Chile, Santiago de Chile, 1997, p. 12-23. Eles definem a chamada “década perdida” dos anos oitenta, e o desejo dos arquitetos de se integrar na “aldeia global”; Francisco Liernur, “Towards a Desembodied Architecture Culture”. In Cynthia C. Davidson, Anybody, Anyone Corporation, The MIT Press, Cambridge, Mass, 1997, p. 196-201. América Latina, na sua instabilidade e incerteza, é assimilada á imagem de Tupac Amaru desquartizado. Roberto Fernández, La ilusión proyectual. Una historia de la arquitectura argentina, 1955-1995, Facultad de Arquitectura, Urbanismo y Diseño Industrial, Universidad Nacional de Mar del Plata, 1996, p. 151. Define as seis conseqüências da globalização na arquitetura argentina. Hugo Segawa, “Rompecabezas latinoamericano”, 2º. Premio Mies van der Rohe de arquitectura latinoamericana, Fundación Mies van der Rohe, Actar, Barcelona, 2000. Define a situação atual como que “predomina en la Latinoamérica globalizada una mediocre arquitectura empresarial de sabor cosmopolita, como consecuencia de la apertura neoliberal”. Alberto Sato, “Trazas”, 2G, n. 8, Ano IV, Barcelona, 1998, p. 24-29. Ele se pergunta, “significa que a heroicidade foi substituída pela evasiva resignação?”. Edson Mahfuz, O clássico, o poético e o erótico e outros ensaios, Editora Ritter dos Reis, Porto Alegre, 2002, p. 113: “a arquitetura brasileira atravessa uma fase de decadência acentuada que já se estende por quase quatro décadas, coincidindo o seu início com a inauguração de Brasília”. Ruth Verde Zein, O lugar da Crítica. Ensaios oportunos de arquitetura, Faculdades Integradas do Instituto Ritter dos Reis, Porto Alegre, 2001, p. 19. “ Chegava-se mesmo a dizer, no início dos anos 1970, em pleno milagre brasileiro, que depois de Brasília nada se fez”.

6
Luis Fernández-Galiano. Discurso contra el Arte. Real Academia de Doctores, Madrid, 1997.

7
Josep Quetglas. “Miscelánea de opiniones ajenas y prejuicios propios, acerca del Mundo, el Demonio y la Arquitectura”. El Croquis, Mundo Tres, Madrid, 1998, p. 4-21.

8
Jorge Francisco Liernur. Arquitectura en la Argentina del siglo XX. La construcción de la modernidad. Fondo Nacional de las Artes, Buenos Aires, 2001, p. 359. Não coincidimos com a visão pessimista dos anos noventa que tem Liernur, definindo-a como “o império da frivolidade”.

9
São conjuntos que alguns contem o “espaço lixo” caracterizado por Koolhaas: Rem Koolhaas, “El espacio basura. De la modernización y sus secuelas”, Arquitectura Viva, n. 74, Madrid, setembro-outubro 2000, p. 23-31.

10
Fernando Pérez Oyarzún. “24 obras de los 90 en Latinoamérica”. 1er. Premio Mies van der Rohe de Arquitectura Latinoamericana, Fundación Mies van der Rohe, Actar, Barcelona, 1999.

11
Alguns arquitetos e críticos latino-americanos não aceitam esta duplicidade de tendências, e lutam contra a difusão e assimilação do cosmopolitismo; por exemplo, Claudio Caveri, Alberto Petrina e Ramón Gutiérrez, entre outros. Ver: Claudio Caveri Surtectura, Carlos Calle Ediciones, Buenos Aires, 1991; Eduardo Gentile, “Formalismo y populismo en la recepción argentina del modernismo brasileño”, Block, n. 4, dez. 1999, Universidade Torcuato Di Tella, Buenos Aires, p. 122-128.

12
Horacio Torrent Schneider. Arquitectura reciente en Chile. Las lógicas del proyecto. Ediciones ARQ, Facultad de Arquitectura, Diseño y Estudios Urbanos, Pontificia Universidad Católica de Chile, Santiago de Chile, 2000, p. 7.

13
Juan José Díaz Infante. “Edificios de oficinas corporativas”. Enlace, Arquitectura & Diseño, n. 2, Ano 3, fev. 1993, México, p. 34.

14
Antonio Toca Fernández (Intr.). Séptima Reseña de Arquitectura Mexicana, Enlace, Arquitectura y Diseño, México DF, 2002.

15
São conceitos elaborados por críticos e arquitetos na última década. Ver: Ignasi de Solá Morales, Diferencias. Topografía de la arquitectura contemporánea, G. Gili,Barcelona, 1995; Oswald Mathias Ungers, “L’architettura come autonomia”, Rassegna, n. 76, Ano XX, IV, Milão, 1998, p. 46/61; Bernard Tschumi, “The Architecture of the Event”. In Andreas C. Papadakis (Edit.), Modern Pluralism, Academy Editions, Londres, 1992, p. 25-27.

16
Bernard Tschumi. “Architecture and Transgression”. In K. Michael Hays (Edit.), Oppositions Reader, Princeton Architectural Press, Nova York, 1998, p. 355-361.

17
“Edificio de usus múltiples y complementarios para Televisa. TEN Arquitectos, Enrique Norten y Bernanrdo Gómez Pimienta”, 1er. Premio Mies van der Rohe de Arquitectura Latinoamericana, Fundació Mies van der Rohe, Actar, Barcelona, 1999., p. 32.

18
Eduardo Maestripieri, “Cuaderno de Navegación: exploraciones y tropismos como experiencia urbana en Xul Solar”, em “Museo Xul Solar”, Revista 3, n. 10, Buenos Aires, 1998, p. 20-22.

19
Alberto Petrina, “Clorindo Testa. An Empire of the Senses”. In Malcom Quantrill (Edit.), Latin American Architecture. Six Voices, Texas A&M University Press, College Station, 2000, p. 175-202.

20
Juan Pedro Posani, “Riflessioni dai Tropici”, Zodiac, n. 8, Milão, set. 1992/fev. 1993, p. 49-82.

21
Bruno Zevi, Architettura. Concetti di una Controstoria, Tascabili Economici Newton, Roma, 1994, p. 61. O cosmopolitismo e o regionalismo, utilizam repertórios formais diferenciados, mas tem uma base comum, nas categorías que definem a identidade da arquitetura moderna: as assimetrías e dissonâncias; a tridimensionalidade antiprospéctica; a decomposição quatridimensional; as tensões estruturais; a espacialidade temporal e o relacionamento com o contexto, urbano ou rural.

22
Martin Heidegger. “Edificar, morar, pensar” (1951). Boletín del Centro de Investigaciones Históricas y Estéticas, n. 1, UCV, Facultad de Arquitectura y Urbanismo, Caracas, jan. 1964, Caracas, p. 64-80.

23
Oscar Imbert. “Aeropuerto Internacional de Punta Cana: hacia una internacionalización de la antillanidad”, AAA Archivos de Arquitectura Antillana, n. 2, Ano 1, Santo Domingo, set. 1996, p. 47-51.

24
Cristián Fernández Cox; Antonio Toca Fernández. América Latina: Nueva Arquitectura. Una modernidad posracionalista. Gustavo Gili, Barcelona, 1998.

25
Alexander Tzonis, Liane Lefaivre, Ken Yeang. Bruno Stagno. An Architect in the Tropics. Asia Design Forum Publications, Malaysia, 1999.

26
Silvia Arango, “Rogelio Salmona en su contexto”, Nómadas, n. 16, set. 1998, Fundación Universidad Central, Bogotá, p. 154-163.

27
Antonio Toca, México: Nueva Arquitectura 2, Gustavo Gili, México DF, 1993, p. 101.

28
Fernando Pérez Oyarzún, “Poéticas del caso. Chile entre la palabra y la materia”, Arquitectura Viva, n. 85, “Último Chile. Paisajes próximos de una tierra remota”, Madrid, jul./ago. 2002, p. 28-35.

29
Ver o número monográfico “El sur de América”, ARQ. Arquitectura, Diseño, Urbanismo, Pontificia Universidad Católica de Chile, Santiago de Chile, julho 2002.

30
Fernando Aliata. “Entre el desierto y la ciudad. Naturaleza y arquitectura en América Latina”, Block, n. 2, Universidad Torcuato Di Tella, Buenos Aires, maio 1998, p. 24-40.

31
Paul Heyer. Abraham Zabludovsky Architect, 1979-1993. Princeton Architectural Press, Nova York, 1993. No mês de abril de 2003, aos 78 anos, faleceu repentinamente de um infarto na Cidade do México.

32
Wayne Attoe. The Architecture of Ricardo Legorreta. University of Texas Press, Austin, 1990.

33
Roberto Segre, Joseph Rykwert, Henri Ciriani, Jorge Glusberg. Miguel Angel Roca 1990 – 2000. Obras elegidas, Summa+ Libros, Buenos Aires, 2000.

34
Renzo Piano. “Conversazione con Renzo Cassigoli”. XIII Bienal de Arquitectura 2002. Globalización, Comunicación y Arquitectura, Colegio de Arquitectos de Chile, Santiago de Chile, 2002, p. 28-30.

35
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sobre o autor

Roberto Segre, arquiteto e crítico de arquitetura, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde é atual coordenador do PROURB

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