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architexts ISSN 1809-6298


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VIDOR, Vilmar. Arquitetura urbana em Blumenau. Arquitextos, São Paulo, ano 04, n. 039.04, Vitruvius, ago. 2003 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.039/660>.

A arquitetura da cidade surgiu de maneira independente ao status administrativo do sitio municipal, entretanto, é hoje possível, destacar com muita clareza, a arquitetura urbana e a rural. As vezes é possível encontrar construções de caráter inteiramente urbano no meio rural e vice-versa mas trata-se apenas exceções. A arquitetura dominante no meio rural foi o enxaimel onde encontramos ainda hoje muitos exemplares e a arquitetura urbana a encontramos em todos os pontos de centralidade no município e não apenas na “Stadplatz”.

O enxaimel (foto 1) se caracteriza como obra de grande efeito plástico, decorrente da exposição de materiais tectônicos, sem nenhuma cobertura, sem adereços, fazendo com que os tijolos, telhas e madeiras brilhem de acordo com a intensidade da luz. Estas construções, sempre em simbiose com o verde natural, onde foram construídas, marcam de maneira muito forte, todo lugar em que se encontram. Outrora, estas construções foram consideradas rudes.

Em contraposição ao enxaimel, a casa urbana, muito longe da exposição dos materiais, cobre-se de relevos e adereços fazendo o tom da moda. Relevos e adereços não constituem singularidade blumenauense, ao contrário, fizeram presença em todo século XIX e até metade do XX em quase todo mundo ocidental. Aqui não tivemos ênfase no art-nouveau nem no art-deco cujos exemplares existentes são muito reduzidos. O que foi mais reproduzido aqui foram detalhes do barroco e sobretudo do neoclássico. Deste amálgama os historiadores nominam ecletismo.

Os relevos, geralmente oriundos do neoclássico e do art-deco, são figuras geométricas no interior dos frontões, sobre ou sob as janelas, portas, escadas, sacadas. Dificilmente encontramos representações mais complexas como guirlandas, figuras humanas, animais, próprias do barroco e do rococó. É nos acabamentos onde a reprodução de desenhos mais sinuosos, far-se-á mais intensa.

Será nos gradis de sacadas, escadas, janelas, terraços que o “estilo” se fará mais presente. Os frontões, os acabamentos de telhados, as cumeeiras, as água furtadas, os parapeitos de sacadas e as platibandas, os alpendres terão os efeitos de “estilo urbano” para distanciar o “estilo rural”. Além dos relevos e adereços, as casas urbanas serão sempre tratadas com argamassas e pinturas. Muito dificilmente os materiais no seu estado natural terão destaque nestas casas.

Para melhor organizar a exposição, hierarquizamos o conjunto pesquisado em grupos, cujo critério menos complicado para entendimento foi o do volume do imóvel, ou seja, agrupamos casas urbanas em “Palacetes” , “Grande Porte“ , “Função Mista“ , “Médio Porte“ e “Pequenas“.

Palacetes

Os palacetes blumenauenses, assim como em todos os outros lugares, situaram-se não muito longe do centro, em áreas de paisagem preservada e de fácil acesso ao núcleo central. Em Blumenau eles ainda hoje estão no bairro Bom Retiro, Jardim Blumenau, Vila Formosa, Victor Konder, alguns no atual centro urbano onde a grande maioria foi demolida.

Estes edifícios, de desenho muito particular, diferem das residências de grande porte nos seguintes itens: são casas maiores, são casas não apenas para residência, mas de representação social. Os palacetes mais importantes, no que se refere à arquitetura estão no bairro Bom Retiro. Em decorrência da boa qualidade destes edifícios, eles hoje, estão adequadamente preservados, servindo as funções pelas quais foram originalmente construídos. Existe ainda um bom número destas casas.

A casa Prayon (foto 2), tem as paredes externas facetadas, proporcionado ao volume uma multivariedade de formas que se conclui com sacadas, varandas, janelas, portas, alpendres, saliências e recuos sob um telhado de várias águas, decorrente destes recortes. Existem dois palacetes, com estas características, no bairro Bom Retiro, este da foto, localizado na rua Mal. Floriano Peixoto 555 que foi construído em 19l7. E o que está localizado na rua Hermann Hering número 247 (foto 3), não longe da casa Prayon. Foi construído em 1932.

O palacete (foto 4) localizado na rua Hermann Hering 151 (construído em 1917) de conotação arquitetônica eclética lembra, em momentos do projeto, o barroco que se desenvolveu na Alemanha. Entretanto, ao contrário do que aconteceu naquele país, onde os interiores destes palácios são ostensivamente ornamentados, este aqui é monacal. Os interiores são compostos com móveis de boa qualidade, mas apenas os essenciais. Os objetos decorativos são sóbrios e não são muitos. É interessante registrar a paisagem e os jardins de boa qualidade que emolduram esta casa e a acima citada, localizada na rua Mal. Floriano Peixoto. Não vamos descrevê-los um a um mas vamos mostrá-los na galeria de fotografias.

Neste palacete, a chamada visual de maior impacto é a torre encimada por cobertura metálica. Esta torre é a única e vaga relação com o barroco. Única e vaga porque a arquitetura barroca utilizou torres com muita ênfase, mas jamais de maneira imprópria. Neste palacete a torre é um adereço. No barroco as torres, geralmente, abrigam a escada ou servem de chaminés de aeração, ou até mesmo como neste caso em que atuam como extensão da sala mas compondo com a totalidade da planta e das elevações.

De qualquer forma, o palacete guarda sua importância no cenário arquitetônico local, constituindo-se em referência tipológica. A construção tem elementos marcantes do ponto de vista volumétrico e plástico. As duas torres frontais compõem com o volume que encerra o pórtico de acesso e a varanda que o encima. A diversidade formal de todos os elementos que estão compondo a fachada, caracterizam a linguagem do imóvel.

O palacete das fotos 5 e 6 é uma construção de composição mais severa cuja relação com o barroco inexiste. Pode-se dizer que é desenho em fase de transição do final do período neoclássico.

É interessante registrar que o barroco, no Brasil, nunca foi largamente utilizado na construção de casas urbanas. Palácios oficiais e igrejas foram os edifícios onde mais aparece o estilo.

Residências de grande porte

São construções de desenho particular (foto 7e 8), sem acompanhar com fidelidade os estilos definidos pela história. Elas não apresentam evidências dos estilos barroco, rococó ou neoclássico ou outros estilos na totalidade do projeto, apenas aportes formais de um e de outro estilo. Estas casas, conforme nossa metodologia de pesquisa, são grandes no que concerne o volume e, grandes nos seus espaços interiores.

Estas construções dispõem em seu interior, grandes espaços em quase todos os ambientes e, não raro, em todos os ambientes. As salas, estares, cozinhas, dormitórios e banheiros são amplos, bem ventilados e iluminados, geralmente adornados com móveis de estilo, de boa qualidade, com madeiras e/ou pedras nobres. As cozinhas e banheiros, na maioria dos exemplares, dispõem de instalações importadas, inexistentes no mercado na época da construção, como tubulações especiais, aquecedores, fogões, banheiras, equipamento sanitário e revestimentos.

Os acabamentos, tanto no interior como no exterior da casa, a maioria ainda preservados, embora substituídos em algumas partes, apresentam materiais e desenhos exclusivos. Estes desenhos podem ter sido copiados, assim como muitos dos projetos destas residências, mas considerando as adaptações e adequações, tornaram-se quase singulares. A diversidade de desenhos é muito grande e acredita-se que marceneiros, ferreiros, vidraceiros tenham remoldado os projetos importados.

O projeto da casa de dois pavimentos, às vezes em três pavimentos, abriga serviços, depósito no térreo e muito raramente a cozinha. Esta última, geralmente está no primeiro pavimento junto com a sala de refeições e os estares que poderiam ser dois ou três, divididos ou não por paredes. A escada de acesso ao pavimento superior ficava sempre próxima da cozinha. Este espaço da escada era um divisor de ambientes entre cozinha e os estares e sala de refeições. Em alguns casos, quando a planta baixa é retangular, com a cozinha no fundo e salas na frente, a escada fica na distância intermediária deste corredor. Quando a planta baixa é quadrada ou retangular mas a face maior para a testada do terreno a escada pode ficar na sala ou dividindo ambientes entre os estares.

Esta descrição não sintetiza a variedade de plantas existentes mas normalmente é o padrão encontrado.

O último pavimento abriga os dormitórios, eventualmente uma pequena sala de estar, ou, um pequeno cubículo para depósito e roupas, cobertores ou outros materiais. Os quartos são amplos assim como o banheiro, bem ventilados, bem iluminados.

Existem exemplares que dispõem de pelo menos um quarto no andar destinado aos estares. Nos casos em que não existe o terceiro pavimento, apenas o sótão, os dormitórios se arranjam no mesmo piso do estar. Neste caso o estar é apenas um, às vezes jantar/estar num mesmo espaço. A escada de acesso ao sótão próxima da cozinha.

As residências de grande porte e, mesmo as outras, localizadas nas proximidades dos palacetes aqui citados, constroem ou preservam a paisagem e o jardim de maneira a usufruir de um mesmo status social.

É ainda comum encontrar no interior destas casas, em quase todas relatadas neste texto, objetos e documentos que lembrem a terra de origem dos ancestrais. Fotografias, discos, livros e objetos de uso domiciliar como gramofone, piano, máquina de costurar, objetos para uso na cozinha.

Residências de médio porte

As casas de médio porte (foto 9), na sua essência de funcionalidade interna, não diferem fundamentalmente das de grande porte, elas são, ao contrário, muito semelhantes, embora o tamanho seja menor. Nestas casas, algumas com porão, têm os estares, cozinha, copa e despensa num mesmo pavimento e os dormitórios no andar superior. Aquelas casas que ainda dispõem de sótão, distribuem aqui quartos pequenos e guarda roupas/objetos.

Pode-se dizer que estas casas reproduzem o “estilo” das residências de grande porte, inclusive com mobiliário de boa qualidade e alguns equipamentos importados. Os jardins são menores mas também procuram reproduzir a suntuosidade dos jardins maiores, observados nos palacetes e em residências maiores.

Função mista

Estas casas estão sempre relacionadas com a atividade comercial (foto 10) e estão sempre em lugar de destaque na planta urbana, ou seja, no centro ou na imediação próxima. Em Blumenau estas casas estão na ruas XV de Novembro, São Paulo, 7 de Setembro e transversais. Em outros lugares, estas casas estão sempre na rua comercial principal, como Felipe Schmitt e Conselheiro Mafra em Florianópolis, Consul Carlos Renaux em Brusque, Max Colin, rua do Príncipe em Joinville.

Foram construções de boa qualidade tectônica e ainda o são, muitas delas, depois de quase cem anos ainda servindo a função original, a comercial. A outrora acomodação residencial no segundo pavimento substituiu, presentemente, os espaços para escritório ou mesmo expansão das atividades comerciais do andar térreo. Não foram todos os imóveis que abrigaram residência no segundo pavimento mas uma grande maioria.

A construção destas casas estava relacionada com a importância comercial que o proprietário desejava representar na comunidade. Os proprietários mais abastados ergueram construções maiores, com acabamentos de melhor qualidade, os mais modestos construções mais simples, entretanto, o gabarito de altura na rua comercial principal da cidade, a rua XV de novembro, nunca foi superior a dois pavimentos mais sótão, pelos menos até a década de 50 do século XX.

A variedade formal destas casas, tanto no que concerne a planta baixa como as elevações, é muito grande. Mesmo o gabarito de altura, definido igual e exigido em outras cidades, aqui não foi observado. As construções, sem nenhuma norma de regularidade formal, compuseram cenários muito pitorescos ao longo das ruas comerciais das cidades. Em acordo com a origem pátria do proprietário, as casas ora denotam características da arquitetura alemã, ora da arquitetura açoriana, ora da italiana. Nenhuma entretanto em reprodução pura, sempre com adaptações exigidas pela função ou pelo ambiente natural.

Na publicação de memórias, nos acervos particulares não é difícil encontrar declarações do proprietário do imóvel fazendo referências ao histórico da casa.

Nestes relatos, os proprietários enfatizam o desejo de fazer da sua casa, uma lembrança, uma referência, de suas infâncias, da pátria de outrora, da casa paterna. Muitos deles importaram materiais e equipamentos ainda hoje presentes nestas residências. Outros, raros, importaram todo o material de construção do país natal, seja por facilidades do ramo de negócios, seja por puro sentimento de nostalgia.

Residências pequenas

É a maioria das casas de habitação e, com toda evidência, se espalham por toda área urbana e rural do município e também da região.

São residências singelas (fotos 11, 12 e 13), entretanto, a grande maioria delas construídas com certo apuro formal o que deixa de acontecer a partir dos anos sessenta quando a mediocridade arquitetônica se estabelece, infelizmente, no país. Para fazer frente ao grande déficit de habitações existente o governo criou, em 1964, o Banco Nacional de Habitação. Com o pretexto de resolver o problema do déficit habitacional, o governo, através da caixa econômica financiou uma grande massa de projetos de má qualidade, contribuindo desta forma para piorar o quadro da arquitetura popular no país. Isto teve reflexos instantâneos na região. As residências de pequeno porte sendo construídas por famílias de renda média, no período anterior a 1950, período de nossa pesquisa, não encontraram ressonância no período posterior, ou seja a partir da década de 60 até nossos dias. Enquanto as do período anterior a 1950 tiveram melhor qualidade funcional e de materiais assim como uma melhor qualidade formal, as do período posterior, da década de 60,em diante, nada tem a oferecer senão o medíocre.

As residências pequenas, anteriores a década de 60 apresentam diversidades no desenho da planta mas quase todas guardam pontos comuns, e comuns pela própria funcionalidade da vida doméstica. Queremos dizer que a organização do andar térreo permanece em função do acesso principal, salas e estares, e da cozinha com os serviços copa e despensa mais os ambientes de higiene e depósito de mantimentos. No andar superior, quando existe, estão os dormitórios. Quando a casa se desenvolve apenas em um pavimento, as salas de estar e quartos ficam na parte frontal da casa e os serviços de cozinha e higiene na parte dos fundos.

Ao contrário do que acontece com a maioria das casas urbanas (no Rio, São Paulo, Florianópolis), do inicio do século até mais ou menos a década de cinqüenta, onde a planta é retangular, e os cômodos se desenvolvem lado a lado, articulados por um corredor central ou, cômodos alinhados ao longo de um corredor lateral aqui, não ocorre. O desenho da planta é mais próximo de uma figura quadrada do que de uma retangular. Duas ou três salas na parte da frente, o mesmo acontecendo na parte posterior. Na parte da frente salas e quartos, na parte dos fundos cozinha, copa e banheiro. Até a década de trinta, mais ou menos, os banheiros eram alojados em edículas no fundo do quintal. Somente nesta década é que os banheiros passaram a integrar o corpo da residência principal.

Se o imóvel tem dois pavimentos, as salas, estares e cozinha são arranjados no pavimento térreo, sempre a cozinha ficando na parte posterior do imóvel e os quartos no andar superior. Estes tipos de arranjo são significativamente notados nas casas enxaimel que não estamos analisando neste texto (veja enxaimel), portanto de origem germânica e que se transferem para os outros imóveis. Esta transferência é a adaptação de um modo de vida muito mais do que exigências de desenho, ou acomodação dos desenhistas ou escritórios de engenharia.

Num bom número de residências, existe uma varanda frontal ou lateral, geralmente aberta, poucas vezes fechada com vidraças. Estas varandas servem para proteger o acesso principal a residência mas servem essencialmente ao relaxar de fim de tarde da família ou a exposição ao sol no inverno na parte da manhã . Também encontrado com muita freqüência, o terraço no andar superior de vista para a frente, sem cobertura;terraço construído sobre o pórtico de entrada.

Todas as residências aqui relatadas, as tipologias apresentadas, alinharam-se sem preconceitos. Casas pequenas, vizinhas a residências de grande porte e, mesmo, lado a lado, na rua comercial principal, dividiram espaço com as casas maiores, dispondo também de comércio e residência.

Adereços internos

Em muitas residências, independente do tamanho, pode-se encontrar frisas pintadas a partir de um molde. O tema das frisas varia entre, desenhos geométricos, animais, guirlandas. Colocadas, geralmente no alto, a poucos centímetros do forro. É também possível encontrar estas frisas nas extremidades do forro, compondo com as frisas de parede.

Os trabalhos de marchetaria foram muito raros, hoje praticamente inexistentes, assim como o trabalho de talha na madeira se restringiram a alguns corrimões, almofadas de portas e mais raramente de janelas. Trabalhos de talha em pedra são praticamente inexistentes, tanto para acabamentos internos como para alvenaria de vedação. No conjunto dos espaços construídos pode-se dizer, os ambientes internos foram quase sempre bastante monacais, com exceções raras.

sobre o autor

Vilmar Vidor é professor no Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIVALI, Bal.Camboriu SC, doutor em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Paris, Sorbonne.

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