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architexts ISSN 1809-6298


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Passados quase 15 anos da introdução da informática na arquitetura brasileira é possível, hoje, fazer uma reflexão mais madura sobre o papel das representações eletrônicas no desenvolvimento de projetos arquitetônicos


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ROZESTRATEN, Artur Simões. Modelagem manual como instrumento de projeto. Arquitextos, São Paulo, ano 05, n. 049.04, Vitruvius, jun. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.049/576>.

Passados quase quinze anos da introdução da informática na arquitetura brasileira é possível, hoje, fazer uma reflexão mais madura sobre o papel das representações eletrônicas no desenvolvimento de projetos arquitetônicos.

Ao longo destes anos, a prática cotidiana do projeto auxiliado por computador permitiu um conhecimento mais realista de suas possibilidades, e também de suas limitações.

Se no início dos anos 90 o debate sobre o tema articulava-se entre posições extremas – contestação e recusa, de um lado, e aceitação e apologia, de outro – atualmente os debates convergem para a configuração de relações complementares entre o desenho feito à mão, a representação eletrônica e a modelagem manual.

Interessa aqui explorar o aspecto específico da representação tridimensional da arquitetura e comparar, suas características e possibilidades, nos meios eletrônicos e nos meios manuais.

Para tanto é interessante apresentar uma noção básica da modelagem na arquitetura.

O termo modelagem é dúbio. Tanto pode ser uma operação de representação da forma tridimensional no plano (como um desenho em perspectiva, por exemplo), quanto pode ser uma composição tridimensional no espaço (1). Ou seja, a representação de uma arquitetura numa superfície plana (numa folha ou numa tela) por meio de recursos artísticos de perspectiva é modelagem. Assim como também é modelagem a construção de uma maquete de arquitetura. No senso comum, no entanto, predomina em português a noção de que a modelagem é uma ação formativa essencialmente material e tridimensional.

Nos softwares 3D o termo inglês modelling coloca-se com a mesma ambigüidade. Na tela do computador ou em uma impressão o 3D modelling é sempre uma representação plana de formas tridimensionais. Mas em saídas tipo CAM (Computer Aided Modelling) a modelagem eletrônica gera de fato um objeto tridimensional.

A rigor, o termo em português “maquete eletrônica” se aplicaria somente a este objeto tridimensional gerado por um sistema tipo CAM. No entanto, o comum é designar como “maquete eletrônica” a perspectiva projetada na tela do computador ou impressa numa prancha.

Há aqui uma confusão conceitual que aparentemente tem origem numa questão de tradução.

Em inglês, o termo model denomina tanto modelos planos quanto maquetes. Ou seja, o termo 3D model – que se traduz como modelo tridimensional – não se refere necessariamente a uma maquete, pode se referir a uma perspectiva. E é este exatamente o ponto. Em português, o termo modelo tridimensional ou maquete nunca se confunde com um desenho em perspectiva. Uma maquete é sempre tridimensional.

Se os sistemas de modelagem tipo CAM ainda não são comuns, nem nas faculdades e nem nos escritórios de arquitetura, então o termo “maquete eletrônica” é usado de forma equivocada para designar imagens ou representações bidimensionais que são essencialmente perspectivas (isoladas ou seqüenciadas num filme). Afinal, sem o sistema CAM não há como “dar saída” a uma representação eletrônica tridimensional. Ou seja, mesmo que o arquivo possua informações tridimensionais (largura, altura e profundidade) para cada ponto do desenho, não há como materializá-las no espaço real.

Na prática do ensino e da atividade profissional dos arquitetos no Brasil a informática ainda está longe de resolver a questão da representação tridimensional da arquitetura.

É exatamente a partir desta constatação que se faz necessária uma revisão do papel da modelagem material manual no processo de projeto arquitetônico contemporâneo.

Os gregos usavam o termo eido-poiéo para designar o ato de modelar (2).

Este termo é composto por duas palavras.

Eido(s) tem o sentido de forma. E designa tanto às formas abstratas – “a forma de uma coisa no espírito” – quanto às formas materiais. Entre o material e o abstrato, eidos designa a forma exterior de um corpo em particular, perceptível pelos sentidos, e também a forma inteligível, a idéia, o conceito, ou a noção de corpo em um sentido universal. O sentido de forma, na acepção grega, articulava-se então entre esses extremos: o universo material e o abstrato, o mundo sensível e o inteligível, o aspecto particular e o universal. De eidos derivam, por exemplo, idéia e ideograma. 

Já poiéo designa a atividade formativa em um sentido amplo: fazer, construir, confeccionar, compor, inventar, criar, etc. Poiéo articula o universo abstrato da imaginação ao mundo físico da matéria. É o movimento criador, a ação construtiva artística sobre os materiais. Vale lembrar que o termo poiéo, poiesis originou poesia, poética e poema.

O sentido do termo integrado eido-poiéo pode ser aproximado então como “criação da forma”, “ação formativa”, “formatividade” (3), etc.

A modelagem manual, entendida como eido-poiéo, distingue-se nitidamente do model-making convencional - entendido como a simples “confecção de maquetes” – pois este último, em geral, visa apenas um produto final “de apresentação” de um projeto já pronto que, quase sem exceção, foi desenvolvido exclusivamente por meio de desenhos.

Uma das características da modelagem aqui proposta como eido-poiéo é sua integração no processo projetual desde os primeiros momentos. Integração esta articulada ao desenho feito à mão e às representações eletrônicas, de maneira a constituir um espaço de experimentação tridimensional que permita constantes alterações, interferências e revisões de projeto. Esta modelagem investigativa produz modelos provisórios, efêmeros, transitórios, que podem ser feitos com materiais de ocasião diversos, integrados num processo relativamente grosseiro, sem detalhes e sem acabamento, como esboços tridimensionais de uma “forma em construção”. 

Ao longo da história da arquitetura, na produção arquitetônica que pretendia ultrapassar estilos, modismos e modelos prévios em prol de novas soluções espaciais e construtivas, a modelagem tridimensional como eido-poiéosempre esteve integrada como um recurso indispensável de projeto.

Há diversos exemplos deste uso criativo da modelagem desde a Antigüidade romana (4), passando por Brunelleschi (séc. XV), Michelangelo (séc. XVI), El Lissitsky, Gerrit Rietveld e Moholy-Nagy nos anos 20, Buckminster Fuller, o grupo Archigram e Constant Nieuwenhuis entre os anos 50 e 70, e, mais recentemente, como pôde ser visto na última Bienal de Arquitetura em São Paulo, Enric Miralles e Christian de Portzamparc.

Cabe salientar que, mesmo num futuro próximo, a eventual vulgarização de sistemas CAM não substituirá em absoluto a modelagem manual. Afinal são modelagens complementares, cada qual com suas características, possibilidades e limites. O sistema CAM pode ser mais preciso e  mais veloz, mas é também mais caro, fechado (não permite alterações entre o envio do arquivo e a finalização da modelagem) e restrito (a um pequeno grupo de materiais que podem ser adaptados a seu sistema de modelagem).

Não há dúvida de que a modelagem tridimensional é o único meio de representação que compartilha as qualidades inerentes e indissociáveis da arquitetura (materialidade, espacialidade e processo construtivo). E foi justamente a partir de um certo consenso quanto à importância da tridimensionalidade na representação da arquitetura que a super-valorização dos recursos eletrônicos eclipsou, nos últimos anos, a modelagem manual. Como visto aqui, na prática, os recursos eletrônicos 3D não resolveram – e a princípio não resolverão sozinhos – a questão da representação tridimensional.

Hoje, a crítica aos limites da informática abre espaço para a pesquisa de relações complementares entre o desenho manual, as representações eletrônicas e a modelagem. Estas pesquisas, cada vez mais, reconhecem na “velha” modelagem manual uma experiência construtiva real, seqüencial e multisensorial que, mais do que um simples recurso de representação, pode se constituir em um processo investigativo de conhecimento e criação da arquitetura.

notas

1
HOUAISS,A. e VILLAR, M. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

2
BAILLY, A. Abrégé du Dictionnaire Grec-Français. Paris: Hachette, 1901.

3
O conceito de formatividade proposto por Luigy Pareyson – um certo modo de “fazer” que, enquanto faz, vai inventando o “modo” de fazer: produção que é, ao mesmo tempo e indissoluvelmente, invenção – aproxima-se da noção de modelagem como eido-poiéo aqui apresentada. PAREYSON, L. Teoria da formatividade. Rio de Janeiro: Vozes, 1993.

4
ROZESTRATEN, A. Estudo sobre a história dos modelos arquitetônicos na antigüidade: origens e características das primeiras maquetes de arquiteto. Dissertação de mestrado, FAUUSP, São Paulo, 2003.

sobre o autor

Artur Rozestraten é arquiteto e urbanista, doutorando na FAUUSP com pesquisa sobre as relações entre o projeto de arquitetura e a modelagem tridimensional.

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