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architexts ISSN 1809-6298


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Neste artigo são apresentadas algumas das características da atual arquitetura residencial do Japão, que refletem a adaptação desta cultura às realidades contemporâneas e a manutenção de suas tradições históricas


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MASSAD, Fredy; GUERRERO YESTE, Alicia. Viver no Japão. Arquitextos, São Paulo, ano 06, n. 072.07, Vitruvius, maio 2006 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.072/357>.

Junichiro Tanizaki começava O Elogio da Sombra, escrito em princípios dos anos trinta, advertindo das dificuldades com que qualquer chefe de família urbana toparia quando se tenta harmonizar a incorporação de ‘novidades’ como a eletricidade, o telefone, o gás ou as instalações sanitárias com o mais puro estilo doméstico japonês. Recém acabadas as reformas para uma habitação própria, Tanizaki se concentrava em explicar ao leitor de seu ensaio o esmero com que procurou dotar seu novo retrete da sofisticação que levava a extremos quase poéticos a esta estância segundo sua tradição, conhecedor da perplexidade que causaria em um leitor ocidental atribuir semelhante refinamento a essa peça e de como este era um exemplo para fazer patentes as diferenças essenciais entre a mentalidade ocidental e japonesa a propósito do conceito de casa.

Concebida como uma entidade efêmera capaz de adaptar-se com uma flexibilidade total às necessidades de seus ocupantes tanto quanto estes são capazes de adaptar-se a seu pequeno tamanho, a casa japonesa atual é um reflexo da adaptação desta cultura às realidades contemporâneas e da manutenção de suas tradições históricas.

Tal como assinala Naomi Pollock, autora do livro Modern Japanese House (Phaidon, 2005), a especial idiossincrasia japonesa com respeito ao doméstico tanto a nível conceitual como material é o principal fator para explicar a proliferação de projetos nos quais os arquitetos locais não temem levar adiante consideráveis traços criativos e técnicos já que, pelas condições do negócio da construção no país, encontram ótimas condições a seu favor para experimentar quando recebem o encargo de um cliente – algo que não ocorre constantemente, dada a grande popularidade comercial das habitações pré-fabricadas reproduzindo modelos de casa suburbana norte-americana ou de casa inglesa com jardim.

Que a vida média de uma casa nipônica seja de uns vinte anos implica que nem se considere a possibilidade de estabelecer um vocabulário arquitetônico compartilhado homogeneizador entre as residências de uma mesma vizinhança, libera aos arquitetos à hora de desenhar e de experimentar tanto com formas como com materiais ligeiros tais como derivados plásticos, vidro ou alumínio, resistentes, facilmente recicláveis e que permitem a construção de estruturas mais dinâmicas: “As casas unifamiliares formam parte de um ciclo inesgotável de demolição e reconstrução – explica Pollock, cujo livro compila diferentes projetos construídos durante a última década no Japão. Colocam-se abaixo e se levantam praticamente de um dia para o outro. Destas circunstâncias se deriva um caos visual: como a casa do lado pode ser demolida inesperadamente, o arquiteto não se sente obrigado a estabelecer nenhum tipo de compromisso com o contexto. O próximo vizinho pode ser um edifício pouco agradável visualmente e, para defender-se disso, o arquiteto pode optar por ‘proteger’ seu edifício com um muro. Os postes da rede elétrica poderiam ser considerados os únicos elementos estáveis dentro da paisagem de uma zona residencial”.

Pode se ler, através dos exercícios arquitetônicos atuais mais arriscados no território doméstico da arquitetura japonesa contemporânea, como a assimilação de técnicas e processos construtivos válidos à escala global oferece respostas perfeitamente adequadas para o tratamento de questões locais tão específicas como são as inerentes à relação física e psicológica de cada individuo com seu habitar, operando desde o manejo conceitual de seu significado – não desde um ponto de vista mimético do tradicional, mas desde a mesma essência do processo criativo e do atemporal e “pertinaz afinco dos conceitos domésticos”, em palavras de Pollock, que toca na psique de cada cultura.

Não deve obviar-se a influência que os mestres da modernidade tiveram sobre os arquitetos japoneses e a inspiração que, reciprocamente, a tradição japonesa exerceu sobre conceitos fundamentais da arquitetura moderna. No entanto, para os japoneses, o paradigma de casa não guarda relação com as noções de solidez e de estabilidade – física e simbólica – ocidentais, evidência de uma sensibilidade distinta na que prima o nível de conforto espiritual que um espaço doméstico, por mais reduzido que seja, brinda aos seus inquilinos antes que a quantidade de lugar disponível para armazenar pertencentes. O orgulho de possessão de um lar não se funda na aparência externa da estrutura mas no sentimento de possessão de um espaço privado que é intensamente compartido por todos os membros da família, um aspecto que quase se radicaliza na austeridade ascética do puríssimo bloco branco de Kazuyo Sejima, uma arquiteta que trabalha desde a consciência que “a arquitetura gera espaços para que habitem o corpo e a mente das pessoas”, se oculta um complexo trabalho de desenho para lograr a distribuição de vinte e duas estâncias confortáveis bem dotadas de iluminação natural.

Orquestrar um espaço onde articular a presença de crenças espirituais ancestrais, como a que demanda a presença do exterior vinculada ao interior, com as necessidades pragmáticas cotidianas. O arquiteto japonês contemporâneo adota soluções práticas derivadas de modelos domésticos antigos, tais como as casas rurais ou as casas de mercadores urbanos para construir jardins interiores. Ou para hibridar o lugar de trabalho com o espaço do lar, preservando o privado do público. Exemplos interessantes de exploração do potencial criativo que pode suscitar uma casa destas condições são a esbelta edificação de vários andares em cuja planta baixa se encontra um estabelecimento de venda de verduras, projetada por Yoko Inoue, e a inquietante e perfeitamente simétrica habitação-estúdio para um artista de ikebana, de Hiroshi Nakao e Hiroko Serizawa.

Estas casas surgem como quase excepcionais propostas modelos de arquitetura doméstica que fazem patente como o aprofundamento do arquiteto na busca de formas de propor e repropor o desenho espacial, o manejo da luz e os contrastes desde a simbiose de tradição e atualidade na forma dos usos domésticos autóctonos e a aplicação da tecnologia construtiva avançada continuam permitindo o desenvolvimento sensível da dimensão humana do ato de habitar. E demonstrando a necessidade que o arquiteto se encontre imerso e compreenda até o último detalhe medular o fato de viver em um lugar e mantenha sua essência.

notas

[Clique aqui para ver as fotos maiores]

1
Artigo publicado em ABCD las Artes e las Letras em 10 de dezembro de 2005.

[tradução Ivana Barossi Garcia]

sobre os autores

Fredy Massad e Alicia Guerrero Yeste, titulares do escritório ¿btbW, são autores do livro “Enric Miralles: Metamorfosi do paesaggio”, editora Testo & Immagine, 2004.

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