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architexts ISSN 1809-6298


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português
O presente artigo é um ensaio que apresenta e analisa formalmente a Estação Cabo Branco, projeto do Arquiteto Oscar Niemeyer, localizado no ponto mais oriental das Américas, na cidade de João Pessoa, PB

english
This is an essay about the project Estação Cabo Branco, by architect Oscar Niemeyer, located in the most eastern spot in the American continent, in João Pessoa

español
El artículo es un ensayo que presenta la Estação Cabo Branco, proyecto de Oscar Niemeyer en el punto más oriental de las Américas, en la ciudad de João Pessoa- PB


how to quote

CORDEIRO, Aristóteles Lobo de Magalhães; IRELAND, Mariama da Costa . Um projeto de Niemeyer marca o ponto mais oriental das Américas. Arquitextos, São Paulo, ano 10, n. 111.07, Vitruvius, ago. 2009 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.111/38>.

Inaugurada em julho de 2008, a Estação Cabo Branco Ciência, Cultura e Arte, obra do arquiteto Oscar Niemeyer, é a mais recente atração turística da cidade de João Pessoa, na Paraíba, e vem se transformando em um local de lazer para a sua população.

Localizada sobre a falésia da ponta do Cabo Branco, o ponto mais oriental das Américas, a Estação compreende cinco edificações dispostas em uma área de 8.571 m2 construídas em aproximadamente onze meses através de investimento de R$ 33,5 milhões, financiados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.

A força simbólica e a beleza do conjunto arquitetônico têm contribuído efetivamente para que a Estação Cabo Branco tenha sido adotada pela população pessoense, não apenas pelos benefícios em dispor de novas edificações para abrigar eventos educativos e culturais, mas sim pelo orgulho de ter na cidade um espaço tão arrojado, belo, instigante, e moderno como esse.

Desde sua abertura vem recebendo um número expressivo de visitantes que, em sua maioria, estão ali para interagir com as edificações, verdadeiras obras de arte, e desfrutar do panorama paisagístico que se vislumbra do mirante, já que a Prefeitura Municipal ainda não conseguiu uma programação de eventos que utilize plenamente a Estação Cabo Branco, com apresentações de música, dança, teatro e exposições.

Tem sido, portanto, as qualidades arquitetônicas do conjunto, o grande atrativo da Estação. Estas qualidades se manifestam, em um primeiro momento no impacto visual causado pela expressividade das formas arquitetônicas e, em uma etapa posterior pela seqüência de perspectivas que são descortinadas ao se percorrer as diferentes edificações da Estação, culminando com a vista panorâmica do mirante. É um dos exemplos que justificam o aforismo “a arquitetura faz o lugar”.

São cinco edificações: a torre/ mirante, o auditório, o anfiteatro aberto, a loja e lanchonete, e o bloco de serviços gerais.

O partido é muito simples e tem sido utilizado em outros projetos de Niemeyer como, por exemplo, o Memorial da América Latina em São Paulo e, mais recentemente o Parque Dona Lindu em Recife. Uma esplanada onde são lançadas as edificações em uma ordem hierárquica revelada muito mais pela imponência e expressividade arquitetônica de cada uma delas, do que por sua posição no conjunto.

A torre/mirante

A edificação mais importante é a torre/mirante, que abriga espaços de exposições em dois pavimentos, um mirante com restaurante/bar e salas de conferencias alem de um núcleo central com elevadores, banheiros e escada. Tudo isto em um tronco de cilindro de base octogonal inscrita em uma circunferência de 46 m de diâmetro e uma altura equivalente a três pavimentos, com as faces revestidas de vidro negro e apoiado sobre um único cilindro central branco, com 15 metros de diâmetro e que imerge de um espelho d’água.

Funcionando como capitel deste pilar, e com a função transmitir as cargas em balanço para o cilindro central, Niemeyer utiliza uma forma que se assemelha a um tronco de pirâmide invertido, mas com a utilização de uma superfície complexa que faz a transição entre o octógono do corpo principal da edificação e a circunferência do cilindro central de apoio.

A combinação destas formas e o efeito claro-escuro obtido entre a cor negra do vidro espelhado do corpo da edificação e o branco opaco da base, duplicadas através do reflexo do espelho d´água, resultam em uma edificação imponente e de presença marcante e que, ao mesmo tempo, parece flutuar tal a leveza da solução formal. Como se isto não fosse o bastante, Niemeyer projeta uma rampa circular externa de acesso, em balanço, de cor branca e com um percurso de duas voltas completas em torno de um cilindro central de apoio, o que acrescenta mais beleza e complexidade formal a edificação.

O revestimento de vidro negro reflete também os tons do pôr-do-sol fazendo com que a torre mirante se torne púrpura ao cair da tarde. O reflexo da rampa helicoidal neste cilindro negro, assim como o das pessoas que a utilizam, surge como uma agradável surpresa, quase lúdica, dada a complexidade formal das imagens refletidas. Além disto, a rampa oferece uma visão panorâmica da Estação que vai se revelando à medida que ela é percorrida.

A utilização de pés-direitos diferenciados nos pavimentos atendidos pela rampa helicoidal é o recurso utilizado pelo arquiteto para garantir a fluidez e a continuidade formal das duas voltas da rampa helicoidal, incorporando um acesso intermediário para a torre.

Na cobertura encontra-se um mirante com visão panorâmica de 360 graus, com instalações para um bar/café, e que oferece uma vista do litoral pessoense com o perfil característico de suas edificações.

O auditório

O auditório, a outra edificação importante da Estação Cabo Branco está localizado em posição simétrica a da torre mirante em relação à entrada principal. Se a posição do auditório sugere uma equivalência funcional entre as duas edificações, sua forma menos exuberante indica a sua posição hierárquica no conjunto.

É o auditório que recebe duas obras de artes plásticas, uma das características da arquitetura moderna brasileira e particularmente da obra de Niemeyer, a de incluir obras de outras expressões artísticas nos projetos visando uma integração com a arquitetura. Uma tradição que tem a sua origem no projeto do Ministério da Educação e Saúde – MESP, inaugurado em 1945 no Rio de Janeiro.

Do lado externo e em uma fachada cega voltada para a testada principal da Estação Cabo Branco, foram apostos como em um mural, uma reprodução da xilogravura “cavalo marinho” do artista paraibano José Costa Leite sobre um fundo pintado de amarelo. Nascido em Sapé é mais conhecido por sua rica literatura de cordel e, tendo uma técnica apurada e um estilo muito pessoal, ele se utiliza da xilogravura para ilustrar as capas dos seus folhetos.

Internamente, no hall de acesso, tem-se o mural “a pedra do reino” do artista plástico pessoense Flávio Tavares. Utilizando a técnica de pintura a óleo sobre tela, em um painel de 9 metros de comprimento por 3 metros de altura, o artista precisou dividir o trabalho em cinco blocos para realizá-lo. Representa a história e cultura paraibana, num mundo encantado e fantástico, fazendo homenagens a grandes nomes paraibanos como Ariano Suassuna, José Lins do Rego, Augusto dos Anjos, entre outros. A obra, encomendada especialmente para a Estação Cabo Branco, levou cerca de dois meses para ser concluída.

Segundo o autor, "Ela sai do histórico para a fantasia. É uma alegoria. Pega do Cabo Branco, que representa o paraíso, onde o sol nasce, até o Varadouro, que é a reunião das etnias".

Ainda na própria edificação do auditório e aproveitando o desnível do terreno, existem duas salas para convenções com 200 lugares e um conjunto de salas especiais para a formação artístico-cultural de alunos da rede pública.

O anfiteatro e a lanchonete

O anfiteatro tem como objetivo acomodar ações e eventos culturais e educacionais ao ar livre e tem capacidade para um público de 300 pessoas sentadas, podendo dobrar esse número com a ocupação das calçadas em volta. Dispõe de palco coberto, camarim e banheiros.

O edifício que abriga a lanchonete e loja se encontra ao lado do anfiteatro e é um das construções do complexo mais simples, servindo como apoio direto ao anfiteatro.

Este conjunto de edificações, resumido em apenas uma linha no croquis de Niemeyer, é muito discreto.  A sua presença é marcada pelas superfícies curvas das platibandas pintadas de branco que se destacam como faixas horizontais sobre a cor de fundo verde escuro.

O bloco de serviço

O bloco de serviço é a edificação mais simples do ponto de vista formal e a única que não apresenta superfícies curvas. Esta simplicidade volumétrica de um paralelepípedo, ainda que com proporções elegantes, revela quando se chega mais perto, a utilização de elementos vazados formando desenhos como um painel na fachada voltada para oeste. É uma clara referencia à arquitetura regional, pródiga na utilização deste recurso para melhorar a ventilação e amenizar a insolação, além de sua trama referenciar a renda renascença feita pelas mulheres no Cariri Paraibano.

A interferência visual da Estação na Paisagem

Desde o anuncio do projeto e ao longo da construção, levantou-se a possibilidade da Estação desfigurar o perfil característico da Ponta do Cabo Branco, um patrimônio paisagístico e ambiental da Paraíba. A preocupação era legítima e baseada na luta da sociedade civil de fazer respeitar as leis e impedir construções que desfigurem a paisagem natural.

Com a obra pronta é possível verificar que visualmente a interferência é mínima e isto se deve a duas medidas tomadas pelo arquiteto. A primeira é a utilização do vidro negro na edificação mais alta e visível, a torre/mirante, o que ajuda a fundir visualmente a edificação com a massa de vegetação circundante. A segunda medida foi fazer uma torre com altura mais baixa que a da massa de vegetação circundante de tal forma a não alterar o perfil característico da ponta do Cabo Branco.

Conclusões

A força simbólica da arquitetura de Niemeyer na Estação Cabo Branco marca definitivamente o ponto mais oriental das Américas com uma obra de arte.  Este que é um dos mais bonitos conjuntos de edificações da cidade pode vir a ser também um centro de difusão cultural e científica assim como um espaço de referência nas artes cênicas, da música, e da dança, ampliando as opções de lazer para a população de João Pessoa.

sobre os autores

Aristóteles L. M. Cordeiro é arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura da UFRJ, mestre e doutor em Engenharia de Produção pela UFPB, e professor de projeto no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba

Mariama Ireland é arquiteta autônoma formada pela Universidade Federal da Paraíba, e presta serviços na Coordenação de Projetos Especiais da Prefeitura Municipal de João Pessoa

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111.07
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