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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
O presente trabalho, em face de carência de abordagem em jornalismo especializado em arquitetura, busca traçar um panorama do jornalismo cultural especializado em arquitetura no Brasil

english
This paper, due to the lack of approach in journalism specialized in architectur,e seeks to outline an overview of the cultural journalism specialized in architecture in Brazil

español
Este trabajo, debido a la falta de enfoque en el periodismo especializado en arquitectura, intenta trazar un panorama del periodismo cultural especializado en la arquitectura de Brasil


how to quote

SOBRAL, Gustavo. Jornalismo, arquitetura e mercado editorial:. Quem faz e como faz jornalismo em arquitetura no Brasil. Arquitextos, São Paulo, ano 12, n. 134.01, Vitruvius, jul. 2011 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/12.134/3970>.

Jornalismo e arquitetura

O jornalismo especializado está dividido em grandes eixos já consagrados: cultura, política, economia, esporte, internacional. No entanto, apesar do número crescente e variado de títulos em jornalismo especializado à disposição do leitor, algumas dos temas abordados em determinadas áreas passam despercebidos pelos jornalistas e pelas faculdades de jornalismo. No jornalismo especializado em cultura, um dos temas esquecido, é o jornalismo em jornal e revista especializado em cultura dedicado a arquitetura e urbanismo.

Classificado como jornalismo cultural (1), o jornalismo em arquitetura apresenta-se em alguns jornais pelo víeis da crítica de arquitetura. A que apenas os grandes jornais em circulação dedicam atenção especial. Nos veículos de âmbito internacional, são exemplos de jornais que mantêm a crítica em arquitetura: o norte-americano The New York Times e o espanhol El País; no Brasil, a Folha de São Paulo conta com crítica semanal em arquitetura e urbanismo no caderno Ilustrada –  inclusive, os artigos, resenhas, entrevistas e comentários, do colunista responsável, Guilherme Wisnik, estão reunidos em livro (2) . No Estadão (jornal O Estado de São Paulo) o colunista Daniel Piza, crítico cultural, volta e meia, produz crítica em arquitetura na sua coluna semanal (3).  No Estadão se destaca também um suplemento dominical voltado para arquitetura e decoração, o Casa –  talvez o único no gênero em circulação no país,  o suplemento trata de arquitetura e decoração em reportagens, notícias, guia de produtos e serviços.

Outra forma em que se apresenta a arquitetura no jornal, é inserida nas demais áreas especializadas, que não a cultural. Manifesta-se não por meio da crítica, mas via notícia ou reportagem em que a arquitetura é coadjuvante. Notícia e reportagem, por exemplo, quando trata temas relacionados à cidade, seus monumentos, prédios públicos, patrimônio histórico. As revistas especializadas em cultura não elegem a arquitetura em seção fixa e permanente, quando tratam, é de forma esporádica, caso da revista Bravo!. A revista cultural Bravo! inclui esporadicamente no rol dos seus temas culturais (Literatura, Artes Plásticas, Cinema, Música, Teatro e Dança) a arquitetura. Na edição da revista de junho/2010 a arquitetura esteve presente. O jornalista, crítico de arte e curador Mario Gioia, abordou a arquitetura produzida pelos japoneses Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa ganhadores do prêmio internacional em arquitetura de maior relevância, o Prêmio Pritzker. O jornalista, apesar de fazer crítica de arquitetura nas páginas de Bravo!, segue alguns preceitos da revista, expostas no seu editorial (4), que é, sobretudo: a contextualização do tema, para facilitar a compreensão do leitor não versado.

Mario Gioia, portanto, começa por traçar o que chama dos extremos da arquitetura contemporânea. Numa margem,  a arquitetura espetacular dos grandes nomes internacionais e seus prédios faraônicos, como Museu Guggenheim em Bilbao de autoria do arquiteto Frank Gehry – outros arquitetos desta linha seriam Niemeyer, Calatrava Koolhass –;  na outra margem, a arquitetura que se ambienta, que se integra a paisagem, em que figuram os arquitetos japoneses em comento. Gioia para as suas ponderações recorre à autoridade de uma jornalista especializada em arquitetura, cita Livia Pedreira para justificar a existência da primeira vertente; e se vale das palavras do arquiteto e professor da Universidade de São Paulo Rodrigo Queiroz, para validar a importância da obra dos arquitetos japoneses. Explica que o Pritzker é “considerado o Nobel da área” e é “atribuído por uma comissão de arquitetos notáveis” e continua a tecer suas ponderações como base na cisão entre a arquitetura do “espetáculo” e a arquitetura do “ambiente”.

As revistas semanais de atualidades seguem o mesmo padrão da Bravo!, dedicam ocasionalmente espaço à arquitetura. A revista Veja, por exemplo, cede espaço para a arquitetura em suas páginas quando o assunto é arquitetura de grife ou a tradição histórica da arquitetura brasileira pelos seus grandes vultos – Niemeyer, Burle Marx etc. A Veja de 23 de junho de 2010, na seção que nomeou “arquitetura”, expõe, em reportagem dos jornalistas Marcelo Bortoloti e Silvia Rogar, o projeto do arquiteto espanhol Santiago Calatrava (incluído por Mario Gioia na matéria da Bravo!, no time dos arquitetos do “espetáculo”) de um edifício para abrigar o museu da ciência e da tecnologia no Rio de Janeiro. Os jornalistas também começam a matéria enfatizando o caráter da arquitetura de espetáculo produzida por Calatrava.

Após descrever a estrutura e os materiais a serem empregados na obra, seguiram com a reportagem com mais um reforço ao estilo da arquitetura do espetáculo de Calatrava, “os edifícios que levam a assinatura do espanhol têm em comum o fato de jamais se integrarem harmonicamente à paisagem”. E segue a reportagem relatando o processo criativo do arquiteto, seus demais projetos, sua aceitação internacional e, especificamente, o projeto do museu na cidade do Rio de Janeiro. As duas matérias tratam – uma, o jornalismo de revista especializado em cultura, caso da Bravo!, a outra, o jornalismo de variedades, caso da Veja – o tema da arquitetura de uma mesma maneira: de forma esporádica e contextualizada.

Há também no jornalismo em arquitetura, estas em profusão, revistas de cunho comercial voltadas exclusivamente para o tema arquitetura explorando a vertente arquitetura de interiores (ou ambientação), publicações que não se enquadram na compreensão clássica de jornalismo cultural voltado para crítica ou reportagem. Revistas que se detêm a matérias que abordam projetos arquitetônicos atuais, comentários de livros lançados no mercado, projetos de arquitetura de interiores e lançamentos do mercado imobiliário, em menor escala trajetória profissional do arquiteto – apenas quando é arquiteto de grife – e história da arquitetura.  Uma visita à banca de revistas e jornais mais próxima surpreende. Há uma seção dedicada totalmente ao tema. Lá estão: Casa Cláudia, Casa Cláudia Luxo, Arquitetura & Construção e Minha Casa – do grupo Abril –; Casa Vogue, Casa & Jardim, Casa & Construção, entre outras.

Casa Cláudia, uma publicação mensal da editora Abril que chegou ao mercado em 1977. Classificada como revista de decoração destinada ao público leigo, cujo anúncio publicitário explica: “revista que traz idéias criativas para os mais diversos ambientes e orçamentos. Decoração para a sua casa, novidades e dicas de compras e serviços que facilitam sua vida”; também da mesma editora e com a mesma proposta a revista Arquitetura & Construção, que segundo o anúncio é “a revista que dá idéias de projetos, preços e opções de materiais. Mostra as etapas da obra, a experiência de quem já construiu desde o tempo até os custos do projeto”, e na mesma esteira, a revista Minha Casa, também uma revista que “traz dicas de decoração, reforma e construção para quem busca idéias econômicas. São soluções práticas e bonitas para espaços compactos e a custos acessíveis”.

Diferencia-se das demais, a proposta editorial da Casa Cláudia Luxo – começa pela qualidade material, em papel couché 115 gramas, com 176 páginas, no formato 230x300 mm, com quatro edições por ano. Contempla design, decoração, arte e arquitetura. Sua linha editorial busca apresentar o que é exclusivo. A capa de duas edições por ano fica a cargo de um artista plástico. Na primeira edição de 2010, a capa é de autoria do artista plástico, grafiteiro e fotógrafo, Zezão, segundo a revista “com passagens por galerias e museus conceituados no Brasil e na Europa”; na revista um plus que a distancia das demais e a aproxima das revistas conceituais que discutem temas caros à arquitetura: é encartado um Caderno de Leitura, suplemento com reportagens de cunho mais reflexivo, que a aproximam do jornalismo cultural, como o visto na revista de Bravo! E na Veja.

Casa Vogue, do segmento das revistas Vogue, de circulação mensal, contempla decoração e arquitetura, segundo sua carta editorial: “é a grande referência em design e arquitetura. Há 35 anos encanta e inspira seus leitores amantes da arte, do luxo e do bem viver ao revelar tendências, mostrar ambientes atemporais e ditar moda”; Casa & Jardim, revista mensal da editora Globo, também voltada para decoração e arquitetura, no mesmo gênero dos seus pares, no anúncio, que não deixa a desejar a sua proposta, tão semelhante a das demais, é “uma revista para quem quer transformar sua casa em um lar de verdade. Todos os meses, os lançamentos e as tendências de decoração, design, arquitetura e paisagismo, com informações e soluções para cada ambiente”; e Casa & Construção, da editora Escala: “como alvo principal está o consumidor em busca de produtos, novidades, tendências, soluções criativas e econômicas, e do acesso aos profissionais e fornecedores nos bastidores desse universo”.

Outras publicações, também no esteio da arquitetura, já sinalizam outra tendência, como arquitetura tratada como design. Istoé Platinum, edição especial design, revista de publicação bimestral, edição agosto/setembro de 2009, compra esta proposta, a matéria de capa é “casas autorais”, na chamada (de capa): “ousadas, futuristas e espetaculares, eis as residências de tirar o fôlego assinadas por grandes arquitetos”. A carta de defesa da revista, assim expõe sua linha editorial: “apresenta os mais novos, raros e caros objetos de desejo. Mas não se trata apenas de consumo. ISTOÉ Platinum apresenta tecnologia, arte, cultura, turismo e moda de forma espontânea e agradável, sempre destacando o que há de mais atual, moderno e sofisticado em cada área, no Brasil e no mundo”.

Arquitetura associada a estilo de vida é a proposta da revista Modo de Vida, da editora JP, Joyce Pascowitch. No editorial da edição de março de 2010 (número 8), se adianta o tipo de conteúdo da revista:“(...) o apartamento repleto de minicoleções descoladas do paisagista Gilberto Elkis, o plano de pedir a ilustradores que retratassem as imagens literárias que mais os marcaram, a vontade de colocar seis das arquitetas mais importantes do país diante das lentes do fotógrafo André Schiliró, de apresentar aos leitores a casa e os jardins de Paula Bonomi e Paulo Pederneiras”.

Também o jornalismo em arquitetura chega ao mercado regional: a revista Formas – Arquitetura Potiguar e a revista Ambientes RN-PB, voltadas para a divulgação da produção local, sobretudo das capitais Natal, do Rio Grande do Norte, e João Pessoa, na Paraíba, sobretudo, de arquitetura de interiores (ambientação), e um pouco, muito pouco, de arquitetura predial; a internet, via blogs independentes (5) assume o papel de crítica, divulgação de tendências, projetos, eventos; e portais como o Vitruvius e o Arcoweb (6) que se destacam na seara acadêmica com artigos, ensaios, resenhas, notícias e divulgação do universo da academia. Também não se pode deixar de mencionar a profusão de revistas acadêmicas (7) dos cursos e departamentos de arquitetura e urbanismo das universidades brasileiras.

Jornalistas, arquitetos, autodidatas

Uma tendência da prática do jornalismo em arquitetura e a ausência de profissionais especializados, quando não arquiteto, o editor, publisher, crítico ou repórter, ou são amadores classificados na categoria “jornalistas” de carreira, tipo arquiteto jornalista; quando jornalista, autodidata no tema. Uma equação como esta: quando arquitetos, e não jornalistas, aprendem os meandros do jornalismo no dia-a-dia da profissão; quando jornalistas, e não arquitetos, procuram (raramente) conhecer a área e/ou especializar-se.

Um caso único, porém comum nas demais especialidades do jornalismo, é a jornalista e arquiteta, arquiteta e jornalista, Olga Krell.  Olga estudou jornalismo e arquitetura. Arquiteta formada pela Cornell University; e jornalista formada pela Universidade de Standford, Califórnia. Olga enveredou pelo jornalismo especializado em arquitetura estagiando nas revistas norte-americanas Good House Keeping e McCalls e Better Homes & Gardens, até retornar para o Brasil e integrar o time de Victor Civita na editora Abril, tornando-se responsável pelas publicações em arquitetura e decoração da editora.

Na contramão, no entanto, da expansão do mercado em jornalismo voltado para arquitetura e urbanismo, as faculdades de jornalismo não dispõem nos seus currículos, como disciplina obrigatória, a cadeira de jornalismo cultural; muito menos contemplam a diversidade temática do jornalismo como profissionalizante e/ou área de pesquisa. Sobretudo, hoje, em que a há diversificação na área de cultura. O jornalismo cultural já encampa temas como moda, gastronomia e design (8) – com revistas, suplementos de jornal, sites e portais dedicados especificamente a cada uma destas temáticas. Ao contrário dos programas das universidades norte-americanas que já oferecem especialização em jornalismo cultural, como a especialização ofertada pela Universidade de Columbia em Nova Iorque (9); e a especialização em jornalismo cultural da universidade de Syracuse (10).

Fator que corrobora (a falta de formação adequada) para o descompasso entre as faculdades de jornalismo no Brasil e a atividade profissional que exige além da aptidão técnica – domínio das técnicas jornalísticas e das linguagens dos meios – certo conhecimento dos temas explorados e funcionamento do mercado. Por isso, também, ao tão desvalorizado (e não mais exigido) diploma, se sobrepõe casos de êxito no mercado editorial, em que o emprego do feeling, a perseverança e a rotina formam o especialista; entre tantos outros dos não-diplomados, a “jornalista” Fátima Ali, autora do manual “A arte de editar revistas”, o primeiro no gênero, no Brasil, chega a declarar:

Não passei pela faculdade de jornalismo, não fui repórter, nem redatora. Comi o pão que o diabo amassou. Não havia onde buscar informações sobre como fazer uma revista. Cadê a técnica, cadê os atalhos, o conhecimento acumulado? Tive de correr atrás. Desmontei – literalmente centenas de revistas internacionais para entender suas fórmulas; fiz todos os cursos que apareceram; prestei atenção, anotei e guardei material das visitas que fiz às redações de revistas americanas e européias e dos encontros internacionais de que participei. E, mais importante, tive o privilégio de cruzar com alguns profissionais brilhantes, de quem aproveitei o máximo o que tinham para me ensinar. (11)

Também Costanza Pascolato assumiu seu espaço por mérito numa área em que também o jornalista não se especializou, e julga menor, tanto quanto julga a arquitetura: a moda. Costanza é reconhecida como “jornalista” de destaque em outro tema do jornalismo cultural, a moda – também como a área da arquitetura, dispondo de revistas acadêmicas, revistas comerciais especializadas, seções nos jornais e revistas, blogs etc e tal. Um segmento que o jornalismo no Brasil começa a atender e em que – também por estar na moda – procura se especializar. Escreveu Costanza sobre sua trajetória nas revistas brasileiras, onde começou como produtora de decoração, na revista Cláudia da editora Abril; do alvoroço que causou a sua contratação, por não ser jornalista formada; à capacitação numa área ainda não contemplada pelos jornalistas de formação e com demanda reprimida:

Como responsável pela escolha das roupas nas fotos de moda, que eram uma novidade no Brasil, eu achava no mínimo estranho outra pessoa, que não eu, fazer as legendas, as frases, com informações sobre as peças usadas nas fotos. Eu tinha todas as informações, mas não conseguia sequer escrever uma frase. ‘Vou ter de aprender’. Autodidata, quebrava a cabeça e a cara, mas aprendia. Aos poucos, foram reconhecendo o valor do meu texto. Hoje assino uma coluna mensal na Vogue. (12)

A lição de Jobim (13) ainda é válida; e porque não, atual: a função das escolas de jornalismo é formar profissionais, ministrando conhecimentos da técnica do cotidiano e do periódico, bem como do conhecimento, que elevem o nível de cultura geral dos que se propõem ingressar nas redações; pesquisar e analisar os métodos empregados atualmente na imprensa local, promovendo a melhoria dos padrões técnicos da mesma; e evitar a formação puramente empírica de jornalistas na redação, que tende a perpetuar métodos rotineiros e vícios profissionais. Sem esquecer o centro de pesquisa que as escolas de jornalismo devem ser. “Nos Estados Unidos, escreveu Jobim, muitos de seus professores dirigem um notável trabalho de crítica e revisão de processos estimulando os estudantes a realizarem inquéritos sobre as condições da imprensa” (14).

Dos pioneiros a fazer jornalismo em arquitetura, a arquiteta (e também considerada jornalista) Lina Bo Bardi. Reconhecida no meio e em referências a seu nome não só como arquiteta, mas como jornalista autodidata, por ter feito jornalismo de arquitetura. Lina Bo, italiana de nascimento radicada no Brasil, trazia da Itália a experiência em publicações em revista voltadas para divulgação e crítica em arquitetura.  É por iniciativa sua que se publica no Brasil, e sob seu comando como editora, redatora, repórter e crítica, a primeira revista dedicada à arquitetura no Brasil, nos anos 1950, a revista Habitat (15).

Lina, no espírito da época, propôs a reflexão sobre a arquitetura produzida no Brasil. Uma crítica que praticamente se manteve sem pluralidade até a década de 1970 – a não ser a própria manifestação por artigos e declarações dos arquitetos envolvidos, como Niemeyer e Artigas –; e que recupera o fôlego e se diversifica a partir de meados da década de 1970, com o surgimento das revistas Projeto (também publicação especializada); Módulo, capitaneada por Oscar Niemeyer; e a revista Pampulha, fora do circuito Rio-São Paulo. Na década de 1980, é a vez da também revista especializada AU – Arquitetura e Urnanismo. (16)

O mercado editorial brasileiro em revistas especializadas em arquitetura se firma, sobretudo, concedendo espaço aos arquitetos para manifestação de suas idéias, debate, apresentação de projetos e crítica. Espaço em sua maioria dirigido e/ou comandado por arquitetos.  Ao que pese a exigência legal de um jornalista habilitado como responsável pela publicação, quem assumia as funções editoriais e de redação a exemplo do que fazia Lina Bo na revista Habitat, eram os arquitetos; é o que se presume, pois apenas uma investigação e um levantamento apurado sobre as equipes que compunham a redação destas revistas pode revelar o caráter mais jornalístico destas publicações. É fator negativo a não preocupação do jornalismo em investigar e estudar as publicações especializadas e a parca bibliografia sobre jornalismo especializado em cultural, praticamente inexistente em jornalismo em arquitetura.

Uma tentativa de inventário partiu do arquiteto Hugo Segawa, autor de livros sobre arquitetura, professor livre-docente do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo e editor-regional do The Journal of Architecture do RIBA(Londres). Em artigo acadêmico sobre as revistas de arquitetura (17), Segawa (et all) constata a variedade dos períodos na forma e na abordagem. Leia-se forma a variedade de tamanho, o design etc., e a abordagem, da técnica-científica à comercial.

As publicações em arquitetura, em suma, assim se agrupam: por um lado, revistas, jornais portais e páginas na internet universitários e institucionais; por outro lado, revistas, jornais e portais comerciais. Publicações para especialistas, produzida por especialistas (artigos acadêmicos, ensaios, análises etc), e publicações produzidas para o público leigo.  Quanto ao conteúdo, Segawa (18) constata que não há, por parte dos jornalistas que atuam nestas publicações, conhecimento ou domínio do tema, o que termina por resultar em matérias que não ultrapassam a descrição técnica dos projetos e construções e citação literal do discurso dos arquitetos. Também não há opinião, nem diferença entre a parte editorial da revista e a parte comercial. As revistas acadêmicas também não fogem a regra, estão marcadas “pelo amadorismo na dinâmica de redação, da produção e circulação”. (19)

Mesmo assim Rabelo (20) considera os anos 1980 o período áureo da critica em arquitetura, quando se destacaram no que chama “jornalismo de arquitetura” alguns arquitetos dentre eles Hugo Segawa,Ruth Verde Zein, entre outros, no papel de críticos revendo o julgamento histórico atribuído a arquitetura brasileira, para apontar a realidade das décadas subseqüentes (1990 e 2000) como de crise da crítica de arquitetura em revista e da extinção do profissional que nomeia jornalista-arquiteto. O que se verifica atualmente ao se observar o tratamento à arquitetura pelas revistas gerais e as especializadas em cultura. Não há debate sobre arquitetura; ou, como dirá Wisnik ao ressaltar a importância da crítica: “arquitetura não é perfumaria, mas ao contrário, uma prática de ‘esclarecimento’ coletivo, através do qual a sociedade figura, de modo concatenado, o seu futuro” (21).

O panorama leva a afirmação de que o jornalismo cultural dedica-se ao tema de forma esporádica; verifica-se a ausência, que não a atividade crítica nos jornais, caso da Folha de São Paulo, da crítica e da opinião instituída; como também confusão entre a linha editorial e comercial nas revistas comerciais especializadas em arquitetura; que a arquitetura está presente no eixo do mercado de luxo e das publicações voltadas para comportamento e bem-estar; que publicações produzidas e destinadas a especialistas, as classificadas como técnicas, exemplo das revistas Projeto e AU, convivem com as ditas comerciais; e que a reflexão se restringe as revistas acadêmicas encampadas por instituições e faculdades de arquitetura. E que o jornalismo especializado não está preparado para fazer jornalismo em arquitetura.

notas

1
PIZA, Daniel. Jornalismo cultural. São Paulo: Contexto, 2004

2
WISNIK, Guilherme. Estado crítico: à deriva nas cidades. São Paulo: Publifolha, 2009.

3
Os comentários do jornalista e escritor Daniel Piza (a formação universitária de Daniel Piza é em Direito, não em Jornalismo) podem ser consultados no arquivo do seu blog no Estadão, arquitetura é uma das seções, com 36 publicações, entre 2006 e 2010. http://blogs.estadao.com.br/daniel-piza/category/arquitetura/

4
LIMA, João Gabriel. “Editorial”. Revista Bravo!, ano 11, n.143. São Paulo: Editora Abril, julho de 2009.

Da Revista Bravo!, editorial de João Gabriel de Lima: Numa época em que a informação objetiva chega a todos com facilidade, as revistas de fôlego semanal e mensal se diferenciam da imprensa diária pelo tom mais reflexivo e pelo aprofundamento de suas reportagens. E também pela originalidade – de formatos, de design, de idéias. O livro bíblico do Eclesiastes dizia que não há nada de novo sob o sol. Essa frase, que é particularmente válida para o jornalismo, ilustra a dificuldade de nossa busca – e estimula nossa obsessão em continuar, teimosamente buscando.

5
http://estudiocadaum.com.br/blog/; http://debaixodobloco.wordpress.com/;

6
http://www.vitruvius.com.br/jornal; http://www.arcoweb.com.br/

7
Um exemplo é a revista digital Risco: http://www.arquitetura.eesc.usp.br/revista_risco/

8
PIZA, Daniel. Op. Cit.

9
Master of Arts in Journalism, com concentração em artes e cultura. http://www.journalism.columbia.edu/page/199-master-of-arts-in-journalism/200

10
Syracuse University, especialização na Newhouse School em jornalismo cultural, o curso: Goldring arts journalism, em parceria com as faculdades de música, artes e arquitetura; o aluno deve escolher dentre as áreas de concentração, música erudita e música popular, artes plásticas, cinema, arquitetura. http://newhouse.syr.edu/Academics/Arts_Journalism/AJ_Graduate/overview.cfm

11
ALI, Fátima. A arte de editar revistas. São Paulo: Companhia editora nacional, 2009, p. 13.

12
PASCOLATO, Costanza. Confidencial: segredos de moda, estilo e bem-viver. São Paulo: Jaboticaba, 2009, p.156.

13
JOBIM, Danton. Espírito do jornalismo. São Paulo: Edusp, 1992

14
JOBIM, Danton. Op. Cit., p. 84

15
A reunião do trabalho de Lina Bo Bardi como crítica de arquitetura tanto em publicações esparsas em jornais e revistas quanto na revista Habitat se encontra parte no volume publicado pela editora Cosac Naify, Lina por escrito: textos escolhidos de Lina Bo Bardi, organizado por Silvana Rubino e Marina Grinover. São Paulo; Cosac Naify, 2009; segundo as arquitetas Maria Alice Junqueira e Ruth Verde Stein: “publicam-se em Habitat vários artigos de Lina Bo Bardi que vão configurar uma primeira tentativa de crítica da arquitetura brasileira ‘independente’, ou seja, não engajada política ou doutrinariamente na construção do discurso ‘nacional’(...)” In: BASTOS, Maria Alice Junqueira; ZEIN, Ruth Verde. Brasil: arquitetura após 1950. São Paulo: Perspectiva: 2010, p.38.

16
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil: 1900-1990. 2 ed. São Paulo: Edusp, 1999; BASTOS, Maria Alice Junqueira; ZEIN, Ruth Verde. Op. Cit.

17
SEGAWA, Hugo; CREMA, Adriana; GAVA, Maristela. Revistas de arquitetura, urbanismo, paisagismo e design: a divergência de perspectivas. In: http://www.scielo.br/pdf/ci/v32n3/19031.pdf, acesso em 10 de janeiro de 2010.

18

Idem. Ibidem.

19
Idem. Op. Cit., p.122.

20
RABELO, Clévio. Sobre revistas e revisões: o que aconteceu com as revistas de arquitetura? Vitruvius, drops, 010.03, ano 05, jan/2005, http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/05.010/1640 , acessado em 10 de janeiro de 2010.

21
WISNIK, Guilherme. Crítica sem lugar: o amargo desencanto da arquitetura brasileira. Arquitetura. Ilustríssima, Folha de S.Paulo, domingo 29 de agosto de 2010, p.6.

bibliografia complementar

Jornalista. São Paulo: Publifolha, 2006.

SCALZO, Marília. Jornalismo de revista. São Paulo: Contexto, 2006.

sobre o autor

Gustavo Sobral é Mestrando do Programa em Pós-graduação em Estudos da Mídia-PPGEM, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN, graduando do curso de Comunicação Social, Habilitação Jornalismo, pela mesma universidade, Bacharel em Direito, advogado.

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