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research

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architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
Este artigo busca demonstrar que os módulos fotovoltaicos podem substituir funcionalmente um material nobre de revestimento, apresentando custos finais equivalentes quando associados à energia gerada.

english
This article aims to demonstrate that photovoltaic modules can functionally replace a noble coating material, presenting equivalent final costs when associated to the generated energy.

español
Este artículo busca demostrar que los módulos fotovoltaicos pueden sustituir funcionalmente un material noble de revestimiento, presentando costos finales equivalentes cuando asociados a la energía generada.


how to quote

BENDER, Lívia Vasques; SALAMONI, Isabel Tourinho; GRALA DA CUNHA, Eduardo; KREBS, Carlos Leodário Monteiro; GONÇALVES, Isabel Piúma. Fachadas fotovoltaicas. Sonho ou realidade? Arquitextos, São Paulo, ano 18, n. 215.03, Vitruvius, abr. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.215/6961>.

De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética, a produção energética elétrica brasileira, ao contrário da maioria dos países, baseia-se 64% na força das hidrelétricas (1), tida como uma fonte renovável de energia. Essa dependência em uma única fonte, aliada à falta de investimentos no setor energético, já fez o país enfrentar grandes apagões, no início dos anos 2000, assim como, o de fevereiro de 2014, que atingiu treze estados brasileiros, em decorrência do baixo nível hídrico dos reservatórios das usinas de geração de energia associado a um consumo crescente.

No Brasil, muito deste consumo pode ser atribuído às edificações podendo ser vinculado às suas variáveis arquitetônicas e construtivas, uma vez que existe uma grande diversidade climática no país, que gera necessidades construtivas específicas para cada região. O desconhecimento destas necessidades acaba por ocasionar um crescimento desenfreado de edificações com desempenho termo energético reduzido, consequentemente, gerando um elevado consumo de energia (2). Isso poderia ser evitado por meio da construção de edificações mais eficientes, porém, os custos finais têm grande impacto nas escolhas, principalmente, de tecnologias e materiais a serem empregados na construção civil.

Dentro desse contexto, o sistema solar fotovoltaico, PV, que por desconhecimento de muitos, no que diz respeito ao seu potencial, benefícios e viabilidade econômica, acaba por não ser considerado como uma alternativa, tanto para geração de energia, quanto para substituição ou sobreposição de elementos construtivos do sistema de vedação externa das edificações. Ele pode cumprir com a dupla função, de fechamento da edificação e de geração da própria energia consumida, de uma forma limpa e sustentável. O sistema faz a conversão direta da luz solar em energia elétrica, através das células solares fotovoltaicas, que conectadas entre si formam um módulo (3). Esses módulos podem ser sobrepostos ao sistema de vedação da edificação Building Applied Photovoltaics – BAPV ou substituir elementos construtivos e/ou revestimentos da edificação Building Integrated Photovoltaics – BIPV. Isto pode ser observado nos exemplos comerciais edificados da Torre Garena (arquitetos Joaquín Pallas e Gonzaga Bárcenas, Alcalá de Henares, Espanha, 2005) e do World Join Center (arquiteto Marco Cerri para Studio Urbam, Milano, Itália, 2006).

Torre Garena em Alcalá de Henares, Comunidad de Madrid, exemplo de BIPV
Foto divulgação [Wiki Commons]

Apenas uma pequena fração da produção de energia fotovoltaica apresenta-se realmente integrada no ambiente construído. Entretanto, o apelo pela proteção da paisagem, a concorrência no uso de terras com possibilidade de produção agropecuária, e até mesmo a opinião pública, estão colocando pressão sobre os desenvolvedores fotovoltaicos para incrementar o uso no ambiente da construção, tornando-o capaz de produzir eletricidade (4), e agregar um valor estético. Para os edifícios que possuem na sua composição os fechamentos fotovoltaicos, com ênfase para as fachadas, observa-se uma valorização da dimensão estética da tecnologia, caracterizada por (5), onde o autor afirma que a valorização da dimensão técnica implica numa edificação que prioriza materiais que remetam à tecnologia como o metal, o vidro, ou enfatiza compositivamente elementos de arquitetura como sistemas de proteção solar, coberturas, vigas, pilares, painéis fotovoltaicos, que ora podem virar até superfície de fachada.

Tubingen Sporthalle, exemplo de BIPV
Foto divulgação [Wiki Commons]

Neste contexto, os edifícios de escritórios são uma ótima opção para o uso integrado dos sistemas fotovoltaicos, pois além de apresentarem um elevado consumo de energia elétrica, em função da demanda em iluminação, equipamentos e da climatização artificial, existe uma sincronicidade entre geração e consumo. A energia solar fotovoltaica apresenta sua curva de geração equivalente à curva de consumo energético no setor comercial. Isso, porque nos períodos em que o sistema de ar-condicionado apresenta uma demanda maior de energia a disponibilidade do recurso solar também é mais elevada (6).

Na sua grande maioria, os edifícios de escritório são verticais, com muitas unidades consumidoras independentes e com pouca área de cobertura livre, que é o local mais apropriado para a instalação dos sistemas solares fotovoltaicos em baixas latitudes. Sendo assim, estas coberturas não seriam capazes de abrigar sistemas com grandes potências nominais. Em contrapartida, “as fachadas aparecem como uma oportunidade para geração de eletricidade, através da tecnologia fotovoltaica integrada na arquitetura (BIPV)” (7), de forma a complementar a capacidade instalada, ou de gerar uma energia com um percentual menor de contribuição no suprimento da demanda.

Entretanto, é importante salientar que esta não é a melhor opção de implantação dos módulos para o Brasil, em virtude das latitudes serem baixas, variando de 0 (ao norte) até 32 graus (ao sul do Brasil), e de que geralmente os centros urbanos são mais densos e verticais, podendo haver um maior sombreamento das fachadas. Por outro lado, mesmo que o sistema não seja capaz de gerar o seu máximo de energia, haverá alguma geração. Se o usuário pode optar, por exemplo, entre revestir sua edificação com um material que apenas cumpra requisitos estéticos e outro, capaz de gerar energia elétrica e, em curto prazo, agregar benefícios econômicos, já é uma grande vantagem. Partindo do princípio de que os revestimentos são considerados um dos itens percentualmente mais caros no orçamento de uma obra, isto já seria uma economia de investimentos, que deve ser computada na análise de custo final (8).

“Os custos de instalação de equipamentos solares estão diminuindo rapidamente, enquanto que os custos dos efeitos externos do uso de fontes convencionais (ou seja, usinas hidrelétricas de grande escala, como Belo Monte ou a exploração de petróleo da camada pré-sal) continuam a aumentar” (9), assim como os custos referentes às tarifas convencionais de energia elétrica.

Comparação de preços de sistemas fotovoltaicos de médio porte
Imagem divulgação

De acordo com o Ministério de Minas e Energia, na década de 1950, os painéis fotovoltaicos, “convertiam apenas 4,5% da energia solar em eletricidade, o que correspondia a 13Wp/m², a um custo de US$ 1.785/Wp (Watt-pico). Hoje em dia, a eficiência média mundial triplicou para 15% (143Wp/m²), a um custo 1.370 vezes mais barato, de US$ 1,30/Wp” (10).

Considerou-se o preço da Alemanha do terceiro trimestre de 2014, calculado com base em Fraunhofer ISE (2014), considerando € 1 = R$3,00 (vigente naquele período) (11). No Brasil, como podemos observar, este custo acaba por ser mais elevado, podendo atingir o dobro em relação à Alemanha, em função da importação da tecnologia. Além disso, é possível considerar que enquanto os custos de instalação de sistemas solares fotovoltaicos diminuem, as tarifas de energia elétrica, no Brasil, seguem a aumentar com o passar dos anos (12).

As tarifas médias de fornecimento de energia elétrica, no Brasil, seguem numa crescente ao passar dos anos
Imagem divulgação

Baseado neste contexto, este estudo apresenta uma análise de paridade econômica entre duas fachadas, utilizando um mesmo exemplar de prédio comercial, localizado na cidade de Pelotas – RS, na zona bioclimática brasileira 2. O primeiro modelo apresenta o revestimento proposto de módulos PV, enquanto que o segundo modelo é revestido com ACM, material de revestimento, atualmente, bastante utilizado em edificações comerciais. O objetivo principal é demonstrar que os módulos fotovoltaicos podem substituir funcionalmente um material nobre de revestimento, apresentando custos finais equivalentes quando associados à energia gerada.

Simulação e investigação dos sistemas

Foi utilizado, para este teste-piloto de simulação computacional, o modelo denominado “representativo de grandes escritórios” (13). Os fatores da escolha por edifícios de escritórios foram: “1. grande disponibilidade de área nas fachadas para geração; 2. consumo elevado de energia por metro quadrado e 3. maior disponibilidade de capital para investimento em geração fotovoltaica, quando comparado com o setor residencial” (7). Assim, para a comparação com a fachada fotovoltaica foi escolhido, para esta etapa, o ACM (alumínio composto): a. por seu caráter de inovação; b. por sua grande demanda de aplicação em espaços comerciais; c. custo elevado. Este material de fechamento é utilizado em fachadas como vedação vertical externa, sem função estrutural e constituído por elementos modulados, tal como o sistema fotovoltaico.

Para este estudo, foi necessária a escolha do programa para simular o modelo. O EnergyPlus versão 8.4 (do Department Of Energy – DOE) foi a opção feita pela “facilidade de aquisição, adequabilidade à simulação termoenergética de edifícios, pela sua disseminação no ambiente acadêmico e empresarial e também pela facilidade de acesso às informações” (14).

Assim, a construção do modelo virtual foi feita no programa SketchUp versão Make (do Trimble), com o plugin Legacy OpenStudio versão 8.4 (do Lawrence Barkley National Laboratory – LBLN). O modelo utilizado apresenta as maiores fachadas orientadas para Norte-Sul e três zonas térmicas a cada pavimento, onde as zonas com atividade-fim são condicionadas e as centrais não, baseado em (13).

Distribuição das zonas térmicas no modelo utilizado
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Este modelo tem dimensões retangulares (27m x 7,80m) e é divido em duas salas por andar com circulação vertical centralizada. No total, são cinco pavimentos com pé-direito de 2,60m cada.

Modelo utilizado
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Os parâmetros adotados para este trabalho são apresentados na tabela a seguir baseados em (13). A taxa de infiltração de ar considerada foi de meia renovação total a cada hora. As temperaturas limites estabelecidas são de 18ºC para aquecimento e 24ºC para resfriamento. O dimensionamento do sistema de condicionamento de ar considerou o comando autosize do programa.

Parâmetros empregados no modelo
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O contato do piso com o solo é isolado (subsolo) e o entorno urbano não foi considerado devido ao seu aspecto dinâmico e variável. Para este estudo, foram modeladas paredes equivalentes, porém, apresentam a mesma capacidade térmica de 100 kJ/m²K de (13).

Já, o sistema PV foi configurado no EnergyPlus no modo “Simple”, que é voltado para fases iniciais de projeto, não necessitando da especificação do arranjo dos módulos, apenas da área de superfície que estes ocupam. Entretanto, este sistema considerou um módulo disponível no mercado de Pelotas e região, selecionado através de orçamentos disponibilizados por empresas locais. Trata-se do módulo CS6P – 260P da CanadianSolar (15), com tecnologia de poli-cristalino, dimensões (CxLxH) de 1638mm x 982mm x 40mm. Para a simulação PV, um dos dados de entrada trata da eficiência do módulo (EFF), a qual é informada pelo fabricante em 16,16% para uma condição padrão de teste (Standard Test Conditions – STC), onde a potência nominal do módulo de 260W é atingida quando este é submetido a uma temperatura de 25ºC e uma radiação de 1000W/m². Entretanto, para o cálculo de geração de energia foi utilizado o valor de eficiência, levando em consideração uma temperatura média de operação de 45ºC (Nominal Operating Cell Temperature – NOCT). Para verificar este valor, foi utilizada a seguinte equação (16):

     

Onde, EFFSTCé de 16,16%, o coeficiente de temperatura (TCO), também fornecido pelo fabricante, é um valor negativo de -0,41%. Assim, com a aplicação desta correção, temos a eficiência do módulo (EFFNOCT) de 14,83%. Para os inversores de corrente foi utilizado “um fator de 0,80 por representar 20% de perda de potência devido ao seu funcionamento, causada pela transformação elétrica e perdas eletrônicas associadas nos terminais, e perdas por queda de tensão por condução de corrente” (17). Todos os dados acima apresentados foram inseridos no processo de simulação. A área de fachada a ser revestida pelos dois materiais é de 278,80m² e está voltada para o Norte.

Modelo com revestimento aplicado (área roxa da fachada principal)
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A presença destacada do corpo de vedação dos módulos fotovoltaicos (PV), a dez centímetros da edificação, caracterizam-na como uma "fachada ventilada" (FV), com a característica de "muito ventilada", de acordo com a NBR 15220:2008 (18). Isto significa que se tem um determinado valor total de transmitância térmica para a parede externa da fachada Norte, em função do revestimento, no período do ano em que o prédio tende a ganhar calor (verão), e outro para aquele onde ele tende a perder calor (inverno) na constante busca de equilíbrio com o meio externo. Porém, o emprego do revestimento ACM, por sua vez, não altera a transmitância térmica, já calculada para as paredes externas das demais fachadas, embora apresente outros valores de absortância e emissividade, conforme já apresentado na tabela 01.

Como os valores de transmitância térmica na parede externa, orientadas a Norte, distinguem-se conforme as camadas de materiais empregados, para inserção dos respectivos dados no programa EnergyPlus foram recalculadas as espessura e densidade equivalentes do tijolo cerâmico furado para as três situações descritas acima.

Propriedades termofísicas empregadas nos modelos simulados
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Assim, a análise das situações de verão e de inverno para a fachada ventilada (FV) fotovoltaica (PV) foi desenvolvida para verificar a influência do controle de abertura e fechamento da entrada de ar na câmara ventilada, formada entre o intervalo do revestimento (módulos) e a vedação, no desempenho térmico da edificação. O que confirmou a melhoria proporcionada pela utilização da FV+PV na edificação, tanto no inverno quanto no verão aumentando sua resistência às trocas de calor.

Análise energética e econômica para tomada de decisão

Conforme exposto anteriormente neste artigo, a disposição dos módulos PV na fachada não parte da situação ideal, que teria estes posicionados na mesma inclinação da latitude local (30º). O gráfico abaixo apresenta os dados obtidos pelo Radiasol (programa para geração de dados horários de radiação solar desenvolvido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS), através do banco de dados do Atlas Solarimétrico do Brasil, com a diferença do nível de radiação entre a posição ideal (30°) e a proposta (90°), onde se pode confirmar que a fachada, mesmo na orientação ideal (norte), estando a 90°, apresenta uma redução no potencial de geração anual do sistema em, aproximadamente, 50%, em função da menor quantidade de radiação que atinge esta superfície.

Radiação solar diária incidente nas duas situações em Pelotas/RS
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A partir da simulação, com os módulos solares PV no software EnergyPlus, foi possível verificar que o consumo energético anual deste modelo é de 65.531,15 kWh, e  a geração in loco é de  21.651,44 kWh/ano, o que possibilita a este sistema suprir o equivalente a 33,04% desse consumo, considerando-se apenas a fachada principal e desconsiderando eventual sombreamento provocado pelo entorno.

Gráfico do consumo total, onde se apresenta a contribuição da energia PV e da rede pública no modelo
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A energia não suprida pelo sistema solar fotovoltaico é fornecida pela rede pública, contabilizando-se 43.879,71kWh/ano, ao valor real de R$ 0,74/kWh (considerando-se o valor homologado pela ANATEL, outubro de 2016, para a Companhia Estadual de Energia Elétrica – Rio Grande do Sul - CEEE, acrescidos de impostos e tributos). Observa-se que a quantidade mensal de energia fornecida pelo sistema proposto varia, de forma lógica, conforme a radiação solar disponível, produzindo entre o mínimo de 678,55 kWh/mês (junho, no inverno) e o máximo de 2.145,39 kWh/mês (dezembro, no verão).

O gráfico indica a energia gerada mensalmente pelo sistema PV proposto
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A seguir, o mesmo processo de simulação foi realizado substituindo-se os módulos solares PV pelo revestimento de ACM na mesma fachada (mantendo-se todas as demais características e propriedades da edificação inalteradas). O objetivo dessa nova simulação foi verificar o consumo dos edifícios com ambos os revestimentos. O que se pode observar a partir destas simulações foi que o edifício consome com ACM 63.356,95 kWh/ano, enquanto que a versão com os módulos PV consome 65.531,15 kWh/ano, o que implica num acréscimo de 3,43%, dado o aumento à resistência das trocas de calor, o que acaba por isolar mais seu interior, o que pode acarretar a maior utilização de condicionamento de ar. Entretanto, os resultados mostram que este prédio com módulos PV é capaz de gerar 21.651,44 kWh/ano da energia que consome (33,04%).

Discussão da paridade econômica

Para análise econômica, foram considerados os orçamentos, para os dois materiais analisados, fornecidos por empresas da região de Pelotas, com base na fachada principal do modelo já apresentada, como também, as tarifas de energia elétrica da concessionária local vigentes, em agosto de 2016. Assim, conforme as cotações feitas para o sistema solar PV, para esta fachada foi proposta a utilização de 120 módulos e um inversor, com uma potência total de 31,2 kWp. O valor deste sistema (composto pelos módulos, inversor, string box, cabos solares e barras de fixação de alumínio), com projeto elétrico e instalação, além de uma reserva percentual (5%) destinada a eventuais manutenções durante sua vida útil é de aproximadamente duzentos e vinte mil reais. Os orçamentos realizados com revestimento em ACM oscilaram entre quatrocentos e quinhentos reais por metro quadrado, isso em função de projeto, tamanho, cor, disponibilidade do material, entre outros. Tomando-se o valor médio de quatrocentos e cinquenta reais, com a mesma reserva percentual (5%) para manutenções futuras, temos para a área a ser revestida um valor, aproximado, de cento e trinta mil reais.

Comparando-se apenas os valores entre os materiais temos uma diferença entre o sistema PV e o sistema de ACM de, aproximadamente, noventa mil reais. Porém, é preciso promover o balanço das vantagens entre os dois sistemas, onde o ACM apresenta a desvantagem de servir apenas como revestimento. O investimento nesta escolha encerra-se na estética que este proporciona. Já o sistema fotovoltaico, segue durante toda sua vida útil gerando energia para edificação, auxiliando a rede pública, além de ser uma energia produzida de forma limpa (19).

A seguir, com base nos dados de saída do programa EnergyPlus, considerando a energia gerada pelos módulos PV, como também o consumo da edificação, foi desenvolvida uma análise de viabilidade financeira, já que por desconhecimento, o custo desta tecnologia acaba por se limitar ao equipamento e à implantação do sistema, deixando de lado a quantificação de economia de material de revestimento e de energia gerada.

Para esta viabilidade financeira foram utilizados dois indicadores: a. taxa interna de retorno – TIR e b. valor presente líquido – VLP.  Como variáveis principais dos cenários financeiros foram adotadas uma Taxa Mínima de Atratividade – TMA equivalente a SELIC (taxa básica de juros) em agosto de 2016, 14,25% ao ano, e um período de retorno de investimento de 25 anos – equivalente ao período ao qual o fabricante oferece garantia aos módulos fotovoltaicos.

a)“A Taxa Interna de Retorno – TIR é uma taxa de desconto indicativa de quando os fluxos de caixa de um projeto, trazidos ao valor presente, igualam os retornos dos investimentos, também trazidos a valor presente” (7).       

Sendo,

VPL = Valor Presente Líquido;
N = número total de períodos;
n = integral positivo;
r = Taxa Interna de Retorno.

Neste artigo será utilizada a Taxa Interna de Retorno Modificada – TIRM que “é uma taxa de desconto ou correção que tem o propósito de eliminar os complicadores da TIR. A diferença entre as duas é que a TIRM considera o custo do dinheiro tomado como empréstimo para financiar o empreendimento e entende que o dinheiro que o empreendimento gerar será reinvestido” (20).

b)“O Valor Presente Líquido – VPL é o indicador financeiro que indica o valor presente de pagamentos a serem realizados no futuro, quando esses são descontados a uma taxa de juros pré-estabelecida, menos o investimento inicial” (7).

Sendo,

VPL = Valor Presente Líquido;
N = número total de períodos;
i = taxa de desconto;
Rt= fluxo de caixa líquido no momento t.

Tanto para a simulação quanto para os orçamentos solicitados, não foram levadas em conta particularidades relativas à distribuição estética e instalação. Assim, seguindo, a análise financeira proposta, no Valor Presente Líquido – VPL foram utilizadas três diferentes taxas de referência para este cálculo, considerando-se um conjunto de doze meses entre outubro de 2015 e setembro de 2016.  A saber: Caderneta de Poupança, com acúmulo de 9,83%; Índice Nacional de Custos da Construção no Mercado – INCC, com acúmulo de 6,92%; e o Custo Unitário Básico para prédios Comercial, Salas e Lojas até oito pavimentos, com padrão normal, no estado do Rio Grande do Sul – CUB/RS CSL-8N, com acúmulo de 5,69%.

Retorno financeiro baseado no método VPL através da energia economizada
Imagem divulgação

Pode-se observar que a fachada PV gera uma economia de R$14.478,17 anualmente. Considerando o valor da energia economizada através da implementação do sistema verificamos que no primeiro cenário o retorno do investimento é de, aproximadamente, nove anos. Este cenário é conservador, considerando que não estamos observando na análise o aumento das tarifas convencionais ao longo dos anos. Analisando os três cenários propostos temos no terceiro, o retorno de investimento, em torno de, sete anos.

Já para a Taxa Interna de Retorno Modificada (TIRM) foram utilizadas as mesmas taxas de referência anteriores, considerando o mesmo intervalo de tempo também. A taxa de oportunidade escolhida foi o valor da taxa SELIC em outubro de 2016, aplicada na fórmula como a taxa de reinvestimento. Do valor mensal da energia economizada foi subtraído o montante equivalente à valorização monetária (em cada uma das três taxas de referência) do capital inicial referente à escolha do sistema fotovoltaico.

Retorno financeiro baseado no método TIR-m através da energia economizada
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Considerando a renumeração da economia anual e do investimento do sistema, no caso da taxa de juros da poupança, o investimento se paga em dez anos. Já no caso do INCC o investimento se paga em nove anos. Considerando a taxa de juros vinculada à evolução do CUB, o investimento se paga em torno de oito anos.

Considerações sobre a paridade econômica dos sistemas

A falta de conhecimento das novas tecnologias leva, muitas vezes, o projetista a seguir tendências e restringir possibilidades. A geração de energia fotovoltaica não é ainda uma tecnologia de domínio público, trazendo consigo dúvidas e conceitos distorcidos. A discussão sobre a questão financeira deve ser ampliada e analisada criteriosamente buscando relações de custo-benefício. Neste artigo buscou-se fazer uma paridade econômica entre duas fachadas, onde uma foi configurada com o sistema solar fotovoltaico e a outra com um material já consolidado entre os projetistas, o ACM. O que se pode perceber foi que o custo de revestir uma fachada com ACM ou com PV apresenta no todo pouca diferença, se tratarmos de custos e benefícios. Este estudo mostrou que o custo para a instalação de um sistema fotovoltaico ainda apresenta um elevado custo inicial, embora possibilite o atrativo funcional extra de gerar energia. A análise apontou que uma única fachada, voltada para a melhor orientação (Norte), é capaz de contribuir com 33,04% da demanda de energia anual do modelo proposto, enquanto que a versão com ACM segue apenas como função de revestimento. Procuramos desmistificar as impossibilidades econômicas de revestirmos uma fachada com módulos fotovoltaicos, caracterizando, no melhor cenário, um tempo de retorno, em torno de, sete anos do investimento e podendo ainda, minimizar em 33% ao ano as faturas de energia por um período de, pelo menos, 25 anos. 

notas

1
EPE - EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA. Balanço Energético Nacional 2016 (BEN 2016, ano base 2015). Ministério das Minas e Energia. Disponível in <www.mme.gov.br>.

2
LAMBERTS, R.; GUISI, E.; RAMOS, G. Impactos da adequação climática sobre a eficiência energética e o conforto térmico de edifícios de escritórios no Brasil. LabEEE, Florianópolis, 2006.

3
CHIVELET, N. M.; SOLLA, I.F. Técnicas de vedação fotovoltaica na arquitetura. Porto Alegre, Bookman, 2010.

4
PERRET-AEBI, Laure-Emmanuelle; HEINSTEIN, Patrick; CHAPUIS, Valentin; SCHLUMPF, Christian; LI, Heng-Yu; ROECKER, Christian; SCHUELER, Andreas; CAËR,Virginie Le; JOLY, Martin; TWEEN, Robert; LETERRIER, Yves; MANSON, Jan-Anders; SCARTEZZINI, Jean-Louis; BALLIF, Christophe. Innovative Solution for Building Integrated Photovoltaics. In Anais do International Conference CISBAT 2013 – Cleantech for Smart Cities & Buildings, From Nano to Urban Scale, Proceedings. Lousanne, 2013, p.685-690.

5
GRALA DA CUNHA, Eduardo. A dimensão tecnológica no projeto. Os desafios do ensino e da gestão. Arquitextos, São Paulo, ano 16, n. 188.05, Vitruvius, jan. 2016 Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.188/5917>.

6
KIM, D.S.; FERREIRA, C.A.I. Solar refrigeration options – a state-of-the-art review. International Journal of Refrigeration, v.31, 2008, p.3-15.

7
SANTOS, A. H. C. Avaliação técnica e financeira da geração fotovoltaica integrada à fachada de edifícios de escritórios corporativos na cidade de São Paulo. Tese de Doutorado. São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Energia do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, 2015, p.7 e 21.

8
HAAS, R. The value of photovoltaic electricity for society. Solar Energy, v. 54, 1995, p. 25-31.

9
ECHEGARAY, F. Understanding stakeholders’ views and support for solar energy in Brazil. Journal of Cleaner Production, v.63, 2014, p.125.

10
BOLETIM. Energia Solar no Brasil e Mundo – Ano de Referência – 2014. Ministério de Minas e Energia. Núcleo de Estudos Estratégicos de Energia, 2014, p.7.

11
INSTITUTO IDEAL. O mercado brasileiro de geração distribuída fotovoltaica – edição 2015. Disponível in <institutoideal.org/biblioteca>.

12
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA - ANEEL. Relatório de Consumo e Receita de Distribuição – Tarifa Média por Classe de Consumo e por região. Disponível in <www.aneel.gov.br/relatorios-de-consumo-e-receita>.

13
CARLO, J.C. Desenvolvimento de Metodologia de Avaliação da Eficiência Energética do Envoltório de Edificações Não-residenciais. Tese de Doutorado. Florianópolis, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Catarina, 2008.

14
ARA, P.J.S. Desempenho de sistemas de condicionamento de ar com utilização de energia solar em edifiícios de escritório. Dissertação de mestrado. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2010, p.73.

15
CATÁLOGO CANADIANSOLAR. CS6P-260P. Disponível in <www.canadiansolar.com/solar-panels/standard.html>.

16
SALAMONI, I. T. Metodologia para Cálculo de Geração Fotovoltaica em Áreas Urbanas Aplicada a Florianópolis e Belo Horizonte. Dissertação de mestrado. Florianópolis, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, 2004.

17
MIZGIER, M. O.; MARINOSKI, D. L.; BRAUN, P.; RÜTHER, R. Potencial da geração fotovoltaica frente ao consumo de energia elétrica em edificações residenciais brasileiras. ENTAC, Florianópolis, 2006, p.709-718.

18
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 15.220:2008 - Desempenho térmico de edificações Parte 2: Métodos de cálculo da transmitância térmica, da capacidade térmica, do atraso térmico e do fator solar de elementos e componentes de edificações. Rio de Janeiro, ABNT, 2005, corrigida em 2008, p. 34.

19
ANEEL – AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Resolução Normativa 482 de 17 de Abril de 2012. Disponível in <http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2012482.pdf>.

20
PORTAL EDUCAÇÃO. Taxa interna de retorno modificada (TIRM). Disponível in <https://www.portaleducacao.com.br/administracao/artigos/43555/taxa-interna-de-retorno-modificada-tirm>.

sobre os autores

Lívia Bender é arquiteta e urbanista graduada pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel - 2012). Especialista em Iluminação e Design de Interiores pelo Instituto de Pós-Graduação (IPOG) em Porto Alegre (2016). Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PROGRAU), da Universidade Federal de Pelotas/RS (UFPel).

Carlos Krebs é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1998). Mestrado pelo Programa em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas (2016), na área de Qualidade e Tecnologia do Ambiente Construído. Formação em Mecanismos de Desenvolvimento Limpo pela FUPEF, base científica: Créditos de Carbono (2006). Auditor Interno ISO 14001 (2007). LEED® Accredited Professional (2008).

Isabel Gonçalves  é arquiteta e urbanista graduada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e Consultora em Eficiência Energética de Edificações Residenciais, Comerciais, de Serviços e Públicas - Eletrobras, atualmente Mestranda do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo - PROGRAU/UFPEL.

Eduardo Cunha é professor adjunto da Universidade Federal de Pelotas, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, PROGRAU. Graduado (1994), Mestre (1999), Doutor (2005) em Arquitetura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS. Pós-Doutorado (2008) pela Universidade de Kassel, Alemanha.

Isabel Salamoni é professora adjunta da Universidade Federal de Pelotas, Programa Pós-Graduação em Arquitetura, PROGRAU/UFPEL. Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Católica de Pelotas (2000), Mestre (2004), Doutora (2009) e Pós Doutora (2010) em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina, na área de Energia Solar Fotovoltaica.

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