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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
A autora discute as dificuldades da preservação do patrimônio histórico na cidade moderna e a necessidade de inseri-la numa política de gestão urbana

english
The author discusses the difficulties of preserving a historical landmark in the modern city and the need to insert it into a policy of urban management

español
La autora discute las dificultades de la preservación del patrimonio histórico en la ciudad moderna y la necesidad de insertarla en una política de gestión urbana

how to quote

TRENTIN, Patricia. O patrimônio cultural edificado e sua gestão. A preservação e conservação do patrimônio histórico na cidade moderna. Drops, São Paulo, ano 06, n. 012.05, Vitruvius, ago. 2005 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/06.012/1660>.


No conjunto de bens culturais produzidos pela humanidade, a arquitetura constitui um testemunho excepcional na formação da memória histórica dos povos e, na formação da identidade. Ela é um testemunho sedimentado e acumulado dos modos de vida do homem, não só daqueles que a conceberam na origem, mas também dos que ali viveram através dos tempos e lhe conferiram novos usos e significados. A arquitetura é carregada de sentimentos de gerações, acontecimentos públicos, tragédias, fatos novos e antigos. Algumas obras arquitetônicas alcançam o valor de monumentos, seja por seu valor intrínseco ou por sua situação histórica (1). Preservá-las e incorporá-las na vida da cidade, no plano urbanístico, é um desafio para os gestores do urbanismo nas cidades.

O monumento histórico foi preservado durante três séculos sob a forma de ilustrações em livros. Só no século XVIII com o advento da Revolução Francesa e da Revolução Industrial é que começou a se pensar na preservação do patrimônio histórico in situ (2).

No Brasil surgiram algumas iniciativas pontuais visando à preservação desde o século XVIII, mas concretamente isso só começa a ocorrer no ano de 1936 (3). A partir daí o país vem desenvolvendo uma política específica para a identificação e preservação dos bens culturais. Para protegê-los foram criadas instituições a nível federal, como o Instituto de defesa do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN, e outros, a nível estadual e municipal. Através dessas instituições tem-se a criação de leis de proteção e a implantação do tombamento, além no desenvolvimento de inúmeros projetos para a salvaguarda do patrimônio.

Apesar da grande evolução da noção do patrimônio e de como tratá-lo, até a década de 1960 a política de proteção continua direcionada apenas a grandes edifícios históricos e civis. No Brasil surgem modificações nesse modo de pensar a partir somente da década de 1980. Ainda hoje o povo possui um sentimento de alienação quanto ao tema “patrimônio histórico” pois, durante muito tempo considerou-se apenas dois tipos de casa no Brasil: as moradas de dois ou mais andares, chamados de “sobrados”, onde vivia a elite, e todas as outras formas de habitação, como as “casas” e “casebres”, “mocambos” (derivado do quimbundo, mukambu, “fileira”), “senzalas” (locais da escravaria), “favelas” (tugúrios). A preservação e o destaque eram dados somente para as habitações da elite, enquanto os vestígios dos subalternos eram dignos de desdém e desprezo (4). Segundo Funari, houve uma “política de patrimônio que preservou a casa-grande, as igrejas barrocas, os fortes militares, as câmaras e cadeias como as referências para a construção de nossa identidade histórica e cultural e que relegou ao esquecimento as senzalas, as favelas e os bairros operários” (5).

No encontro de Quito em 1967 surge a recomendação de inserção da valorização do patrimônio nas políticas urbanas. Após a década de 70 começam a ocorrer seminários em algumas cidades tombadas, e a população foi consultada quanto à gestão do patrimônio. Nos anos 80 começam as discussões relativas aos usos do patrimônio para revitalização de áreas urbanas e a importância da memória integrante da cultura urbana (6). A partir daí a questão do patrimônio histórico vem sendo discutida e ampliada, enfocando também o patrimônio popular como as vilas operárias e as casas mais humildes, e estando listado como um dos componentes principais no planejamento e evolução das cidades.

Além deste fato de exclusão que perdurou por tantos anos, há também a questão da cidade. A cidade moderna onde hoje vivemos foi construída por uma especulação imobiliária descontrolada, que converteu o valor do solo urbano num dos investimentos mais lucrativos (7). Hans Bernoulli sustenta a tese de que a propriedade privada do solo e sua fragmentação é o mal principal da cidade moderna. O solo, tornando-se mercadoria comercial, torna-se objeto de monopólio econômico (8).

A preservação e conservação do patrimônio histórico na cidade moderna de hoje é um grande desafio, porém, a cidade moderna não pode se agregar e funcionar a não ser a custa, pelo menos em parte, da cidade antiga. A condição de sobrevivência dos núcleos antigos remanescentes é determinada pela solução urbanística e pelos critérios tomados na cidade. A cidade deve ser pensada em seu conjunto, antiga e moderna, não se pode admitir que ela conste de uma parte histórica com valor qualitativo, e de uma parte não-histórica com caráter puramente quantitativo (9).

O que se faz necessário hoje é uma política de preservação que assegure a continuidade dos elementos vitais para a sociedade, que tenha como uma das metas a melhoria da qualidade de vida e acima de tudo que tenha a participação da população. Gutiérrez considera que “a participação da população é o ponto essencial para que essa política tenha êxito com o tempo. Só se conserva aquilo que se utiliza, e os novos usos dos espaços asseguram a continuidade de respostas adequadas às novas necessidades, dentro da evolução da cidade” (10). A população precisa e deve ser integrada na discussão da preservação para que a mesma construa uma identidade com o patrimônio cultural e conseqüentemente se torne aliada dos gestores na proteção e na vigia dos bens.

notas1
ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. São Paulo, Martins Fontes, 1995; GUTIÉRREZ, Ramón. Arquitetura latino-americana: textos para reflexão e polêmica. São Paulo, Nobel, 1989.

2
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo, Editora UNESP, 2001.
3
RIBEIRO, Sandra Bernardes. Brasília: memória, cidadania e gestão do patrimônio cultural. São Paulo, Annablume, 2005.

4
REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo, Perspectiva, 1978.

5
FERREIRA, Lúcio Mendes; FUNARI, Pedro Paulo. Cultura Material Histórica e Patrimônio. Campinas, IFCH/UNICAMP, 2003. p. 275.

6
RIBEIRO, Sandra Bernardes. Brasília: memória, cidadania e gestão do patrimônio cultural. São Paulo, Annablume, 2005.

7
GUTIÉRREZ, Ramón. Arquitetura latino-americana: textos para reflexão e polêmica. São Paulo, Nobel, 1989.

8
ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. São Paulo, Martins Fontes, 1995.

9
ARGAN, Giulio Carlo. História da arte como história da cidade. São Paulo, Martins Fontes, 1998.

10
GUTIÉRREZ, Ramón. Arquitetura latino-americana: textos para reflexão e polêmica. São Paulo, Nobel, 1989. p. 129.

sobre o autor

Arquiteta e Urbanista pela Universidade do Vale do Itajaí. Diretora do Departamento de Patrimônio Cultural de Itajaí. Membro do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural. Organizadora do Cidade Revelada – Encontro sobre Patrimônio Histórico, Arquitetura e Turismo.

Patricia Trentin, Itajaí SC Brasil

Centro de Cultura Popular, Mercado Velho, Itajaí SC
Foto Marcello Sokal

Centro de Cultura Popular, Mercado Velho, Itajaí SC
Foto Marcello Sokal

Casa da Cultura Dide Brandão, antigo Colégio Victor Meirelles, Itajaí SC
Foto Marcello Sokal

Casa da Cultura Dide Brandão, antigo Colégio Victor Meirelles, Itajaí SC
Foto Marcello Sokal

Museu Histórico de Itajaí, Palácio Marcos Konder, Itajaí SC
Foto Marcello Sokal

 

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