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O artigo é a apresentação de Roberto Segre, coordenador de Docomomo-Rio, no Ciclo de Palestras e Exposição Affonso Eduardo Reidy, no dia 14 de abril de 2010

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SEGRE, Roberto. Affonso Eduardo Reidy. Drops, São Paulo, ano 10, n. 033.01, Vitruvius, jun. 2010 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/10.033/3459>.


Conjunto de Pedregulho, Rio de Janeiro. Arquiteto Affonso Eduardo Reidy
Foto Andres Otero


Agradeço o convite de Maria Helena Rohe Salomon para abrir esta exposição e o ciclo de palestras que serão ministradas nas próximas semanas, e também ao seu entusiasta apoio ás iniciativas do Docomomo-Rio. Já desde o ano passado, o CAU tem colaborado com os nossos eventos, em particular com o Seminário nacional, onde foi possível distribuir entre os convidados alguns dos importantes livros que foram editados pelo Centro de Arquitetura e Urbanismo.

Considero que deve lembrar-se como a nossa colaboração vem de longe. Há 14 anos participamos juntos, desde a criação do Centro por Luiz Paulo Conde e Jorge Czajkowski em 1996, no primeiro evento internacional dedicado ao Art Déco na América Latina, que aconteceu no Copacabana Palace – eram evidentemente outros tempos em que se contava com o apoio incondicional da Prefeitura –, e cujos trabalhos apresentados, com a participação de diversos convidados estrangeiros, foram publicados em um livro que ainda hoje circula entre os especialistas.

Aqueles primeiros anos do CAU foram de uma intensa atividade, com inesquecíveis exposições organizadas por Jorge Czajkowski e sua equipe, assim como as publicações que as acompanhavam: entre outras citemos a de Jorge Machado Moreira; a coleção de planos do Rio apresentados na exposição “Do cosmógrafo ao satélite”; e a inesquecível dedicada a Le Corbusier 1929, com a apresentação dos desenhos originais do Mestre, que somente conhecíamos através dos livros; e o original livro com as construções em 3D do projeto da fita, elaborado com a participação do professor francês Yannis Tsiomis. Mas sem dúvida a grande contribuição do CAU á Rio de Janeiro foi a publicação no ano 2000, das quatro guias que compreendiam toda a história da sua arquitetura, desde a colônia até o século XX, onde Maria Helena teve uma participação fundamental na organização dessa complexa tarefa, onde também participei escrevendo o texto da guia da arquitetura moderna.

A presença de Maria Helena na atual direção do CAU demonstra o desejo de valorizá-lo, e continuar com os sucessos da época gloriosa, no período em que Conde era, primeiro Secretário de Urbanismo, e posteriormente Prefeito, e renovar o trabalho editorial com a publicação de livros significativos para a cultura arquitetônica e urbanística do Rio de Janeiro, como já foi a recente edição de análise do Plano Agache, e que está se aprontando sobre o plano Doxiadis. Mas pode se afirmar que aquele momento de esplendor está voltando?. Temos essa dúvida. Naqueles anos, Conde, arquiteto de renome, dedicou-se á política e a gestão pública, não para fazer política, mas com o objetivo de melhorar o nível da arquitetura e do urbanismo da cidade, e valorizar os conteúdos estéticos e culturais do ambiente construído. E podemos afirmar que os programas de Rio Cidade e Favela Bairro, com a participação de Sérgio Magalhães, foram sem dúvida a continuidade dos sonhos, dos ideais, das aspirações de Reidy, naquela sua utopia que imaginava com os arquitetos de talento deviam trabalhar como funcionários públicos para desenvolver as iniciativas construtivas do estado, sempre concretizadas com obras de alto valor estético.

Daí que a proposta de criar o CAU se originava no desejo de ter um centro cultural da arquitetura que permitisse á população da cidade, conhecer, participar, informar-se e integrar-se no conhecimento, no prazer, na alegria de compreender e compartilhar a presença da boa arquitetura, da sua beleza,na vida cotidiana. A aspiração era que o CAU devia ter um apelo e uma popularidade semelhante aos que difundem a significação das artes plásticas, como o Centro Cultural Banco do Brasil, ao dos Correios ou da Caixa Econômica. E que esta responsabilidade devia ser uma tarefa da Prefeitura, cujos recursos ajudariam a elevar o nível cultural da população carioca, e motivar o interesse pela arquitetura. Objetivo de grande significação social, em um contexto em que a maioria das pessoas, e em particular da classe média, estão alheios aos valores culturais da arquitetura, e se emocionam com a banalidade dos prédios dos condomínios fechados da Barra, se entusiasmam com os shopping centers e desprezam a maravilhosa herança contida no centro do Rio de Janeiro.

Com a importância dos grandes eventos que estão previstos no Rio para os próximos anos – o mundial de futebol e as olimpíadas –, é urgente desenvolver na população o conhecimento e a informação do que se pretende fazer, dos projetos que serão construídos, da participação dos profissionais locais e estrangeiros, e qual é o debate sobre as transformações urbanísticas previstas e as opções possíveis, entre a proposta de seguir expandindo a Barra ou revitalizar o abandonado centro da cidade. E por isso, já que o Brasil é um país democrático ainda, e pode se falar com total liberdade, e não cair no infantilismo esquerdista de banir as opiniões adversas aos interesses dos políticos de turno, me permito fazer a crítica que considero um absurdo o enfraquecimento do CAU, a sua redução a este espaço mínimo onde estamos reunidos esta noite, onde praticamente, a exposição é reduzida a estas poucas paredes, apresentada sem recursos, na vez de ocupar todas as salas originais do centro, como mereceria uma grande homenagem a Reidy, e que não é possível porque grande parte do CAU foi ocupado por escritórios administrativos da Prefeitura. Espaço que além, não permite o desenvolvimento dos workshops que estão se desenvolvendo em parceria com o Prourb FAU-UFRJ, com alunos e professores de universidades européias e norte-americanas, que vem ao Rio para participar dos projetos de transformação da nossa cidade.

E considero que é um grande erro dos políticos atuais, acreditar que não é importante a cultura arquitetônica da nossa sociedade. E que a visibilidade da arquitetura seria somente atingida através da presença de obras do jet set internacional, espalhando “elefantes brancos” na cidade. Admiro as obras projetadas por Jean Nouvel, Christian de Portzamparc, Diller & Scofidio e Santiago Calatrava, que irão integrar Rio no “efeito Bilbao” para atrair investimentos e turistas, mas admiro mais as iniciativas desenvolvidas por Conde e Magalhães, que convidaram os melhores arquitetos cariocas a desenvolver projetos criativos que se espalharam nos quatro cantos da cidade, atingindo com boa arquitetura os bairros e as populações pobres e distantes, com esse conteúdo social que tanto preocupava ao Reidy. E hoje, depois da tragédia que aconteceu no Rio na segunda 05 de abril, com centenas de mortos, a população pode se perguntar, quais são os projetos que as Prefeituras tem para estes casos de emergência?. Quais são as propostas dos arquitetos para resolver os graves problemas das moradias nas áreas de risco?. Que vai ser feito no futuro para evitar as trágicas enchentes, os deslizamentos de terra, os assentamentos de favelas em áreas de riscos e em aterros sanitários como aconteceram em Niterói; onde a especulação imobiliária é a dona da cidade, e não tem desenvolvido nenhuma obra de infra-estrutura que acompanhe o crescimento da população nos subúrbios e o exagerada concentração de prédios de apartamentos de luxo nos bairros nobres?

Mas sendo este é o tema desta inauguração, não vou me estender em falar de Reidy, já que estamos ansiosos de escutar o estro oratório do nosso querido Carlos Fernando. Somente desejo lembrar a importante significação que Reidy teve no início do Movimento Moderno carioca. Ele foi o modelo de arquiteto que todos os dias deveria ser difundido nas escolas de arquitetura da nossa cidade, para inspirar a formação das jovens gerações de estudantes. Valorizar a sua modéstia, a sua generosidade, a sua humildade, o seu rigor ético e moral, a rejeição de compromissos políticos e de submissão a imposições oportunistas; o seu amor pela arquitetura; assim como o seu talento colocado ao serviço da sociedade; valorizando os interesses coletivos sobre o egoísmo individualista, tão comum hoje entre os arrogantes arquitetos bem sucedidos, preocupados por difundir as suas obras em luxuosos coffee table books, cheios de superficiais imagens coloridas, e carentes de conteúdos conceituais.

Desde o Albergue da Boa Vontade até o Pedregulho, Reidy, nas suas obras de conteúdo social, sempre procurou integrar as tradições locais, a herança da cultura carioca com as idéias mais avançadas que circulavam no mundo nesse momento, e dessa simbiose, surgiram os conjuntos habitacionais e o MAM, obras que ainda hoje são referência da arquitetura brasileira no mundo inteiro. Mas alguém vai se lembrar da medíocre vila olímpica na Barra, dos jogos pan-americanos? Esta é a diferença entre a arquitetura “social” dos anos cinqüenta e a que se faz hoje. E também acho importante o desenvolvimento de este ciclo de palestras, porque no ano passado, no centenário do seu nascimento, ele não foi suficientemente valorizado, marginado pelos homenagens á Burle Marx. A sua figura deve ser estudada mais detalhadamente no contexto da arquitetura do Movimento Moderno brasileiro, e evidenciar melhor a sua significação, como o primeiro que desenvolveu a linguagem brutalista do concreto armado, com antecedência aos membros da escola paulista. E também insistir na sua contribuição no projeto do MES, em que se valorizam os projetos de Costa e Niemeyer, mais não se ressalta que o seu era o melhor projeto apresentado ao concurso e que curiosamente, pouca influência teve na Múmia, no projeto da equipe brasileira, fato que poderia ser atribuído á sua distancia de Le Corbusier,sendo o seu projeto mais próximo as obras de Mendelsohn ou Dudok. E também conhecer em detalhe o episódio do projeto do conjunto da aeronáutica em São José dos Campos, que distanciou ele e Carmen Portinho definitivamente de Niemeyer. E a sua negativa de participar no concurso de Brasília, duvidando da transparência e imparcialidade do júri, onde um dos principais membros era Niemeyer.

Em conclusão isto nos leva a propor a necessidade de aprofundar o estudo da sua obra, que merece um sério livro de análise, mais detalhado dos que foram publicados até agora. E neste sentido, também desejo expressar a minha tristeza de perceber que os arquitetos cariocas não receberam uma atenção, nas publicações, semelhante aos arquitetos paulistas. Vejam o rigoroso e detalhado livro que acaba de publicar Abílio Guerra sobre Marcello Fragelli. Que temos semelhante a ele sobre os irmãos Roberto, sobre Francisco Bologna, sobre Severiano Porto, sobre Sérgio Bernardes, sobre Carlos Nelson Ferreira dos Santos, algum deles já estudados por pesquisadores locais?. Então temos que fazer uma campanha para que esta lacuna seja preenchida, começando por Reidy. E para finalizar, faço um apelo aos profissionais, professores universitários e alunos das escolas cariocas de arquitetura, que difundam a obra do CAU, que a façam conhecer não somente entre o público especializado, mas para toda a nossa população urbana, para que possa ser conhecido o angustiante presente e o incerto futuro da “Cidade Maravilhosa”; e que a ação dos políticos e das instituições públicas possam ser monitoradas pelos principais interessados nas melhorias e transformações da cidade onde moramos.

Muito obrigado.

nota

1
O presente artigo é a apresentação de Roberto Segre, coordenador de Docomomo-Rio, no Ciclo de Palestras e Exposição Affonso Eduardo Reidy, no dia 14 de abril de 2010.

sobre o autor

Roberto Segre, arquiteto e crítico de arquitetura, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Roberto Segre, Rio de Janeiro RJ Brasil

 

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