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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Fredy Massad defende com veemência a necessidade de uma critica de arquitetura solida e profunda em tempos de uma mudança de paradigma, que deixa atrás a figura e a frivolidade do arquiteto estrela.

español
Fredy Massad defiende con vehemencia la necesidad de tener una crítica de arquitectura sólida y profunda en el marco de un cambio de paradigma que deja atrás la figura y frivolidad del arquitecto estrella.

how to quote

MASSAD, Fredy. Em estado crítico. Drops, São Paulo, ano 13, n. 068.05, Vitruvius, maio 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/13.068/4743>.


"Subterranean Homesick Blues", Bob Dylan


Come writers and critics
Who prophesize with your pen
And keep your eyes wide
The chance won’t come again
And don’t speak too soon
For the wheel’s still in spin
[…]
For the times they are a-changin’

Bob Dylan, The times they are a-changin’, 1964

Não é novidade dizer que estamos vivendo um período de intensas mudanças, um fluxo de transição, uma modificação de paradigma. O mundo (aquela ideia do mundo que tínhamos conhecido) certamente deixou de existir. No entanto, apesar da aceleração, da velocidade que caracteriza nosso tempo, as mudanças não têm se ocorrido nem estão acontecendo subitamente, mas assistimos gradualmente ao fim desta época.

O fim de um modelo. A era da informação induz e induzirá ainda mais mudanças nas formas de fazer, e, entre elas, pode ser já evidente que os modelos de arquitetura dos últimos anos e a figura no arquiteto-estrela devem-se considerar como uma das celebrações finais do capitalismo.

O crucial é que essas mudanças estão deixando alguns deslocados. Começando com aqueles que pregavam a arquitetura ligada ao projeto do neoliberalismo. Aqueles que hoje são rápidos para compensar suas posições anteriores, se não para mudar rapidamente de abrigo, pelo menos para não se descarrilar de seu papel de prima donna, frente a um espetáculo que se conclui – primeiro, por obsoleto, e depois, por falta de fundos – e que, no desespero para continuar em cena, tentam consertar com novos truques, tão hipócritas e interessadas como antes.

Se não for assim, o que faz agora Rem Koolhaas (1) – principal ideólogo deste modelo que levou a arquitetura especulativa e de espetáculo a conquistar o mundo (2) – tratando de transformar (direção da próxima Bienal de Arquitetura de Veneza no meio) em porta-voz de um novo modelo com uma nova fórmula “ética”, desfraldando um novo lema como verdade revelada: “é hora de lidar com a arquitetura, não dos arquitetos (3)”?

Seguindo essa perplexidade contemporânea e frente à pouca habilidade para decodificar a complexidade do presente, tem se instaurado, ou tem se pretendido instaurar (de forma totalmente interessada), o conceito falaz de que a crítica (de arquitetura) não existe, ou que, diretamente, está morta. Esta declaração, que tem ressonado como um mantra (ou talvez, slogan) durante os últimos tempos, e que vem de vozes com origens totalmente dissimiles, pode se interpretar como outra característica desta cultura banalmente enigmática, da construção de um pensamento descartável como o lixo, consequência direta do transe em que vivemos.

O interessante sobre essa coincidência é observar que, por uma razão ou outra, parecem existir desejos de que a critica desapareça. Essa necessidade irritante de revisar as coisas, de discutir as casualidades ou a insatisfação está sendo considerada um elemento perigoso para ser combatido.

É profundamente interessante que essa sentença tenha sido expressada, no mesmo período, de um lado por um crítico venerável e venerado como Josep Maria Montaner (4) – talvez vendo seu pedestal tremendo e sua figura de crítico privilegiado e intocável assediada pela multidão que pretendia colocar em dúvida sua autoridade, essencialmente dirigida a seres com sua mesma aura divina, somente conversável com sábios de sua grandeza, todos eles agora perdidos, confusos, em um mundo que consideravam inacessível (5) – e, por outro lado, a liquidação da ação crítica foi decretada (a partir das páginas do número 67  de Fulcrum (6), um panfleto publicado pela Architectural Association) por um dos proprietários da Plataforma Arquitectura, o website de arquitetura mais lido em língua espanhola.

David Basulto, esse empreendedor, imbuído da categoria das estrelas do presente e cuja grande capacidade de negócios pode não ser comparável à capacidade que tenha para aportar ao mundo da reflexão sobre a arquitetura. Engrandecido pelos sucessos econômicos e a enorme popularidade de sua plataforma, propõe nesse texto, sem reparos, lançar-se nas areias da opinião sustentando (de forma totalmente irresponsável) a ideia de que a nova crítica é uma fonte importante de “feedback” para os arquitetos sobre seu trabalho. Afirma que no passado o numero de críticos era pequeno em relação ao numero de edifícios e arquitetos existentes, apenas um pequeno grupo de eleitos seriam receptores desse “feedback”, mas que atualmente, devido à “proliferação da crítica na web, mais críticos estão criticando”, e portanto dando esse necessário “feedback”, e assim  “fazendo a arquitetura avançar mais rápido”. Sem explicar qual é o destino para o qual avançar com rapidez.

Todos esses raciocínios a priori poderiam ser entendidos apenas como uma confusão que parte de uma ignorância supina, de um mau entendimento básico dos conceitos de “opinião” e “critica”. Mas a questão não é tão trivial ou inofensiva como parece, já que prova como, desta forma, alguns setores (ao qual pertence Plataforma Arquitectura) tentam desativar a tarefa comprometida com o debate e a reflexão, substituindo-a pelo conceito “curto/não curto” do facebook.

De acordo com a teoria apresentada por Basulto, a crítica ficaria limitada a ser um banal elemento de quantificação da repercussão mediática de um prédio, de um projeto ou de um arquiteto. Seria com o dizer que a “audiência” determinaria o valor da arquitetura e dos arquitetos.

É claro que a crítica deve corresponder ao sentido do tempo e continuará a fazê-lo para ser um instrumento de reflexão e construção teórica, sem cair na melancolia que leva a nos apegar a modelos ultrapassados, que não gerariam respostas ou perguntas para as circunstâncias presentes. Mas também não cair na frivolidade intencionada de outros que, além de sua estupidez, tentam destruir a crítica para, dessa forma, defender uma falsa democratização digital, construindo um modelo autoritário que flutue de acordo com os interesses do mercado.

É verdade que muitos críticos e especialistas têm atuado como representantes de estrelas ou agências de marketing, como descobridores de novos talentos, patrocinadores ou apoiadores de muitos absurdos. Também é verdade que a rede tem se transformado cada vez mais em amplificadora dos antigos charlatões e vendedores de quinquilharias que estão hoje tentando confundir o pensamento com (auto)promoção, mas se delatam facilmente pela falta de conteúdo.

Recuperar um sentido da crítica e sua necessidade torna-se fundamental frente a tanto “lampedusianismo”, ante tanta falsidade ideológica. É preciso estar alerta. Os novos canais da tecnologia nos oferecem ferramentas valiosas, mas estando conscientes da responsabilidade. Além de tudo isso, tentar pensar criticamente tornou-se essencial. Uma crítica que quebre compromissos e favores, que examine minuciosamente cada questão, cada tema, e que seja capaz de desmitificar os personagens e confrontá-los com suas próprias circunstâncias.

notas

NE 1
Publicado originalmente no blog de arquitetura de abc.es “La Viga en el Ojo” <http://abcblogs.abc.es/fredy-massad/2013/04/15/19/>.

NE 2
Tradução feita por Simón Fique.

1
Rem Koolhaas, escolhido diretor de Arquitetura da Bienal de Veneza. Madri, ABC.es, 08 jan. 2013 <www.abc.es/cultura/arte/20130108/abci-koolhaas-bienal-venecia-arquitectura-201301081728.html>.

2             
Volume#12: Al Manakh 1<http://archis.org/publications/volume-12-al-manakh-1/>.

3
OUROUSSOFF, Nicolai. City on the Gulf: Koolhaas Lays Out a Grand Urban Experiment in Dubai. The New York Times, Nova York, 3 mar. 2008 <www.nytimes.com/2008/03/03/arts/design/03kool.html?pagewanted=all>.

4
MONTANER, Josep Maria. La extraña muerte de la crítica de arquitectura. El País, Barcelona, 11 abr. 2012 <http://ccaa.elpais.com/ccaa/2012/04/11/catalunya/1334177235_734555.html>.

5
MASSAD, Fredy. La melancolía mató al crítico. Btbw Architecture, Barcelona, 18 abr. 2012 <www.btbwarchitecture.com/2012/04/la-melancolia-mato-al-critico.html>.

6
BASULTO, David. El fin de la crítica: Hacia una nueva arquitectura. Plataforma Arquitectura, Santiago de Chile, 4 mar. 2013 <www.plataformaarquitectura.cl/2013/03/04/el-fin-de-la-critica-hacia-una-nueva-arquitectura/>.

sobre o autor

Fredy Massad, diretor do escritório ¿btbW, é autor do livro Enric Miralles: Metamorfosi do paesaggio, editorial Testo &I mmagine, 2004.

 

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