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drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Em 1972, na tentativa de expor uma visão critica a sociedade da época, o arquiteto holandês Rem Koolhas criou Exodus, uma experiência arquitetônica que conceitualmente despiria a sociedade de suas máscaras, aceitando voluntários ao aprisionamento.

english
In 1972, as an attempt to expose his critical vision over the society, the Dutch architect Rem Koolhas created Exodus, an architectural experience that conceptually would strip off the society from its masks, accepting the volunteers to its imprisonment.

español
En 1972, en el intento de exponer una visión crítica a la sociedad de la época, el arquitecto Rem Koolhas creó Exodus, una experiencia arquitectónica que conceptualmente se retira las máscaras de la sociedad, aceptando voluntarios al encarcelamiento.

how to quote

BERTHOLDO NETO, Emílio. Um olhar sobre Exodus de Rem Koolhaas. Drops, São Paulo, ano 18, n. 120.03, Vitruvius, set. 2017 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.120/6699>.


Exodus, Exodus, or the Voluntary Prisoners of Architecture: The Strip, 1972. Arquitetos Rem Koolhaas, Madelon Vriesendorp, Elia Zenghelis, Zoe Zenghelis [The Museum of Modern Art, Architecture and Design Collection]


A arquitetura apresenta-se como elemento cotidiano na vida de todos, possui uma influência no modo de agir, criando caminhos, referências e alterando a paisagem na qual se insere, criando um elo entre objeto e indivíduo, capaz de alterar as percepções espaciais e solidificar as relações entre indivíduo e cidade.

Considerando tal afirmação, a arquitetura tem potencial suficiente para incomodar e estimular o indivíduo a devir, como pode ser analisado no projeto Exodus, concebido em 1972 pelo arquiteto holandês Rem Koolhaas, o qual se baseia em um estudo crítico feito na cidade de Londres, local de implantação do projeto.

A iniciativa explora a possibilidade de dividir a cidade em duas partes, “metade boa e metade ruim”, contudo, existiria a probabilidade de as pessoas na “metade ruim” migrarem para a “metade boa”, o que resultaria no dobro da população na “metade boa”, enquanto a “metade ruim” se tornaria uma cidade fantasma. Para evitar tal “êxodo”, foi construído um muro que cercaria a parte “boa” e dificultaria o acesso aos habitantes da outra metade.

Tal muro teria um efeito mais intensamente psicológico do que físico, por tornar a “metade boa” irresistível. Esse mal-estar gerado pela arquitetura faria a população que estava fora desejasse estar dentro, enquanto os que estavam dentro teriam a sensação de estarem presos e desesperados para sair.

O resultado disso tudo foi uma força intensa e devastadora, que desencadearia diversos conflitos pessoais.

O muro se tornaria um elemento segregador, contudo, criou-se uma vontade de lutar contra tais condições. Essa arquitetura favoreceria a criação de alternativas mais inusitadas, resultando em indivíduos adaptáveis.

Os usuários que decidirem entrar em seus limites, se tornariam seus prisioneiros voluntários, optando pelo aprisionamento. Exodus não tem um perfil autoritário, não impõe o que fazer, mas cria condições para que os desejos individuais sejam realizados.

Uma vez dentro dele, o usuário reexperimentaria a própria vida. Deveria se desligar de tudo e viver apenas o projeto, que apresenta um programa de usos bem fragmentados, específicos e, ao mesmo tempo, adaptável às necessidades de cada indivíduo, além de trabalhar vários paradoxos da humanidade, como o intenso convívio social e o isolamento de maneira simultânea.

Enclausurado entre suas paredes, o indivíduo estaria destituído de seu “eu-social”, mesmo assim, seria forçado a conviver socialmente contemplando relações interpessoais similares, espaços de admiração, reflexão e liberação emocional, bem como o parque da agressão.

Durante a vivência em Exodus, os indivíduos viveriam às margens das suas próprias vidas, submetidos às constantes atualizações de devires eternos, flutuando entre solidão e intenso convívio, paixão e ódio, realidade e ilusão, como na praça dos quatro elementos com gases alucinógenos representando o vento, paisagens incomodas e áridas como o deserto, piscinas agitadas representando a influência da água, e cavernas representando a terra.

Estes e outros exemplos contidos no projeto demonstram a capacidade de Exodus em agir, de maneira paciente, sobre seus habitantes, forçando-os a se transformarem constantemente, afogando seus prisioneiros voluntários em um mar repleto de signos que nada mais significam, precisam ser absorvidos e requalificados para que o espaço tenha sentido, para que se torne cativo.

Logo, Exodus agiria na própria vontade de poder do homem como o agente da transformação, levando-o aos seus limites e forçando-o a experimentar o espaço em toda sua intensidade.

Implorando para entrar, o usuário muda, despe-se de conceitos pré-existentes, reconquista a ingenuidade e permite que a força da mudança comece a atuar sobre si e então transformá-lo.

Em outras palavras, o habitante de Exodus não seria mais um mero espectador ou um usuário, mas torna-se o próprio Exodus, fundindo-se ao projeto pela sua ingenuidade conquistada e tornando-se o próximo agente da transformação, tomando para si o legado que lhe fora apresentado.

“Extraindo o objeto do seu habitual e revelando-lhe uma faceta insólita, o artista destrói os clichês e as associações estereotipadas, impondo uma complexa percepção territorial do universo. A deformação enquanto ato criativo torna mais sagaz a percepção e mais denso o universo que nos circunda. A densidade perceptiva de um mundo insólito é a principal característica da arte” (1).

Como é possível ver, em Exodus, essa nova percepção territorial altera completamente a relação indivíduo-cidade, segundo Lucrécia D’Alessio Ferrara em seu livro A estratégia dos signos, a desautomatização é o elemento responsável por essa deformação do espaço edificado, esse estranhamento.

Ao estranhar tal elemento da cidade, as relações são forçadas a novas análises. A cidade consolidada na mente do indivíduo é ressignificada, e este é forçado a criar novas relações e ajuizamentos, ou seja, apreender o espaço como se fosse um estrangeiro.

Logo, é possível ver que a arquitetura é o elemento vinculador entre indivíduo e espaço. Ao mediar as relações e os ajuizamentos, permite a criação de vínculos capazes de transfigurar o espaço para algo importante, dotado de significado.

Após o estreitamento dos laços, indivíduo e espaço transformam-se em algo inédito e diferente do que eram, gerando novos sentidos, relações e signos que tornam o espaço resultante algo único e inovador na visão do indivíduo outrora vinculado.

Apesar de se tratar de um projeto conceitual nunca antes construído, se considerado sua escala, a ambiciosa intervenção e a desfiguração que tal intervenção causaria na cidade em que fosse inserido, seja ela qual fosse, Exodus trás em sua essência questionamentos relevantes à construção da cidade e uma crítica contundente a sociedade da época, que Koolhas considerava muito acostumada à própria vida.

Exodus demonstra, na visão do autor do projeto, o papel da arquitetura e do arquiteto enquanto agente transformador dos ambientes urbanos.

O projeto em questão carrega em si uma crítica à intensidade projetual, necessária para se produzir o espaço urbano de maneira a desautomatizar o olhar, forçar as pessoas a saírem de sua passividade em relação às cidades e se tornar um interventor, um agente ativo relevante à transformação do meio urbano, identificando-se com o meio em que se insere e sentindo-se responsável e livre para torná-lo seu, favorecendo intervenções positivas na cidade.

nota

FERRARA, Lucrécia D’Alessio. A estratégia dos signos. 2a edição. São Paulo, Perspectiva, 2009, p. 37.

sobre o autor

Emílio Bertholdo Neto é arquiteto e urbanista, especialização em Educação e Mestrando em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professor na área de Arquitetura e Urbanismo no Senac São Bernardo do Campo e pesquisador no IPIU/SP.

 

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