Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
Em nota oficial divulgada pela UFPR, o reitor Ricardo Marcelo Fonseca denuncia o arbítrio cometido pela Polícia Federal na condução coercitiva de membros de reitorias de universidades federais.

how to quote

FONSECA, Ricardo Marcelo. Um ano de ataques contra as universidades públicas brasileiras. Nota do reitor da UFPR. Drops, São Paulo, ano 18, n. 123.02, Vitruvius, dez. 2017 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.123/6800>.


Há quase um ano, no dia 9 de dezembro de 2016, a polícia federal irrompeu na UFRGS, em vista de uma suspeita de fraude em um programa de extensão. A polícia federal batizou todo o movimento de “Operação PhD”.

Pouco tempo depois, em 13 de fevereiro de 2017, algo similar aconteceu na nossa universidade: numa operação (batizada de “Research”), foram envolvidos mais de 180 agentes federais, cumprindo vários mandados de prisão e oito conduções coercitivas.

Mas o pior estava por vir: no dia 14 de setembro de 2017, numa operação batizada de “Ouvidos moucos” (em alusão direta à suposta falta de respostas da Universidade aos órgãos de controle), a polícia chega na UFSC para cumprir sete mandados de prisão temporária e cinco de condução coercitiva. Mais de 115 policiais foram envolvidos na operação – que vieram inclusive de outros estados. Nesse caso, porém, houve um fato grave adicional: o próprio Reitor da UFSC – Luiz Cancellier de Olivo – foi preso “por obstruir investigações”. Os supostos desvios (ainda em fase de investigação e apuração) teriam ocorrido na gestão anterior a dele. Levado a um presídio, algemado, submetido à revista íntima e solto logo depois, mas impedido por ordem judicial de colocar os pés na universidade que o elegeu, Cancellier cometeu suicídio no dia 02 de outubro de 2017.

Para quem imaginava que esta tragédia serviria para que a escalada contra as universidades fosse objeto de reflexão e cuidado, hoje, dia 6 de dezembro de 2017, vem outro grande choque: o alvo foi a UFMG. Outra operação policial, com 84 policiais federais, 15 auditores da CGU e dois do TCU cumpriu oito mandados de condução coercitiva e onze de busca e apreensão. A operação – não sem certo mal gosto irônico – foi intitulada “Esperança equilibrista” (numa referência direta a uma canção símbolo da época da redemocratização brasileira, “O bêbado e o equilibrista”). Foram conduzidos coercitivamente os atuais reitor e vice-reitora da UFMG (Jaime Ramirez e Sandra Almeida), além de servidores e dirigentes das gestões anteriores.

Como se viu, em pouco menos de um ano, 4 das maiores universidades federais do Brasil (UFMG, UFRGS, UFSC e UFPR), sofreram impactantes operações policiais, com quantidade de agentes (geralmente também acompanhados de auditores de órgão de controle) suficientes para um conflito armado. Todas com imensa e desmedida repercussão midiática. Em alguns desses casos, com prisão ou condução coercitiva das autoridades máximas – no planos administrativo e simbólico – das instituições universitárias. Nunca se viu um cenário desses antes.

As universidades, seus professores, servidores técnicos e pesquisadores teriam se pervertido tanto assim em um ano? Teriam se transformado de repente em ninhos de bandidos? E se perceba: se está falando de instituições tradicionais – a nossa UFPR é centenária – que durante décadas foram vistas como celeiros do conhecimento brasileiro e da formação de gerações. As universidades não são perfeitas, como nenhuma instituição pública ou privada o é, mas seguramente não são esse antro de corrupção, descontrole e ineficiência que as ações policiais sugerem e que a mídia propaga.

Se é assim, é melhor olhar com certa frieza para o que há de comum nesse triste contexto. Primeiro, operações policiais e órgãos de controle têm elegido as universidades públicas como principais focos de sua atenção. Não são os ministérios, autarquias ou os demais órgãos federais – seguramente nenhum deles berços infalíveis de virtudes infinitas; agora os olhos do controle e da repressão se voltam para as universidades públicas.

Segundo: de repente – mais do que em qualquer outro tempo – a imprensa se concentra no que acontece nas Universidades. Mas não para falar sobre os milagres cotidianos que operamos (na formação das pessoas, na ciência, na tecnologia, na inovação ou na inclusão social), mas naquilo que, aos seus olhos, lhe parece suspeito, mesmo que ainda não haja investigação ou decisão definitiva sobre o que se noticia.

Terceiro: todas essas confusões – todas – são feitas sem que haja um juízo condenatório definitivo: o escarcéu repressivo e midiático acontece antes e a apuração de responsabilidades vem depois.

Quarto: parece que houve uma suspensão de alguns direitos no Brasil, como a presunção de inocência, o devido processo legal e a dignidade da pessoa humana. O clima policialesco e a mentalidade inquisitória parecem ter definitivamente suplantado uma cultura de direitos que valorizava a liberdade. Em nome de um certo moralismo administrativo e de uma sanha punitivista, garantias e direitos individuais são colocados como detalhes incômodos e inconvenientes.

Quinto: o princípio da autonomia universitária (prevista no art. 207 da Constituição), por todas as razões antes já mencionadas, hoje foi reduzido a pó e a letra morta.

O momento é de fato grave: enquanto deputados ou senadores filmados em flagrante delito por graves desvios são soltos pelos seus pares, reitores têm sua liberdade cassada. A sociedade deve, com muita premência, pensar que tipo de mundo pretende construir quando instituições como as universidades públicas (responsáveis por cerca de 90% da ciência e tecnologia do Brasil) são demonizadas, expostas, desrespeitadas e quando seus dirigentes são imolados publicamente.

O Brasil precisa pensar em que tipo de futuro quer apostar. E para mim a resposta só pode ser essa: é momento de resistir e defender a Universidade Pública. Viva a UFRGS! Viva a UFSC! Viva a UFMG! Viva a UFPR!

nota

NE – Nota divulgada pela Superintendência de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná no dia 6 de dezembro de 2017, às 20h04, em resposta às conduções coercitivas de reitores e professores de universidades públicas promovidas pela Polícia Federal.

sobre o autor

Ricardo Marcelo Fonseca é Reitor da UFPR.

biblioteca tempos temerários

Tempos Temerários é um projeto de Abilio Guerra e Giovanni Pirelli, produzido pela equipe do Marieta (portal Vitruvius + Irmãos Guerra Filmes + produtora Cactus), que visa ser um momento de debate sobre temas da atualidade, como um laboratório permanente para pesquisar técnicas, ações e ideias de resistência e transformação politica, social e cultural.

ADFAUPA, Diretoria Colegiada. Dia(spora) de arquitetos. Drops, São Paulo, ano 18, n. 123.07, Vitruvius, dez. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.123/6815>.

BRUM, Eliane. Gays e crianças como moeda eleitoral. El País, Madri, 18 set. 2017 <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/18/opinion/1505755907_773105.html>.

COLI, Jorge. Erotismo em tempos de cólera e boçalidade. Drops, São Paulo, ano 18, n. 120.04, Vitruvius, set. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.120/6703>.

COLI, Jorge. Por moralismo torpe, pessoas decidem eliminar a reflexão e neutralizar a arte. Drops, São Paulo, ano 18, n. 121.06, Vitruvius, out. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.121/6734>.

COLI, Jorge. Toda nudez será castigada. Drops, São Paulo, ano 18, n. 122.02, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.122/6756>.

FONSECA, Ricardo Marcelo. Um ano de ataques contra as universidades públicas brasileiras. Nota do reitor da UFPR. Drops, São Paulo, ano 18, n. 123.02, Vitruvius, dez. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.123/6800>.

GUERRA, Abilio. Notícias dos tempos temerários. Resenhas Online, São Paulo, ano 17, n. 189.04, Vitruvius, set. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/17.189/6706>.

LIRA, José. Tempos sombrios. Drops, São Paulo, ano 18, n. 121.01, Vitruvius, out. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.121/6713>.

LUZ, Afonso. Lygia Clark: todo bicho tem articulações. Drops, São Paulo, ano 18, n. 121.03, Vitruvius, out. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.121/6719>.

LUZ, Afonso. Trolagem institucional. Resenhas Online, São Paulo, ano 17, n. 190.01, Vitruvius, out. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/17.190/6718>.

MARTINS, Carlos A. Ferreira. Quem quer acabar com a universidade pública? Drops, São Paulo, ano 18, n. 123.04, Vitruvius, dez. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.123/6805>.

MEDEIROS, Afonso. Sobre o ataque do MBL à exposição Queermuseu em Porto Alegre. Drops, São Paulo, ano 18, n. 122.08, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.122/6786>.

MIYADA, Paulo. Carta ao prefeito de São Paulo. Sobre o nu no MAM-SP. Drops, São Paulo, ano 18, n. 121.02, Vitruvius, out. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.121/6714>.

PINHEIRO-MACHADO, Rosana. A nova direita conservadora não despreza o conhecimento. Carta Capital, São Paulo, 10 out. 2017 <https://www.cartacapital.com.br/politica/a-nova-direita-conservadora-nao-despreza-o-conhecimento>.

TIBURI, Marcia. Como seria o julgamento de Lula se estivéssemos em uma democracia. Drops, São Paulo, ano 18, n. 124.03, Vitruvius, jan. 2018 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.124/6836>.

TIBURI, Marcia. Sobre os últimos acontecimentos. A arte, a alma, os inquisidores. Drops, São Paulo, ano 18, n. 121.05, Vitruvius, out. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.121/6732>.

TOURINHO, Emmanuel Zagury. Agressão à liberdade de expressão. Nota oficial da UFPA. Drops, São Paulo, ano 18, n. 122.09, Vitruvius, nov. 2017 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/18.122/6787>.

 

comments

123.02 tempos temerários
abstracts
how to quote

languages

original: português

share

123

123.01 homenagem

Gérard Monnier, historiador do moderno

Nota de falecimento

Alex Miyoshi

123.03 meio ambiente

Seriam mesmo exageradas as exigências ambientais?

Álvaro Rodrigues dos Santos

123.04 tempos temerários

Quem quer acabar com a universidade pública?

Carlos A. Ferreira Martins

123.05 homenagem

Marilena Chaui, professora emérita

José Lira

123.06 obra pública

Sobre o Museu do Trabalho e do Trabalhador

Obras paralisadas de museu precisam ser retomadas

Nabil Bonduki

123.07 tempos temerários

Dia(spora) de arquitetos

Sobre a dispensa dos professores da FAU Uniritter

Diretoria Colegiada ADFAUPA

123.08 ensino

Manifestação pela qualidade do ensino de arquitetura e urbanismo

A precarização do ensino superior e a contradição com o futuro que queremos para o país

Associação Brasileira de Ensino de AU ABEA

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided