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drops ISSN 2175-6716

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português
Segundo Álvaro Rodrigues dos Santos, na geotecnia brasileira já não é mais o problema que busca a solução, mas sim a solução prêt-à-porter que comercialmente busca problemas, sejam esses quais forem, para oferecer-se como desejada panaceia tecnológica.

how to quote

SANTOS, Álvaro Rodrigues dos. O médico clínico geral e a geotecnia brasileira. Drops, São Paulo, ano 19, n. 134.03, Vitruvius, nov. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/19.134/7167>.


Arrimo com gabião
Foto divulgação


Lembro-me com imensa saudade de meu querido pai, Dr. Brasílio, médico clínico geral e cirurgião na pequena Batatais, região da Alta Mogiana, Estado de São Paulo.

Exímio cirurgião, mas sua notoriedade maior, entre pacientes e colegas médicos de toda a região, era sua fantástica capacidade de fazer e acertar diagnósticos. Seus colegas de outras cidades muitas vezes lhe traziam seus pacientes unicamente para ter dele uma opinião quanto ao diagnóstico do mal com que lidavam.

Essa capacidade veio-lhe por mérito de sua abordagem clínica, ao entender que o organismo humano é composto de partes indissoluvelmente conectadas e interligadas, pelo que uma insuficiência renal inequivocamente iria também se manifestar na serosidade da pele, nas pálpebras dos olhos... À época estavam entrando em moda os exames laboratoriais, e meu velho já adiantava seu veredito sobre esse recurso médico: ótimos, mas somente como apoio à investigação das hipóteses iniciais de diagnóstico produzidas a partir do exame clínico.

Enfim, o grande ensinamento: antes de qualquer decisão, a certeza de se contar com o mais completo diagnóstico do problema enfrentado. Decisões sobre a melhor conduta médica só poderiam ser tomadas a partir desse diagnóstico, do contrário graves consequências adviriam por certo para o paciente.

Premiado por desfrutar como filho dessa linha de conduta profissional, nada mais natural que eu percebesse seu exato sentido também nos campos técnico-científicos a que me dediquei, a geologia de engenharia e a geotecnia. Pelo que preocupa-me sobremaneira a percepção da desimportância, já um tanto generalizada, que a geotecnia brasileira vem dedicando à elaboração de seguros diagnósticos, entendidos esses como a atividade primeira no enfrentamento dos problemas que nos são apresentados.

Frente a um problema geotécnico qualquer, o primeiro impulso vem mais comumente se constituindo na eleição da solução a ser dada, do que decorre a enorme frequência com que todos vimos testemunhando situações de total desencontro entre o real fenômeno geológico-geotécnico em curso e a solução aventada para estabilizá-lo.

Já não é mais o problema que busca a solução, mas sim a solução prêt-à-porter (“pronta para usar”) que comercialmente busca problemas, sejam esses quais forem, para oferecer-se como desejada panaceia tecnológica. Como o caricato “médico de bula”, já habita entre nós o “geotécnico de catálogo”.

Claro, sem dúvida alguma o aperfeiçoamento de nosso leque de soluções técnicas é necessário e bem-vindo, por disponibilizar continuamente novas e eficazes ferramentas para o trato de novos e velhos problemas geotécnicos. A questão apontada não está na qualidade das soluções disponibilizadas, mas no risco em se abordar um problema geotécnico com a predisposição de utilizar-se essa ou aquela solução. Donde a profusão de situações de total insucesso técnico das consolidações geotécnica pretendidas. Casos de mesma natureza são as situações de insucesso financeiro, em que a solução adotada, ainda que possa ter sofrivelmente resolvido o problema, tenha resultado um preço exorbitante, muito maior daquele que seria naturalmente decorrente de uma solução fenomenologicamente correta.

Uma desejada reversão dessa disfunção de abordagem técnica passa pela disposição da geotecnia brasileira, geólogos de engenharia e engenheiros geotécnicos, em retomar em sua plenitude as rédeas de seu exercício profissional, recuperando em teoria e prática a velha e sábia verdade de ordem metodológica: a execução de serviços geotécnicos, de qualquer natureza, inicia-se, indispensavelmente, pela exata compreensão qualitativa e quantitativa do fenômeno geológico-geotécnico que se está enfrentando.

sobre o autor

Álvaro Rodrigues dos Santos, geólogo, ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT e Ex-Diretor da Divisão de Geologia, autor dos livros Geologia de engenharia: conceitos, método e prática, A grande barreira da Serra do Mar, Cubatão e Diálogos geológicos, Cidades e geologia, Enchentes e deslizamentos: causas e soluções. Consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente.

 

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