Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
Nesta entrevista Fredy Massad e Alicia Guerrero Yeste conversam com Toyo Ito sobre tradição, projetos e tecnologia

how to quote

MASSAD, Fredy; GUERRERO YESTE, Alicia. Toyo Ito. Entrevista, São Paulo, ano 01, n. 004.01, Vitruvius, out. 2000 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/01.004/3348>.


 

Sendai - computer generated image by Arata Isozaki and Associates

 

Fredy Massad e Alicia G.Yeste: Temos feito entrevistas com outros arquitetos que mais ou menos pertencem a sua geração. Todos tendem a ser um tanto reticentes a respeito da aplicação de tecnologia de última geração nos desenhos dos projetos. Não aplicam a tecnologia a suas estratégias de desenho. Você é o único arquiteto de mais de quarenta e cinco anos que está totalmente aberto às possibilidades da tecnologia. E não só para aplicá-la à arquitetura e conduzi-la a uma renovação, mas também no plano teórico de seu trabalho. Acredita que se deve a alguma razão específica essa reticência ou ela significa apenas uma atitude conservadora, acomodatícia aos métodos que já são conhecidos? A nova tecnologia provocará uma transformação na arquitetura do século próximo?

Toyo Ito: A respeito da primeira pergunta, eu creio que uma imensa maioria dos arquitetos desta geração quer colocar a arquitetura em um altar, como se fosse algo sagrado. Creio que essa é sua impressão. Sem dúvida eu acredito que a arquitetura sempre deve ir em consonância com sociedade e com o que a gente faz. Para mim a arquitetura não é algo para admirar e contemplar, mas é algo que se utiliza, aonde nós vivemos. Tanto física como mentalmente, os seres humanos estão sob influência da época e das técnicas, o que condiciona sua evolução. Os telefones celulares são encontráveis em todas partes do mundo; o mesmo ocorre com o computador, que já é um objeto pessoal cotidiano. Ainda que os arquitetos, pelo menos em sua maioria, pensem que essas coisas não guardam nenhuma relação com a arquitetura, sem dúvida eu acredito que as pessoas estão recebendo a cada momento a influência de todos estes elementos. Eu penso constantemente nestas condições físicas e mentais envolvidas na maneira como as pessoas se reúnem ou se comunicam, e como a arquitetura teria que se adaptar a elas. A arquitetura não é uma coisa que possa ficar apartada dessas coisas. Eu penso que quando um arquiteto ou um escritor capta bem a potência que tem uma época é justamente quando seu trabalho pode perdurar no futuro imediato. No mundo da arquitetura utiliza-se o computador com um sentido prático: para desenhar, para dirigir obra… Os arquitetos hoje em dia não sabem considerar como a tecnologia influi tanto física como mentalmente. Eu prefiro seguir meu trabalho orientado neste caminho.

"Estamos falando da tecnologia realmente como de uma espécie de nova natureza, algo que sirva para nos medirmos, algo de onde extrair regras e também investigar" Laurie Anderson

FM / AGY: Em seu texto Arquitetura em uma cidade simulada você dizia que lhe interessa desenvolver uma arquitetura que nos permita viver em uma estrutura onde se combinem livremente realidade e irrealidade. Estamos de acordo que esta sua idéia é a que reflete com melhor precisão o funcionamento de nossa mente na época atual, onde o computador nos permite estruturar bem o fluxo de nossa mente, tanto o consciente como o inconsciente. Junto com esta questão da aplicação da tecnologia que se adapta perfeitamente a nosso, digamos, funcionamento biológico, queríamos apresentar-lhe uma citação de Laurie Anderson de 1984 para que nos comente até que ponto você está de acordo. "A eletrônica", diz ela, "está muito conectada, em termos de velocidade, a nosso cérebro… É tão rápido, que (quando se empregam instrumentos eletrônicos) ele dispõe de uma espécie de liberdade imediata…" Ou seja, com o uso da tecnologia se pode conseguir emular a forma e a velocidade com que nossa mente funciona.

TI: Laurie Anderson me influiu muito. Ela diz que o homem tem dois corpos: um físico e real e outro, criado a partir das imagens. Este segundo corpo é constituído de fluxos eletrônicos. O primeiro absorve a água e o ar. O mais recomendável é a adequada combinação dos dois corpos. Tal como um jogador de futebol deve ter clara essa combinação de corpo físico e mente, mesmo que não se dê conta, nossos corpos estão constantemente expostos ao ar da tecnologia, reagem diante dela e com ela sincronizam nosso ritmo biológico. Inconscientemente, talvez, tenhamos já um corpo robotizado, como os andróides. (…) não podemos distinguir a realidade da irrealidade – isso inclui desde o fast-food ao karaoke ou a realidade virtual (…). temos perdido os sentidos, transformado nosso corpo de tal maneira que podemos inverter a relação entre realidade e irrealidade mediante a simples troca de uma imagem.

FM / AGY: A nós nos parece que sua abordagem da arquitetura tem muito mais sentido do que a de outros arquitetos ocidentais jovens que estão trabalhando com tecnologia, mas que estão em demasia sob influência da filosofia e preferem trabalhar determinando suas idéias pela filosofia contemporânea ao invés de prestar atenção real ao funcionamento biológico das pessoas em nossa era.

TI: Segundo meu critério, a tecnologia é que está fazendo mudar os pensamentos, ainda que eles digam que se fundamentam na filosofia ou nos conceitos Eles não seriam capazes de pensar nunca esses conceitos separados da tecnologia eletrônica. A arquitetura é de per si tridimensional. Na verdade, em nosso trabalho de arquitetura quando não havia computadores, concebíamos através de planos e cortes. Hoje em dia os arquitetos já concebem a arquitetura como algo tridimensional e não bidimensional. Os arquitetos jovens, na atualidade, já desde o princípio se enfrentam com o mundo tridimensional no uso dos computadores, então têm a sensação que esses conceitos de planos e cortes bidimensionais que nos faziam compreender as três dimensões já não são necessários e deveriam desaparecer.

Por mais que utilizemos o computador, ainda temos feito de tal forma que primeiro pensamos de forma bidimensional. Agora, com o computador, se pode entrar já de forma direta às três dimensões sem passar por essa fase bidimensional. O próprio conceito da sociedade pode variar bastante. Em outras palavras, é a transformação de conceito do que é a arquitetura. Ou seja, as idéias já não são conceituais, mas algo que evolui e se renova junto com a tecnologia.

FM / AGY: Contudo em sua obra a tecnologia não nos faz esquecer da natureza nem da poesia. É uma possibilidade que festejam os novos tempos mas não as exclui.

TI: É claro que não. Para mim o mais importante são estes elementos, tanto a natureza como a poesia. O que temos que fazer é não parar no tempo, mas ir buscando uma inovação, um novo caminho e, através dessa busca, tentar criar um novo conceito de natureza e de poesia. Necessitamos uma espécie de estímulo para ir ativando os pensamentos.

FM / AGY: Você sempre fala em produzir uma arquitetura vibrante, que estimule com força os sentidos. Ainda que retornando ao tema da "arquitetura em uma cidade simulada", acredita que se possa desenvolver uma arquitetura que esteja criando efeitos que de certo modo estejam enganando aos sentidos?

TI: Não creio que eu pense isto, ainda que entenda o que quer sugerir com essa pergunta. Para mim o mais importante e atraente é extrair algo do mundo invisível, não do mundo palpável que já conheço. Quero extrair algo desconhecido para saber que elementos possui e o que se pode obter dele. Para conseguir isto, estabeleço uma hipótese e me introduzo dentro desse mundo hipotético.

Extraímos como idéia final: deste discurso "captar toda a potência da época em que se trabalha e, buscar, extraindo algo do mundo desconhecido, para criar um novo conceito sobre a natureza ou sobre a poesia". Os especialistas afirmam que o homem ainda não aprendeu a utilizar nem a metade de todo o potencial de sua mente.

comments

004.01
abstracts
how to quote

languages

original: português

outros: español

share

004

004.02

Atsushi Kitagawara

Marcelo Tramontano

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided