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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
O ganhador do Prêmio Pritzker de 1995 fala com exclusividade para Vitruvius sobre processo de trabalho no ateliê, arquitetura contemporânea, Brasil e muito mais (com novas e inéditas imagens de obras)

english
The winner of the Pritzker Prize in 1995 speaks exclusively to Vitruvius about the work process in the studio, contemporary architecture, Brazil, and much more (with new and unseen images of works)

español
El ganador del Premio Pritzker de 1995 habla con exclusividad para Vitruvius sobre el proceso de trabajo en el estudio, arquitectura contemporánea, Brasil y mucho más (con nuevas e inéditas imágenes de obras)

how to quote

ESKES, Nanda. Christian Portzamparc. Entrevista, São Paulo, ano 03, n. 011.01, Vitruvius, jul. 2002 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/03.011/3341>.


Novo Centro Cultural, Rennes, 1993

Nanda Eskes: Observamos em seu trabalho uma leitura do mundo que é, ao mesmo tempo eclética, política, espacial e imaginária. Você trabalha com o caos, justapõe diferentes peças de um quebra-cabeça como um puzzle e busca conformar tudo isso numa unidade. Você poderia comentar isso?

Christian de Portzamparc: Eu acho que você tem um pouco razão. Eu não diria caos, mas que aspiro sempre em meus projetos a uma diversidade de soluções. Na verdade, nem sempre, pois às vezes elas se impõem. E sou atraído por várias atividades, não somente a de fazer prédios. Há muitas coisas que eu gostaria de fazer, mas que não tenho o tempo necessário. Não estou fixado numa coisa somente, o que é ao mesmo tempo uma força e uma fraqueza, porque podemos às vezes ser eclético e variado. Mas acredito no fundo que a vitalidade é uma força. Espero que esse seja o caso de vários arquitetos, afinal a arquitetura sempre responde a várias questões muito diferentes. A vida é feita de diversidade, não conseguiria me restringir a uma época, uma maneira. Talvez eu tenha o prazer de procurar e de explorar outras possibilidades a cada projeto.

Quando eu fiz uma conferência em Osaka, há alguns anos, foi Tadao Ando quem fez a introdução. Ele disse que gostaria muito de fazer como eu, questionar-se a cada projeto, mudar, explorar outros caminhos. Ele foi muito generoso ao dizer isso, pois evoluiu também. Ele via em mim uma qualidade diferente da dele, que foi sempre fiel a um só material. Muitas vezes, a arte moderna, os artistas e às vezes os arquitetos se encontraram – sinceramente ou não – presos dentro de um estilo e as pessoas têm a expectativa que eles sempre repitam o que já fizeram.

Mas não somos todos assim. Eu penso que a vida é mais importante do que os edifícios, que ela te impede de sacralizá-los. Os prédios duram no tempo, sofrem algum tipo de erosão que às vezes nos faz sofrer, às vezes são mais ou menos cuidados, ou se estragam, muitas vezes aspectos que você não considerava tão importante vão se tornando extraordinários, outros que você deu importância maior durante a concepção mostram-se menos interessantes pois não se integraram muito bem à vida, não funcionam e têm que ser mudados... Eu não acredito que exista um só edifício atual com uma adaptação perfeita, porque são sempre programas muito novos, com uma pesquisa bastante nova, enquanto durante séculos eram aplicadas soluções arquetípicas. No momento em que você inova, você está optando por coisas virtualmente perigosas para a vida e também para o futuro. Nós não sabemos exatamente como a inovação vai sobreviver. Por isso fico muito feliz quando constato que um edifício meu vive bem, que foi capaz de incorporar aspectos novos. Com exceção dos espaços de meditação – os museus ou as salas de concerto, que são sempre muitos bem cuidados, mantidos em seu estado original –, a maior parte dos espaços quando revisitados depois de um tempo pode ser vista como uma espécie de instalação da vida. Isto nos ajuda a relativizar as coisas. Nós insistimos em ser perfeccionistas na confecção de nossos objetos, o que nos torna, talvez, mais inteligentes para aplicar o dinheiro em coisas importantes e essenciais.

Penso que muitos arquitetos trabalham sobre um projeto clarificando um conceito, uma idéia forte. Tempos atrás, quando estava nas Belas Artes, nós chamávamos isto de “partido”. Temos esta capacidade que vai ordenar, unificar e hierarquizar tudo. Por outro lado, vivemos uma época que não tem mais bússola teórica e doutrina, onde proliferam objetos e idéias. Qualquer um agora pode ser “rei”, milhares de indivíduos podem ser criadores de uma linha, de uma arte, etc. O mundo é infestado todos os dias de milhares de proposições. Frente a esta proliferação de estilos e linhas pessoais existe um reconhecimento da época diante do que é “minimal”, feito com menos, com o “zero”. O que pode, aliás, muitas vezes se mostrar uma falta de generosidade. Muitas vezes em um concurso todo o júri concorda em dizer: “que ganhe o mais simples, que só tem um material...” Eles acham tal atitude formidável. Trata-se de uma espécie de aspiração ao refúgio, de nos apartarmos da época em que vivemos, de valorizar o zen, o meditativo, a tranqüilidade ou uma posição mais nobre. “Less is more”, uma evocação de Mies van der Rohe. Há um minimalismo ao qual todos nós podemos aspirar em certos lugares, mas não sou inclinado a fazê-lo proliferar em todos os lugares. Quando temos programas com uma grande dimensão dentro da cidade, não devemos pensá-lo em termos de simplificação minimal. Existe com certeza uma pluralidade, existe com certeza uma riqueza. Se estas são reduzidas a um conceito, a uma linha, resulta-se muitas vezes em prédios autoritários, stalinistas, pobres, redutores... Arquitetos muito bons, que fizeram excelentes proposições em uma certa escala minimal, ao transportarem o mesmo princípio para outra escala – instalar oitocentas pessoas, por exemplo – fizeram um cárcere. O cárcere não está longe quando queremos nos restringir a uma proposta muito unitária conceitualmente. Eu muitas vezes me encontrei frente a frente com um programa aonde havia uma certa riqueza, uma certa quantidade. Depois do Hautes Formes e do Conservatório de Música, tive a oportunidade de colocar “duas mil pessoas aqui, duzentas e dez famílias lá em um terreno estreito”. Se no começo da minha carreira eu tivesse realizado obras muito “limpas”, é bem provável que tivessem me pedido sempre a mesma coisa, talvez eu tivesse tido uma experiência diferente. Conta bastante o que fizemos, a experiência. Entre a Caixa d’Água e o Hautes Formes existe uma diferença de programa suficientemente grande para poder ter me dado uma experiência contraditória e ampla desde o começo.

NE: Através desses dois projetos você teve a impressão de ter concretizado uma etapa importante no seu trabalho?

CdeP: Não, me esqueci um pouco destes projetos, mas quando eles acabaram é verdade que representaram uma posição forte. Mas sempre é um risco uma posição forte, pois você pode se acomodar ou, pior ainda, ser etiquetado definitivamente: “é isto que você sabe fazer...” O que te levará depois a lutar contra tua própria posição.

Conjunto residencial Hautes Formes, Paris, 1975
Foto de Nicolas Borel

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