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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
Entrevista exclusiva com Fernando Chacel, o mais conceituado e bem sucedido arquiteto-paisagista brasileiro da geração pós Burle-Marx

english
Exclusive Interview with Fernando Chacel, the most respected and successful Brazilian landscape architect-generation post Burle-Marx

español
Entrevista exclusiva con Fernando Chacel, el más reconocido arquitecto- paisajista brasileño de la generación post Burle-Marx

how to quote

BARBOSA, Antônio Agenor. Fernando Chacel. Entrevista, São Paulo, ano 05, n. 017.01, Vitruvius, jan. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/05.017/3333>.


Vista geral do Parque Fazenda da Restinga

Antônio Agenor de Melo Barbosa: No Brasil a consciência a respeito da necessidade de preservação do meio ambiente e dos ecossistemas naturais é um tema recente na agenda política dos Estados e Municípios. O senhor que milita há muitos anos nesta área como observa a ação dos governantes neste sentido?

Fernando Chacel: Eu sou há muitos anos um observador do crescimento e da evolução desta consciência ecológica e ambiental no Brasil. Eu não diria que sou um ambientalista até por que eu não gosto muito dessa palavra, mas eu diria que sou um arquiteto paisagista autodidata que trabalha ligado a esta vertente ecológica. Eu já trabalho com estas questões, como as restaurações de áreas degradadas, há algum tempo, desde 1963. E, uma coisa que aprendi desde cedo com Burle Marx, também sempre procurei trabalhar com equipes interdisciplinares compostas por biólogos, engenheiros florestais, agrônomos, botânicos, geógrafos, urbanistas e arquitetos. Trabalhei com um grande biólogo que foi Luiz Emygdio e com um grande geógrafo que é Ab´Saber.

E hoje no meu escritório eu tenho uma equipe de nove biólogos e engenheiros florestais, de diferentes especialidades, que são meus consultores em diversos projetos. Em 1952 eu já notava que o atelier de Burle Marx era visitado constantemente por todo tipo de profissional da área de ciências naturais. As parcerias de Burle com Mello Barreto datam desta época, com Melo Carvalho que era zoólogo, também. Depois veio a parceria com Mello Filho. O Burle Marx, como eu sempre gosto de brincar com estas coincidências, gostava muito dos “Mellos”; eu acho que ele só não gostava mesmo era do Collor de Mello.

AAMB: O senhor que tem projetos em vários estados do Brasil, como observa o avanço em cada região a respeito destas questões ambientais num país com tanta diversidade e riqueza natural e cultural?

FC: Hoje já existem alguns municípios muito alinhados com as questões ecológicas. Aqui no Estado do Rio o município de Rio das Ostras é um deles, até por que o Prefeito é um homem do Partido Verde, foi reeleito, e com isto teve condições de implantar uma política ambiental no município muito voltada para as questões ecológicas e que inclusive soube tirar um bom proveito disto relacionando estes temas com o incremento e o desenvolvimento das atividades turísticas na região, você compreende?

Eu já viajei muito pelo Brasil. Acho que conheço um pouco este país. E tenho que falar das especificidades dos ecossistemas brasileiros e de seus domínios morfo-climáticos que vão desde a mata amazônica até os campos do Rio Grande do Sul, passando pelo semi-árido nordestino, pela mata atlântica, pela caatinga, pelo cerrado e pelo cerradão e etc. Só isto que listei para você são mundos extremamente diversificados e que muitos países de primeiro mundo não têm esta riqueza e esta diversidade que nós temos no Brasil. E ao lado destas paisagens naturais que mencionei, também existem diferenças culturais profundas. Daí a grande dificuldade de se trabalhar no Brasil, pois eu não acredito na exportação de metodologias.

Portanto cada região deve formar os seus próprios profissionais por que eles é que serão os mais capacitados para atuar na sua região de origem. Eles é que conhecem o ecossistema biótico e aí eu incluo o homem de cada região também. Estes profissionais de cada região deverão conhecer não só a ecologia como também a etologia. E tudo isto é muito complexo e diversificado.

Então é muito difícil que um profissional que venha do Rio de Janeiro, de São Paulo ou do Sul conseguir trabalhar na Amazônia, dadas estas questões que mencionei. Eu atualmente tenho alguns trabalhos assim, então a minha primeira providência é constituir e trabalhar com equipes locais. Isto é fundamental por que se eu com toda a minha experiência posso até ensinar algo sobre a minha forma de atuação e etc, mas eu tenho plena convicção de que nós teremos muito mais a aprender com estas equipes locais, certamente. Nunca, nunca mesmo tentar aplicar soluções prontas de seu local de origem. Você primeiro deve conhecer o modo de vida, a paisagem, os ecossistemas que você vai trabalhar e o espírito do lugar para depois intervir.

Eu que trabalho há mais de 50 anos posso te dizer que conheço mais ou menos, pra não dizer que conheço pouco, o ecossistema do Rio de Janeiro que é o ecossistema vegetal atlântico. E procuro aprender todos os dias através dos trabalhos que vou fazendo, você compreende?

E, além disso, tudo isto é muito novo, tudo ainda às vezes me parece um jogo de erros e acertos até no caso de pessoas de boa fé. Não existem grandes certezas, não existem manuais daí esta grande dificuldade e complexidade. Você tem que estudar os fenômenos naturais e sociais e saber como é que você navega dentro deles. E no Brasil com esta diversidade e riqueza cultural tudo isto se torna muito mais complexo. E às vezes até certas acusações que se fazem aos governos, a despeito da responsabilidade deles, não me parecem muito justas dadas estas condicionantes e da própria herança de 500 anos de degradação.

AAMB: Pela sua experiência internacional como Professor da Universidade de Montreal e como conferencista, qual é a percepção que se tem do nosso país lá fora?

FC: Lá no Canadá havia sempre muita curiosidade e simpatia pelo Brasil. Há a idéia de que o Brasil é um grande país. E como somos dois países jovens há uma certa cumplicidade por isto, me parece. Eles também têm alguns problemas, sobretudo a grande rivalidade entre os ingleses e os franceses e a relação às vezes ambígua de amor e ódio com os EUA que são seus vizinhos de porta. Eu fiquei sempre mais no lado francês e sentia os canadenses até certo ponto irmanados com o Brasil por conta da pressão que os EUA fazem sobre eles que não falam a língua inglesa. A questão das multinacionais e a própria opressão pela força econômica. Eles são até separatistas. Mas eu sempre fui bem recebido lá. Fui convidado por cinco invernos – 71, 73, 77, 81 84 – ao Canadá. Cheguei a fazer parte de um comitê pedagógico e lá eu era responsável por um ateliê de projeto onde eu lecionava.

AAMB: Existem soluções definitivas para as metrópoles? Há quem as veja como um lugar ímpar em que delas brotarão as próprias saídas para o caos urbano. Outros, mais céticos, as consideram casos perdidos. Como pensar soluções concretas para uma cidade como São Paulo, por exemplo?

FC: A questão das metrópoles talvez para um jardineiro que quis ir além dos jardins é um grave problema. As metrópoles no Brasil estão indo mal. No Rio de Janeiro como já falamos, pelos próprios impedimentos fisiográficos, me parece que a cidade teve algum tipo de freio no seu crescimento, a despeito da expansão das favelas. Pois é difícil você derrubar o Pão de Açúcar e o Corcovado.

Eu acho que o Rio de Janeiro inteiro deveria ser pensado com o respeito e o cuidado de um grande parque nacional ou internacional. Neste sentido eu vejo algumas saídas, não sou tão cético. A Barra da Tijuca, por exemplo, eu vejo a oeste da Avenida Ayrton Senna com otimismo e a leste com pessimismo, você compreende? Não é uma coisa assim tão linear e tão simples, mas é assim que percebo a cidade, em algumas partes eu vejo saídas em outras não. Da minha parte eu tenho tentado dar uma contribuição no sentido de minimizar esta devastação, sobretudo nos trabalhos que venho realizando na Gleba “E” (a chamada Península) e em outras áreas também. E a gente tem que ver que muitas destas áreas somente foram objetos de intervenções por força de uma legislação ambiental cada vez mais preocupada com os problemas que a urbanização desordenada traz. O próprio empresariado, por sua vez, tem vislumbrado que estas questões ecológicas podem se transformar até num elemento de forte valorização de seus empreendimentos, até pelo marketing que podem fazer em cima disto, de forma que eu acho que o cenário não é tão desanimador assim apesar dos graves problemas existentes. Daqui a 50 ou 100 anos a gente vai ver que esta Barra da Tijuca a leste da Av. Ayrton Senna, com raras exceções tenderá para decadência, ao passo que o lado oeste estará em melhor situação, com uma paisagem mais equilibradas e saudável.

Já em São Paulo eu não sei. Acho que é, de fato, pior a situação que no Rio. Lá eu estou fazendo um parque. É o parque Pedro II. Em São Paulo há um processo predatório também de ocupação, mas sem ter os mesmos impedimentos fisiográficos, e isto levou que esta paisagem fosse ocupada toda de uma forma relativamente homogênea. Eles ocuparam vales, vertentes e rios tudo da mesma maneira. E isto tudo sem grandes pontos de referência na paisagem a não ser o Pico do Jaraguá. Mas dentro da cidade você está perdido naquela massa de concreto. E isto para um ser humano não é uma coisa tão positiva. Acho que em São Paulo a solução é implodir certas partes. Evidentemente que a cidade tem pontos interessantes e áreas de qualidade e lá eles têm também excelentes profissionais capacitados a entender a problemática da cidade. Os trabalhos de Paulo Mendes da Rocha são excelentes, como no caso da Pinacoteca. Mas os grandes profissionais de São Paulo só conseguem mesmo atuar de forma pontual dada à complexidade da cidade. Não tem como ser diferente disto, eu reconheço. Na verdade a solução para certas áreas é a implosão mesmo. E isto também já foi falado pelo próprio Secretário de Planejamento Jorge Wilheim que é um homem íntegro, um humanista e um grande teórico e pensador de São Paulo. O Jorge Wilheim tem uma grande paixão por São Paulo e é bom que o Secretário seja um homem que gosta da cidade.

Precisaria implodir áreas para se criar e/ou recuperar os espaços livres que a cidade não tem mais, infelizmente. Também é preciso dizer que São Paulo é o lugar onde já se realizaram as maiores implosões no Brasil, por mais paradoxal que isto possa parecer. Mas sei que isto é muito difícil de ser feito. Em compensação quando se sai da cidade você encontra uma paisagem cultural de altíssimo nível na maior parte do Estado de São Paulo contrastando com a dureza da cidade. E o mercado imobiliário é muito desorientado, pois está preocupado com o piso de mármore, com a maçaneta de ouro ou o vaso de cristal achando que isto é qualidade de vida e vendendo aos tolos. Isto não é qualidade de vida. Isto é, na melhor das hipóteses, apenas um verniz de uma suposta qualidade de vida. Nada mais que isto.

Plano de massas completo do Parque Fazenda da Restinga, na Barra da Tijuca

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